Kashima nunca iria imaginar que uma situação dessas viria a acontecer.

Quer dizer, uma coisa era ser abordada por garotas diariamente – afinal, garotas são lindas e preciosas e ela amava deixá-las felizes - então estava acostumada com a atenção.

Agora...

Ter um garoto; e, para piorar, seu kouhai e o mesmo que ficou a seguindo o tempo todo numa loja de roupas de banho fazendo isso era no mínimo esquisito.

– Kashima-senpai! Deixa que eu carrego isso para você! – Wakamatsu, a pessoa em questão, acabara de vir até ela durante o intervalo entre as aulas enquanto a mesma estava levando alguns livros para a sala dos professores.

A mesma piscou, abrindo um sorriso um tanto sem graça em seguida.

O que fazer... Essa era a primeira vez que tinha de lidar com essa situação. Será que ela poderia agir do jeito de sempre com ele também?

.. Funcionou com o Mikoshiba,então... Ela pensou para si mesma, ignorando completamente o fato de que seu amigo seja talvez a única exceção para a regra. Talvez...

– Ah, não se preocupe comigo, bambino. Eu não quero que se esforce por minha causa, e esse peso se torna inexistente quando você está aqui ao meu lado. – Kashima tentou então, sorrindo levemente como sempre fazia, olhar direcionado ao jovem à sua direita.

Wakamatsu a encarou, piscando.

– Eh...! – Ele corou um pouco, abrindo um sorriso alegre em seguida. – Obrigado por se preocupar comigo, Kashima-senpai! Mas eu consigo carregar isso fácil, então não tem problema nenhum!

E, para demonstrar isso, o mesmo pegou os livros de suas mãos – enquanto ela o encarava ainda atônita – e segurou-os com facilidade.

– E é impressionante como você consegue falar essas coisas assim do nada, Senpai! Eu nunca teria coragem de dizer isso em voz alta! – Ele continuou com o olhar animado, como se brilhos iluminassem ainda mais seu rosto.

– Sério...?

– Sim! Como esperado de você, Senpai!

Kashima estreitou os olhos, sua fachada de príncipe ruindo no segundo seguinte. Isso era realmente estranho – ele começava a segui-la por aí de novo e ainda não era afetado por nada que ela dizia? O que fazer então?

Por uma das únicas vezes em toda sua vida, ela encontrou-se nervosa.

Felizmente, podia ver duas garotas conhecidas do primeiro ano se aproximando, ambas já sorrindo e acenando em sua direção.

– Kashima-kun! Nós ficamos sabendo que-

A primeira delas, de cabelo cor de mel, parou de falar assim que viu o garoto ao lado do príncipe da escola.

– Eh? Wakamatsu? Você e a Kashima-kun são amigos? – A acompanhante dela, uma morena de olhos claros, tombou a cabeça para o lado ao observar seu colega de classe.

– Ah, não, é que... – O garoto olhou para o chão, um sorriso terno formando-se em seu rosto. – Kashima-senpai me ajudou com um problema e tanto, então eu queria recompensar de alguma forma, e...

Ele olhou para cima novamente, olhos brilhando ainda mais do que antes.

– E-eu sou um de seus maiores fãs!

As três o encararam por um, dois, três segundos.

Eh?

– EEEEEEEEEH?! – As duas garotas exclamaram em seguida, chamando atenção de quase todo o corredor.

Wakamatsu permaneceu parado, um sorriso inocente no rosto. Enquanto isso, algumas pessoas começaram a cochichar umas com as outras e Kashima nunca parecera tão indecisa do que fazer como naquele momento.

A alguns passos de distância, Hori observou a cena com uma sobrancelha arqueada.

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–Ei, Yuzuki.

–Hm?

–Você reparou que o Wakamatsu-kun tá meio estranho?

A garota de cabelos caramelos parou de olhar para o teto, voltou sua atenção para a sua amiga e franziu o cenho.

–O Waka?

–É, quer dizer... – A ruiva voltou sua atenção para o corredor, apoiando-se levemente na parede perto da porta onde ela e Seo estavam paradas conversando. Estreitou os olhos e pode ver o mais novo correndo atrás da “príncipe” da escola. – Ele não para de seguir a Kashima-kun...

Muito entretida com a situação, Chiyo não percebeu que Seo não dera resposta alguma.

–Kashima-senpai! – Ela ouviu o moreno exclamar pegando a garota mais alta sendo pega de surpresa e se virando para ele, sorrindo sem-graça. Entretanto, o que eles falaram depois não pode ser ouvido por ela já que se encontravam muito longe.

Será que ele ainda achava que Kashima era um garoto?

A mais baixa continuou encarando os outros dois e sentiu um frio nas costas junto de uma gota descendo por sua testa ao ver 10 – ou talvez mais – garotas encarnando Wakamatsu com raiva.

Na verdade, raiva era pouco. Pareciam que estavam lhe atirando adagas com os olhares.

Pobre, pobre, Wakamatsu.

–Bom! – Chiyo deu de ombros, achando melhor não discutir. Afinal, seu kouhai era mesmo do tipo que ficava impressionado com um monte de coisa, então Kashima deve só ter feito algo que lhe chamou a atenção. É, nada demais. - Mas você tem ensaio hoje mais tarde, né? Pra peça.

–Nah, tô sem saco para cantar. – Seo disse simplesmente enquanto colocava os braços atrás da cabeça e começava a ir embora, uma expressão entediada no rosto.

–Oh, ok. – A ruiva riu levemente. Essa era sua amiga afinal de contas, mesmo que gostasse de cantar, tinha esses momentos em que simplesmente jogava tudo para os ares quando lhe dava na telha. – Tudo b-!

Mas foi aí que a realidade lhe acertou bem na nuca como uma bala de canhão pirata.

–Espera, Yuzuki! Mas como assim?! – Chiyo exclamou, balançando os braços e se voltando para a amiga. - Você não pode faltar ao musical, lembra?!

–Não posso fazer nada, tô sem saco. – Foi a resposta. Yuzuki continuou andando e deu apenas um leve aceno para sua amiga que ficou parada, olhando-a sumir pelo corredor.

–M- M- Mas o quê...? – A ruiva murmurou para si mesma, confusa e preocupada. Mas e o musical?! E a Kashima?! E o Hori?! E todo o clube que estava trabalhando tão duro também?! Aquilo não podia ficar assim! – Não, não, não. Eu tenho que fazer alguma coisa!

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O que não faltaram foram tentativas.

– Ah, Yuzuki, sabia que aquele parque cheio de montanhas russas gigantes tá fazendo uma promoção? O que você acha de-

– Hm, eu já fui lá há pouco tempo. Seria chato ir de novo tão cedo.

– Eh... E-então! Eu fiquei sabendo que a lanchonete que gostamos de ir lançou um novo sabor de torta! Você quer ir provar-?

– Nah, tô sem vontade de comer doce hoje.

– Uh... Bom, eu vi um filme que você ia gostar ontem! Quer dizer, era de um alien que invadia os c-corpos de outras pessoas, e fazia quelch quando saia... D-depois ele jogou um cara na parede, e ele fez algo como, uh, squalsh...!

– Eh. Sério? Legal.

Chiyo encarou sua amiga, rosto aflito. Ela ainda estava um pouco verde por ter que descrever em detalhes o filme de terror que tivera a péssima ideia de ver ontem, e nem assim a garota de cabelos cor de caramelo parecia interessada.

O que poderia ter deixado Yuzuki tão desanimada, afinal? Não importa o quanto tentasse pensar em alternativas, nada vinha à sua cabeça. Ela era normalmente imune a tudo e todos, sempre fazendo o que bem entendesse. Não havia nada que pudesse a colocar para baixo.

Se eu não me engano, teve outra vez que ela não estava a fim de cantar. A ruiva raciocinou em sua cabeça, olhando de soslaio para a garota que andava ao seu lado no corredor. Mas passou tão rápido que eu nem me preocupei em saber por quê...

Talvez seria melhor só perguntar para ela. Duvidava de que Yuzuki fosse falar alguma coisa, mas não custava nada tentar.

–... Yuzuki-

– Ah, Waka!

Chiyo piscou, virando o rosto para avistar seu kouhai no final do corredor, tendo acabado de sair de uma sala. Ele parecia não ter ouvido Yuzuki, porém, pois continuava a olhar para os lados como se procurasse por algo.

...E achou, visto que seguiu em linha reta até Kashima que conversava com duas garotas próximas a outra sala. A ruiva estreitou os olhos quando o viu começar a falar algo e nem perceber os olhares de ódio das outras garotas; é, ele estava mesmo estranho.

E ela estava prestes a comentar isso, quando parou ao virar seu rosto para o lado.

O rosto de Seo... por um momento, ele parecia perplexo.

– Yuzuki...?

A garota não respondeu; apenas voltou à sua expressão habitual como se nada tivesse acontecido e levantou os braços para se espreguiçar, bocejando alto.

– ...Bom, acho que vou para casa.

Chiyo franziu a testa.

– Você não ia ajudar com o clube de basquete hoje?

A garota endireitou os braços novamente, rolando os ombros para trás para estalá-los.

– Perdi a vontade de repente. Até amanhã, Chiyo.

A ruiva observou Yuzuki andar pelo corredor até desaparecer por outro, imóvel. Ela piscou uma vez, tentando compreender o que acabara de ouvir.

Yuzuki Seo acabara de rejeitar uma oportunidade de jogar basquete. Yuzuki Seo perdera a vontade de cantar, não queria ir num parque de diversões radical, não estava a fim de comer doces e acabara de rejeitar uma oportunidade de jogar uma bola de basquete na cara dos outros.

Ela colocou as duas mãos na cabeça, uma expressão de desespero no rosto.

Ah, não.

Depois, ela correu na direção contrária à que vinha antes.

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–... E foi isso que aconteceu, Nozaki-kun. – Sakura falou logo antes de suspirar enquanto terminava de betar o capitulo que o garoto a sua frente havia desenhado. – Eu estou realmente preocupada com a Yuzuki! Além de não ser bom para ela, isso pode comprometer o musical também!

–Hm... É verdade. – Nozaki concordou. Estava terminando de aplicar os tons na página – trabalho que seria de Wakamatsu se ele não estivesse praticamente incomunicável desde o incidente no teatro –, mas ainda assim conseguia prestar atenção no que ela dizia.

Bom, parcialmente.

Se não, teria previsto o rumo que a conversa levava.

–E também... Por que será que o Wakamatsu-kun tá tão estranho? Seguindo a Kashima-kun por aí...

–Bom, você sabe o quanto ele gosta da Lorelei... – O moreno murmurou, distraído.

–Sim... – A ruiva concordou e piscou dois segundos depois. – Ah! Mas então... Será que ele acha que a Lorelei é a Kashima-kun? Porque se for isso então podemos-!

Por sorte, uma pequena parte sã de si mesmo estava alerta e fez questão de acordá-lo no momento exato.

–Espera! – Ele exclamou de repente, o que fez a mais baixa recuar, surpresa com a reação do garoto. Nozaki suspirou e achou que era a melhor hora para contar a sua assistente o que aqueles dois representavam.

Depois de fazer isso, deparou-se com uma Sakura atônita, encarando-o quase sem piscar.

–E-esses dois são a Yuzuki e o Wakamatsu-kun? Eles são a inspiração para aqueles personagens de um volume do mangá? A garota e garoto que vivem brigando, mas na verdade ele sempre conversa com ela no telefone a animando, mas ela não sabe que é ele?! – A ruiva começou a bombardeá-lo com perguntas, inclinando-se levemente sobre a mesa com as mãos apoiadas na madeira lisa.

Ele assentiu.

A garota recuou, ficando com uma expressão pensativa.

–A garota é o Wakamatsu-kun então? Mas co... – Foi naquele momento que Nozaki teve quase certeza de que vira as imagens de uma Mamiko, um sinal de igual e um Mikoshiba aparecendo na mente da garota enquanto sua expressão mudava para uma monótona. – Ah, sim...

O moreno assentiu outra vez enquanto a mais baixa balançou a cabeça.

–Mas e agora? ...E para ser sincera, eu sempre achei que ele gostasse da Yuzuki... – Sakura murmurou a ultima frase, ainda levemente surpresa com a declaração dada pelo garoto a sua frente de que o seu kouhai não gostava muito da sua amiga, apesar de sempre segui-la para todos os cantos. – Fiquei surpresa...

Sakura, por favor, perceba a amiga que você tem. Nozaki pensou, encarando a ruiva.

–Ah, mas não podemos deixar isso continuar! – Sakura voltou a olhá-lo, um brilho determinado e evidente aparecia em seus olhos roxos. - Uma hora ou outra o Wakamatsu-kun vai descobrir e... Além da confusão com ele, a Yuzuki estar triste...

O moreno esperou que ela continuasse, em parte porque percebera pelo seu tom de voz.

–Vai atrapalhar seu mangá também... – Ela disse por fim e ele percebeu que o brilho determinado nos olhos dela pareceu se intensificar. Ou será que foi impressão sua?

Nozaki piscou.

De uma forma ou de outra, ela estava certa. Se não resolvessem a situação logo, várias pessoas acabariam prejudicadas como Hori, Kashima, o clube de teatro, Wakamatsu, Seo... E o seu próprio mangá!

Aquilo não podia acontecer.

E não, a ideia de usar aquela situação como enredo nem passou pela sua cabeça.

Ok, talvez um pouco.

De qualquer modo...

–Tem razão, Sakura. – Ele disse por fim. – É melhor que façamos algo logo.