Vida em Erebor escrita por Vindalf


Capítulo 13
Falando com os vizinhos


Notas iniciais do capítulo

Anna vai inspecionar lavouras



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Falando com os vizinhos

Anna vai inspecionar lavouras

— Dori pareceu intrigado com o móvel que encomendou a Bifur e Bofur — comentou Thorin no fim do dia, depois que se recolheram. — Ele disse que viu uma miniatura.

Anna se ajeitava para dormir, comentando:

— Fiquei surpresa que aqui não conheçam esse tipo de gavetas. Achei que Bilbo tivesse alguma nos armários. Posso ter me enganado.

— Ah, é uma coisa de hobbit?

— Talvez. Não conheço a casa de Bilbo. Ah, sinto falta dele...

— Sim, também sinto falta de nosso ladrão. Eu ficaria satisfeito se ele viesse à coroação.

Anna ainda tentava se ajeitar e confessou:

— Pois eu ficaria satisfeita só em conseguir me ajeitar para dormir. Não consigo ficar confortável! Vou pedir a Hila que faça mais um travesseiro para ajeitá-lo entre as pernas.

O Rei Sob a Montanha arrastou-se pela cama até chegar junto de sua esposa, sorrindo:

— Você sabe que meus planos são ajeitar outra coisa entre suas pernas, não?

— Thorin, seu devasso! — Anna se escandalizou, mas lembrou: — Meus movimentos já começam a ficar restritos devido à gravidez. Daqui a pouco teremos que ser mais criativos.

Ele se aproximou e beijou a barriga dela com carinho, antes de dizer:

— Conseguimos criar nosso bebê. Vai dar tudo certo. Mesmo que tenhamos que ficar sem nos desfrutar por algum tempo.

Anna sorriu, acariciando a barba dele:

— Eu amo você, Thorin. Mesmo que meu corpo esteja inchado demais com nosso bebê para nos desfrutarmos, meu corpo anseia pelo seu.

Thorin a envolveu em seus braços e a beijou longamente, antes de sugerir:

— Talvez possamos ficar criativos agora mesmo. Que tal?

Anna concordou, acesa:

— É só uma questão de jeito, meu rei.

E os dois se dedicaram a encontrar maneiras criativas de concretizar seu amor.

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Conforme o combinado, no dia seguinte, Dori levou Anna até a lavoura que estava sob o cuidado dos homens, no campo ao lado da montanha solitária. Como sempre, Madame Hila a acompahava.

Anna observou que a terra já estava arada, e duas mulheres se revezavam entre colocar as sementes e cobri-las de terra, enquanto dois homens empunhavam pesadas ferramentas e um terceiro apeou do cavalo encilhado para recebê-los à beira do campo.

— Mestre Dori! — saudou o homem alto e de barba rala escura. — Não me avisou que traria visitas.

Dori apresentou:

— Milady, este é Migoen, chefe dos assentados. Mestre Migoen, apresento a Consorte de Rei Thorin de Erebor, Anna, e sua dama Hila. Lady Anna é a responsável pelo projeto da lavoura em Erebor.

Ele se curvou:

— Senhora, é uma honra. Se Mestre Dori tivesse nos avisado que viria, teríamos preparado algo.

Anna se inclinou, garantindo:

— Fui eu quem insistiu com Mestre Dori para ver como estavam os campos e seus ocupantes. Na verdade, o rei me pediu que viesse trazer pessoalmente um convite.

— Convite?

— Para a coroação de meu marido. Já devem saber que Erebor prepara uma grande festa para seu rei, e ele faz questão de convidar todos. Afinal, são mais do que vizinhos.

O homem se curvou de novo:

— Senhora, é uma honra muito grande.

— Estão todos convidados — repetiu Anna. — Esperamos todos na montanha na próxima lua cheia. E tragam suas famílias.

— Muito agradecido, senhora.

— Nós é que somos gratos por seu esforço — garantiu Anna. — Mestre Dori nos traz relatos de seus progressos constantes e isso nos deixa satisfeitos.

— Esperamos começar a colher no fim do verão ou começo do outono no máximo.

Anna olhou em volta, viu algumas crianças de longe e quis saber:

— E as acomodações? Vocês estão confortáveis? Falta alguma coisa? As crianças estão bem?

— Estamos todos bem, com a graça dos Valar.

— O senhor se incomoda se eu for falar com sua mulher e ver suas crianças? Só quer verificar se estão todos bem instalados. Mas não quero deixar ninguém constrangido. É sua casa, eu não quero me intrometer. Coisa de mulher, se me compreende.

Sem objeções, Anna e Hila se dirigiram às cabanas erguidas à beira dos campos, Dori indo atrás. Já do lado de fora da casa, Anna ouvia sons de família: crianças e uma voz feminina adulta... Antes que ela batesse, porém, uma voz infantil perguntou:

— Vocês vêm da montanha?

Um menino magrinho, de roupas e rosto sujos, aparentando uns seis anos, encarava as duas com curiosidade. Anna sorriu para o garoto:

— Sim, eu moro na montanha. Eu sou Anna e estes são Hila e Dori. Qual é seu nome?

— Megren. Eu moro naquela casa.

— Prazer em conhecê-lo, Megren. Sua mãe está em casa? Podemos falar com ela?

— Tá. — Ele correu para dentro da casa. — Mamãe! Gente da montanha!

A mulher simples, com um bebê nos braços, foi recebê-las na porta, intrigada:

— Gente da montanha? — Ela empalideceu de susto e fez uma mesura, apressadamente. — Oh, senhora, perdoe-me, por favor!...

Anna se apressou a dizer:

— Por favor, madame, levante-se. Não precisa ter cerimônia. Megren disse que podíamos entrar, mas não quero atrapalhar. Se não for uma boa hora...

— Não, Milady, por favor, entre.

Na casa simples, de praticamente um cômodo, Anna sentou-se à mesa, observando que havia pelo menos mais meia dúzia de crianças, de variadas idades. Ela disse:

— Eu sou Anna, e estes são Hila e Dori. O rei Thorin nos mandou para verificar como estão vocês, se precisam de alguma coisa...

— É bondade do rei, senhora.

— Na verdade, vim convidar todos para a festa da coroação na próxima lua cheia.

Megren ficou maravilhado:

— Uma festa? Na montanha do dragão? Eu posso ir?

— A festa é na montanha e estão todos convidados — disse Anna —, mas o dragão já foi expulso de lá e não vai mais voltar. Se você queria ver um dragão, Megren, lamento, mas não tem mais nenhum.

O garoto parecia desapontado:

— Ah, que pena!

A mãe dele ficou horrorizada:

— Megren, que horror! Desculpe, senhora, ele não sabe o que diz. — A mãe ajeitou o bebê no colo e ralhou com o garoto. — Um dragão é um monstro horrível! Não se lembra de como ele destruiu a cidade?

— Ah, mãe, eu só queria ver o dragão.

Anna disse:

— Sua mãe tem razão, Megren. Um dragão é um monstro terrível. Esse, então, era cruel e enorme. Não era, Mestre Dori?

— Aye, milady. O velho Smaug era uma besta terrível, a maior das calamidades. Nunca mais quero ver outro de sua raça enquanto viver.

O pequeno indagou, abismado, para o anão de cabelos brancos:

— Viu o dragão?

Dori assentiu:

— E Dona Anna também viu! Quando ele nos atacou, foi a coisa mais horrível. Não foi, Dona Anna?

Anna olhou os olhos arregalados do pequeno e indagou:

— Megren, quer ouvir a história de como a companhia do rei Thorin e o rei Bard juntos derrotaram o terrível dragão Smaug? — O menino estava tão ansioso que só assentiu com a cabeça. Anna disse: — Então traga seus irmãos para ouvirem também. Essa história merece ser ouvida por todos.

E foi assim que Anna passou a maior parte da visita: cercada de crianças, relatando a história da conquista de Smaug, o Magnífico, com caras, bocas e vozes. Os pequenos pareciam quase hipnotizados, especialmente Megren, que grudou em Anna mesmo depois que ela descreveu como a flecha de Kíli deu fim ao flagelo de Erebor. Só depois disso, quando Dori se encarregou das crianças, é que Anna pôde conversar com Suna, a mãe de Megren, que cuidava de todas as crianças do assentamento enquanto as mães ajudavam nos campos. Era um serviço rotativo. Uma cuidava das crianças e as outras trabalhavam na lavoura, trocando todos os dias.

Suna ficou espantada com algumas das perguntas que Anna fazia. Hila explicou que milady vinha de uma terra muito distante. Depois de se assegurar que as famílias estavam bem assistidas, Anna deixou a mãe e as crianças com a promessa de voltar quando pudesse. Mas Megren quis ir com o grupo, enquanto Dori e Migoen discutiam detalhes sobre as criações, pois os animais pastavam no momento.

Então um som quebrado cortou o ar, e Anna ouviu:

— Humana!

Todas as cabeças se ergueram, e uma sombra sobrevoou o grupo em círculos. Anna sorriu para o grande pássaro preto e chamou:

— Röac!

O corvo pousou numa estaca próxima e Anna correu até lá.

— Meu amigo, que saudade! Há tempo não nos vemos.

O pássaro inclinou a cabeça, curioso, e comentou:

— Você parece diferente, Consorte Anna. Mais redonda.

Ela enrubesceu:

— Eu carrego um filhote dentro de mim.

— Deveria pensar em colocá-lo num ovo.

— É uma pena que humanos não ponham ovos, amigo — riu-se ela. — Mas fico feliz que tenha vindo, pois trago um convite: haverá uma festa na montanha para coroar o rei Thorin. Ele pediu a presença de seu povo, como sinal de amizade por tantas gerações.

O corvo majestoso a encarou por alguns segundos e recitou:

— "O rei sob a montanha, soberano da pedra esculpida, senhor das fontes de prata, ascenderá em sua glória."

Anna comentou:

— Meu bom amigo Röac, significaria muito se pudesse vir à coroação. Você virá?

O corvo assentiu:

— Meu povo vai prestigiar o Rei Sob a Montanha. Alguma mensagem?

Anna indagou:

— Você consegue entrar na floresta de Mirkwood?

— Não gostamos da floresta. Que recado tem?

— Gostaria de convidar o rei élfico e seu filho Legolas para a festa da coroação na próxima lua cheia. Na verdade, eu queria ir em pessoa, mas meu filhote não me deixa viajar.

Röac parecia recriminá-la:

— Por que insistem em não colocar seus filhotes em ovos?

— Não parece ser muito inteligente mesmo, não é? Mas o fato é que não posso ir até meu amigo o rei Thranduil. Poderia levar a ele meu convite, por favor?

— Farei isso, Consorte Anna.

— Eu lhe sou muito grata.

Uma vozinha comentou:

— Um corvo que fala!...

Anna exclamou:

— Oh, Megren, diga olá para meu amigo Röarc, filho do rei Carc. Röarc, este é Megren, filho de Migoen. O pai de Megren e os demais começaram uma lavoura perto da montanha.

— Nós vimos — disse Röac. — Sementes gostosas no chão.

Anna pediu:

— Röarc, por favor, deixe as sementes dos homens em paz. Há muita coisa gostosa na montanha, se quiser. O rei Thorin não vai se opor que você procure coisas gostosas na montanha.

— Então falarei com seu marido, Consorte Anna. Que o ovo em sua barriga seja forte e que seu filhote saia dele gritando alto.

— Obrigada, meu bom amigo. Bons ventos o guiem.

Com um guincho alto, Röac abriu as asas e voou. Megren virou-se para Anna:

— Você... O rei da montanha é seu marido?

Anna corrigiu:

— Meu marido é Thorin, Rei Sob a Montanha.

— Então você é uma rainha?

— Não, eu não sou nobre. Meu bebê será um príncipe, mas não sou rainha. Isso não me importa, só o meu marido, porque eu o amo muito.

— Mas ele é o rei!

— Sim, ele é. — Anna sorriu diante da inocência da criança. — E ele deve estar me esperando, portanto é melhor eu voltar agora. Podemos ir, Mestre Dori?

— Claro que sim, senhora.

— Então não percamos mais tempo. Até mais ver, Megren, ou então nós nos veremos na festa!

Anna despediu-se de Migoen e voltou para a montanha, sentindo uma neve fina caindo. Ela mal podia esperar pela chegada da primavera, mas ainda faltava pelo menos um mês para a troca da estação.

Até lá, Anna não fazia ideia de quanto as coisas iriam mudar.


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