Vida em Erebor escrita por Vindalf


Capítulo 55
Apesar do meu jeito


Notas iniciais do capítulo

Tudo está bem quando termina bem



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E este é o último capítulo. É com dor que eu o posto. Mas para compensar ser o último, resolvi fazê-lo gigante. Espero que gostem.

55.

Apesar do mau jeito

Tudo está bem quando termina bem

Na manhã seguinte à festa, praticamente toda Hobbiton comentava que o jantar nos Took tinha sido um sucesso. À mesa do desjejum, em Bag End, Dwalin comentou:

— Achei que nunca mais fosse querer comer enquanto viver!...

Thorin observou:

— Mas aí está você, comendo mais dos biscoitos de Bilbo.

Anna ajudava Bilbo com a refeição, enquanto Kíli entretinha Darin. Ela comentou:

— Foi muita gentileza de sua família, Bilbo. E estava muito bom! Nós nos divertimos muito.

O hobbit comentou:

— Pois é, foram gentis mesmo, não? Sabe que eles não costumam ser assim? Ainda acho tudo estranho.

Anna observou:

— Talvez esteja exagerando, Bilbo. Só quiseram ser gentis. Fiquei contente com a recepção que deram a Thorin.

Thorin começou a dizer:

— Bem, er, na verdade, na festa aconteceu uma coisa...

Kíli o interrompeu, animado:

— Ouçam! Ouçam isso!

Todos se viraram para ele, que se dirigiu a Darin, apontando para Bilbo. — Darin, diga. Quem é esse?

— Bibi! — respondeu o menino, sorrindo.

Kíli apontou para Dwalin:

— E quem é esse?

Ele nem hesitou:

— Daí!

Anna sorriu. Kíli apontou para si:

— E eu?

— Ki! — gritou Darin, sorrindo, animado com a brincadeira.

— E quem é aquele?

— Adad!

— Agora diga quem é ela.

— Amad!

Gritos e palmas irromperam na cozinha, comemorando o feito de Darin. Ele finalmente pronunciara a palavra amad corretamente. Anna deu dois beijinhos no menino, que parecia extremamente orgulho de sua proeza.

Foi por causa do barulho que ninguém ouviu a entrada de um convidado de voz estridente:

— Ah, é aqui que estão todos. Com essa gritaria, nem adiantaria tentar fingir que não estavam em casa!

Todos se viraram para Lobelia Sackville-Baggins, parada na porta com as mãos na cintura. Parecia que ela tinha o dom de chegar nas horas mais inconvenientes. Bilbo encarou a prima, indagando, confuso:

— Lobélia? O que está fazendo aqui?

Anna tentou dispersar a tensão:

— Bom-dia, Sra. Sackville-Baggins! Aceita um biscoitinho?

A hobbit afetada deu um sorriso falso e respondeu:

— Não, querida, obrigadinha, mas meu assunto é rápido. — Ela se virou para Thorin. — E então, Sr. Oakenshield? Já falou com o Thain? Qual é sua resposta?

Anna viu seu marido se avermelhar de raiva e sentiu a tensão nele. Mesmo sem saber do que Lobélia falava, Anna temeu uma cena desastrosa quando o marido abriu a boca, falando em voz baixa - a mais perigosa:

— Madame, eu esperava ter uma oportunidade de discutir o assunto com minha mulher antes dar uma resposta a seu Thain.

Ela se impacientou:

— Bem, apresse-se com isso! Outras pessoas dependem de sua resposta!

Thorin rosnou levemente ao retrucar:

— Não precisa se preocupar, Madame. Jamais me passou pela cabeça deixar o seu Thain em maus lençóis. Ele terá a resposta no prazo que nós dois combinamos.

Obviamente não era a resposta que Lobélia esperava, mas ela se limitou a dizer:

— Pois veja que isso seja assim, senhor. Passar bem!

Empinou o nariz e saiu porta afora antes que qualquer um pudesse dizer coisa alguma. O rosto de Bilbo se alternava entre a indignação e a estupefação. Anna estava totalmente confusa, bem como os outros anões. Darin gritou, sorridente:

— Adad!

Bilbo indagou:

— Alguém pode me explicar o que acabou de acontecer?

Anna indagou:

— Thorin, do que ela estava falando?

Kíli comentou:

— Essa mulher é maluca! Oh, desculpe, Bilbo. Ela é sua parente, eu sei que não devia falar assim.

— Não, não se desculpe: você tem razão — concordou Bilbo. — Lobélia é completamente insana. O que ela queria com você, Thorin?

Anna encarou o marido, notando que ele parecia contrariado e constrangido. Ela indagou:

— Thorin?

Ele explodiu, irritado:

— Ela nem me deu chance de falar com você! Mulher intrometida, insuportável, îsh kahkfê ai-‘d dûr-rugnu! — terminou, tão aborrecido que escorregou para Khuzdul aos gritos.

Os berros repentinos fizeram Kíli e Dwalin arregalar os olhos. Darin ficou imóvel, lívido de medo, assustado com a reação súbita e extrema do pai. Ao lado do filho, Anna encarou o rostinho no qual lágrimas começavam a se formar, e em voz calma e determinada, garantiu ao menino:

— Está tudo bem, Darin. Escute a mamãe. Não precisa ter medo. Seu adad está irritado, mas ele não vai gritar mais. — Ela se virou para Thorin e disse em voz calma e pausada, mas firme: — Por favor, Thorin, me ajude: seu filho precisa saber que você não vai mais gritar e vai falar com ele calmamente.

Thorin encarou o filho, mortificado, e dirigiu-se a ele, em voz baixa:

— Não vou mais gritar, meu filho. Desculpe seu papai. Está tudo bem, inùdoyduh.

Darin se jogou para os braços do pai, ainda trêmulo:

Adad...!

Thorin o abraçou, ainda se desculpando por tê-lo assustado. Dwalin, sempre impaciente, quis saber:

— Agora que o menino está bem, pode dizer o que foi tudo isso?

Thorin beijou o topo da cabeça de Darin, antes de responder, em voz grave:

— Ontem à noite, durante o jantar, o Thain me chamou reservadamente e me fez uma proposta. Ele me disse que toda essa área de Hobbiton e Bywater está há anos sem um ferreiro desde que o último morreu e me ofereceu o posto. Eu lhe disse que não poderia dar uma resposta antes de falar com Anna. Ele me disse que faria um preço camarada pelo terreno da forja e, se eu aceitasse, organizaria voluntários para construir uma casa grande - que pudesse abrigar uma creche ou, eventualmente, até uma enfermaria, se necessário.

Bilbo comentou, rindo, de maneira marota:

— Vovô é muito esperto. Quis assegurar que Anna também se envolvesse e tivesse motivos para ficar.

Dwalin continuava de cara fechada, e quis saber:

— Ainda não entendi o que aquela harpia que esteve aqui tem a ver com isso.

— Ah, eu acho que posso responder a isso — disse Bilbo. — Desde que o velho Burrows (o antigo ferreiro) morreu, Lobélia está de olho no terreno da forja como uma herança para o pequeno Lotho, seu filho. É um terreno excelente, plano, amplo e com seu próprio olho d'água. Primo Falco pode ter falado sobre o novo ferreiro: ele se ressente de ter que ir até Michel Delving para afiar os instrumentos de marcenaria. Ele perde quase três dias de trabalho com essas viagens. Se tivesse um ferreiro aqui, ele economizaria tempo e dinheiro.

Eles se entreolharam, impressionados com as informações. Kíli concluiu:

— Então vocês morariam aqui? Não em Ered Luin?

Thorin assentiu:

— Foi a oferta do Thain. Eu teria preferido discutir isso com Anna, de maneira privada.

Dwalin concordou:

Aye. Vamos dar uma volta, pessoal.

Eles já iam se levantando quando Anna e Thorin disseram:

— Não!

Todos os olharam, e Anna explicou:

— Eu só ia sugerir que Thorin e eu fôssemos dar uma volta, não vocês.

Seu marido completou:

— Na verdade, eu ia dizer que o Velho Took se ofereceu para me mostrar o local hoje — e achei que Anna poderia vir conosco. Se quiser, ghivashel. Então, depois que virmos o lugar, podemos discutir o assunto.

Anna estava calada, o que não era de sua natureza. Ela ainda tentava pesar todas as implicações da oferta e de tudo mais. Thorin notou a reação:

— O que diz, ghivashel?

Ela disse, sincera:

— Acho que devemos ver o local e as condições antes de decidirmos qualquer coisa. Lembra? Vamos fazer isso juntos.

Thorin sorriu. Depois repetiu:

— Juntos.

Do colo dele, Darin contribuiu:

— Toto!

Thorin o ergueu pelas axilas e fez suas testas se encontrarem. Darin ficou quietinho, rindo. Depois ele mesmo abaixou a cabeça para encostar na testa do pai.

Anna sorriu. Os khazâd não precisavam de palavras para se comunicar.

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Thorin e Anna passaram na casa do Velho Took e seguiram com ele até o local da forja. Anna notou que, embora ficasse perto do mercado e da região central do povoado, a forja ficava longe da agitação da cidade, num terreno afastado e plano perto de uma colina.

A forja, em si, notou Thorin, não era nada além de uma ruína, devido aos anos de abandono. Mas o terreno era grande, encostado numa colina suave. Ela não saberia dar as dimensões ou tamanho da área se lhe perguntassem, nunca tinha sido boa nisso. Mas era amplo como Bag End, talvez maior. Haveria espaço para reconstruir a forja e também para erguer uma boa casa e um galpão para a creche ou enfermaria.

O olho d'água que Bilbo mencionara era uma fonte que brotava entre umas pedras, tão tranquila que parecia murmurar, profunda o suficiente apenas para chegar ao meio da canela dela. Anna sentiu sua energia interagir com o local, delicados tentáculos dourados saindo de seu corpo na direção da água. Havia algo muito especial naquele lugar. O Thain explicou que aquele era o início de um pequeno córrego que iria desembocar muito adiante, no rio Brandywine.

Anna desligou-se da conversa entre Thorin e Gerontius Took, curiosa sobre a forte energia do lugar. Seu corpo inteiro parecia responder às forças dali.

"Muito você poderá fazer depois que curar o vazio em seu coração. Siga sua energia e confie nela."

O pensamento, na voz misturada de Lady Galadriel e Lord Elrond, surgiu na mente de Anna acompanhado de um tremor e um sentimento irreversível de tranquilidade, um que a transportou de volta para sua casa, ao lado de sua mãe e de seu gato Billy. Ela sentiu a energia a cercá-la, isolando-a naquele lugar protegido e tão cheio de amor.

— Vejo que a senhora se agradou muito deste local.

As palavras do Thain devolveram Anna à realidade. Ela sorriu, envergonhada, justificando:

— Não há como negar que é um lugar muito bonito, Sr. Took.

Anna notou que Thorin estava de olho nela, inseguro, e só então ela se deu conta que não tinha se pronunciado muito desde que recebera a oferta. O Velho Took disse:

— É bom lugar para se morar. E a forja está melhor estado do que imaginei. As tempestades do inverno deveriam ter destruído totalmente o telhado.

Thorin comentou:

— Podemos conversar mais sobre as condições de pagamento mais tarde.

O Thain disse:

— É claro. A resposta pode esperar uns dias.

Anna chegou perto de Thorin e dirigiu-se ao Thain.

— Vamos conversar sobre o assunto.

— Façam isso, façam isso — disse ele. — Vocês, jovens, parecem ter a ideia certa: discutir entre si antes de tomar as grandes decisões da vida. Interessante. Bem, vou deixar que conversem.

Thorin se ofereceu:

— Iremos com o senhor até sua casa.

— Oh, não, meu jovem — descartou. — Vocês têm muito a conversar: é bom que comecem logo. Até mais!

Gerontius Took pegou o caminho de volta, deixando Thorin e Anna sozinhos em meio ao terreno que poderia ser o futuro lar deles. O antigo Rei Sob a Montanha virou-se para sua mulher:

— Ele tem razão. Temos muito o que conversar.

— Temos mesmo — concordou Anna. — Preciso saber o que você está pensando, Thorin.

— Meu pensamento é que você está muito calada a esse respeito — respondeu ele, sombrio. — Pensei que fosse gostar da oferta, já que aprecia tanto o Shire. Mas agora tenho medo de tê-la desagradado.

Anna garantiu:

— Não me desagradou, Thorin, pelo contrário. Eu adorei! Mas não quero me impor sobre sua vontade. Você tem falado tanto em Ered Luin que temo aceitar viver aqui e ver você triste por estar longe de seu povo.

Thorin insistiu:

— Ficaria triste se visse você infeliz, ghivashel. Ao ver você neste lugar, não sei se seria uma boa ideia voltar a viver numa montanha. Eu... — Ele se interrompeu e baixou os olhos. — Eu sempre me perguntei se você era feliz em Erebor. Eu via o mundo fora da montanha, os campos verdes, as florestas e vales, a luz do sol. Você combina com isso. Eu sempre admirei o seu sacrifício, ghivashel. Aguentar a escuridão e o claustro de Erebor, com um povo que não é o seu, e do qual cuidou como se fosse... Sempre achei que essa situação era uma crueldade numa criatura que, vejo agora, prospera na luz do sol e o ar puro.

— Não diga isso — ralhou Anna. — Nunca foi sacrifício ficar ao seu lado. Nem cuidar de nosso povo. Meu lugar sempre foi ao seu lado. Só por Darin eu estava disposta a viver sozinha. Mas se você sonha em voltar a Ered Luin...

— É evidente que você quer ficar aqui. Por que resiste?

— Não acho justo! Sinto que você perdeu tanto por minha causa... Você desistiu de seu trono, sua família! Por minha culpa!

— Você nunca me pediu isso — ressaltou o marido. — Foi minha decisão.

— Você jamais teria abdicado se eu não tivesse saído de lá.

Ele admitiu:

— Verdade. Mas não me arrependi do que fiz. E acho que teremos uma vida feliz aqui. É o que quer, não é? Quer viver aqui.

— Sim. Mas não quero que concorde só para me agradar.

— Ficarei feliz em voltar a uma forja. É um bom trabalho. Há muito tempo não tenho chance de moldar aço, temperar uma lâmina. Há outros pequenos serviços que também posso fazer para dar conforto à minha família.

— Teremos que construir uma casa. É muito trabalho, demorado até na minha terra.

— Kíli e Dwalin podem ajudar. O Thain disse que arrumaria voluntários também.

Anna encarou os profundos olhos azuis do marido, indagando:

— Então está decidido?

Foi a vez dele encará-la:

— Parece que sim, não?

Eles se abraçaram, emocionados, em meio ao seu futuro lar, seu doce lar. Depois apoiaram as testas um no outro:

— Juntos — prometeu Thorin. — Para sempre.

— Para sempre — respondeu Anna.

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Nada podia ser mais verdadeiro do que o dito que "o tempo voa quando a gente se diverte". Anna descobriu essa verdade em relação à sua casa e à sua vida.

Foram necessárias duas estações inteiras até a casa e seus complementos ficarem prontos. Tudo foi feito em etapas.

Primeiro, eles reconstruíram a forja. Nisso os anões fizeram tudo sozinhos, e foram a Ered Luin buscar ferramentas e materiais.

Anna e Darin foram nesta viagem, aproveitando os dias agradáveis de primavera. A montanha era muito diferente de Erebor. Não havia muitas gemas, e os anões de lá exploravam ferro e carvão mineral mais do que qualquer outro elemento.

A vinda de Thorin e Dwalin trouxe reboliço às Montanhas Azuis. Os velhos amigos quiseram saber das novidades, e eles tiveram que contar muitas histórias: da ida a Erebor e reconquista da montanha à volta a Ered Luin. Mas não contaram tudo: só que Thorin abdicara do trono por razões pessoais.

Passaram quase duas semanas ali, nas quais Anna se convenceu que ficar no Shire tinha sido mesmo a melhor solução. Os anões de Ered Luin não deixavam seus filhos se aproximarem de Darin. Nem todos, claro. Mas estava lá a mesma animosidade velada que Anna sentia permear Erebor. Darin também sentia, pois chorava mais quando estava na montanha. Anna o levava para passear com frequência lá fora enquanto o pai e os primos faziam suas tarefas. Thorin notou o silêncio reprovador de seu povo e teve certeza de que tomaram a decisão certa ao decidir morar no Shire.

Viver em Ered Luin teria sido penoso para a família toda.

Duas semanas depois, e com duas carroças de material, eles começaram a viagem de três dias de volta ao Shire. No caminho, havia vilas de homens que também conheciam o trabalho de Thorin. Ficaram admirados que um anão tivesse resolvido se estabelecer em meio a hobbits. Anna notou que Thorin já formava seu mercado, uma carteira de clientes.

Ao voltarem ao Shire, começaram com a reconstrução da forja. Os anões conheciam tudo sobre isso e optaram por fazer três paredes de pedra ao redor do fogo e também um tamboril de água em metal. Anna não entendia nada daquilo, mas todos diziam que o lugar era capaz de produzir peças de primeira linha.

Em breve, Thorin Oakenshield dividia seu tempo entre trabalhar na forja e erguer sua casa. A construção provou ser um desafio. Afinal, anões viviam em montanhas, e hobbits moravam nas suas tocas chamadas smials. Quem por ali sabia construir casas?

A solução foi optar por um meio termo — uma moradia quase híbrida, por assim dizer. Eram paredes de pedra, telhado de madeira e um amplo subterrâneo ao nível do chão na encosta da colina, como um smial modificado. Dois quartos, uma sala, um escritório/estúdio e uma ampla cozinha com copa, sem mencionar as áreas de serviço internas para despensa de alimentos e câmara fria. Foi muito interessante que Bilbo tenha ensinado a Anna como eles faziam para conservar e defumar os alimentos.

Durante todo esse tempo, eles continuaram a morar com Bilbo, incluindo Kíli e Dwalin. Além de voltar a cuidar das crianças, Anna aprendia com o hobbit e as senhoras do Shire a cozinhar, cortar lenha e fazer as tarefas domésticas sem eletrodomésticos ou facilidades modernas. No começo, todos estranhavam que ela nada soubesse fazer. Depois as perguntas pararam, mas uma das crianças solucionou o mistério com uma pergunta:

— Dona Anna, quando a senhora era rainha, a senhora tinha muitos criados?

Então era isso que tinham descoberto: que Thorin fora rei. Sua resposta à criança foi simples: ela nunca tinha sido rainha. E era a mais pura verdade.

Quando a casa ficou pronta, Thorin e Anna deram uma festa que mobilizou praticamente toda Hobbiton. Havia muita comida (o que agradava hobbits) e muita bebida (o que agradava anões e hobbits), e houve até quem trouxesse instrumentos e um baile se improvisou no terreno da casa. A diversão foi até altas horas da noite, quando hobbits começaram a cair pelo chão de tanto que tinham bebido. Isso não era nada respeitável para hobbits decentes, e as mulheres dos ditos hobbits reclamaram disso durante dias após a festa.

Falco Chubbs-Baggins gostou tanto das ferramentas feitas por Thorin que em troca ajudou a fazer os móveis principais da casa: cama, mesa e cadeiras. O resto seria mobiliado aos poucos.

Em pouco tempo, chegou a triste hora de Dwalin e Kíli voltarem para Erebor. Anna agradeceu muito, mandou cartas para Dís, Fíli e Balin, convidando toda a companhia para o Shire. Eventualmente, alguns deles apareceram, mas muitos anos mais tarde.

Com o tempo, Anna virou a mulher do ferreiro, e Thorin Oakenshield virou Sr. Thorin, o ferreiro e marido da curadora, Dona Anna. Darin cresceu, como acontece com as crianças, criado entre hobbits, aprendendo com o pai a também ser um pouco anão. Em tempo, Anna e Thorin sabiam que Darin teria que conhecer a verdade sobre sua origem. Mas não antes de deixar de ser menino.

Darin ainda era pequeno quando operou um de seus milagres, enchendo a mãe de orgulho. Foi numa visita do mago cinza.

Gandalf viera visitar seus hobbits, pois o Velho Took não duraria muito tempo. Em Rivendell, Lord Elrond lhe pedira que levasse a água de Gil-Estel para Anna, pois ela fazia bem a Erulissë e também ao pequeno Darin.

O menino bebeu a água, e Anna fez o mesmo. Ela viu a energia do filho resplandecer diante de seus olhos. O menino tocou o ventre da mãe e pediu que sua irmãzinha tivesse o nome do pai. E Thorina ela se chamou, nascida em Rivendell.

Assim terminou sendo a vida deles: calma e discreta. Não estavam escondidos, mas não se exibiam. Procuravam não falar do passado em Erebor. Faziam uma festa no Dia de Durin, observando a data sagrada do povo de Thorin, Thorina e Darin.

Darin tornara-se um rapazinho. Um dia, sabia Anna, ele sairia de casa e conheceria o mundo.

É que o mundo estava lá fora, além das fronteiras do Shire. Para o mundo (com exceção de umas poucas pessoas de raças variadas), Thorin Oakenshield desaparecera na dor da perda de sua família. Quem via o Thorin ferreiro, que vivia alegre e sereno com seus dois lindos filhos e sua mulher numa casinha de pedra em Hobbiton, não pensava ser o antigo rei sob a montanha, Senhor de Erebor.

Melhor que o mundo pensasse assim. Até um certo anel despertar e seu dono trazer fogo e destruição a toda terra, era melhor que o mundo não soubesse o que se passava com esta família tão improvável.

The end

Palavras em Khuzdul

adad = pai, papai

amad = mãe, mamãe

ghivashel = tesouro de todos os tesouros

inùdoydhu = meu filho

khazâd = anões, povo anão

PS

Este é o fim da série. Podem acreditar que eles viveram felizes para sempre. Podem acreditar também que eventualmente devo escrever histórias nesse universo e em outros do Hobbit. Obrigada a todos que leram.


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