Come Back escrita por Lyxi


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Bom, espero que alguém leia, e goste... Beijos!



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Kagome andava a passos lentos dentre a floresta, procurando absorver o máximo de detalhes possível. Suas coisas em mãos, lágrimas nos olhos e um alerta em mente, lembrando-a sempre de que aquela seria a última vez.

A última vez, finalmente. Após tantos alarmes falsos e tentativas falhas de negar sua felicidade, dizendo não à única fonte de alegria que ela tinha, enfim estava indo. Já escurecia, o sol se punha entre aas árvores, sendo engolido delicadamente pelo horizonte, para que a lua pudesse tomar seu lugar, junto das estrelas.

Suspirou fundo. Decididamente sentiria muita falta daquele lugar. Sentiria falta de tudo que havia ali. De todos que conhecera, até dos que não tivera a chance de conhecer. Os lugares por onde passou, tudo o que sentiu, os amigos que fez em sua jornada.

Acima de tudo... Sentiria profunda falta de seu primeiro amor. Acima de tudo, sentiria falta de Inuyasha.

Sentiria falta do modo que ele sorria. Era quase impossível tirar um sorriso do seu rosto, mas quando sorria... Do modo como ele falava, do modo como ele sempre estava ali para seus amigos, para protegê-los e ajudá-los como e quando fosse preciso...

De seu jeito arrogante, pretensioso e orgulhoso, mas com um coração de ouro, imenso dentro de seu peito. De seus cabelos prateados reluzentes, cabelos que a encantaram desde a primeira vez que os viu... E seus olhos...

Aqueles olhos dourados... Tão dele e de mais ninguém... Não importava o quanto Kagome visse aqueles mesmos olhos em outros, nunca seriam os mesmos, por mais idênticos que fossem por um simples motivo: não carregariam a tristeza que Kagome via nos dele. Não carregariam toda a bravura e a sensação de segurança que tais olhos lhe causavam, que a inundava todas as vezes que fixava os seus olhos nos dele...

Não carregariam aquele amor que ela via quando o pegava olhando para o horizonte, pensativo. Ela admirava aqueles olhos reluzentes, cheios de amor. Mesmo que o amor não fosse pra ela.

Quando seus olhos brilhavam, mesmo que o brilho não fosse direcionado a ela. Mesmo que o amor que Kagome sentia por ele não fosse correspondido. Mesmo que a realidade trazida naqueles olhos fosse inevitável... Ele nunca a amou.

Kagome sentiu lágrimas invadirem seus olhos ao pensar. Ao pensar que toda a paixão que sentira e todos os seus esforços foram em vão.

Que tudo o que vivera com ele fora uma mentira. Uma ilusão cruel, na qual Kagome insistia amargamente em acreditar, insistir e levar adiante, dia após dia, carregando o fardo daquele amor tão intenso, mas tão infeliz.

O fardo que, apesar de doloroso, ela continuava carregando sem contestar. Era o que a puxava para baixo, sua âncora particular. Entretanto, era o que a impulsionava a continuar.

Tantos foram os esforços para conquistar seu coração, mesmo sabendo que sempre pertencera a outra. Mas não, aquilo não a impedia de continuar tentando. Infrutiferamente, continuava.

E então... de repente parou de tentar. "Quem sabe um dia ele me ame?" Era o que pensava. Era seu mantra, uma esperança alimentada erroneamente. Era o que mantinha seu coração batendo em meio à morte de todo o restante de seu corpo.

Ela estava consciente de seus movimentos. Movendo-se devagar, a ausência de Inuyasha arrancava seu oxigênio gradativamente, até que não mais houvesse ar naquela floresta cheia de vida. Lembrou-se das aulas de biologia no colégio, e riu amargamente com a ironia.

O vento leve do fim de tarde batia em seu rosto enquanto ela andava em meio às árvores, que farfalhavam. E todas as vezes que aquilo acontecia, ela parava, imóvel, estática. Metade dela sentia medo, e a outra esperava que fosse Inuyasha, correndo para ela. Abraçando-a apertado, dizendo que tudo aquilo não passara de um mal-entendido. Que Kikyou não mais ocupava seu coração.

Mas aquilo não estava acontecendo.

Não importa o quanto ela esperasse imóvel, ele nunca viria.

Esperar por ele era sua sina. O que ela sempre fizera, ainda mantendo a esperança, mesmo que soubesse da realidade.

Inuyasha não viria. Não por ela. Nunca se preocupara o suficiente para tal.

A floresta parecia não ter fim. Por mais que Kagome andasse, parecia não ter saído do lugar. Ela voltava à estaca zero de novo, e de novo.

Olhou para cima, avistando a grande e majestosa Árvore Sagrada. Lembrou-se de tantos momentos bons que tivera ali...

Apesar da desilusão, percebeu, tudo aquilo valera a pena.

Assim que lembrava das lágrimas que já derramou naquele lugar, lembranças dos sorrisos também surgiam em sua mente. Todos os momentos, bons ou ruins, valeram a pena. Tudo o que passara até ali fora a melhor coisa que poderia ter acontecido com ela. Naquela era estavam os momentos mais especiais que se lembrava de ter.

Conheceu as melhores pessoas. Lutou junto delas. Apaixonou-se pela melhor pessoa: a pessoa gentil que era aquele meio-demônio que surpreendentemente, tinha mais humanidade em seu coração do que qualquer outro na sua era. Seus sentimentos eram puros, e ela se apaixonara aos poucos. Após cada palavra dura e ríspida que saía da boca dele, surgia uma atitude, uma demonstração de preocupação e afeto que fazia com que ela esquecesse tudo o que ele já tinha dito para magoá-la. Inuyasha tinha um coração de ouro.

Seu coração se aqueceu ao pensar nele, e então considerou desistir. Considerou jogar tudo aquilo para o alto e voltar correndo para eles, e dizer que sentia muito, que fora apenas um lapso como todos os outros, e que ela nunca seria capaz de deixá-los.

Ela poderia estar sendo sincera com todos os outros, mas estaria mentindo descaradamente para si mesma.

Apenas sofreria novamente, esperando, dia após dia, que Inuyasha reconsiderasse e reconhecesse que Kagome era a mulher de sua vida. Não Kikyou. Esperando que ele dissesse que a amava.

Mas ela sabia que aquilo não seria verdade. E aquilo a destroçava por dentro.

A destroçava saber que a pessoa por quem seu coração batia, tinha o coração batendo por outra.

Saber que a pessoa que amava sempre pertenceu à outra.

Inuyasha sempre amou Kikyou. Kagome não tinha idéia do que tinha na cabeça para achar que em algum momento poderia ser melhor que Kikyou. Como ela, uma garota tão imatura e infantil, conseguiria mudar uma história tão longa de um amor tão bonito como o deles?

O coração de Inuyasha pertencia apenas a Kikyou, e a Kagome nada restava a fazer, a não ser ir embora e desejar sua felicidade.

Voltar para sua era, a era a qual pertencia. Iniciar uma vida nova. Uma vida sem Inuyasha. Esquecer tudo o que vivera ali. Nunca mais pensar no maldito poço ou nas felicidades que aquele mesmo poço trouxe para a sua vida.

Kagome sabia que não poderia seguir em frente sem arrancar Inuyasha completamente de sua vida e seu coração. Assim como sabia que não havia jeito algum de tirá-lo de lá. Ela o amava demais para tal.

Desejou que tudo aquilo fosse apenas um sonho. Apenas um terrível pesadelo, onde acordaria em sua era, sua vida seria normal outra vez. Que talvez nada daquilo existisse. Que não conhecesse Inuyasha, e menos, que não o tivesse amado tanto.

Mas se não existisse, a sua felicidade e alegria não teriam existido. Viveria sua vida medíocre sem conhecer aquelas pessoas, sem conhecê-lo...

Decidiu então viver sua própria vida; conviver com sua própria tristeza e compartilhar apenas com si mesma sua desilusão.

As lembranças ficariam em sua mente, num lugar escuro, apenas para lembrá-la no futuro de que nada fora em vão, e que tudo aquilo valera à pena.

Valera?

Chacoalhou a cabeça, tentando repelir os pensamentos de sua cabeça. Mas é claro que valera! Tudo aquilo.

O que não nos mata nos deixa mais fortes.

Estava escurecendo. A lua já brilhava no céu. O farfalhar das árvores aumentou, e Kagome teve um sobressalto. Respirava pesadamente, hesitando. Seu coração estava batendo forte.

Viu um vulto aproximando-se rapidamente. Sentiu que seu coração iria explodir, e uma felicidade imensa, que não soube explicar, tomou conta dela.

Ele parou na frente de Kagome, semblante aliviado, mas triste. Kagome não soube bem o motivo de ele estar ali. Ela deixara claro prontamente de que não queria ser seguida.

– Vim te buscar. – Ele disse como se lesse seus pensamentos.

– Por que se importa? – Kagome disse amargamente, cansada daquela indecisão que apenas a fazia sofrer ainda mais.

Cabisbaixo, Inuyasha apertou os punhos, hesitante. – Por-porque eu...

O coração de Kagome acelerou novamente, batendo mais rápido e descompassado que nunca. Perguntou-se se ele poderia ouvi-lo.

– Você... O quê? – Sua voz estremeceu. Inuyasha levantou o olhar e torceu o nariz como se pedisse para não fazê-lo dizer. Sentiu como se seu coração tentasse rasgar o caminho para fora do seu peito, desesperado.

Inuyasha olhou para a Lua, que agora brilhava imponente e majestosa no céu. – Eu não quis dizer o que sentia, você sabe como me sinto sobre isso. Nunca achei que você fosse ir embora de fato, e quando você saiu de lá... – Os olhos dele tremeluziam. – Eu realmente senti que, dessa vez, era sério. Eu vim por você. Vim pra te dizer que... esse mundo não é o mesmo sem você, Kagome. – Disse ao que aproximava dela, cada vez mais perto.

E a envolveu em seus braços, como se tentasse aliviar-se do desespero por quase perdê-la. – Não é o mesmo. – Respirou fundo, na intenção de absorver seu aroma. – Seu cheiro... – Afrouxou o enlace, olhando-a nos olhos.

Kagome não conseguia respirar. Não pela pressão contra o corpo de Inuyasha, mas sim sem fôlego pela revelação repentina.

– É o mesmo da Kikyou? – Retribuiu o olhar, fixamente, nos olhos de Inuyasha. Ele balançava a cabeça no que parecia ser uma tentativa de afastar lágrimas.

Inuyasha respirou fundo, e Kagome o viu enrubescer.

– Não – ele disse, abraçando-a mais uma vez, afundando o rosto em seus cabelos – é melhor.

Quando ela apressou-se para falar aquilo que estivera preso em sua garganta durante tanto tempo, ele abraçou-a mais forte e ali ela soube. Ela não precisava de palavras. Inuyasha era de atitudes e as atitudes dele naquele momento diziam tudo. Ele não queria dizer, mas ela então descobriu quais eram os verdadeiros sentimentos dele.

Kagome olhou para o céu, enquanto Inuyasha ainda confortar-se com sua presença, com seu aroma; não como um cachorro farejando um trajeto, mas como... alguém que ansiou por aquilo durante muito, muito tempo.

A lua nunca estivera tão bonita. O meio-demônio e a garota humana ficaram abraçados por alguns minutos, que por mais clichê que soe, pareceram uma eternidade. E Kagome sorriu novamente ao perceber: não era lua nova.

Não era lua nova, e mesmo assim, Inuyasha nunca esteve tão humano como naquele momento.


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