Advertência escrita por Fernando Cabral


Capítulo 3
Capítulo 3 — Ricardo


Notas iniciais do capítulo

Aí vai um capítulo novo em folha! Espero realmente que gostem, mas não deixem de criticar construtivamente caso achem necessário!



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— Como vocês já sabem, o nome de Pyr vem da redução da palavra Pyramid, Pirâmide em inglês, pois realmente é o que ela é. Inclusive, muitos de vocês a chamam assim mesmo, Pirâmide, embora a maioria prefira o termo Pyr, que é mais curto e prático. Desde a sua construção, Pyr fo… — dizia o professor, enquanto Ricardo começava a se distrair. Não gostava nem um pouco das aulas de história, e começava a rezar para que a hora passasse mais rápido.

Como se algo ouvisse a prece calada de Ricardo, o sinal da escola tocou, interrompendo a aula, mesmo não sendo horário de intervalo, muito menos da saída. A voz da diretora se fez ouvir, avisando que alguns alunos deveriam se encaminhar para sua sala. Em seguida, ditou uma pequena lista de nomes, o de Ricardo incluído. O menino percebeu que todos os nomes citados eram de agentes juvenis da polícia, então presumiu que algo importante havia acontecido. Será que teria ligação com o ocorrido na noite anterior?

 

Agentes juvenis eram como estagiários da polícia de Pyr. Recentemente, os arquitetos, espécie de governadores da Pirâmide, tinham promovido uma campanha para conseguir que mais jovens se inscrevessem no programa policial, pois o índice de crimes em Pyr era quase zero, o que fazia com que ninguém se interessasse pelo cargo. Os criminosos mais comuns eram homens adolescentes que tentavam abusar de amigas.

A função dos agentes juvenis girava em torno de arrumar papéis e entregar relatórios em lugares diversos para pessoas de cargos variados, além de ajudar em muitas tarefas pequenas, o que fazia deles uma espécie de faz-tudo.

 

Ricardo, na verdade, não queria começar a trabalhar enquanto estudava, mas era o que todos da sua idade faziam. Não que as pessoas ali precisassem de trabalho. Na verdade, em Pyr ninguém precisava trabalhar, mas as pessoas necessitavam dividir as tarefas. Alguém deveria fazer o pão, outro alguém tinha de se responsabilizar pela alfabetização das crianças, além de todas as outras coisas que uma sociedade necessitava. O dinheiro era visto apenas como meio de trocar seu trabalho por produtos. Isso tornava fácil ter o que quisesse quando quisesse, pois o piso salarial e o teto eram o mesmo para todos, e não tinham uma distância grande entre um e outro. Independente da função, a maior parte das pessoas ali ganhava praticamente o mesmo. Consumismo não existia ali, porque a Pirâmide não teve fábricas incluídas em seu projeto, e matéria prima era coisa praticamente nula em sua estrutura. Tudo o que era consumido pelas pessoas dali era produzido manualmente, e reciclado depois, principalmente o papel. Problemas políticos como inflação nunca tinham ocorrido ao longo dos muitos anos de existência de Pyr e a alimentação de todas as pessoas era basicamente vegetariana.

 

Ricardo se levantou, enquanto o professor voltava a dar sua aula, sem se importar com os alunos que saíam. Junto a Ricardo, André, seu amigo, ficou de pé, pois também estava na lista da diretora. Os dois passaram pela porta da sala ao mesmo tempo em que o professor falava sobre a Floresta Amazônica, que a população de Pyr chamava por outro nome há mais de sessenta anos, desde que a construção fora ocupada. Ricardo, e todos os seus amigos, já conheciam de cor toda essa parte da história de Pyr.

— Será que eles não cansam de falar sempre a mesma coisa? — disse André, ao lado de Ricardo no corredor. — Todo mundo já sabe sobre a pandemia, os desastres naturais, a fuga do Presidente, a guerra civil… Quando eles vão começar a contar outra coisa, de preferência mais interessante?

— Nunca. Não tem nada nem nas bibliotecas — Ricardo respondeu, se juntando a mais gente que seguia para a sala da diretora.

De repente, uma mão segurou seu ombro direito.

— O que tá acontecendo? Tem alguma coisa a ver com a confusão de ontem? — Era Anderson, amigo de Ricardo. Ele era uma espécie de líder de um de seus grupos de colegas de classe. Ricardo não tinha visto que ele os havia seguido.

— Ainda não sei — respondeu, voltando a andar. — Quando sair da sala da Julinha te aviso.

— Ah, não. Eu vou junto.

Ricardo parou e tentou encarar o amigo, que continuou caminhando pelo corredor, indo cumprimentar André, que já seguia mais à frente.

 

O uniforme masculino do colégio onde Ricardo estudava era composto por calças jeans, tênis pretos e uma camisa branca polo com o símbolo do colégio. Isso pra quem ainda tinha uniforme, pois a maioria estava gasta. Anderson, em conjunto com Ricardo e mais quatro amigos, adicionavam uma gravata à vestimenta, na intenção de se destacarem dos demais alunos.

— O que são essas gravatas? Anderson, você não foi chamado. Volta pra sua aula, por favor — foram as primeiras palavras da diretora Julinha.

Anderson virou e saiu da sala sem dizer nada, e Ricardo manteve a gravata, pois a diretora pareceu esquecer sobre ela logo depois de citá-la.

— Recebi um comunicado — continuou Julinha. — Seus superiores na polícia pediram a sua ajuda, pois estão precisando de pessoal. Vocês devem ir até o prédio da polícia para serem direcionados. No portão de saída o Rogério vai dar a vocês um bilhete para entregarem a seus pais. Tudo entendido? — O grupo de jovens afirmou em uníssono. — Então podem ir.

 

Ricardo voltou a sua sala juntamente com André para pegar sua mochila. Ao entrar, notou que o professor falava sobre as missões feitas pelos antigos habitantes da região, que se encaminharam para outros países e continentes a fim de obter informações e ajuda. Era outro assunto do qual Ricardo e André já tinham ouvido falar inúmeras vezes. A dupla pegou suas respectivas mochilas e saiu, atraindo olhares de todos os seus colegas.

— Mais tarde a gente conversa e te conto tudo — Ricardo sussurrou para sua melhor amiga, Rafaela, que lhe direcionava um olhar questionador. Anderson e seus outros quatro colegas possuíam expressões tranquilas, e não curiosas como o restante da turma. Provavelmente Anderson ouvira por trás da porta tudo o que a diretora falara, e já tratara de contar aos amigos.

 

Saindo da escola, o grupo de estudantes composto por aqueles que eram agentes juvenis começou a se dirigir à estação de trem mais próxima. Eles precisavam caminhar bem pouco para alcançá-la.

O penúltimo andar de Pyr era reservado para as escolas, creches, a biblioteca pública e algumas salas de reuniões das poucas empresas que existiam ali dentro, todos prédios cinza claro de estrutura bem marcada, como se tivessem sido feitos com grandes placas de cimento cortado. Por se tratar de uma pirâmide, à medida em que se subia por seus nove grandes andares, os pisos de Pyr diminuíam de extensão, devido ao fato da estrutura afunilar para cima.

O corredor pelo qual seguiam era, assim como todo o restante da Pirâmide, muito limpo. Havia algumas árvores de pequeno porte dispostas no centro da passagem a intervalos regulares. Se olhassem para a esquerda, os alunos avistariam os grandes cataventos de metal que sempre giravam preguiçosamente, presos aos grossos canos, também de metal, que sustentavam Pyr. Conseguiam vê-los através da parede de vidro que compunha a maior porcentagem da estrutura da Pirâmide.

A vista também era composta por, além do céu, toda a extensão da Grande Floresta. Assim como em todos os outros corredores que ficavam juntos às paredes de vidro (comumente chamadas de “janelas”), ali havia bancos, colocados com a intenção de que seus usuários contemplassem a floresta, o que geralmente atraía casais apaixonados.

As estações de trem eram como um grande cilindro de vidro, que abria as portas quando alguém se aproximava. Um corrimão prateado impedia que qualquer pessoa chegasse perto demais da beirada da plataforma.

A conversa entre os jovens era baixa e especulativa e não cessou depois que o trem parou na estação, abrindo suas portas.

 

Chegando ao centro policial, que ficava em um prédio que era dividido com outros órgãos menores, alguns andares abaixo de onde ficava a escola, os jovens foram recebidos por um superior, que pediu silêncio.

— Como vocês já sabem, ontem à noite aconteceu um acidente no Hospital Raphael Schlecht. Hoje estamos recebendo lá um número muito grande de curiosos, mas precisamos manter o lugar isolado enquanto os peritos fazem suas avaliações, além de necessitarmos que alguns de vocês cumpram algumas funções básicas de oficiais que estão ocupados com o caso. Agora eu vou ler a lista de nomes, com os lugares para onde vocês foram designados.

 

André fora direcionado para entregar alguns documentos, e Ricardo foi integrado à equipe de isolamento do hospital. Mas antes de partirem para seus respectivos lugares, os agentes juvenis deveriam vestir seus uniformes policiais, pois ainda usavam os da escola. No caminho, Ricardo aproveitou para conversar com André sobre o ocorrido.

Ao saírem do vestiário, os jovens foram separados em grupos de acordo para onde iriam e havia um responsável para dar ordens específicas para cada grupo.

Ricardo deveria descer até o andar do Hospital e se dirigir aos oficiais que estavam cuidando do cerco ao prédio, para saber em que ponto específico deveria se fixar, mas tinha que ficar atento, pois novas ordens poderiam surgir.

 

Depois de se encaminharem para fora do centro policial, André, que levava um envelope de papel reciclado na mão, correu até Ricardo, que parou para saber o que o amigo queria.

— Eu não podia, mas acabei lendo esse documento que tenho que entregar à rádio de Pyr — André disse, olhando para os lados, fazendo Ricardo voltar a andar, tentando parecer natural, sem sucesso. — Eles acreditam que o acidente na verdade foi um ataque — seu tom foi ficando mais alarmado. — Um grupo de policiais já saiu da Pirâmide em direção à Grande Floresta para procurar o culpado, que fugiu na frente. Eles saíram de Pyr e foram para a Grande Floresta, você acredita nisso?! — Nesse ponto, André sussurrava dramaticamente, como se berrasse baixinho.

Ricardo ficou em choque. Não conseguiu esboçar nenhuma resposta para dar a André, apenas continuou caminhando com o olhar perdido no nada.

Isso nunca tinha acontecido. Ninguém saía de Pyr. Havia uma manutenção da estrutura externa da Pirâmide, que ocorria anualmente, e pessoas saíam de fato até a área desértica para efetuar os reparos, mas isso não contava muito, pois a faixa de areia era considerada parte do território de Pyr, logo era um lugar seguro. Mas a Grande Floresta? Pelo que sabia, o ar lá nem era respirável! Seria loucura tentar adentrar a mata sem vida.

— E o pior — continuou André, ainda falando baixo —, é que os chefes da missão de busca perderam o contato com a central quando ultrapassaram a área desértica, o que confirma a existência do escudo invisível em volta de Pyr! — Fez uma pausa depois de dizer isso, como se não soubesse se continuava a falar ou se parava por ali.

— Ainda tem mais coisa?! — Ricardo perguntou, assustado ao observar a expressão do amigo.

André vacilou a fala um pouco, mas acabou dizendo:

— Os chefes da missão são a Sandra e o Otávio Freitas.

Ricardo parou de caminhar.

Esses eram os nomes dos pais de Jefferson.


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Notas finais do capítulo

E aí? A tensão tá aumentando em vocês? Espero que sim!



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