Eu realmente não esperava encontrar Mike naquele lugar, muito menos que começasse a chover e que um raio fizesse com que eu praticamente pulasse em cima dele, mas o que realmente me pegou de surpresa foi o fato de ele ter me beijado, quer dizer, há pouco mais de uma hora ele estava na companhia de Isa e parecia conformado, e então ele aparece do nada dizendo que estava a minha procura e me beija, é no mínimo confuso.

Apesar de estar molhado, a sensação de estar junto a ele era muito boa, e meu corpo protestou quando nos separamos. Era como se houvesse uma carga elétrica entre nós. Ele me olhava de um jeito diferente, não como das outras vezes, em que sempre vinha uma piadinha, mas de uma forma mais intensa e ao mesmo tempo doce.

– O que você fez comigo, garota? - Ele perguntou, acariciando meu rosto com uma das mãos.

Eu nada respondi, não queria quebrar aquele momento tão raro de paz entre nós, então simplesmente deitei a cabeça em seu ombro e permaneci calada. Ouvíamos apenas o barulho da chuva e som da nossa respiração pesada, nada além disso. Não sei dizer ao certo quanto tempo se passou, mas em um determinado momento, Mike pegou pegou em minha mão e ficou olhando como se quisesse dizer alguma coisa.

– O que foi, parece pensativo.

– Estou pensando. - Ele disse e parecia realmente preocupado. - Sabe NI, nós somos completamente diferentes, na verdade eu diria que somos incertos um para o outro, mas o fato é que não consigo te tirar da cabeça.

– Já entendi. Você está me dispensando... - Já ia levantando de onde estava, frustrada por ter sido rejeitada, porém confusa pelo que havia acabado de acontecer entre nós.

– Não é isso. - Insistiu, não me deixando sair de onde estava. - Só estou preocupado com você.

– Acho que já sou bem grandinha pra saber me cuidar sozinha! - Respondi malcriada.

– Mas é teimosa! - Retrucou bufando. - Estou preocupado porque sei a fama que tenho, e sei o quanto seu nome passaria na boca dos moradores dessa "Grande" cidade se nos vissem juntos.

– E acha mesmo que me importo com a opinião dos outros? - Mike coçou a cabeça tentando so máximo não perder a pouca paciência que tinha.

– Você pode não se importar, mas eu sim, e além do mais, acho que o prefeito não gostaria que o nome da filha dele tivesse na boca do povo.

Eu realmente não havia pensado por esse lado. Por mais que não me importasse com os outros, não queria ser motivo de mais aborrecimentos e preocupações pro meu pai. Ele e Johnny eram minha única família, e os únicos que me importavam e não hesitaria em evitar problemas.

– E então o que vamos fazer a respeito disso? Não adianta negar o que vem acontecendo entre a gente.

– Caso não tenha percebido, eu não neguei nada. - Ele respondeu debochado.

– Também não precisa ser um grosso! - Ele riu descaradamente como se eu tivesse contado uma piada muito engraçada, mas em seguida me roubou outro beijo.

Kirk apareceu logo em seguida deitando ao lado de Mike e fazendo-o tirar toda sua atenção em mim. Enquanto ele ficou lá brincando com o cachorro, a minha cabeça não parava de tentar achar uma solução para o grande problema que ele próprio havia criado. E foi então que um pequeno raio de luz surgiu em meio a escuridão, uma solução preencheu minha mente.

– Tive uma ideia! - O jeito como me olhou parecia denunciar que eu estava fazendo uma cara estilo psicopata porque foi realmente bem engraçado ver seus olhos arregalados de espanto.

– Tenho medo de querer saber que ideia seria essa.

– Não seja idiota! - Disse dando um tapa em seu braço. - Olha Mike não dá pra negar que ta rolando alguma coisa...

– NI já te expliquei ...

– Sei que me explicou e entendo seus motivos, mas eu não disse que as pessoas precisam saber.

– Está me propondo um caso às escondidas? – Ele perguntou completamente surpreso. Eu dei de ombros e disse que não seria uma má ideia, já que dessa forma poderíamos de fato nos conhecer sem que ninguém se metesse, ou dissesse algo só para atrapalhar.

Mike pareceu gostar da ideia, mas não respondeu nem que sim, nem que não, apenas olhou para o lado de fora do celeiro e viu que a chuva havia cessado. Com um sorriso sarcástico nos lábios ele se levantou e foi para fora do celeiro. Curiosa, fui atrás para saber o que pretendia fazer. Ele havia ido até a caminhonete e começou a pegar umas ferramentas para trocar o pneu que parecia estar furado. No meio da troca, a chuva voltou com ainda mais força, e dessa vez eu também fiquei toda molhada. Mike mandou que eu saísse dali e fosse para o celeiro, mas insisti em ficar. Ele acabou bufando de raiva, mas continuou até que o pneu estivesse trocado.

– Será que não pode fazer o que eu peço pelo menos uma vez na sua vida? – Perguntou realmente alterado na metade do caminho de volta ao celeiro. Estávamos encharcados, e a camisa branca que ele usava por baixo da xadrez vermelha revelava todo o seu corpo.

– Vai ficar brigando comigo só porque estava lhe fazendo companhia? Você bem que poderia ser um pouquinho mais agradecido!

– Já que você é tão teimosa a ponto de não conseguir fixar la dentro, pelo menos entra no carro.

Aos poucos sua respiração foi voltando ao normal e sua raiva parecia ter passado. Já estava tarde e ele disse que me levaria em casa. O caminho até lá foi silencioso, exceto pelo barulho da chuva que insistia em cair. Mike mal olhava para o lado, estava concentrado demais na estrada, ou então não queria papo comigo, e realmente não entendo o porquê, afinal não havíamos brigado de fato e a proposta que havia feito não era nenhum bicho de sete cabeças.

Quando chegamos, antes que eu pudesse descer da caminhonete, ele segurou meu rosto e me beijou. Já estava começando a me acostumar com o contato próximo do seu corpo ao meu, porém a sensação era sempre melhor a cada vez que acontecia. Ali éramos nós mesmos e não havia fingimento ou negação. Eu entendi quando ele disse que não sabia explicar o motivo de não conseguir me tirar de sua cabeça, porque o mesmo acontecia comigo. Podia negar de todas as formas para quem for, mas o fato era que Mike Matson estava entranhado em mim de uma forma que eu jamais imaginei.

– Não se esqueça, NI! Sem ninguém saber! - Ele disse de um jeito divertido depois de finalizar o beijo. Não tive como evitar de sorrir.

Desci da caminhonete, esperei que fosse embora e entrei em casa com um sorriso bobo no rosto e uma sensação de leveza no corpo, pela primeira vez depois de muito tempo. Meu único pensamento era se a loucura que estávamos fazendo realmente daria certo.