All the Right Moves escrita por SweetFantine


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Heya!

Senhoras e senhores, eu lhes apresento uma totalmente inovadora songfic contemporânea e atemporal! [ahem, SweetFantine, você poderia falar na nossa língua?]

~Bem...A ideia surgiu, é óbvio, da música All The Right Moves (One-Republic ~divos XD), que eu fiz o favor de retirar do baú. Sim, eu era uma criança quando a música fez sucesso O.o

Até então eu me recordava desta música apenas como "a música do baile de máscaras" (por causa do videoclipe). Ponto.

Mas então, depois de meio século, eu resolvo reescutá-la.

E... Tcharaaam~

Eu descubro uma obra-prima *____*

Depois de um tempo matutando com a cabeça, eu chego a uma conclusão: Escrever uma one-shot! O mundo precisa saber da genialidade desta letra!

E bem, saiu essa merrequinha akie >—< (ZOEIRA, tá muito bom, ok? Demorei três dias, affs >—__>)

**Aos fãs de Kuroshitsuji (ai credo, é um sufoco pra escrever çaporra), e também aos que nunca assistiram, eu meio que visualizei o universo dele por que ele... Mano, tem ditudo que a música fala!!

Eu não me baseei em nenhuma das histórias contínuas nem do anime e nem do mangá! Apenas alguns elementos, e, é óbvio, os personagens, embora, vocês vão perceber,eu não chegue a citar os nomes deles. "Por que, tia Sweet?"

Simples, porque eu meio que quis abranger o conto não só para este espaço e tempo descritos, mas sim para todas as épocas e locais, pois manipulação existe em qualquer parte deste universo. Até aí, onde você mora.

~ahem, Globo, ahem~

Enfim, sem mais delongas:


PS: não preciso nem lembrar que é para ouvir a música, certo??




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All The Right Moves


– Aqui mesmo, senhor. - Dei três batidas no teto do fiacre.


As densas copas das árvores foram revelando, aos poucos, as imediações do enorme terreno onde um casarão havia sido levantado.

As suas amplas janelas emitiam fulgor e um movimento intenso, rompendo com o horizonte fúnebre da noite britânica.


Preenchi os pulmões com aquele ar campestre antes de saltar da carruagem.


Da algibeira, retirei o acessório indispensável naquela noite. A máscara. Esta viera juntamente com o convite, e era primorosamente bem adornada.


Um baile, onde inúmeras personalidades circulariam ocultas sob as suas máscaras. O motivo pelo qual eu comparecera àquele evento foi unicamente por insistência dela.


– O que estás fazendo aqui? Tomando ar livre? – uma dama de cabelos castanho-arruivados veio ao meu encontro.
Mesmo sob a sua máscara de plumas negras, eu a reconheceria.


Apressei-me a fazer-lhe uma reverência.


– Estás exuberante esta noite, senhorita A…


Ela pousou delicadamente o dedo sobre o meu lábio.


– Shish…! As nossas verdadeiras identidades devem ser mantidas em sigilo. Por esta noite, dirija-se à mim por Dama de Vermelho.


Deu um braço para me acompanhar. "Vamos.", indicou a entrada.


Ela subia a escada externa com uma cadência digna de uma duquesa.



[Let's paint the picture of the perfect place
They've got it better than when anyone's told ya]



A entrada de dois sentidos promovia esta sensação de se estar transpondo um portal para uma dimensão atemporal e excelsa em cada detalhe.

À primeira vista, o olhar percorria uma trajetória ascendente. No plano frontal, pares de casais mascarados iniciavam os compassos progressivos, em sincronia magistral. A valsa lasciva era acompanhada pelos vultos de bustos níveos e curvilíneos, ocultos por tecidos aveludados e insinuantes. Do outro lado, talhes altos e austeros, mas de faces misteriosas e olhares sensuais, conduziam as damas enigmáticas, transladando simultaneamente pelo salão.
O maestro e sua orquestra também estavam de faces ocultas sob as máscaras lustrosas. O violoncelista, absorto nas suas batidas afrodisíacas, enfeitiçava ouvidos sensíveis e polarizava os casais mais entretidos.
A elegância dos trajes condizia com a cadência delicada da roda humana; que hora se precipitava para frente, hora para trás; de braços enlaçados por um momento, e no outro alternando de par.
Os compassos da valsa arrebatavam a alma do indivíduo e a fazia flutuar, até que essa se sublimasse na cintilação ofuscante daquela noite cálida.


Observar o teto nos induzia a contemplar o magnífico lustre suspenso sobre nossas cabeças, e através deste, as vistas prosseguiam pelo infinito e lá se perdiam, em meio às venustidades inefáveis.


Imediatamente no centro do salão, destacava-se, em meio a rosas prateadas e roçares de tecidos de seda, a figura tênue de um garoto sentado em um trono ladeado por nastros de cetim e buques áureos.

Ostentava este seu feitio de alteza intangível. Vestia-se como um príncipe de rosas negras, vitoriano em cada detalhe e abotoadura, e carregava no seu semblante um olhar quebranto de um anil enigmático, diferenciado do comum azul cândido das outras crianças. Uma ampla e única flor cobria-lhe um dos olhos com as suas pétalas fartamente desabrochadas.

Ele era a representação máxima dos frescores da juventude e da estética, escultura polida de porcelana, adornado de supostas virtudes e gentilezas.


O salão, os casais, os quitutes, as bebidas, os semblantes, as máscaras... Era tudo tão simétrico, de um tão sublime mistério, que não acreditei em meus próprios olhos.


Desviei o olhar, na esperança de encontrar o rosto enrubescido e simpático dela.

No lugar deste, porem, deparo-me apenas com suas feições de uma palidez calma e um contrastante sorriso morno.


– Vamos aos jogos, vamos...?


–C-claro, vamos sim...



Quando adentramos um salão a parte, já alguns se reuniam para jogar Copas. Estavam na falta de dois jogadores. Aproveitamos a oportunidade para participarmos, e logo nós seis nos sentávamos em torno de uma mesa redonda.


Rodada vem, rodada vai, naipes e mais naipes, sempre a rolarem soltos pela mesa, entre risos e golfadas de fumo, acabo, de uma hora para outra, com a Dama Negra em mãos.


No final, acabei perdendo. E a Dama Negra sorria escarninha na minha direção. E não só ela, como estranhamente, eu também senti que alguns olhares enviesados eram lançados a mim, indiscretamente.


Tudo aquilo acabou por me fazer sentir um tanto desconfortável, e antes que iniciasse a segunda partida do jogo, eu me retirava da mesa.
Subitamente, eu vou de encontro com um jovem alto e magricela.


– Senhor! Perdão! - a voz familiar me exclama.


Era o meu fiel aprendiz, de sotaque interiorano inconfundível.


Assim que me dei conta da situação, eu o arrastei para fora daquele cômodo.


– O que está fazendo aqui? E onde arranjou esta mascara? - o interroguei de imediato.


– O que? Seria melhor eu não ter vindo? - ele emendou, solicito.


– Bem... A verdade é que... Estou feliz por você ter vindo... - Abri um sorriso esparso, verdadeiramente aliviado. - Sabe?, é que tenho essa estranha sensação de que tudo aqui é-


– Eu o estava procurando! - a Dama de Vermelho interrompe, vinda da sala de jogos. Depois de uma pausa para situar-se, ela realiza.
– Ah... Com sua licença... - ela se dirige ao aprendiz.


Este faz um breve gesto com as mãos.


– À vontade, senhorita...


– Dama de Vermelho. É Dama de Vermelho. - ela se precipitou a emendar.


O aprendiz se limitou a sorrir. A ruiva de fato era de um escarlate exuberante.


– Ah! - Ela se apoia no meu ombro e segreda: - Estão solicitando a sua presença la, no jogo.


Apesar de um tanto confuso, eu aceno com a cabeça. E ela se volta para o meu aprendiz.


– Gostaria de me acompanhar à varanda? Temos uma ótima vista lá. - ofereceu o braço róseo ao jovem, que não hesitou em cingi-lo.


E desapareceram pela escadaria principal. Fiquei um momento a observar todo aquele movimento sofisticado do salão. Tudo, até as conversas casuais aparentavam seguir uma sincronia impecável.



– Boa noite, Sr. Scott. - ouço o meu codinome.


Procuro o dono da voz no plano horizontal. Mas a voz provinha de baixo. Deparo-me com o garoto das rosas. Tive um grande sobressalto. O que fazia ali?


– Scott não e o meu nome verdadeiro... - comentei franzindo os cantos do lábio.


– Eu sei. Se fosse, este não seria um baile de mascaras, certo? - respondeu, encarando-me com o seu olho de azul intenso.


Eu balancei a cabeça, e olhei em outra direção. Era tão franzino, e mesmo assim, possuía um olhar tão intimidante e uma postura de imperador.



– É incrível, não? - começou. - Incrível como o maestro consegue reger os seus músicos, e a musica destes rege cada passo dado, cada movimento feito, induzindo as pessoas a agirem conforme a intenção do maestro...


Eu ouvia tudo o que o garoto dizia com um espanto atípico. O tom de voz dele era tão casual, como se estivesse a deliberar a temperatura do dia seguinte. Onde ele pretendia chegar com essas metáforas?


– A vida é o baile de mascaras da Rainha de Copas, Scott. Nunca se sabe quem está por trás das mascaras, quem está ao seu lado... - retirou uma carta de baralho do seu bolso. - Tudo é uma questão de saber jogar... E dançar conforme a musica...


Delicadamente, passou a carta pelos meus dedos, e girou nos calcanhares para partir, mas ainda uma vez se deteve:


– Eu o aconselho a ir procurar o seu amigo... A Dama de Vermelho se demora.


E assim a figura tênue do garotinho desapareceu por entre o alvoroço de farfalhares de vestidos corais.



[They'll be the King of Hearts, and you're the Queen of Spades]


Permaneci estático, fitando atônito a carta em mãos, mas não propriamente a olhando.


– A Dama de Negro vem te perseguindo esta noite, não? - ouço um comentário animado. A Dama de Vermelho havia apoiado o seu braço em torno do meu pescoço. Só então percebi que a carta em mãos era a Rainha de Espadas.


A ruiva então se resvalou para minha frente, voluptuosamente movendo os braços de nácar.


– Ora, deixe a desditosa Dama ai estar, e acompanhe-me nesta dança.



Antes mesmo de receber o meu consentimento, ela já havia me prendido os dedos e me arrastava para o centro do salão.


Não houve escapatória. E a musica ja estava em seus primeiros acordes. Fui compelido a seguir o mesmo movimento da massa, com bem menos sincronia e experiência porem. Na primeira volta, ao longe os meus olhos alcançaram o garoto das rosas, mirando na minha direção com um sorriso indecifrável. Foi neste momento em que me dei conta da ausência do meu aprendiz. Estaria ele ainda na varanda? Deveria ter retornado com a Dama de Vermelho. E mesmo assim...


– Sabe, desde o momento em que eu te conheci... Eu soube que eras alguém especial... - a ruiva declarou, cerrando a meio as pálpebras; seus longos cílios franjados, que roçavam no cetim das faces, sombrearam o intenso olhar, embebido em orvalho que escapava-se agora em chispas sutis e ameaçavam saltar das concavidades rubras dos olhos.


No compasso seguinte, ela aproveitara-se para acercar-se e inclinar a face em minha direção. De pálpebras entreabertas, ainda pude entrever o vulto prateado do garoto.
"...Nunca se sabe quem está por trás das mascaras, quem está ao seu lado..."


As palavras dele ecoaram em minha mente e me abalaram, sacudindo-me para despertar. Súbito, reabri os olhos e afastei-me drasticamente do enlace.


O meu aprendiz. Eu tinha de encontra-lo.


Esgueirei-me até alcançar uma saída daquele tumulto, e após passar por muito sufoco, alcancei as escadarias centrais.


Num relance, disparei, galgando mais de um degrau por vez, até me assegurar de que eu não mais estava no campo de visão da Dama de Vermelho.


Os infinitos corredores desguarnecidos de moveis tinham toda a sua extensão coberta por um único e também infindo tapete, e eram rodeados por janelas de um lado, e do outro por portas uniformes, e todas aparentavam estar trancadas.


Repassando novamente uma a uma, noto que uma delas estava apenas encostada. Espreitei cautelosamente o interior do cômodo.


Embebido na luz prateada do luar, percebo um vulto recorrente se movimentando em ondulatória. Senti um sopro gelado percorrer-me as faces.


Agora com mais clareza, eu reconheço o tecido acetinado da cortina, cujo movimento ondular se assemelhava a uma cauda de vestido de uma jovem dançarina.


A cortina dançava. Dançava conforme o vento lhe conduzia.


A entrada para a varanda obviamente estava aberta.


Não me recordo muito bem se cheguei a repetir comigo mesmo a minha expectativa de encontra-lo ali, escorado na grade da varanda, admirando a bela vista que o local oferecia. Ele admirava muito observar o céu noturno, inclusive um dia chegou a montar um telescópio para as noites de lua cheia.


Só sei que foi tudo uma sequencia simultânea. Bastou encontrar lascas de vidro partido no chão, mesclados ao escarlate do vinho para que uma sequência se desencadeasse de imediato. O meu olhar seguiu toda a trajetória. A taça de vinho partida, o tecido da cortina retalhado pela força da resistência, sinais de embate e escoriações por toda varanda, a grade levemente retorcida e por fim, o corpo.


Estava ali, o meu aprendiz. Estatelado no piso frio dos fundos do casarão.


I know we got it good, but they got it made,
And their grass is getting greener each day,
I know things are looking up, but soon they'll take us down,
Before anybody's knowing our name]


Permaneci ali no vão da varanda, olhando para baixo, para o local onde o meu melhor, e talvez único, amigo jazia imóvel, envolto por um fluido crepuscular.


Ali, a verdade se fez nítida. Tão, tão nítida, e ao mesmo tempo, tão dolorida.











Percorria o salão pela terceira vez, pedindo passagem inúmeras vezes por entre os convidados. Eu tinha pressa. Uma urgência em encontra-la.



Mas de certa forma, eu mesmo me encontrava desnorteado. Tudo ao meu redor redemoinhava conforme o choro histérico dos violinos. Que diria à Dama quando a encontrasse? Se é que ela ja não tivesse debandado dali. De certo ja havia. Mas então, que fazer? Ou melhor, o que estava ocorrendo ali?


Repentinamente, me vi ladeado por um conjunto vertiginoso de rodas vivas, que faziam um alarde, riam-se escandalosamente ou cochichavam mal de alguém, enquanto eram regidas pelo embalo da valsa. Todos mascarados. Todos dissimulados.



"Dissimulação."



Sim, eu estava imerso num mundo de aparências. A partir do momento em que havia posto a máscara e transposto o portal daquele baile... Tudo, todo aquele universo superficial era composto de farsas, inclusive a Dama de Vermelho, e toda a sua dissimulação. Ela não me amava. Jamais me amara.


"A vida é o baile de mascaras..."


E de fato ela é. E o garoto das rosas como representação máxima deste baile de aparências.


Ele permanecia ali, recostado em seu trono de plumas negras, sorrindo sarcasticamente e me observando com o seu único olho anil, das ressacas do mar.



Quais eram as suas pretensões?


Então eu resolvi, tomado por um impulso negligente, confronta-lo de frente para extrair informações imediatas. E isso só não bastava. Eu tinha de atrair atenção e olhares de todos.


Avancei a passos decididos do ádito da sacra-aparência, onde o garoto das rosas repousava preguiçosamente no respaldar do seu trono.


Trazia comigo uma taça de vinho. O conteúdo dela se revolvia por causa dos tremores que percorriam os meus pulsos, sinais evidentes do meu nervosismo, os quais o menino não custou a notar:


– Está nervoso? - indagou com indiferença.


– E como haveria de não estar?! - a minha voz saiu como uma exclamação de pura cólera.


Num surto impetuoso, eu atirei a taça contra o chão, causando um tinir estridente e agudo.


– Hey, se está nervoso, não desconte nas minhas taças. - reclamou soerguendo sutilmente a cabeça do espaldar.


Num repente, eu o segurava pela gola da camisa bordada.


– Diga isto à sua lacaia!


– Hu... Huhuhuh - ele sorriu com desdém. - Então ela matou mesmo...?


– Como assim?! Não foi você quem comandou ela para executar o meu amigo? - involuntariamente eu estreitava a gola com brutalidade.

– A música... Parou... – ainda sustinha um sorriso sarcástico, embora o tom de sua voz estivesse evidentemente desfalecido e a sua respiração se fizesse exígua.

Enfim eu captei o sentido das suas palavras. O salão que entes rompia com a melodia fragorosa do baile agora caiu imerso em mutismo atencioso, todos os olhares recaiam sobre nós dois.

Estavam todos observando cada movimento nosso, cada palavra dita.

Afrouxei os dedos e permiti que a gola da camisa me escorregasse pelas mãos.

Sem cerimônias, o garotinho endireitou-a e voltou a se sentar como antes. Recolheu o seu castão ornamentado à ouro do chão e brevemente o fulgiu com o seu lenço.


– Scott, você lembra do que eu lhe disse sobre o maestro...? – indagou pausadamente.


Assim que cessou de lustrar o castão, ele o soergueu e desferiu três batidas surdas no piso.


O maestro, de cabelos negros e franjas longas e desiguais, acenou com a cabeça e reiniciou o compasso de onde havia parado. Quase que imediatamente, todos o que ali estavam recomeçaram a dançar, ou continuaram a conversa de onde haviam interrompido.

– Na sua situação, eu não colocaria a morte de seu amigo como uma prioridade... A questão é, quem vencerá este jogo? – os seus longos e cândidos cílios interceptavam o azul nebuloso e intenso do seu olho, enquanto sorria de modo desafiador.

Eu estava perplexo. O coração, descontrolado. Os reflexos, relapsos. O que estava acontecendo ali... Era real? Caso fosse... Caso fosse... Então ele tinha nas mãos o controle de todos os presentes no salão... Neste caso, tudo o que me restava era...


Fugir, se aquela noite eu pretendia sair vivo dali. Almejei de imediato a porta principal.

Sem refletir, disparei em direção à ela, mas, conforme eu me acercava desta, mais e mais obstruída a passagem ficava. Um enorme aglomerado de pessoas acrescia exponencialmente. Que faziam ali? Dissimuladamente, estavam bloqueando a minha passagem.


[They've got
All the right moves and all the right faces]

Foi então que eu notei que a posição dos convidados fora estrategicamente imposta para evitar possíveis fugas. “Não!”. Eu tinha de sair dali. De qualquer forma.

Esgueirei ligeiramente por um dos cômodos, e comecei a penetrar mais à fundo a mansão labiríntica, a fim de encontrar a porta dos fundos.

Esta ficava depois da cozinha principal.

Lamentavelmente, em frente desta estava de sentinela uma criada, sem contar a intensa agitação que ia e vinha o tempo inteiro do interior.

No meu desespero crescente, eu só pude imaginar uma saída possível: a varanda.


Para isto, eu deveria cautelosamente descer por ela, atado à alguma corda ou reboque improvisado. Eu tinha de alcançar o segundo andar, antes que alguém o alcançasse primeiro.

Na minha precipitação aflita, eu colidia em alguns, mas simultaneamente me sentia perseguido por olhares indiscretos que me cercavam por todos os lados. Por baixo de cada semblante sorridente, eu entrevia olhares de desdém devorarem-me aos poucos.


They say
Everybody knows, everybody knows where we're going]

Ao subir as escadas, eu mal realizava tanto esforço, e, no entanto, o ar já me faltava. Eu sentia-me qual uma lebre perseguida, e a sofreguidão com a qual eu tentava me esgueirar era tanta que sufocava.

Assim que eu alcancei o corredor e notei que este permanecia desguarnecido de móveis e também de almas, me atirei à porta do cômodo cuja varanda eu havia visitado há pouco.


A varanda estava lá. Escancarada e gélida, apenas aguardando que alguém a infiltrasse. Adiantei o passo, receoso, mas muito, muito mais desesperado.


– Eu adivinhei que este seria o seu último recurso. – uma voz de entonação contemplativa rompeu da escuridão. – Mas que falta de originalidade, não?


O meu coração voltou a disparar, e um espasmo duradouro e glacial percorreu cada extensão do meu corpo.

– Você poderia ter estilhaçado os vidros de uma janela térrea, e assim não se daria ao trabalho de subir todas as escadas para depois descer de um modo no mínimo arriscado. Tão medíocre... – a voz murmurejava com uma lassidão indiferente. - Enfim, nós dois sabemos como isso irá terminar, certo, Scott?


Detrás da fina camada de nuvens, a lua desvencilhou-se e banhou o cômodo com a sua luminosidade lívida. E afigurou-se a suave feição suntuosa do príncipe da obscuridade, sentado de pernas cruzadas e postura imponente.

O seu olho era o mesmo azul nebuloso.

Tinha em mão uma peça de xadrez, a dama negra.

– Você já jogou xadrez, hum? – perguntou.

Eu não tinha forças para respondê-lo. Apenas movimentei a cabeça.

– Pois bem. Alguns creem que a lógica do jogo é complicada, já eu digo que o xadrez é um jogo feito à imagem e semelhança da própria vida. Uns, manipulam... – ele colocou a dama em posição. – e com os movimentos certos...


[All the right friends in all the right places]

A rainha invadiu as posições.

– Xeque-Mate.


Outro tremor me abalou. Um sopro gélido percorria toda a extensão do quarto.


– Então... Isso significa... Que... Significa... – não conseguia mais formar palavras.


Emudeci de pânico.


Ali, logo atrás do rosto pálido do garoto das rosas, um espelho refletia a imagem do maestro, ao meu lado, de franja longa e intermitentemente caída sobre a sua fronte impudica; olhar faminto e escarlate.


– Tudo é uma questão de saber jogar, e dançar conforme a música, Scott... – as palavras cadenciadas saíram pela boca levemente franzida do garoto. Depois, com um letárgico movimento das mãos, insinuou ao maestro.


Este, por sua vez, metódico como um mordomo, descalçou as luvas brancas de botões ebúrneos, revelando mãos atípicas.


A partir deste momento, eu soube que morreria. Eu havia perdido o jogo. Errado a valsa. Deixado a máscara cair.



Ainda mais uma vez, levantei a cabeça e fitei o príncipe de um olho só. De tez alabastrina e frescor de rosas, a representação máxima das aparências. Da dissimulação. Da manipulação. Da prepotência. Da deturpação.




Vida longa à Rainha.





[So yeah, we're going down]




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Notas finais do capítulo

*food for thought*^_____^ aguardo comentrios e criticas o/



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