Vida em Erebor escrita por Vindalf


Capítulo 41
A respeito de hobbits


Notas iniciais do capítulo

Anna é apresentada à cidade



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A respeito de hobbits

Anna é apresentada à cidade

No dia seguinte, depois do primeiro café da manhã, Bilbo levou Anna à feira, para conhecer o local e os habitantes, apesar do frio e da neve no chão. Foi um choque e um deleite para Anna.

Como a comunidade era pequena, Anna e Darin chamaram a atenção. Ela foi apresentada a uma quantidade inacreditável de hobbits. O oleiro, Mestre Sandyman, foi o único nome novo que Anna conseguiu lembrar.

Não tinha como não se admirar da quantidade de primos, tios e parentes que Bilbo e se povo partilhavam entre si. Anna conheceu Hamfast Gamgee, o jardineiro, que dali a muitos anos teria um filho chamado Samwise. Por não saber muito da história de "O Senhor dos Anéis", ela não sabia dizer os nomes dos futuros pais de Merry e Pippin.

Senhoras hobbits perguntaram sobre Darin (e seu pai, claro), e Anna podia sentir as especulações insinuadas. Fofoca parecia ser um esporte do Shire inteiro.

Gandalf era visto por duas óticas: uma delas era de perturbador da paz (apesar dos ótimos fogos de artifício), e a outra era de uma Pessoa Alta que não merecia atenção ou crédito.

Mas então ela apareceu. Uma hobbit mais jovem que Bilbo, muito enfeitada e que arqueou as sobrancelhas para Anna, comentando:

— Então, Bilbo Baggins, estes são seus misteriosos hóspedes?

A expressão do afável hobbit mudou diante da mulher, e ele respondeu, contrariado:

— Dificilmente são misteriosos, visto que você e eu conhecemos Gandalf desde que éramos pequenos. E esta é Anna, uma querida amiga, com seu filhinho Darin. Anna, esta é minha prima Lobelia Sackville-Baggins.

Anna fez uma mesura, reconhecendo o nome:

— Encantada, senhora. Lindo vestido, esse que usa.

A afetada se viu desarmada, e disse:

— Eu ia levar meus famosos bolinhos para receber vocês, mas...

— Mas não levou — interrompeu Bilbo, apressadamente —, e agora estamos com pressa porque o bebê precisa dormir. Adeus!

E puxou Anna, que mal teve chance de dizer:

— Prazer em conhecê-la!

Quando ela ficou fora de alcance, Bilbo explicou:

— Desculpe por isso, mas Lobelia é insuportável. Seus bolinhos são mesmo famosos, isso é verdade. Mas ela é impossível! Quando voltei de Erebor, ela estava tentando se apossar de Bag End. Mesmo antes disso, ela já vinha tentando roubar as colheres de prata que eram de minha mãe...!

Anna lembrou:

— Você mencionou essa sua prima durante a viagem.

— Na verdade, ela só é minha prima porque se casou com meu primo Otho. Os Sackville são hobbits diferentes. Ela não é insuportável? Tome cuidado com ela!

Anna disse:

— Talvez eu ainda tenha tempo antes de ela começar a falar mal de mim. Mas receio que o filme de Gandalf já esteja queimado até virar cinza.

O mago quis saber:

— Meu queimado o quê?

Anna se riu:

— Às vezes me esqueço das expressões de meu tempo. Desculpe: só quis dizer que a má reputação de Gandalf pode ser irreversível.

Encasacado até onde podia estar, Darin pôs-se a chorar, e Bilbo chamou:

— Vamos voltar. Parece que vai nevar de novo, e isso não é bom para pequenos anões.

Anna beijou a testa do filho e constatou:

— Na verdade, acho que ele está chorando de frio.

Ao ouvir isso, Bilbo apressou a volta para casa. Ao chegar lá, Darin ganhou leite quentinho. Anna, porém, foi surpreendida com um manjar dos deuses.

— Bilbo...! Eu nem sabia que aqui tinha isso...!

Ele se admirou:

— Mas é só chocolate quente. Bom para esquentar.

— Eu tinha perdido as esperanças de sentir o gosto do chocolate novamente — confessou Anna, reverenciando a xícara fumegante, fazendo o aroma extravagante penetrar em suas narinas e ativar memórias afetivas profundas. — Minha mãe costumava fazer no frio.

Bilbo explicou:

— A planta vem de uma área quente, bem ao sul, depois de Gondor. Compramos de comerciantes dos homens. Houve uma tentativa de plantio da Quadra do Sul, mas acho que era um solo pantanoso demais.

Anna agradeceu:

— Muito obrigada, Bilbo.

— Farei um bolo um dia desses, já que gosta tanto — prometeu Bilbo. — Chocolate combina muito com frio.

Gandalf olhou pela janela, dizendo de maneira sombria:

— Parece que Bilbo tinha razão. Estão vindo mais nuvens de frio do Norte. Vamos ter uma tempestade de neve em breve.

Bilbo ofereceu:

— É melhor ficar mais uns dias, Gandalf. Sei que queria viajar, mas me parece arriscado. Não será prudente viajar só para ser apanhado de surpresa por uma nevasca.

— Eu não queria me aproveitar de sua hospitalidade, meu caro Bilbo — comentou Gandalf, com um muxoxo nada verdadeiro.

— Nem pense nisso. Você não vai sair até o tempo melhorar.

Nas semanas que se seguiram, o tempo não melhorou. Se é que era possível, ele piorou ainda mais.

Os hobbits ficaram enfurnados em suas casas. Bilbo recebeu alguns convidados - a maioria eram parentes curiosos para ver os hóspedes de Bag End. Darin conheceu algumas das crianças Baggins e adorou os irreverentes Took.

O confinamento forçado levou Darin a descobrir sua nova pessoa favorita: Bilbo. Depois de inicialmente não gostar do hobbit, em poucos dias ele ficou obcecado com Bilbo a ponto de querer fazer tudo com ele, especialmente comer e brincar. Anna sorriu internamente porque era um comportamento idêntico ao do pai, quando conheceu Bilbo: primeiro Thorin desprezou o hobbit, depois viraram amigos.

Mas como acontece sempre, todas as coisas boas passam.

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O intenso frio prolongado fazia com que todos ficassem em suas tocas, tanto hobbits quanto pequenos animais, deixando os grandes predadores sem caça. Esfomeados, os animais passaram a procurar caça em todos os lugares onde podiam encontrar. E até alguns lugares inéditos.

— Thain, entre — apressou Bilbo, dando passagem ao avô na porta da frente, pela qual entrava um vento congelado e flocos de neve. — Sente-se perto da lareira para se esquentar.

Gerontius nem esperou um segundo convite. Anna, que brincava com Darin no chão, apontou para a poltrona próxima à lareira:

— Sente-se, Sr. Thain.

— Obrigado, minha jovem. — Ele ofegava. — Esse tempo está mesmo terrível!

Bilbo voltou da cozinha, onde tinha ido pegar uma xícara e umas folhas de chá. Enquanto improvisava uma bebida quente, indagou:

— Está tudo bem? Não devia ter saído com um tempo desses! — Passou a xícara. — Aqui: beba e o frio logo passa. Vovó Adamanta está bem?

Ele sorveu um gole antes de garantir:

— Sim, está tudo bem, mas estou avisando a todos em Hobbiton e outras partes do Shire. Os Guardiões do Norte alertam que viram lobos à espreita perto do Brandywine. O rio não demora a congelar.

Anna viu Bilbo empalidecer como poucas vezes. Ele indagou, abalado e em voz baixa:

— Alguém foi atacado?

O velho hobbit disse:

— Não, e você sabe que provavelmente nada vai acontecer até o rio congelar. Os Guardiões e os hobbits-em-armas orientam a todos que fiquem em casa e não saiam, especialmente à noite. Se tiverem que sair, saiam em grupos, com armas, se tiverem, e apenas por motivo de extrema necessidade. Estou indo de casa em casa, ver as necessidades de todos. — Ele se dirigiu diretamente a Anna, sombrio. — Você e seu pequeno devem ficar em casa a todo custo.

Gandalf se ofereceu:

— Meu velho amigo, posso ir com você e ajudar a avisar os demais.

— Agradeço, Gandalf, mas alguns Guardiões se prontificaram a fazer isso. Eles também estão mobilizados.

Anna disse:

— Sr. Thain, se tiver alguém doente, eu posso ajudar.

— Não, nem pensar. Nós, hobbits, conhecemos nossas ervas medicinais. Preocupe-se em cuidar de seu pequeno. Bilbo, pode ser que precisem ficar confinados muito tempo. Têm provisão suficientes para você e seus hóspedes?

— Sim — garantiu ele. — Temos comida para muito tempo, e água pode vir de neve derretida e fervida.

— Seja honesto, meu rapaz — advertiu o velho hobbit. — Estamos lidando com uma emergência.

Ele garantiu:

— Aqui estaremos bem por pelo menos três semanas. Depois disso, podemos precisar de lenha.

Anna sugeriu:

— Poderíamos dormir todos neste salão para economizar lenha. Sabe, como se estivéssemos acampando.

O avô de Bilbo respondeu pesadamente:

— Gostaria de poder dizer que não chegaremos a esse ponto, mas não sabemos.

Bilbo emendou:

— De qualquer forma, é cedo para isso. Ainda há bastante lenha.

Anna indagou:

— E alguém precisa de ajuda ou abrigo? Idosos, crianças... Ainda há tempo de ir até eles antes que o rio congele.

— Por enquanto as famílias estão se ajudando e isso tem dado certo — disse o Thain. — Somos uma comunidade unida, Dona Anna. Mas fico feliz que queira ajudar.

Bilbo viu que o avô terminara o chá e recolheu a xícara, dizendo:

— Podemos ajudar, vovô. Eu tenho espaço para muitos Tooks, Baggins e Brandybucks!

Anna insistiu:

— E eu realmente posso ajudar se houver gente doente. Eu gostaria disso.

O Thain se ergueu, dizendo:

— São ofertas generosas, e talvez tenhamos que aceitá-las. Mas por enquanto tomem cuidado e mantenham-se em segurança.

— Obrigado pelo aviso, vovô.

O Thain abraçou Bilbo com carinho e garantiu:

— Vai dar tudo certo, meu rapaz. Lembre-se que o inverno um dia acaba.

Com essas palavras, o velho hobbit fez uma gracinha para Darin e despediu-se de todos. Anna sentiu Bilbo muito preocupado. Gandalf também deve ter sentido o mesmo, porque imediatamente indapou:

— Bilbo, acha que é uma boa ideia aproveitar para pegar um pouco de lenha a mais? Só por precaução?

Ele se animou:

— Gandalf, sua ideia parece excelente!

Anna interveio:

— Eu posso ajudar, mas alguém tem que ficar com Darin um pouco.

— O que está pensando?

— Podemos trabalhar em etapas: se me disser onde tem boas árvores para lenha, um grande urso poderia arrancá-las e trazer até a algum lugar perto de Bag End, onde você e Gandalf poderiam cortar os troncos.

Os dois se entreolharam, e Gandalf comentou:

— Na verdade, a ideia é muito boa. É prática! O urso pode ir à noite, mas precisa tomar cuidado com caçadores.

— Ou lobos — disse Bilbo em voz baixa. — É perigoso, Anna, eu não gosto disso.

Gandalf assegurou, em voz serena:

— Ela vai estar bem, Bilbo. Ela pode se defender, ou então ela pode chamar Safira para fazer isso.

Os dois se olharam de novo, em silêncio, mensagens silenciosas sendo gritadas ali. Anna viu algo nos olhos de Bilbo: medo e saudade. Ela sabia que havia un segredo, e não aguentou mais ficar em silêncio. Pegou o braço de Bilbo com carinho e garantiu:

— Bilbo, eu vou ficar bem. Não sei o que está antecendo, mas eu estarei bem. Não se preocupe.

Ele abaixou a cabeça, emocionado:

— Eu sei, Anna, desculpe. Mas é que... Faz tanto tempo, mas eu... É que eu perdi meu pai num inverno assim. Os lobos vieram, e ele protegeu a mim e minha mãe, mas... as feridas foram grandes...

— Oh, Bilbo... — disse Anna. — Lamento muito.

Ele deu de ombros, ainda sem olhar para ela, fungando:

— Eu sou um hobbit tolo, acho.

Anna esticou-se para dar um beijo em sua bochecha. — Não é. E acho que sabe disso.

Surpreendentemente, Darin, que estava no colo de Anna, também se esticou, pedindo colo para Bilbo. O menino deu um beijo em Bilbo e riu para ele. O hobbit sorriu para o pequeno.

Anna pensou, naquele momento, que nunca ficou tão orgulhosa do filho.


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