Troubled Water escrita por Caderno Azul


Capítulo 2
A Torre


Notas iniciais do capítulo

Bem vindo mais um vez! Já deixou seu comentário no prólogo? :)



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O coração da história se passa no centro de proteção e treinamento mais isolado da nação, onde olhos curiosos e lentes de câmera não podem alcançar. Um lugar seguro o suficiente para ganhar a confiança dos pais e discreto o bastante para não chamar atenção indesejada. Alguns de seus frequentadores a chama de prisão. Os mais reacionários a apelidaram de programa de contenção. Contudo, a escola onde todas criaturas especiais vão na mais precoce idade se chama “A Torre”.

Conhecido como um simples colégio interno, com uma das melhores infraestruturas e localização desconhecida, A Torre proporcionava a tranquilidade aos pais que lá deixavam seus filhos e os visitavam uma vez por mês. Ou, como normalmente aconteciam, quando aquilo era possível. E como A Torre mantinha suas portas abertas durante as férias de verão e inverno, para a maioria dos estudantes, aquela seria sua casa.

Esse era o caso de Riley.

A veterana andava apressada pelos corredores de aço inoxidável, xingando mentalmente Claire, sua melhor amiga e colega de quarto. A ideia de acordar algum dia sem seu despertador humano era tão absurda quanto acreditar que escaparia do atraso. Riley nunca fizera parte do seleto grupo das pessoas diurnas. Por sorte, Claire era uma dessas exceções e nunca a deixara na mão. Pelo menos, até aquele dia.

Contrariando toda sua rotina, Riley acordou sobressaltada com a claridade e principalmente, com a ausência de Claire. Pegou o primeiro uniforme que conseguiu reunir, lavou o rosto e agarrando a mochila, disparou pela Torre chegando a derrapar pela velocidade que corria. Por algum motivo, Inspetor Lancaster também não estava no seu posto, ou ela teria ouvido o maior dos sermões por estar acordada e correndo em pleno horário de aula. Apesar de não ser uma pessoa otimista, decidiu tomar aquilo como um golpe inesperado de sorte antes de cruzar a porta da aula do primeiro tempo, Estratégia Avançada.

Como esperado, dezenas de cabeças viraram para observar sua entrada e o nazista do Professor McGregor a recebeu com sua ironia inconfundível.

–Finalmente pôde nos agraciar com a honra de sua visita, Srta. Davis.

Riley nunca foi do tipo que escutava calada e não seria no dia em que acordara com o pior do mau humor matinal que renegaria suas origens.

–Alguns de nós temos a agenda lotada, mas sempre dou um jeito, Professor.

Aquele sorriso presunçoso murchou sendo substituído por uma carranca, alguns alunos abafaram as risadas com os livros.

–Está procurando uma detenção, Srta. Davis?

Riley lhe lançou um sorriso debochado.

–Não, na verdade só estou procurando o meu lugar mesmo, obrigada pela oferta – mais risos se seguiram e dessa vez nem tão abafados.

Riley conseguiu localizar a massa disforme de cabelos loiros que só podia pertencer a Claire, a garota estava apoiada com a cabeça na mesa, como se estivesse dormindo. Estava prestes a se sentar ao seu lado quando ouviu a voz do professor.

–Hoje, ao final da aula fique para uma conversa, Srta. Davis – disse secamente.

Não houve mais risos. Riley revirou os olhos e se acomodou ao lado de Claire, preferindo não tentar acordá-la. Senhor McGregor voltou a explicar a matéria aos alunos e sem querer dar motivo para uma segunda bronca, a garota pegou o seu caderno com toda a intenção de se manter fora de encrenca, mas algo se interpelou em seu caminho.

–Bela entrada, Davis.

Não era preciso se virar para saber quem tentava irritá-la. Peter Ward, o veterano que tomou como missão tornar sua vida na Torre um inferno, oferecia sua dose diária de provocação. Por mais que aquele colégio fosse, não era suficiente para evitar esses momentos.

–Pare de se meter na minha vida, Ward.

O som ritmado de sua risada rouca sempre causou arrepios em sua espinha.

–Eu até pararia, Davis – ele sibilou debochado. – Se você tivesse uma.

–Filho da...

–É a segunda vez, Srta. Davis! – o professor voltou a chamar sua atenção. – Algum problema aí atrás?

–Não, nenhum – Riley respondeu decidindo ignorar o idiota do assento de trás.

Havia um problema sim. E ele atendia pelo nome de Peter Ward.

–/-

Quando o sinal tocou, Riley recolheu rapidamente seus pertences se preparando para o discurso que teria de ouvir de McGregor. Claire finalmente ergueu a cabeça e começou a se levantar. Seus movimentos eram lentos e descoordenados, o que surpreendeu a amiga que teve de evitar que seu material se espalhasse pelo chão. Claire parecia fora de órbita, com seus olhos opacos e seu rosto marcado por profundas olheiras.

–O que houve? Eu acordei e você não estava lá.

Claire a encarou, desamparada. Ela nunca parecera tão frágil. Uma das muitas qualidades que Riley admirava na colega de quarto era sua organização implacável. Mas naquele dia, os cabelos desgrenhados tinham que significar mais que desleixo. Algo estava muito errado, porque a amiga nunca deixaria ser vista daquele jeito.

–Meu tio sumiu. – Claire respondeu baixo, buscando evitar que outra pessoa a ouvisse.

–O quê?! – Riley ainda não tinha processado a informação.

–Srta. Davis, estou esperando – avisou McGregor da sua mesa. – Pare de atrasar a Srta. Lancaster.

Claire fez menção de ir embora, mas Riley agarrou seu braço.

–Me espere lá fora.

Juntando o resto de seu material, Claire saiu sem dar respostas.

Alguns minutos depois, preenchidos por lições de moral, Riley saiu com o papel de detenção debaixo do braço. Bufou, se lembrando da ameaça velada de McGregor. “Algum dia vai se arrepender por ter me desafiado.”

O que quer que aquilo tenha significado, não agradou nada a garota que procurava por Claire por todos os lados.


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Notas finais do capítulo

Será que o próximo capítulo sai?
Bem, só depende de você, me mande um comentário e me diga o que achou :)
Volte sempre!