— E ENTÃO O QUE VOCÊ ACHA? — me perguntou Soraya na noite anterior a nossa viagem de volta, estava no quarto de baba, com a janela aberta, deixando que o vento levantasse as persianas rasgadas a cada vez que balançava sentado na cama com as costas apoiadas no travesseiro. Soraya estava parcialmente deitada, com a cabeça repousada em meu peito, enquanto eu lia um dos livros da minha mãe, um daqueles que achara em caixas no meu quarto, e massageava seus longos cabelos com a mão livre. Senti quando respirou fundo e abriu a boca para dizer alguma coisa, mas acabou voltando a fechá-la. Então tomou coragem e fez a pergunta. Não me lembro exatamente se ela disse: “O que acha?” ou “Você concorda?”. Só o que me recordo é que a afastei de mim e me recostei na cabeceira da cama. Estava confuso, mas não surpreso, porque na verdade já esperava por aquilo. Os acontecimentos no decorrer daquela nossa última semana no Afeganistão me levaram a esperar por esse momento.