Sentei no chão frio e úmido do palácio e recostei a cabeça na porta do quarto da minha irmã Elsa. Tudo o que eu mais queria agora era que ela estivesse ali, presa ou não por causa dos seus poderes, mas que estivesse ali sã e salva. Mas ela não estava.

Bati na porta, na esperança de que tudo fosse um sonho, e comecei a cantar:

“Você quer brincar na neve?

Um boneco quer fazer?

Você podia me ouvir

E a porta abrir

Eu quero só te... ver...”

E comecei a chorar nesse último verso. Não conseguia aguentar, não conseguia superar a ideia de que eu não poderia ver a Elsa. Depois de tanto tempo trancadas no castelo e nós nunca agindo como irmãs, e agora, isso. Queria dizer que eu tive chances de aproveitar meu tempo com a Elsa, mas isso era, na época, impossível. E o pior: eu só descobri o porque tarde demais.

Abri levemente a porta, com medo de que alguém me repreende-se, mas ninguém se preocupou com isso. Ou achou melhor não me incomodar. Quando entrei no lugar, pude ver que a mobília era de um quarto digno de uma princesa, mas o lugar estava completamente destruído. As paredes cobertas por camadas e camadas de gelo, taças e coisas parecidas quebradas no chão, o quarto um pouco bagunçado, e escuro.

Fui abrir as cortinas para clarear, mas elas eram tão grandes e tão pesadas que acabei desistindo. Ficaria sendo apenas mais uma sombra naquela penumbra. Andei um pouco pelo quarto e vi uma foto da nossa família, mamãe, papai, Elsa e eu ainda pequeninhas, acho que fomos grandes amigas naquela idade, pois estávamos juntas, rindo, mas eu não me lembro de nada.

“Nós éramos amigas de coração

Mas isso acabou também

Você quer brincar na neve?

Não precisa ser com um boneco”

Continuei a cantar. Não aguentava mais aquela agonia, e tudo que eu queria era a Elsa de volta. Por um momento, esperei ela responder, mas nada. Estava na mais completa solidão, e eu me senti tola por acreditar que ela ainda estaria lá.

Desabei na cama dela e chorei ainda mais. Qual seria a importância do mundo, a importância da vida, a importância de tudo se Elsa não estivesse logo aqui do meu lado? Eu queria ser ingênua a ponto de acreditar que aquilo não era real.

Andei pelo castelo, procurei pela Elsa, mas só encontrava com empregados. Eu sabia que ela estava ali, em algum lugar. Eu sabia. Mas então, achei melhor desistir e suplicar para que ela voltasse.

“Você quer brincar na neve?

De alguma coisa que eu não sei?

Faz tanto tempo que não vejo mais ninguém

Até com os quadros da parede já falei”

Bufei nessa última parte. Será que eu ainda conseguiria continuar cantando? Continuar chamando a minha irmã que eu não esperava nunca mais voltar? Não tinha esperanças, mas queria poder ter, poder acreditar, então continuei a cantar a estrofe.

‘“Firme aí Joana?”

É meio solitário, tão vazio assim

Só vendo o relógio andar”

E a Elsa não me respondeu. Ela só poderia estar lá fora, sim, ela só poderia estar lá fora. Então, no meio de toda aquela tempestade de gelo e neve, saí, sem casaco ou nem nada que pudesse me proteger do frio, porque, se ela viesse, ela não deixaria o frio me incomodar. Ou talvez deixasse.

“Elsa, por favor me escuta

Todos perguntam sem parar

E me encorajam para te dizer

Mas espero por você

Me deixe entrar

Só temos uma a outra, o que vamos fazer?

Temos que decidir

Você quer brincar na neve?”

– Anna! Aí está você! – Ouvi alguém dizendo, mas não era a Elsa, mas sim uma empregada do castelo – Saía desse frio, menina, ainda procurando pela sua irmã? Entenda: ela está morta. Ela se matou, mas te salvou. Então, pare de ficar aí no frio, gastando a vida pela qual ela se sacrificou, para você não morrer de frio, para você não ser atingida pelos poderes dela, mas ela atingiu a si própria, ela não tinha conseguido controlar-se.

Ouvir aquilo foi como receber um tapa no rosto, mas ela estava certa, eu não poderia ficar ali fora, a Elsa já se fora, ela não está mais aqui.

“Ela não quer brincar na neve.”