Um jeito de ser bom de novo escrita por Sassenach


Capítulo 2
Prelúdio parte 2


Notas iniciais do capítulo

Continuando o aniversário do Sohrab, está meio depressivo mas é o melhor que consegui fazer.



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Algumas lágrimas rolaram por meu rosto. Aquilo estava acabando comigo. Relembrei o dia no parque, quando cortamos aquela pipa e me vi dizendo “Por você, faria isso mil vezes!” e correndo atrás de uma pipa verde como um menino. Tinha um sorriso ali. Eu vi. Por pouquíssimo tempo, mas esteve ali. Um sorriso, Uma esperança. Levantei e fui à direção do quarto, sem me dar ao trabalho de secar as lágrimas. Quando abri a porta Sohrab estava sentado na cama. Ele fez um movimento furtivo e escondeu alguma coisa em baixo do travesseiro, depois olhou para o lado. Apesar da velocidade pude ver o que era: a foto Polaroid de Sohrab e Hassan. “Novamente essa foto”, pensei, mas depois me senti mal por pensar nisso, ele devia sentir muita falta dos pais.

— E ai Sohrab como você está? — perguntei entusiasmado, mesmo já sabendo que a resposta seria um dar de ombros, tal como foi a final

— Sabe, estava vendo o calendário e percebi que daqui a cinco dias é o seu aniversário... — ele estava fitando as próprias mãos. A falta de contato visual me fazia sentir como se estivesse falando com as paredes e não com um ser humano — E então, vai querer fazer alguma coisa? — ele deu um leve aceno de cabeça de forma negativa — Posso... Fazer alguma coisa por você? Dar um presente pelo menos?— aquele dar de ombros estava começando a me incomodar

Suspirei desanimado. Fiquei olhando para o chão e percebi que ele estava olhando para mim. Então ele fez algo inesperado: tocou meu braço! Tão leve que não dava nem para sentir se você não prestasse atenção. Era como um vento batendo na blusa. Algo quase imperceptível, mas que eu senti. Virei o rosto para ele e ele olhou para mim. Tinha alguma coisa naquele olhar. Alguma coisa que eu já tinha visto antes, mas não lembrava quando. Alguma coisa parecida com... Com o dia do parque! Era interesse. Era um sinal de que estava vivo. Às vezes tinha que lembrar isso a si mesmo. Ele tirou rapidamente a mão de perto de mim e apontou para seu lençol. Apontou para um desenho no lençol. Uma pipa! Uma pipa azul e grande! Entendi de imediato o que ele quis dizer. Queria uma pipa. Queria que eu lhe desse uma pipa de aniversário.

—Tem certeza? — perguntei, animado. Era a primeira vez em um mês que ele esboçava reação. Dessa vez ele fez um leve aceno positivo com a cabeça. — Está bem. Vou lhe dar a pipa mais bonita dessa cidade! — ele fez que não com a cabeça e não entendi mais nada. Ele voltou a apontar para aquela pipa azul e então entendi. Ele não queria a mais bonita ou a maior. Ele queria uma simples pipa azul. Uma pipa azul...

—Muito bem, então pode acreditar que daqui a cinco dias vai ter uma pipa azul te esperando!— a minha frase ele responde desviando os olhos e voltando para aquele seu mundo de isolação. Aquilo doía como marteladas no peito. Fechei a porta do quarto e voltei para a sala. Sentado no sofá chorei, e Soraya veio me abraçar.

— As coisas vão mudar. Vai ficar tudo bem. Tudo será bom de novo.


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