Um jeito de ser bom de novo escrita por Sassenach


Capítulo 16
Capítulo 13




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— Nem eu. Na verdade eu queria mesmo sair correndo. Queria mesmo pegar o carro e dar meia volta. Mas tendo vocês dois do meu lado eu senti que conseguiria. — sorri e segurei em seu queixo. Ela deitou e fiquei acariciando seus cabelos — Entrar pela porta principal foi sem dúvida a pior parte. Ao mesmo tempo que as boas lembranças vinham em mente, também pensava em todas as coisas ruins que fizera.

— Você era uma criança Amir. Quase a mesma idade de Sohrab.

— Isso não justifica! Eu sei que errei, e entrar aqui me fez lembrar de tudo isso. Mas, eu realmente me sinto em paz. Acho que já paguei pelos meus erros. Mesmo assim o passado sempre vai ficar martelando na minha consciência.

— Fala como se seu passado fosse o mais cruel de todos. Esquece que eu já desejei a morte do meu pai, e fiz minha mãe ter um AVC?

— Soraya, é esse o motivo pelo qual seu passado não me incomoda: que sou eu para julgar o passado de alguém depois de tudo o que fiz?!

Ela se sentou e disse seriamente:

— Não acho que a questão seja o quão pior um passado é do outro, mas sim o modo como lidamos com eles. Eu me arrependi de verdade e me desculpei com meus pais. Você tentou esconder o seu debaixo do tapete, mas a tentativa de esquecer só tornava as cicatrizes mais doloridas. Amir, nesse momento tem um garotinho dormindo no quaro da frente. Ele é a prova de que, mesmo tarde, você fez o que era certo e conseguiu se concertar.

Era incrível essa capacidade que ela tinha de dizer sempre as coisas certas no momento certo. Levantei da cama, peguei meu celular e fui até a sala de fumar. Sentei no sofá de couro que rangeu ao meu peso. Peguei o celular e um papel no bolso. Lá estava um número de telefone que veio junto com o pacote de Rahim Khan.

— Alô? — perguntou a voz do outro lado da linha

— Olá Farid, sou eu Amir.

— Amir agha! Que bom falar com você! Onde você está?

— Em casa Farid. Literalmente. Cheguei a Cabul ontem.

— Isso é ótimo! Espero que vocês tenham chegado bem. O que acha de minha família e eu fazermos uma visita daqui a dois dias?

— Seria ótimo Farid. Pode vir, estaremos aqui.

— E como estão as coisas? A casa continua a mesma?

— Sim, estava meio bagunçada, e bem suja como era de se esperar, mas não teve nenhum dano. Está tudo de pé e inteiro. Eu, Soraya e Sohrab tiramos o dia hoje para arrumar tudo. Fizemos uma limpeza pesada! — ele riu — Venha para ver como ficou nossa faxina!

— Pode esperar por nós Amir! — nós rimos e ele disse — Estou mesmo feliz por saber que o garoto está bem. Acho que em casa ele vai se sentir mais seguro. — pensei naquela abordagem no posto de gasolina e no que o amigo de Soraya disse:

— Bom, acho que “seguro” não seria a palavra certa, mas feliz talvez...

— Como assim? Aconteceu alguma coisa?

— Como você mesmo me alertou, alguns talibs cruzaram nosso caminho durante a viajem, mas não fomos entregues por ninguém. Soraya falou com um amigo de seu pai e este prometeu que vai mandar dois guardas para ficarem aqui na frente da casa amanhã. Não sei se estamos muito seguros, mas por enquanto, estamos bem.

— Nem brinque Amir agha, não me perdoaria se acontecesse algo com vocês!

— Você não tem culpa de nada Farid. Eu assumi riscos vindo para cá, e não é agora que ou voltar. Muito menos por medo de algo que nem sei se vai acontecer.

— De qualquer jeito cuidado. Quando eu for para ai vou tomar cuidado e pegar uma estrada na qual eu sei que eles não vão estar. Ishalland vai ficar tudo bem.

— Ishalland. — me senti meio hipócrita ao dizer isso

— Fique bem Amir agha.

— Você também Farid. Nos vemos em dois dias.

Desliguei o telefone e sai da sala. Passei pelo quarto em que Sohrab dormia e depois me dirigi ao quarto de baba. Me deitei novamente ao lado de Soraya que já dormia. Eu estava extremamente cansado e peguei no sono imediatamente.

UM SONHO: A casa está escura. Num momento meus pés estão firmados no chão e no segundo seguinte o piso já não está mais ali. Eu corro deliberadamente e não chego a lugar nenhum. Estou num corredor escuro pelo qual eu corro em direção a uma porta que está fechada. Tento abrir a todo custo, enquanto ouço o barulho de coisas desabando às minhas costas. Tento quebrar a maçaneta e não consigo. Então porta se abre lentamente e lá dentro está um homem com lábio fendido. Ele tem a cabeça raspada e olhos puxados. Ele me puxa para dentro do quarto, que na verdade é um campo enorme, onde reflete a luz do Sol.


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