Lembranças de Um Corvo

E ela volta...
Contemplo a lentidão dos passos,
a alegria solta de andar contra os fortes ventos
brincando com o que agitava o vestido e os laços.

Observo atento o cabelo negro esvoaçante, o sorriso e os olhos numa fenda.
São as deusas apenas lendas,
minha menina é real.
Sorri, deixando que o vento brinque com seus cabelos.

Ele deseja tira-la de mim, atrapalhando os lentos paços de minha menina.
Mas ela é minha e espera, deixa o vento passar,
levando as folhas e o laço, fazendo-os voar.


E eu faço por merecer?
Meu egoísmo, os maus presságios, as sombras, e a dor...
Tudo contraposto a alegria dela, a esperança de dias justos para envelhecer.
Preciso que ela vá para onde eu não possa vê, ver-me sentir tanta dor.
Para que eu possa enterrar-me, na solidão, de um voo noturno,
na companhia do frio .

Ela sorri, os olhos azuis brilham, parece muito mais feliz.
Parece tão doce, sempre pareceu.
Quando a mão estendeu,
estancando minhas feridas que surgiam onde houve cicatriz,
Não pude rejeitar sua ajuda,
Suas mãos delicadas, os toques leves para não causar mais dor... Mas nada muda.

Não podarei suas asas, não criarei uma pequena prisão de grades douradas,
não posso mantê-la amarrada.
Mesmo sendo minha não a impeço de partir e não peço para ficar.
Ela é minha, sabe disso, e não precisa andar rapidamente para me encontrar.

Estou na janela como na tarde anterior.
Sentindo a inferioridade de minhas angustias comparadas as incertezas,
de que tudo será pior.
Permaneço com meus estigmas fincados em toda minha extensão com tanta clareza.