Não existe morte pior que o fim da esperança

-Rei Arthur

Como se pode resumir uma vida inteira em uma simples lenda? Mesmo ela sendo cercada de encantos não se pode passar a essência de ter presenciado com seus próprios olhos, de ter sido parte daquela história. Não era um conto de fadas, era tudo para si. Arthuria escolheu puxar a espada da pedra, Merlin havia avisado que se puxasse não teria mais uma vida normal, mas ela deu ouvidos? Não, agora chegou onde estava. Em um campo de batalha cercado de cavaleiros mortos.

Companheiros fiéis que sempre estiveram ao seu lado, mas que nunca viram sua verdadeira face, estavam moribundos com os corpos espalhados por todo o terreno. Seus ideais de um rei perfeito, um rei que obedecia ao povo, que servia o povo e vivia por ele... No final era uma simples utopia inalcançável. Um rei como ela foi era para ser parte de um simples conto de fadas, não era atoa que seus feitos não foram reconhecidos historicamente, virou apenas uma ficção.

Ela desejava no fundo do coração não ter sido rei. Já era tarde de mais para se arrepender... Mesmo assim não tinha como evitar, antes de um rei era um ser humano. A pendragon já não sabia mais no que acreditar, sacrificou muito mais que seu gênero em prol do que acreditava, sacrificou sua personalidade, sua verdadeira personalidade que teve que esconder por uma imensa camada de gelo, sacrificou seus sentimentos nunca aberto com outra pessoa, sacrificou sua própria vida.

Tudo que pode fazer foi derramar algumas lágrimas molhando aqueles doces olhos cor de esmeralda. “Tudo... Tudo isso é minha culpa” pensou amargamente “ Tentando não ser um tirano e ajudar meu povo... Eu nunca procurei... Nunca procurei entender quem estava a minha volta... O sentimento daqueles que me serviam... Pouco... Pouco importavam para mim...” . O rei dos cavaleiro, que figura linda em toda sua destruição, em todo seu sofrimento. Uma figura trágica que teve um fim como todos os outros heróis que já cruzaram a terra. Encontrou a morte.

“Não... Não era para eu ter sido o rei... Não era eu... A verdadeira pessoa no trono era apenas uma ilusão, algo para abafar o sofrimento de um povo arrasado pela pobreza, fome e guerra...” pensou. Cerrou o pulso diante do punho da sua fiel espada Excalibur. “ Se eu tivesse um desejo? Eu simplesmente... Simplesmente não queria ter existido...”suspirou em meios a devaneios. Observou a montanha de corpos e espadas que se estendia por todo horizonte. Usou a arma em mãos para se levantar, teve um pouco de dificuldade e quase caiu diversas vezes.

Cambaleava muito, andou por todo campo, procurava algo que lhe desse rendição. Não sabia o que exatamente... Se achasse um sobrevivente da távola redonda não iria conseguira olhar no fundo dos seus olhos. Por fim olhou para o imenso e triste céu cinzento.

- ESSA É A MINHA RECOMPENSA, SENHOR!?- Gritou a loira com toda força que pode- FOI ISSO QUE EU GANHEI POR DESEJAR A FELICIDADE DO MEU QUERIDO REINO E DAR AOS DESAMPARADOS ESPERANÇA?!

Mais lágrimas desceram aos seus olhos. Respirou com dificuldade por causa da força intensa do grito, cerrou os dentes. De repente, pois a ficar estática. Olhou para cima e viu uma luz no meio do céu cinzento.

- Tem... Tem alguém me chamando...?

É talvez ainda exista esperança, mesmo após a morte.