Acho que o Doutor queria era se livrar de mim logo, eu nem conseguia sentar sozinha, sem morrer de dor, imagina ir para casa?

Com ajuda de meu pai, Enzo e Gabriel eu tentava andar até o carro que estava estacionado do outro lado da rua do hospital, e mesmo com ajuda, cada passo fazia meu corpo formigar de dor, agora eu estava até pensando em voltar para o hospital e ficar mais uns dois dias lá, mas não sem antes ir no mercado e comprar comida de verdade, e não sopa e gelatina, se eu visse mais alguma sopa eu iria vomitar e gelatina eu iria jogar pela janela, não duvide de mim.

Chegamos no carro e eu fui no banco de trás com Enzo, e de tão exausta que aquela caminhada, que mais parecia uma maratona, até o carro, dormi no colo de Enzo.

***

Acordei na minha cama, no meu criado mudo havia um hambúrguer, e eu pularia de felicidade se isso não doesse tanto, sentei-me devagar, a dor estava melhor, não tão forte, mas também nem um pouco fraca, juro que nunca mais fico perto de um penhasco. Comi meu hambúrguer devagar e depois eu tentei me levantar, eu queria muito me olhar no espelho, fazia dois dias que eu não me via.

Quando parei na frente do espelho, quase cai, quem era aquela garota que me encarava no espelho? Não poderia ser eu, nem em um milhão de anos, a garota, que havia invadido meu espelho e imitava todo e qualquer movimento que eu fazia, ela tinha o mesmo cabelo, olhos que eu, mas isso era só, o nariz dela estava com um curativo enorme, o queixo e bochechas cheio de arranhões e a boca inchada, com um corte terrível, em forma de lua, no lábio inferior. Os braços cheios de feridas e o pulso direito e o antebraço esquerdo enfaixados.

–Vejo que está se vendo. –escutei a voz de Enzo, ele estava parado na minha posta, veio e parou atrás de mim, me abraçou pela cintura e eu tentei não fazer careta de dor, mas fiz. –Desculpe. –sussurrou ele, quase impossível de escutar. Fui para a minha cama e me sentei nela, com dificuldade, e ele sentou-se do meu lado.

–Que horas são? –perguntei para ele.

–20 horas, de terça-feira. –disse ele e eu me assustei, como isso era possível? Eu havia saído do hospital as 7 da manhã de segunda-feira.

–Eu dormi por um dia e meio? –perguntei assustada, Enzo confirmou com a cabeça. Nessa sexta-feira era o baile, e no sábado a formatura. Deus...

–Calma, vá dormir, amanhã, quem sabe você possa ir na aula... Algumas garotas já estão preparando o baile de formatura. –ele sorriu cansativamente para mim. –Nem sabe da nova.

–O que? –perguntei sorrindo.

–Gabriel e Vanessa. –disse ele e riu, ele me contou tudo que eu perdi enquanto estava no hospital e dormindo em casa, Anne havia conseguido que Igor, um garoto que ela era louca, a convidasse para o baile, e Rafael estava revoltado, já que Anne iria com ele, mas agora não vai. Ele continuou falando, até que eu adormeci, de novo.

***

Se eu esperava ir na escola, no dia seguinte, não deu muito certo, por que acordei as 14 horas da tarde, e fiquei moscando o dia todo, meu corpo doía, não tanto quando antes, e o inchaço no meu rosto havia diminuído muito, eu estava quase parecendo um ser-humano novamente. Eu já conseguia andar normalmente, com dificuldade, Gabriel chegou com Enzo as 15 horas e eu estava atirada no sofá, com um livro de biologia.

–Já consegue andar direito? –perguntou Gabriel após um tempo. Concordei com a cabeça.

–Então você vai conosco no desafio essa noite? –senti Enzo ficar tenso, ele não queria que eu fosse, agora sim que eu iria ir.

–Claro.

A tarde passou rapidamente e quando chegou a noite fui com Enzo e Gabriel para a pista, onde ia ser o Desafio, Enzo estava tenso, e eu estava ficando com maus pressentimentos quanto a esse desafio, sentei na arquibancada e Enzo veio comigo.

–Não morra. –sussurrei para ele que sorriu e me beijou, seguindo para a pista. E assim que eu vi uma pessoa já conhecida na fila de competidores eu quase me desesperei. Ali, parado com um sorriso idiota e irônico, estava Aaron.