Advertência escrita por Fernando Cabral


Capítulo 6
Capítulo 6 — Jessyca


Notas iniciais do capítulo

Tirando a poeira e ferrugem do longo hiato, primeiramente peço desculpas a todos que se interessaram pela história.
Tenho já alguns capítulos escritos que só precisam de uma revisão minha para poder postar. Pretendo postar um por semana, o que me dá mais um tempo para escrever mais.
Espero que continuem acompanhando a saga comigo.
Comentários, como sempre, são bem-vindos!



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Jessyca estava sentada num banco de um pequeno parque de Pyr que ficava no sétimo andar, ou campus, como alguns ali chamavam os pisos. Seus olhos se perdiam no concreto liso e claro de um canteiro próximo, sem se atentarem a nada em especial.

Lembrava de ter iniciado seu ritual de passagem na noite anterior, e que desmaiara depois de ficar muito confusa e sentir sua pressão baixar, como se estivesse hiperventilando. Isso a preocupava, porque sabia que reações como essa eram mal vistas por sua religião. Além disso, algo dentro de si insistia que não estava tudo bem. Alguma coisa estava faltando, ou sobrando, dentro de si.

 

Acordara e percebera que sua mãe já tinha ido trabalhar. Sua avó também não estava em casa, e Jennyfer, sua irmã, fora para a escola sem acordá-la para ir junto, coisa que normalmente não fazia.

Aproveitara que não estava se sentindo bem para tomar um banho. Depois sairia para dar uma volta.

Logo antes de sair de casa, olhara o calendário, onde sua mãe e sua avó anotavam os afazeres de todos, a fim de checar se havia algum para si,  percebendo que tinha passado um dia inteiro desde a noite na qual fizera a Passagem. Será que havia dormido por mais de vinte e quatro horas?

 

Um breve sinal, saído de um alto-falante próximo ao banco no qual Jessyca se encontrava, a fez despertar de seu devaneio.

Bom dia. Começamos agora o Jornal da Tarde, com as notícias de Pyr.

Jessyca olhou para cima, na direção do alto-falante.

Depois do anúncio da polícia sobre o desaparecimento de agentes no incidente do hospital — continuou a voz —, familiares e amigos dos desaparecidos iniciaram protestos em alguns dos andares de Pyr, exigindo explicações da polícia e dos arquitetos, chegando a invadir a estação de rádio e causar tumulto por todos os andares onde há residentes. As passeatas receberam também participantes dos grupos que exigem que os portões de Pyr sejam abertos, para, segundo o que eles dizem, libertar as pessoas que querem deixar a Pirâmide. Nenhum dos arquitetos se pronunciou sobre o caso ainda.

Por um motivo que Jessyca desconhecia, o assunto tratado na reportagem chamou sua atenção. A ideia de deixar o povo de Pyr livre para sair nunca tinha passado pela sua cabeça.

Tinha sabido do incidente no Hospital Raphael Schlecht, mas não tinha ideia da repercussão que tinha dado.

Achou melhor voltar em casa e se arrumar para a escola, enquanto pensava em tudo o que o noticiário tinha anunciado.

 

Na escola, ainda pensando sobre o assunto, Jessyca percebeu outra coisa a qual nunca tinha pensado sobre: quão limitada Pyr era em relação a matéria prima.

Tanto o seu quanto os uniformes de todas as pessoas que estavam ao redor eram muito velhos e gastos. Alguns alunos tinham conseguido autorização para ir com outro tipo de roupa, pois não tinham mais uniformes disponíveis.

Pensando bem, a própria ideia de ter uniformes não fazia muito sentido, sendo a Pirâmide um lugar fechado, de espaço limitado e sem comunicação com o exterior.

 

O tema principal dos cochichos durante as aulas e das conversas nos intervalos era o que envolvia o assunto “sair de Pyr”. Os jovens discutiam animados as possibilidades de viver do lado de fora, enquanto outros faziam questão de lembrar que o ambiente exterior era desfavorável à vida.

Muitos também citavam a já conhecida “Garota do Hospital”, que estava virando uma espécie de lenda ali. Pessoas afirmavam conhecer outras pessoas que tinham visto uma garota de aparência assustadora passar voando por dentro do hospital, quebrando os vidros da Pirâmide com um grito pavoroso. Outros já diziam uma história diferente, como é comum nesses casos.

Em relação a sair ou não de Pyr, a maioria dos estudantes concordava que dentro da Pirâmide a vida era boa e confortável, e o perigo ao qual seriam expostos ao sair não era válido. Os que não concordavam, faziam apenas suposições sobre o lado de fora. Imaginavam como seria se o ar de lá já fosse respirável, o que fariam caso descobrissem que pessoas haviam sobrevivido, e, principalmente, o que havia depois da floresta.

Ainda dentre os estudantes que eram a favor de sair de Pyr, Jessyca ouviu falarem baixo sobre um novo protesto que fariam no dia seguinte. Um dos envolvidos era Karolyne, que preferia ser chamada de Karú. Era uma das poucas pessoas muito brancas a morar em Pyr, e também muito magra. Gostava de usar uma espécie de unguento de plantas dali para deixar seus cabelos num preto muito escuro. Ao notar a presença da colega de turma, Karú a chamou para participar da pequena reunião, e Jessyca, sem graça, não conseguiu negar.

— Pessoal, essa aqui é a Jessyca, da minha turma — disse Karú, apresentando a colega aos outros três meninos que estavam ali. Eles se apresentaram como Thiago, Guilherme e Anderson. Jessyca já os conhecia de vista.

— Então, Jessyca — continuou a menina —, estávamos falando sobre o interior de Pyr. A galera que diz que quer ficar, usa como um dos principais argumentos o espaço de sobra que temos aqui dentro.

Jessyca meneou a cabeça em afirmação.

— Quando Pyr foi aberta, ou invadida, como prefiro falar — Thiago tomou a palavra —, entraram por volta de dez mil pessoas, sendo isso só um por cento de sua capacidade total. De lá pra cá, a população diminuiu, então o que mais temos aqui são apartamentos e outros espaços vazios.

— Eu não sabia desses números — Jessyca se assustou.

— Pois é — Karú voltou a falar. — Falando nisso, gente, hoje vai rolar uma festinha num apartamento vazio do segundo piso. Vamos? Vamos, Jessyca? Nunca te vi nessas festinhas.

Jessyca ficou indecisa. Nunca tinha ido porque não tinha interesse e também certo medo, que ela não admitia para si mesma, do tipo de pessoa que frequentava esses eventos. Mas dessa vez era diferente. A festinha provavelmente serviria como uma espécie de reunião para organizar a comoção do dia seguinte. Não sabia o motivo de estar tão interessada no assunto, mas resolveu aceitar o convite de Karú, que passou o endereço do prédio onde ficava o apartamento da tal festa.

 

Depois da escola, Jessyca voltou para casa e decidiu dormir um pouco. Sua mãe, avó e irmã já estavam em casa e não comentaram nada além do corriqueiro. Jessyca decidiu contar que ia sair só depois que acordasse. Deixou o papel com o endereço da festa em sua mesa de cabeceira, juntamente com seus óculos, e se deitou.

 

* * *

 

Ailã acordou perdida em relação ao tempo. Olhou pela janela e viu que era noite. Não sabia se era madrugada ou se tinha anoitecido há pouco tempo. Forçou a vista para o relógio, que acusava oito e quinze.

Sentou-se na cama e avistou um pedaço de papel sobre a cabeceira. Pegou e colocou seus óculos, em seguida alcançou o bilhete e o leu. “21:30 - Segundo piso - Corredor 27 - Número 4” era o que ele dizia. Não sabia como o papel havia chegado até ali, mas não teve dúvidas quanto a seguir suas direções. Prendeu os cabelos num comprido rabo de cavalo e saiu de seu quarto.

Como da última vez, as duas mulheres, uma que se achava ser sua mãe e a outra que supostamente era sua avó, estavam na sala, conversando, enquanto ouviam uma espécie de programa de rádio.

— Finalmente acordou — disse a mais velha das duas.

— Filha, preparamos um banho para você. Esse cansaço que você sentiu depois da escola pode ter a ver com a Passagem mal feita.

— Não posso agora — Ailã respondeu, tentando dar um tom casual a sua fala. — Vou sair.

As duas mulheres sentadas se entreolharam com desconfiança.

— Você não costuma sair à noite, filha. Está acontecendo alguma coisa?

— Não. Só vou encontrar um pessoal da escola — deu a primeira desculpa que veio a sua cabeça.

Então saiu com a mesma roupa que estava, deixando preocupadas as duas mulheres que ficaram em casa.

A noite ali era bonita. Se caminhasse um pouco à frente na rua onde morava, obtinha uma visão maior da parede de vidro do seu andar, que permitia ver com clareza o lado de fora. O mundo exterior, naquele momento, estava completamente escuro, exceto por pequenos pontos reluzentes, que Ailã sabia se tratar de estrelas.

Caminhando em direção à estação de trem mais próxima, a jovem foi pensando sobre algumas coisas que ainda a perturbavam: por que ela sabia falar tudo o que falava, como os nomes das coisas, se ela não tinha nenhuma lembrança do passado? Por que não sabia quem era a Jessyca de que a chamavam?

Acabou chegando à conclusão de que não havia motivo para ir tão fundo. Ela era o que era e não adiantava ficar pensando nisso, pois não encontraria respostas sozinha.

 

Chegou ao local um pouco antes do horário que estava no papel, então esperou ali mesmo, observando em volta.

O prédio estava muito escuro, sem nenhum sinal de que havia alguém lá dentro. Nos arredores, quase todos os outros prédios também estavam completamente apagados. O lugar parecia mesmo inabitado. Ailã se perguntou por que ninguém morava ali.

Não muito depois, uma menina chegou, acompanhada de dois rapazes. A brancura dela se destacava ao lado dos outros dois, sendo um de pele morena e o outro negro, mas não se comparava à brancura de Ailã, que ficou desconfiada ao ver os três jovens caminharem em sua direção.

— E aí, Jessyca! — cumprimentou a menina, enquanto Ailã pensava “de novo esse nome. Não estou surpresa”. — Que bom que resolveu vir!

Ailã respondeu com um sorriso fraco, cumprimentando em seguida os outros dois garotos.

— Vamos? A gente conversa melhor lá em cima — disse um dos garotos, o moreno, que tinha a estatura mais baixa.

Assim, os três seguiram para dentro do prédio com Ailã em seu encalço, passando pela porta principal, que era de vidro e estava destrancada.

Como o prédio estava apagado, os quatro subiram pelas escadas escuras. Ailã tropeçou algumas poucas vezes até que sua vista se acostumou com o breu.

— Eu não entendo por que não usamos os elevadores — falou, num falso tom exasperado, esperando que sua dúvida sobre o uso dos elevadores fosse sanada.

— Ah, mas é assim desde que a gente nasceu, né — respondeu o menino mais alto. — Seria ótimo não precisar ter o trabalho de ficar subindo e descendo escadas, mas os arquitetos dizem que é para poupar energia.

— Se bobear, os elevadores nem funcionam mais — a garota arfava enquanto falava.

Ailã não falou mais sobre isso, embora não soubesse quem eram esses tais arquitetos.

 

A festa era num apartamento do quinto andar. Ailã não sabia por que escolheram aquele local especificamente.

Como esperado, o espaço estava muito escuro, mas as pessoas haviam levado algumas lâmpadas revestidas com uma espécie de papel vermelho e deixavam no chão, o que não ajudava muito, mas também não denunciava a reunião, caso alguém olhasse de fora.

Não havia muitas pessoas na festa. A maioria que estava ali segurava alguma bebida, e todos estavam separados em pequenos grupos. Ailã se manteve perto da garota com quem tinha ido até lá, que já havia descoberto se chamar Karú, porque a cumprimentaram quando chegou.

Durante as conversas e bebidas, Ailã descobriu algumas coisas interessantes sobre o lugar onde estava e sobre as pessoas que moravam ali. Uma delas era a informação de que a maior parte dos apartamentos em Pyr estava vazia. Muitos eram usados para trabalhos, como grupos de costura e de reciclagem, ou para reuniões, mas a maioria continuava sem utilidade.

— Outra coisa sobre aqui dentro: as pessoas — falou Karú, já com um grupo maior de pessoas a ouvindo. — Lá fora havia uma variedade muito maior de pessoas, se compararmos com o que temos aqui hoje. Eu sou uma das poucas pessoas da minha cor, enquanto a maioria é morena.

Ailã pensou que na verdade esse não era um argumento muito válido, pois se saíssem e não houvesse ninguém do lado de fora, a cor da pele seria a última coisa na qual deveriam pensar.

— E também há os albinos. — O menino mais alto que havia chegado com Karú, que agora Ailã sabia que se chamava Anderson, disse isso a encarando. Em seguida, todos os outros presentes que estavam ouvindo a conversa fizeram o mesmo.

Ela não soube como reagir, então não falou nada, embora tenha demonstrado apreensão.

— Há alguns anos não havia tantas pessoas albinas como temos hoje — continuou Anderson. — É só checar os registros de nascimento que se percebe isso. Eu fiz um trabalho para a aula de história e isso me chamou a atenção, então resolvi pesquisar mais mesmo depois de terminar o trabalho. É apenas um chute, mas acho que essa condição genética pode estar se espalhando em Pyr por causa da nossa água ou comida.

— Se você estudasse biologia direito saberia que provavelmente é por genética — respondeu Karú, fazendo todos os outros rirem, encerrando a conversa sobre tons da pele.

Esse assunto deu bastante coisa para Ailã pensar. Quando foi embora, já noite avançada, a conversa permanecia em sua mente. Ainda tinha muito para descobrir, mas sua prioridade ainda era saber o que tinha de diferente de Jessyca, ou o que aconteceu para que tenha se esquecido que se chamava Jessyca e passado a acreditar que se chama Ailã.

 

Descobriu que não havia trens para levá-la até o quinto andar, onde morava, devido à hora. Não fazia ideia de como faria para ir para casa.

Sua sorte foi que não era a única a ir embora naquele horário. Anderson, o amigo de Karú, também estava saindo, e se ofereceu para levá-la. Ailã achou que o garoto desconfiaria do fato dela não saber chegar em casa sem trem, mas ele não esboçou reação quanto a isso. Ela imaginou que muitas pessoas em Pyr dependiam dos veículos para se deslocar por lá.

— Espero não ter te ofendido de alguma forma quando falei dos albinos… — O garoto, que era bem mais alto que Ailã, ajeitou os óculos velhos.

— Não se preocupa, não me ofendeu — respondeu ela. — Na verdade, foi até interessante o que você disse.

— Você tem irmãos?

— Não… Quer dizer, só uma. Ela se chama Jennyfer.

— Eu tenho três irmãos — Ailã encarou Anderson com surpresa. — Dois meninos e uma menina, todos mais novos que eu. Minha família é uma grande exceção aqui em Pyr, porque a maior parte das famílias tem no máximo dois filhos. Por isso temos tantos apartamentos vagos aqui, e poucas pessoas para trabalhar. Por isso a idade mínima para se começar a trabalhar é quinze anos. Dizem que lá fora só eram permitidas responsabilidades a pessoas mais velhas...

Os dois seguiram conversando enquanto passavam por ruas e corredores. Tudo muito bem iluminado, diferente da maioria dos prédios pelos quais passavam. Além de descobrir mais coisas sobre os costumes de Pyr, através de perguntas indiretas, Ailã também conheceu mais o espaço físico da grande pirâmide, passando com Anderson por lugares que talvez nunca passaria se não fosse aquela ocasião.

Os dois passaram por dentro de prédios que serviam de acesso a outros andares. Anderson disse que havia corredores em Pyr que também possuíam escadarias e elevadores para outros andares, mas que tinham o acesso proibido por alguma razão, o que chamou a atenção de Ailã.

 

Chegando em casa, sua mãe e avó a esperavam na sala.

Ailã adentrou o apartamento, cansada devido ao número de escadas que havia subido, e cumprimentou as duas mulheres, se dirigindo para seu quarto.

— Jessyca — sua mãe chamou. — Acho melhor fazermos uma purificação em você hoje. — Sua voz estava um pouco apreensiva.

— Acho que eu não preciso… — respondeu, na defensiva, pois não sabia do que se tratava essa tal purificação.

— Vamos fazer sim. — Sua avó levantou do sofá. — Desde que você executou a Passagem anteontem à noite você está estranha.

Peraí, pensou Ailã, se isso aconteceu anteontem à noite e eu acordei sem memória ontem de manhã, isso pode ter alguma coisa a ver com a minha falta de lembranças.

Então resolveu aceitar a purificação. Pensou que ela poderia reverter o que quer que tivesse acontecido durante essa tal Passagem.

Sua avó e sua mãe a deram um banho com ervas de cheiro adocicado enquanto cantavam preces numa língua que Ailã não entendia.

Durante o início do ritual, não sentiu nada de diferente, mas à medida que ele ia avançando, ao mesmo tempo em que o tom da canção das mulheres se intensificava, Ailã começou a se sentir zonza. Quando as mulheres pararam abruptamente de cantar, como que sincronizado, a menina desmaiou.

 

Estava numa floresta muito clara. Olhava ao redor, procurando alguém. Uma garota tão branca quanto ela mesma passou pela sua frente como um vulto. Começou a correr atrás da garota. Na verdade, era muito mais que uma garota, mas, ao olhar, era essa a impressão que tinha dela. Precisava buscá-la. Precisava se juntar a ela. Precisava resgatá-la. Uma mulher encapuzada surgiu na sua frente. Sabia quem ela era. Seguiu ao lado dela. Ela seria a parada necessária no caminho.

 

* * *

 

No dia seguinte, Jessyca acordou em sua cama.

Se levantou, resmungando em pensamento por ter dormido a noite toda. Seguiu até a porta e a abriu. Sua avó a aguardava na sala.

— Como está se sentindo? — a velha senhora sorria de leve ao perguntar.

— Tô bem. Acho que foi bom dormir todo esse tempo.

— Espero que o banho de ontem tenha resolvido. Você lembra do que sentiu antes de desmaiar?

— Banho?... Mas eu não desmaiei…

A mulher adquiriu um ar desconfiado, enrugando seu rosto moreno além da idade que já tinha.

— O que você lembra sobre ontem, filha?

Jessyca também passou a desconfiar da situação.

— Eu cheguei da escola e fui dormir um pouco, pois ia sair à noite, mas dormi a noite toda e acordei agora.

— Então você não lembra de sair, voltar de madrugada e passar por uma purificação?

Jessyca estava confusa. Encarou sua avó e respondeu:

— Não…

As duas se entreolharam por alguns segundos.

— Você estava consciente o tempo todo, chegou a falar com a gente. — A senhora se aproximou de Jessyca, a abraçando. — Você desmaiou logo que a purificação acabou. Se você não lembra de nada… Precisamos fazer mais, minha filha. Um tauã pode ter aproveitado a Passagem para se apossar do seu corpo.

— O que é um tauã? — Jessyca se mantinha abraçada com a avó.

— É só um espírito mau, advindo de Tau, a personificação do que há de ruim no mundo. Geralmente esses espíritos não têm força, então precisam parasitar outros seres para utilizar de sua força vital. Possivelmente ele veio da floresta lá de fora.

A senhora sentiu o corpo da neta enrijecer, com medo.

— Não se preocupe — falou, com um sorriso que Jessyca não viu, mas sentiu pelo tom de sua voz. — Já vi isso acontecer antes. Sei como lidar com tauãs.

Jessyca então se soltou do abraço, agradeceu à avó, e foi para seu quarto, cabisbaixa.

 

Algumas horas depois almoçou e foi para a escola ainda muito pensativa sobre o que acontecera na Passagem. Se tivesse mesmo um tauã dentro de si, não sabia o que fazer, podia apenas confiar em sua avó. Se sentia invadida e impotente.

Tentou não transparecer para nenhum de seus colegas de classe, embora alguns tenham notado que Jessyca estava um pouco desanimada. Ela dava a todos a desculpa de que estava cansada, porque não havia conseguido dormir bem ultimamente. Não queria correr o risco de contar a ninguém o que poderia estar acontecendo consigo, porque todos os seus colegas, assim como a maior parte dos moradores de Pyr, tinham religiões que não aceitavam muito bem a sua. Alguns conhecidos poderiam se afastar dela caso descobrissem que tinha uma espécie de espírito em seu corpo.

Na última aula, começou a sentir muito sono, não entendendo o porquê. Não conseguiu resistir, apoiando os braços sobre sua mesa, abaixando a cabeça e pegando no sono.


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Notas finais do capítulo

Estão sentindo a história se desenvolver? Espero que sim!
Até o próximo capítulo, podem me encontrar na parte de comentários!



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