Saga - The Alphas Pack escrita por Matheus Henrique Martins


Capítulo 5
Alpha Party




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– Verde ou azul?

Na manhã de sexta-feira, Rafa se encontrava de frente ao espelho no fim do corredor do segundo andar de sua casa. Seu irmão Roger pairava atrás dele, com um pé no corredor e outro dentro do banheiro, erguendo duas camisetas.

– Ah... Azul? – Rafa respondeu, franzindo o cenho.

Roger semicerrou os olhos para ele.

– Eu preciso de respostas não de perguntas.

Rafa revirou os olhos.

– Usa a mesma coisa de sempre – ele respondeu. – Afinal só estamos indo a escola.

Roger desviou os olhos dos dele e abaixou as duas camisetas.

– Não é para a escola.

Rafa levantou a cabeça.

– Então é pra que?

Roger apenas o encarou de volta e entrou no banheiro, evitando olhar para ele.

– Ei, pivete, o que você esta tramando?

Roger colocou apenas a cabeça para fora.

– Quem disse que eu preciso te dizer?

Rafa sentiu que ele estava apenas sendo o mesmo de sempre, o irmão mais novo que adorava implicar com ele. Mas também sentiu que na voz do caçula havia certo nervosismo – como se ele realmente precisasse de ajuda com as camisetas.

– Você vai ter um encontro? – Rafa parou na porta.

O garoto apenas revirou os olhos.

– Encontros? Quem você acha que eu sou? Você?

Rafa reprimiu a vontade de suspirar.

– Escuta aqui seu aborto mal sucedido, se você não me contar o que esta tramando, eu vou falar com o papai e a mamãe para trancar sua academia por um mês.

Uma sugestão de sorriso surgiu no canto da boca de Roger.

– Que pai e mãe?

Rafa sentiu seu rosto perder a cor e lançou um olhar para as portas duplas no outro fim do corredor - o quarto dos pais, que mais parecia uma suíte do hotel Hampton.

– Onde eles foram?

– Viajar – Roger tentou responder naturalmente, mas parecia mais a beira de uma comemoração. – Vão passar o final de semana inteiro na casa de praia. Maneiro né?

Rafa tentou entender a alegria do irmão. Por que ele estava tão feliz com a ausência dos pais deles? Ele geralmente odiava que não tivesse alguém para leva-lo para jogar Lacrosse no sábado.

De repente, Rafa passou os olhos pelas camisetas e pelo resto da casa que parecia impecável, e então entendeu tudo.

– Você vai dar uma festa?!

– Bingo, bingo – Roger sorriu. – Acho que enfim somos irmãos do mesmo sangue, né?

Raiva espumou pela boca de Rafa, já prevendo que a casa seria invadida por crianças do ensino fundamental e um bando de desconhecidos que Roger tinha nos contatos do WHATSAPP.

– Você não precisa me levar pro Lacrosse – Roger se adiantou, como se aquilo fosse algo melhor.

Rafa apenas bufou e pegou a bolsa na cama do quarto. Porém, ao passar pelo irmão no banheiro, pegou uma das camisetas.

– Azul, sempre – e então desceu o segundo andar.

O ônibus da escola parou e Rafa se levantou para seguir os alunos mais novos na frente dele que iam descer. Geralmente, o pai dele o trazia ou ele mesmo pegava o Sentra da mãe emprestado, já que tinha 16, mas como eles estavam “de férias”, ele tivera que se submeter aquela tortura.

Os alunos estavam eufóricos por ser sexta-feira, e Rafa também deveria estar – se não tivesse que se preocupar com um assassino a solta na cidade. Ele ainda se lembrava dos olhos totalmente brancos das Bruxas na quarta, o que não ajudava em nada.

Fernando, Andressa e Eduardo tinham aparecido na escola ontem – ainda surpreendendo todos os alunos – para avisar que Carla tinha sido levada até La Iglesia e que esperavam descobrir se ela sabia onde os Atiradores estavam se escondendo.

Porém, o que quer que tivesse matado o turista não tinha a menor ligação com aquilo tudo.

Rafa parou na frente da escola, cogitando matar aula só aquele dia, mas uma olhadela no outro lado da rua o fez hesitar de imediato.

Gabriella estava recostada em seu carro, de braços cruzados e com os olhos fixos nele, como se tivesse o seguido o dia inteiro – talvez tivesse.

Rafa engoliu em seco e se esforçou o bastante para não tremer enquanto a encarava de volta – não tinha motivo para pânico, ele não estava devendo a ninguém.

Gabriella parecia prestes a se inclinar na direção dele, mas um vulto loiro atraiu a atenção de Rafa e ele aproveitou a chance para escapar daquilo.

– Roberto – ele segurou o braço do garoto e colou um sorriso no rosto. – Ei, como vai?

– Rafa – o outro enrubesceu de imediato, encarando a mão dele em seu braço. – Eu... Eu tô... Bem e você?

– Estou ótimo – Rafa afastou a mão, pensando em maneirar um pouco. – O que você acha de ir à minha casa mais tarde?

Se antes Roberto estava vermelho, agora estava mais do que rubro. Parecia que ia desmaiar e Rafa se perguntava se ele tinha algum problema em respirar – mas ele não era nadador?

– Algo errado? – Rafa questionou. – Você não gosta de festas...

– Não, não é isso – Roberto se ajeitou rapidamente. – É que eu não sei nem o que dizer.

Ainda de olhos em Gabriella, Rafa o cutucou de brincadeira.

– Só diga que sim – ele insistiu. – Que festa seria uma festa sem você?

Roberto deu de ombros.

– Qualquer uma – ele respondeu indiferente. – Até mesmo festa de criança. Mas se bem que, eu quero mesmo ir nessa festa.

– Então vá – Rafa pediu dessa vez com sinceridade.

– Eu quero ir – Roberto respondeu intensamente. – Mas por um motivo que acho que você não entende.

De repente o ar parecia pesado e Rafa pode ver que Roberto o encarava com os olhos, tão verde quanto à camiseta que Roger tinha mostrado mais cedo.

– Ahn? – Rafa questionou, sentindo o coração pulsar.

Roberto então desviou os olhos.

– Rafa, tem algo que eu venho querendo te falar e já faz um tempo. Geralmente esse tipo de coisa não deveria levar tanto tempo, mas é que eu simplesmente não consigo.

Rafa se lembrou do dia na piscina. Roberto tinha a mesma expressão no rosto e parecia prestes a contar algo. Mesmo sentindo os lábios morderem dentro da boca com tanta ansiedade, ele não se permitiu ouvir.

Roberto suspirou, parecendo se preparar para algo, mas então Rafa apenas colocou uma mão no seu ombro.

– Ei, não precisa dizer nada agora. Eu sei que você ainda não tá preparado.

Roberto o encarou de volta, parecendo confuso.

– Mas Rafa...

– Não, não precisa – o outro ajeitou a mochila. – Pelo menos não agora.

– Eu tenho que contar...

– Tem, mas não é obrigado, é? – Rafa sorriu um pouco. – Olha, quando realmente quiser me contar algo, me conte. Mas no momento... Enquanto ainda estiver despreparado, acho melhor você esperar.

Roberto se calou inexpressivo e Rafa se perguntou se tinha ferido algum sentimento dele.

– Te vejo hoje à noite? – ele perguntou esperançoso.

Roberto assentiu parecendo aliviado.

– Mal posso esperar.

Rafa então ajeitou a mochila e lançou um olhar para o outro lado da rua. Não havia mais nenhum carro ali no outro lado da calçada, nem sinal de uma mulher de cabelo preto azulado.

Mas só porque ele não via não queria dizer que Gabriella não o estivesse observando.

Mesmo estando naquela escola a mais de nove anos, Rafa tinha entrado em duas salas erradas – confundiu a de Mercenária com a de Matemática, e a de Biologia com a de Geografia. Achou que aquilo não podia piorar, mas depois de Inglês para Sociologia, começou a desistir e se atirou no chão do corredor, completamente ciente de que o Sr. Ávila poderia aparecer a qualquer momento e lhe dar uma suspensão.

Rafa bem que queria fugir dali, mas sua mente estava cheia de pensamentos. Por alguma razão, a conversa com Roberto tinha acendido outra conversa: a com Fernando.

Ele parecia bem afetado desde a conversa no carro, falando com Rafa sem olhar ele nos olhos e, quando olhava, rapidamente desviava. Rafa não sabia explicar bem porque, mas as atitudes de Roberto agora pouco lembravam o outro, o jeito que ele ficava afetado.

Se bem que Rafa era quem ficava afetado – muito até – só que pelo menos ele tinha motivos. Fernando era lindo de morrer, tinha um corpo escultural e era tão intimidador quanto.

Mas ele também ficava afetado, disso Rafa tinha certeza, só não sabia explicar porque – não podia ser pelo um metro e setenta de Rafa, não é mesmo? Então por que seria?

O pensamento de Rafa parecia recheado de imagens dele, mas quando ouviu um barulho no corredor logo o fluxo de pensamentos parou, como se desligado. Ele se encolheu contra a parede e encarou o final do corredor: estava vazio.

– Olá? – ele perguntou como qualquer americano burro faria enquanto se levantava. – Olá tem alguém ai?

Ele sabia muito bem que podia explodir coisas com as mãos, mas mesmo assim seus pelos da nuca se arrepiaram.

– Olá? – ele pegou a mochila, se lembrando de que a adaga que Andressa tinha dado a ele estava no bolso da frente. – Olha, seja quem for... Não tem a menor graça.

– Não tenho a intenção de parecer engraçado.

A voz veio de trás e Rafa se virou com tudo, totalmente despreparado.

– Você tá devendo? – Lucas perguntou, se limitando a encarar ele.

Rafa suspirou de alivio, mas então seus ossos ficaram tensos.

– Que merda você pensa que esta fazendo?

– Eu só estava andando – Lucas se defendeu.

– Aham, se esgueirando logo atrás de mim, você quer dizer.

Lucas revirou os olhos e passou por ele.

– Você sempre pensa que é tudo com você?

Rafa fechou a cara enquanto ele se distanciava.

– Seu amigo precisa urgentemente de umas aulas de etiqueta.

Dessa vez Rafa não se virou tão tenso, reconhecendo o tom desagradável. Fernando, Eduardo e Andressa vinham logo atrás, ambos trajados com roupas leves e comuns – bem, comuns para quem acha Poliéster comum.

– Podemos falar com você? – Eduardo perguntou num tom que não dava muitas escolhas ao apontar para a sala do Sr. Ávila.

– Claro que podem – ele respondeu lançando um olhar rápido para Fernando, que, como ele adivinhou, desviou o olhar dele rapidamente.

Rafa se empoleirou no canto enquanto Andressa se sentava em cima da mesa, Eduardo passava os dedos pela borda dos livros e Fernando ficava na porta, olhando para ver se alguém vinha.

– Onde trancaram meu monitor dessa vez? – ele perguntou cruzando os braços.

– Não foi preciso, um dos pneus dele furou a caminho da escola – Andressa comentou com um sorrisinho.

Rafa estremeceu pensando na agulha gigante.

– Sabe vocês bem que poderia fingir melhor esse lance de serem alunos – Rafa fez aspas com os dedos na última palavra.

– Já não estamos? – Eduardo questionou enquanto abria um dos livros. – Nos vestimos todos os dias como você e andamos em casal – ele lançou um olhar para Fernando. – Com uma exceção apenas.

– Primeira coisa, eu nunca uso Poliéster – Rafa tocou a camiseta. – Isso é Pólo.

Fernando revirou os olhos, impaciente.

– Será que podemos falar menos de tecidos e mais sobre a ameaça iminente? – ele encarou Rafa e então forçou um sorriso. – Por favor?

– Ameaça iminente? – Rafa questionou. – Tem algo que vocês precisam me contar sobre os Atiradores?

– Quem me dera fosse isso – Andressa se deitou na mesa, de forma desleixada. – Um Atirador seria muito melhor do que uma anã de jardim com instinto felino.

– Carla? – Rafa questionou. – Como assim instinto felino?

– Ela é uma Alfa – Fernando respondeu, os olhos escurecendo um pouco. – Ela é uma Loba.

Rafa quase arfou.

– Aí meu Deus, isso quer dizer que ela...

– Acalme-se – Eduardo se virou para ele. – Seria um prazer dizermos a você que demos um jeito na cachorra, mas não é tão simples. Não podemos matar Lobisomens, somente quando necessário, e ainda mais uma Alfa.

– Alfa?

– Alfa é o maior tipo de Lobisomem. Ele pode iniciar uma matilha e somente ele pode transformar alguém em lobo.

– Carla é uma Alfa?

– Ela é uma irritante, isso sim – Andressa comentou.

– O que quer dizer com isso?

– Digamos que a cachorra não esteja cooperando com nada – Edu suspirou, cansado. – Tentamos de todo modo a fazer dizer algo sobre os Atiradores, mas ela se recusou veemente. Agora Layane e Anna estão tentando interroga-la.

Fernando crispou as unhas.

– E essa é a parte chata. Além de forte e imune a nossas regras ela pode ser uma vadia tremendamente chata. Não vai dizer tão cedo porque estava com aquelas Bruxas e não vai dizer tão cedo qual a ligação dela com os Atiradores.

– Eu preferiria as Bruxas Possuídas a ela – Andressa grunhiu.

Rafa tentou conter o desanimo deles.

– Vocês tem alguma teoria sobre isso?

Eduardo deu de ombros.

– Bom, ou ela esta sob algum feitiço, ou simplesmente tem seus motivos para não falar nada.

– Eu opto pela segunda – Andressa comentou.

– Espera, se ela é a Loba, isso quer dizer que ela cortou em pedaços o tal turista? – Rafa perguntou enquanto tentava não tremer.

Eduardo sorriu

– Isso daria um bom motivo para mata-la... Mas não, não foi ela.

– Como podem ter tanta certeza?

– Alfas tem controle de si – Fernando respondeu. – Eles podem controlar a sede de sangue e se transformar quando bem entenderem.

Rafa pensou ter ouvido um tom de lamento na voz dele, mas logo tentou não pensar nisso.

– Então se não foi ela, quem foi?

– Presumimos que seja algo que perigoso e que, ao contrário de nossa querida anã, não tem nenhum controle sobre o que faz.

– Ou talvez tenha – Eduardo corrigiu.

Rafa estremeceu.

– Isso quer dizer que o que quer esteja lá fora pode estar matando por querer?

Andressa o encarou da mesa.

– Por que isso te surpreende?

Rafa apenas balançou a cabeça com perturbação.

– Acredite em mim, não é só surpresa que eu estou sentindo.

Fernando levantou o olhar para avalia-lo e Rafa, por um nano segundo, pode sentir de novo que ele parecia um pouco afetado por ele. Mas então o loiro desviou o olhar.

– Não se preocupe, não vamos deixar que nada te aconteça – ele murmurou suavemente.

– E o que pretendem fazer agora?

– Vamos continuar procurando – Eduardo respondeu. – Seja lá o que for essa coisa, não pode se esconder para sempre.

– E se puder? – Rafa questionou teimosamente.

E então algo atirou Rafa com tudo no chão, mantendo algo frio na lateral do pescoço dele. Andressa tomou forma em cima dele e sorriu malevolamente.

– Então pode se dizer que eu e ela teremos algo em comum.

Carla Gonstavi se sentou dura na cadeira “oferecida” a um dos seguranças de Anna, um homem alto e careca com olhos que a moça tinha pedido para chama-la. Anna parecia tão jovem, a considerar as coisas que podia fazer e o cargo que tinha naquele lugar. Uma dos Três, Carolina tinha dito a Carla.

– Então – Anna começou, rondando a mesa para ficar de frente para ela. – Ouvi boatos de que já sabia de mim.

Carla assentiu enquanto uma ruiva no canto da sala suspirava de frustração. Tinha olhos azuis e a ponta do nariz era cheia de sardas. Mas mesmo assim, como Anna, parecia representar alguma ameaça.

A ruiva levantou os olhos e Carla desviou na hora.

– Eu poderia dizer que sim – Carla pigarreou, sem se intimidar. – E poderia dizer que é mais do que um boato, se você fizesse o favor de tirar o seu brutamonte da sala.

Anna olhou para o careca com profundo desinteresse.

– Não vejo porque – Anna se recusou veemente. – Nós duas sabemos que não é ele quem pode te fazer mal aqui, certo?

Carla apenas fez o que pode para desviar o olhar, mas continuou de queixo erguido.

– Nenhuma palavra até você despacha-lo.

– Isso é uma coisa sua ou Carolina simplesmente mandou que você fosse tão difícil? – Anna perguntou, subitamente tranquila ao citar o nome da Chefa dos Atiradores.

– Claro que é uma coisa minha – Carla crispou as unhas. – Eu não gosto de homens.

Anna assentiu enquanto Layane levantava o olhar.

– Em vários sentidos, devo supor – ela então olhou o careca. – Dimitri, pode se retirar.

Não era um pedido e o careca enorme começou a marchar para fora da sala. Quando ele atravessou as portas abertas, Anna piscou uma vez e elas se fecharam.

– E agora, Carla? – ela se virou para ela com o sorriso. – Podemos começar a falar?

Carla hesitou por um momento e a expressão de Anna se retorceu um pouco.

De repente Carla foi lançada da cadeira e caiu de costas em um canto da sala. Ela tentou se levantar, mas só encontrou o salto de Anna pesando no meio de seus peitos.

– Vamos ter que ser difíceis?

Carla balançou a cabeça, assustada. O primeiro interrogatório havia sido feito com dois membros do Pack, Eduardo e Andressa, e ela imaginava que Anna fosse ficar frustrada com a falta de respostas dela – Frustrada, não perigosa.

Anna retirou o pé, mas a levantou com tudo.

– Acho que você não me entendeu.

De novo, Carla foi lançada, mas dessa vez contra a janela, quebrando vários pedaços e levando vários pedaços de vidro consigo até o caminho do chão.

Ela sabia que sua pele ia se curar dentro de minutos, mas não conseguiu deixar de ficar assustada.

– Você não pode me matar! É contra suas leis! – ela atirou contra Anna.

Anna começou a andar até ela.

– Tem razão, não posso – ela sorriu. – Mas eu posso tentar e, acredite em mim, essa não é uma solução melhor.

Dessa vez Anna crispou as unhas e a pegou pelo pescoço, olhando Carla com impacientes olhos castanhos.

– Agora. Eu. Quero. Te. Ouvir. Falar.

Ela disse cada palavra com um estaco, soando pela sala inteira. Layane olhou uma vez e voltou a ficar concentrada no livro, como se Anna estivesse mostrado um catalogo de revistas na frente dela.

– Esta bem – Carla foi logo dizendo quando sentiu o aperto ficar maior. – As Bruxas me contrataram.

– Eu sei. Que Clã?

– Clã Denali.

– O Clã Denali foi dizimado na Europa em 1820 – Anna contra-atacou.

– Dizimado não é mesma coisa que possuído – Carla rebateu.

Anna a largou, mas continuou perto o suficiente para outro ataque repentino e agressivo.

– Explique o que quer dizer – ela ordenou.

– Todo o Clã Denali foi contaminado, mas não dizimado. Um Clã inimigo, os Chanteeys estavam de olho neles, brigavam por território. Então lançaram uma maldição.

– Em todo o Clã?

– Em todo o Clã e em toda a geração – Carla acrescentou. – Cada membro do Clã Denali que nascer esta destinado a ser possuído ao completar 18, a idade em que não se pode mais ser protegido.

Anna semicerrou os olhos.

– Sem exceções.

– Sem exceções – Carla assentiu.

Anna se afastou dela e tocou o cabelo de leve, parecendo pensativa.

– E como você entra nisso tudo? Como um bando de Bruxas conseguiu manipular uma Alfa?

Carla fungou de leve.

– Eu tenho meu preço.

Layane murmurou algo para os livros e Anna apenas encarou o teto, parecendo indecisa.

– Você chegou a ver Carolina?

– Sim – Carla tentou o máximo que pode para não tremer – um movimento e ela levaria um tapa, disso ela tinha certeza.

Anna ergue as sobrancelhas.

– Preciso pedir pra que continue?

Carla hesitou.

– O que quer que eu diga? Ela tinha cabelo escuro, olhos frios, tinha uma arma e...

– Eu sei como ela é – Anna a interrompeu. – Mas por que você? Por que o interesse em uma cachorra quando se tem Bruxas poderosas e um bando de Atiradores?

Carla tinha certeza que se olhasse em um espelho agora, veria seus olhos mudando de Dourado para Vermelho.

– Eu não sei.

Anna a encarou, pela primeira vez em silêncio. Carla tentou sentir algo vindo, mas não identificou nada – não que ela pudesse fazer muito a respeito.

– Layane – Anna chamou.

A ruiva se levantou de onde estava e, muito, pacientemente andou até a Chefa.

– Eu preciso que essa garota revele todos os segredos dela.

– Sim – Layane apenas assentiu, parecendo olhar com Carla de um jeito penoso.

Carla esperou algo acontecer, mas então Anna se moveu para sair da sala, o salto fazendo um barulho decidido pela sala.

– Vou precisar conserta essa janela – a moça de idade lendária comentou chateada, antes de sair da sala.

Carla se voltou para Layane e por um momento achou que a outra estava prestes a beija-la. Mais surpresa ainda ficou quando ela realmente a beijou, tocando seus lábios de um jeito que Carla jamais achou que sentiria.

Quando terminou, Carla tentou clarear as ideias, por um momento não sabia dizer quem era ou no que estava pensando antes.

– Isso foi inspirador – Carla murmurou, antes de a sala começar a girar e ela cair estatelada no chão.

Vick Melo desembrulhou seu lanche natural e se empoleirou em uma das mesas vazias do pátio. Ninguém mais se sentava nelas, porque se achavam legais de mais para se sentar nelas. Mas Vick as amava, lembrava-se do tempo que brincava de Amoeba na quinta série, ou quando desafiou Erick, sua primeira paixão, a jogar xadrez – ela tinha ganhado e ele a havia beijado como recompensa.

Aquela escola era cheia de lembranças, principalmente as ruins. Ela olhou para o canto dos maconheiros - onde agora Rodolfo e alguns amigos vestiam camisetas laranja do ACAMPAMENTO-MEIO-SANGUE, uma referencia a Percy Jackson – e se lembrou de seguir Rafa até ali no Natal do Ano Passado, logo depois que A Coisa com Henrique tinha acontecido.

Nos dois últimos degraus da escadaria, ela podia se ver, sem mechas nenhuma, se assanhando para Diogo, tentando convencer a ele de que os dois deveriam namorar. Seu estomago quase revirou com aquela lembrança.

Mas a pior lembrança para Vick estava em casa, e ela tinha que revivê-la continuamente, todos os dias, até que fosse menor de idade, até que não pudesse mandar na própria vida.

– Atrapalho?

Vick ergueu os olhos e suspirou ao ver Lucas com os olhos profundos e gentis encararem os dela. Porém, quando notou João logo atrás dele, deixou os ombros caírem.

– Não, sem problema.

Os dois tomaram os lugares na frente dela na mesa e se acomodaram ruidosamente. Lucas dobrou as mãos no centro da mesa e João olhou seu lanche.

– Vai comer isso?

Vick não disse nada e apenas passou seu lanche.

Lucas ignorou isso e se lançou para frente.

– Eu quero saber que diabos anda acontecendo por aqui – ele desabafou, parecendo eufórico.

– Eu também – Vick suspirou. – Um lanche tão lindo sendo pego tão fácil assim, deve ter algo errado.

– Estou falando sério, Vick. Tem algo de errado com aqueles três novos alunos que chegaram.

Vick tomou um gole de sua garrafinha de água.

– Algo de errado com eles, ou algo de errado com o fato de que eles sejam amigos do Rafa.

Lucas bufou, estressado.

Amigos. Ele os conheceu a uma semana e de repente estão tão próximos, hein? Eu não compro essa, tem algo de errado com o Rafa.

Vick deu de ombros.

– Ele só fez novas amizades – ela comentou, olhando Rodolfo passar com um tridente de Apolo na frente deles. – Alguns de nós deveríamos também.

– Eu conheço o Rafa, Vick, ele não é assim. Ele odeia se enturmar com as pessoas, é muito antissocial para isso.

Vick franziu a testa.

– Porra, que melhor amigo hein.

– Eu sou sincero – Lucas resmungou. – O cara mais fresco do mundo faz três novos amigos assim, de uma hora para outra, do nada? Isso tá muito estranho!

– Vai ver ele gostou de sair com eles – Vick sugeriu. – Aquele Fernando é bem gatinho.

– Gostou, sei. Eu sei que tipo de diversão Rafael Capoci gosta, e uma garota no meio não envolve nada disso!

– Eita Giovana! – João resmungou e os dois encararam. – Que foi? Esse lanche natural é bom mesmo, ok?

Lucas se virou para Vick.

– Eu acho que eles não são amigos coisa nenhuma – ele confidenciou. – Acho que eles sabem de algo do Rafa, ou o Rafa sabe de algo deles, eu sei lá.

– O que te faz pensar isso?

– O jeito como ele fala deles e olha pra eles. Como se fossem estragar o dia dele ou algo assim, é quase como se ele os odiasse, sabe?

Vick ficou pensativa por um tempo.

– Talvez Rafa os conheça, tipo, muito antes de nós.

Lucas refletiu.

– É possível. Mas eu conheço Rafa desde o comecinho do fundamental, teriam os três voltado depois de tanto tempo?

– Ficaria surpreso com as coisas que podem voltar.

Lucas e João viraram para trás enquanto Andressa levantava o olhar. Taffara estava toda trabalhada no azul hoje – um arco azul-bebê, uma saia curta azul, uma camiseta de manga-longa azul, os sapatos, claro, azuis safira.

– Que é, hein garota, tá a fim de apanhar de novo? – João falou, o lanche ainda na boca.

– Disponho, obrigada – Taffara tocou o rosto, distraída e olhou Vick. – Essa daí tem uma fama, viu? Seu pai por acaso não te ensinou a falar antes de bater?

Vick a olhou de volta, inexpressiva.

– A única coisa que ele vem me ensinando é a odiar a minha madrasta. E você, de repente, parece o modo perfeito de me descarregar dela, sabe?

Taffara não falou nada por um segundo, mas então deu de ombros.

– Então, vocês querem saber sobre a ligação do Rafa com o trio parada dura?

Ninguém disse nada.

– Que bom, eu também!

– Não queremos a sua ajuda Taffara – Lucas bufou.

A garota o encarou.

– Não? Olha que eu tenho muito a oferecer hein.

– Tipo o que? – Vick questionou.

– Eu posso armar pra cima do Rafa – ela ofereceu. – Posso acabar com ele e com seus novos amigos muito antes do que vocês possam imaginar.

Lucas a encarou.

– Acha mesmo que um de nós aqui vai se aliar a você para acabar com o nosso melhor amigo?

– Melhor amigo? – Taffara repetiu, passando os olhos em todos. – Desde quando um melhor amigo ignora os seus? E desde quando os troca da noite pro dia?

– Ele não nos trocou – Vick grunhiu.

– Quem te garante? Olhe bem aquela Andressa, com quem ele esta andando agora. Acho ela mais do que perfeita para uma substituição.

– Não liguem para o que ela diz – Lucas disse. – Ela só esta aproveitando que não estamos nos falando para fazer a caveira do Rafa.

Taffara riu.

– Acha que eu preciso? – ela de repente mudou o tom de voz. – Nós estamos cansados de saber que Rafa não é flor que se cheire... E já não é de hoje.

Vick e Lucas se entreolharam em conspiração, enquanto Taffara dava a costas a eles, desfilando sobre o pátio da escola.

– Alguém pode ler a próxima questão?

A Srta. Ferraz perguntou a classe de literatura avançada, com uma voz entediada. Estava cansada de saber que os alunos, apesar de se candidatarem para aquela aula, eram mais de ler do que falar.

Rafa se encontrava na penúltima carteira da primeira fileira, um pouco nervoso e quase que inconsciente da aula. Andressa estava sentada logo atrás dele, parecendo suspeita de toda a desconcentração da sala.

Marta Joane não parava de olhar para os dois por cima do celular, enquanto Diogo Barros quase babava na carteira ao avaliar Andressa – ele e mais da metade de garotos da classe, e garotas.

Rafa tentou não prestar muita atenção na admiração dos amigos e ergueu a mão. A Srta. Ferraz lhe deu uma boa olhadela.

– Senhor Rafael Capoci – ela observou e Rafa quis vomitar. – É ótimo ver o senhor levantar a mão, mas não vou deixa-lo ir ao banheiro. Ou melhor, cabular mais uma aula minha nessa semana.

Rafa revirou os olhos para ela.

– Eu não ia pedir isso – ele respondeu. – Eu quero ler a próxima questão.

Metade da sala se virou para encarar ele, outros que estavam na frente aproveitando para encarar Andressa também. Rafa sentia pena deles. Se soubessem que Andressa andava com uma agulha gigante...

– Posso? – ele ergueu o livro e a professora assentiu, encarando ele com choque também. – Relacione realismo com ficcionismo – ele leu em alto bom som.

A professora fez uma careta de aprovação, mas então se dirigiu a sala novamente.

– Alguém poderia responder a mim?

Rafa logo quis levantar a mão de novo, sabendo aquela podia mais uma chance de ele brilhar, mas então a Srta. Ferraz semicerrou os olhos atrás dele.

– Yanca?

Dessa vez até Rafa se virou para olha-la. Parecia estar bastante ocupada enquanto encarava a caneta com os olhos lindos. Quando percebeu o olhar de todos na sala, corou um pouco, mas então largou a caneta na mesa.

– Desculpa, qual foi a pergunta?

– Relacione realismo com ficcionismo – a professora repetiu. – Pode relacionar Andressa?

– Relacionar? Claro – ela fez que sim com a cabeça, mas Rafa sabia que por dentro ela se perguntava O que diabos é relacionar? É de comer?

A Srta. Ferraz bateu o pé, com impaciência e Andressa fez uma cara feia para ela. Rafa quase arregalou os olhos quando viu que ela tinha partido a caneta ao meio com dois dedos.

Rafa então teve uma ideia e fingiu pegar algo no chão.

– Não existe relação de realidade com ficcionismo – ele sussurrou para ela. – Quer dizer, existe, mas de forma... De forma imaginaria.

– Yanca? – a professora cruzou os braços.

– Existe de forma imaginaria – Andressa respondeu bem rápido, quase atropelando as palavras. – O realismo copia o ficcionismo.

A professora ficou olhando para ela por alguns segundos enquanto Rafa se levantava, logo se perguntando se ela teria escutado ele falar.

Mas então deu de ombros e se virou para a lousa.

– Vai saber o que eles têm hoje.

Rafa suspirou de alivio e sentiu Andressa cutucar seu ombro.

– Obrigado – ela sussurrou.

– Não tem de que – Rafa sorriu. – Eu não esperava que uma caçadora realmente entendesse algo de literatura.

Andressa parecia querer dizer algo, mas revirou os olhos.

– Anna me dava livros, de vez em quando – ela admitiu.

– E devo supor que você nem os lia, certo?

– Não, eu os queimava para distrair inimigos.

Rafa sentiu uma dor no peito com aquilo e olhou para Andressa de um jeito diferente. Parecia ter a mesma idade que ele, mas não pensava do mesmo jeito. Como ela seria se tivesse sido criada do mesmo jeito que Rafa?

– O que você tá olhando? – ela franziu a testa.

– Você tem pais? – ele perguntou.

Andressa assentiu de leve.

– Todo mundo tem – respondeu secamente.

– E eles estão vivos?

– Só a minha mãe – ela respondeu suavemente. – Meu pai morreu antes que eu nascesse, era um caçador como eu sou agora.

De novo Rafa ficou com pena dela.

– Você e sua mãe se falam?

Andressa rapidamente mudou de pose.

– Isso não te interessa Caubói – ela grunhiu e um dos alunos encarou, Andressa olhou de volta e ele se encolheu. – Eu tenho uma família nova agora.

Rafa pensou por um segundo.

– Edu?

– Edu e Fernando – ela corrigiu, ficando rubra. – Não espero que você entenda.

– Eu entendo, acredite – Rafa respondeu. – Você só pode contar com eles, não é mesmo? Só confia neles.

Andressa encarou Rafa e então olhou para a porta.

– Ainda estamos falando de mim?

Rafa seguiu seu olhar e só teve tempo de ver as costas de Lucas e Vick passarem pelo corredor.

– É complicado – ele engoliu em seco.

– Quer falar de complicação comigo? Eu mato para não ser morta.

Rafa assentiu.

– E faz isso melhor do que qualquer outra coisa – ele sugeriu apontando para as perguntas no livro.

Andressa revirou os olhos.

– Eu não tive opção, ok? Ele insistiu pra que eu ficasse na sua cola.

– Ele? Ele quem?

Ela apenas o olhou de volta e Rafa logo deduziu quem era.

– Ah, claro – ele desviou o olhar. – Ele tem um gênio e tanto hein?

– Fernando só está preocupado – ela respondeu. – Algo completamente compreensivo, considerando o fato de que você só atrai problemas.

Rafa a olhou.

– Vocês se colocam nessa categoria?

Andressa apenas deu um sorriso de gato de Alice.

– Sem duvida alguma.

Enquanto isso, no laboratório de química, Fernando e Eduardo fingiam estudar e anotar as partes do esqueleto que o professor tinha deixado no meio da sala para que eles analisassem.

– O que você descobriu até agora? – Fernando perguntou para o parceiro.

Eduardo o olhou uma vez e suspirou, parecendo mais interessado em estudar o esqueleto.

– Depende do que você esta perguntando – ele respondeu enquanto fazia redemoinhos no verso da folha.

– Você sabe do que eu estou falando – Fernando retrucou, tirando a caneta da mão dele. - O que matou o turista foi um lobisomem, não foi?

Eduardo balançou a cabeça.

– Eu já sei o que você vai falar. Infelizmente aquela tal de Carla não tem nada a ver com isso.

– Como você pode ter certeza?

– Deixa disso, Fê, você tá parecendo aquele mundano do Rafa – ele retrucou e o amigo corou. – Nós dois sabemos que se ela tivesse matado alguém não faria daquela maneira.

– E por que não?

– Porque ficou muito na cara. E já estamos cansados de saber que Carla é uma Alfa, e tem controle sobre si mesma.

Fernando olhou para o esqueleto.

– Ela talvez tenha.

Eduardo entendeu onde ele queria chegar.

– Esta supondo que ela mordeu alguém?

– É possível, não é? – o outro defendeu. – Afinal nem sabemos por quanto tempo a Carla esteve por aqui. E se nesse meio tempo indefinido ela mordeu alguém.

– E por que faria isso?

Fernando parecia prestes a responder, mas uma garota esbarrou nele. Ele levantou os olhos e viu uma garota de cabelo cacheado castanho colocar a mão na boca.

– Ah, me desculpe – ela tocou o braço dele.

– Você de novo? – Eduardo comentou encarando Taffara enquanto Fernando removia a mão dela do braço dele lentamente.

– É, parece que caímos na mesma sala – ela sorriu. – Legal, não?

– Na verdade não – Fernando comentou.

Eduardo suspirou.

– O que você quer dessa vez?

Taffara deu de ombros e atirou uma mecha do cabelo para trás da orelha enquanto. Eduardo tentou não seguir aquele movimento mais do que deveria.

– Eu só vim checar se vocês estão gostando da escola, ou se precisam de ajuda pra algo. Saibam que eu me disponho a informar vocês de qualquer forma.

– Ah, é? – Fernando riu. – Que tal começando a parar de nos bajular?

Taffara então o encarou seriamente.

– De onde conhecem Rafa Capoci?

Eduardo ficou imóvel por um momento, mas Fernando cravou as unhas na perna dele.

– Semana passada – Eduardo respondeu mecanicamente. – Estávamos na mesma festa, gostamos dele e chamamos ele para andar com a gente.

– Chamaram? Assim sem menos? – Taffara parecia cética. – De tanta gente na festa vocês optaram por Rafa Sem Graça Capoci?

– A festa não estava tão cheia – Fernando rebateu. – E vê lá o que fala do Rafa.

– Por quê? Ele é seu namorado?

Fernando abriu a boca para falar algo, mas Eduardo colocou a mão no seu ombro.

– Não, mas a Yanca é a minha. E ela e o Rafa já eram amigos, ela nos apresentou.

Taffara foi um pouco para trás, não parecendo tão convencida assim.

– E de repente vocês se mudam para a escola dele?

– Achamos que seria legal – Eduardo deu de ombros. – Rafa vivia falando da escola dele, falando que as pessoas eram legais.

– E pelo visto se enganou completamente – Fernando disse.

Taffara desabotoou um dos botões da blusa e se inclinou para eles de forma provocativa.

– Olha, o que me dizem de sermos amigos também? – ela sorriu para Fernando. – Eu te garanto que o quanto o Rafa pode dar como amigo, eu posso dar de várias formas.

Fernando se limitou a encarar e teve que admitir por dentro que Taffara era bem bonita mesmo. Tinha uma pele saudável e a cintura bem definida só indicava o quanto ela podia ser boa na cama.

Mas então, de um dos bebedouros no canto da sala, um jato de água esguichou e acertou a cara de Taffara, fazendo a garota tropeçar para trás e cair no chão de bunda.

Alguns alunos explodiram em risada e o professor e alguns outros começaram a tentar conter o jato. Fernando olhou para Eduardo e o parceiro apenas tentou fingir que estava bastante concentrado no esqueleto.

– Bastava dizer um não – Fernando resmungou baixinho.

Mais tarde, na residência dos Capoci, Rafa e Roger se revezavam para carregar todas as bebidas que tinham chegado para dentro da geladeira, com a ajuda do entregador.

Até agora a casa parecia impecável. Nas enormes caixas de som Calvin Harris fazia a casa tremer com We’ll Be Coming Back, enquanto eles trabalhavam. A mesa na cozinha estava cheia de garrafas de bebidas e copos descartáveis. No segundo andar já tinha uma faixa de restrição no topo da escada, para impedir a passagem dos que provavelmente iam querer subir. A festa seria na sala, na cozinha, no escritório do pai deles e até o jardim dos fundos. O banheiro do primeiro andar ficava no corredor que dividia a sala da lavanderia – onde eles achavam que ninguém iria entrar.

Rafa e o entregador terminaram de depositar mais seis garrafas para dentro da geladeira enquanto Rogério se ocupava de pegar todos os vasos, ou itens que provavelmente poderiam quebrar, dentro do quarto dos pais. Era um jeito sutil de dizer que aquela festa era uma loucura.

– Trezentos e vinte dois dólares – o entregador abriu a mão na frente de Rafa.

– Tínhamos combinado duzentos e oitenta dólares – Rafa reclamou.

– Não para trazer as bebidas aqui para dentro.

Rafa revirou os olhos e jogou mais alguns Alexander Hamilton nas mãos dele (notas de dez dólares).

– Foi um prazer te atender senhor – o fornecedor sorriu.

– Vai se foder.

Rafa o acompanhou até a porta e estava prestes a fecha-la quando viu três figuras se aproximarem da casa pelo jardim. Achou que já eram os primeiros convidados, mas viu que não era exatamente isso.

– Precisamos conversar – Eduardo disse quando eles chegaram à soleira.

– Por que será que eu não gosto de ouvir essa frase? – Rafa se perguntou e abriu a porta para que eles entrassem.

– Bela casa – Andressa assoviou enquanto eles atravessavam o hall de entrada.

– Ahn, obrigado eu acho – Rafa se empoleirou na poltrona e pediu para que eles se sentassem no sofá. – E então, quem morreu?

Os três o encararam de volta em silêncio, sem nenhum humor no rosto, e Rafa esperou que eles explodissem em risadas – mas não fizeram.

– Gente, é sério? – ele questionou.

– Claro que não – Fernando bufou, mas então coçou o ouvido. – Que raios de música é essa?

Rafa deu de ombros.

– É eletrônica. Nunca ouviu?

– Não.

– E por que eu não fiquei surpreso mesmo?

Eduardo fez um gesto com as mãos, para que eles parassem.

– Temos novidades sobre o assassino.

Rafa se inclinou mais para frente e deu uma olhadela pelo segundo andar, agradecendo por Rogério estar fazendo o que quer que estivesse fazendo.

– Continue – ele sussurrou.

Eduardo esperou um segundo enquanto a música mudava para Fucked My Way Up the Top, da Lana Del Rey.

– Já temos a certeza de que não foi um lobisomem – ele disse e lançou um olhar para Fernando.

– Pode dizer “eu te disse” – o loiro retrucou. – Fica mais elegante.

– Que seja – Eduardo foi para frente. – O que importa é que desconfiamos de que possa não ser exatamente uma coisa sobrenatural.

Rafa piscou.

– Como assim? Esta dizendo que foi um humano?

– O corte não foi tão foi superficial assim – Andressa comentou. – E não tinha sequer nenhum sinal de agressão no corpo do turista.

– Quer dizer que...

– Que não foi um humano, mas algo que se faz parecer por um.

Rafa sentiu os pelos da nuca arrepiarem.

– Como assim se passando por um?

Andressa trocou um olhar com Eduardo.

– Já faz um tempo que vimos desconfiando – ele começou. – Pode ser que o assassino seja alguém daqui, de Vallywood.

Rafa sentiu o chão começar a se inclinar.

– Mas quem seria capaz disso?

– Pode ser alguém que você conheça – Eduardo deu de ombros. – Ou não. Você conhece alguém que provavelmente deveria estar morto, mas não esta?

Rafa engoliu em seco, fazendo de tudo para não pensar naquele assunto e então chacoalhou a cabeça. Ele não estava vivo – não podia estar podia?

– Não.

Fernando o encarou.

– Ao menos você tem em mente alguém que venha agindo estranho ultimamente? Algum de seus amigos?

– Ou inimigos? – Andressa acrescentou.

Rafa pensou em vários. Taffara, Rael, até mesmo Roberto, que vinha agindo estranhamente, como se quisesse contar algo. Mas nenhum deles parecia representar alguma ameaça – apenas Taffara.

– Talvez, mas... – ele hesitou. – O que qualquer um deles iria querer com apenas um turista?

– É ai que esta – Eduardo apontou. – Desconfiamos que o assassino não queria o turista, queria você.

– Eu? – Rafa repetiu, enquanto Fernando respirava audivelmente. – O que alguém ia querer comigo?

– Hello? Você abriu uma caixa de sei lá quantos anos – ela o lembrou. – Sabe-se lá o que você liberou.

– E sem falar que você é como nós – Fernando disse. – Alguma coisa sobrenatural pode ter sentido o que você é e agora esta rondando você.

Rafa olhou para a floresta que dava para a janela lateral, com uma sensação de que alguém poderia estar se esgueirando lá fora, olhando para ele.

– Isso é sinistro – ele sussurrou. – O que vocês pretendem fazer?

– Esperar que seja lá quem for venha – Fernando estalou os dedos. – E dar um jeito nisso.

– Dar um jeito no que?

Todos olharam para o segundo andar. Rogério estava no topo da escada, tinha uma garrafa de bebida nas mãos e um olhar curioso no rosto.

– Ah, Roger – Rafa se apressou. – Esses são os meus amigos, Yanca, Ricardo...

– Eu sei quem eles são – o mais novo o cortou. – Essa é a sua amiga gostosa e aquele ali te levou até o seu quarto – ele apontou para Fernando.

– Que? – Rafa guinchou. – Do que você tá falando?

– Quando você voltou – Rogério explicou. – Ele te levou até o quarto enquanto a gostosa falava com o papai e a mamãe.

Rafa olhou para Fernando, que apenas o encarava de volta de um jeito bem insondável.

– Ah, é?

De repente, Andressa começou a bater palmas.

– Oi, mini Rafa – ela se levantou. – Que prazer te conhecer!

Rogério de repente parecia focado, Rafa ainda encarava Fernando.

– Er, olá – Rogério sorriu, abobado. – É um prazer enorme te ver também.

Andressa baixou o olhar para as mãos dele e fingiu arfar de horror.

– Isso é uísque? – ela guinchou e foi até ele. – Aí, meu Deus, Rafa você esta embebedando seu irmão caçula?

Rafa revirou os olhos.

– É só uma garrafa e ele quem teve ideia de dar a festa.

– Festa? – Andressa de repente parecia mesmo surpresa. – Você disse festa?

– Disse – Rafa deu de ombros.

– Aí meu Deus – ela se virou para Rogério. – Eu posso ficar?

Rogério arregalou os olhos de admiração quando ela tocou seu braço.

– Claro que pode!

Andressa de repente o puxou da escada e virou para dentro da cozinha.

– Olha só todas essas bebidas! – ela guinchou quando chegaram lá.

Rafa se voltou para Fernando e Eduardo.

– Querem ficar também? – perguntou com ironia.

– Na verdade, não – Eduardo comentou. – Mas acho que é uma ideia perfeita você fazer uma festa logo hoje.

– Como assim “logo hoje”?

– Porque vamos caçar o assassino – Fernando se adiantou, pegando uma adaga. – E dessa vez vamos pega-lo.

Enquanto Rafa digeria aquilo, a campainha tocou ruidosamente. Ele pediu licença a eles e foi atender. Ao abrir a porta ele se deparou com uma loira do primeiro ano muito familiar da escola dele.

– É aqui que é a festa? – a garota perguntou com uma foz bem fina.

Rafa olhou através dela e viu caras grandes do último ano trazendo um barril de cerveja e vários adolescentes segurando seus narguilés personalizados com os punhos. No meio do punhado de pessoas, viu Rodolfo e um bando de maconheiros enrolarem um maço na cara dura.

Ele criou coragem e sorriu para a garota.

– Com certeza!

Carla acordou sentindo uma viração abaixo dela. Parecia estar deitada de lado e sentia todo o seu corpo tremer. Por um segundo sua garganta ficou em pânico e ela arfou ao se sentar.

E então, depois de embaçar os olhos, foi que viu que se encontrava sentada no banco de trás de um carro. Olhou primeiro pela janela e encontrou apenas um deserto do lado de fora.

– Olha só quem acordou? – uma voz masculina disse do banco da frente.

Carla lançou olhar para o retrovisor e encontrou olhos castanhos e um cabelo loiro escuro.

– Quem é você?

– A pergunta é: quem é você? – outra voz falou, do banco do carona. – E não o contrário.

Do lado do cara estava uma garota atraente de cabelo cor de areia e olhos miúdos olhando para Carla com cautela. Carla tocou a própria testa e mexeu no cabelo escuro.

– Meu nome é Carla – ela respondeu. – Onde esta a Anna e a Layane?

Por algum motivo, Carla ouviu a garota na frente suspirar e o garoto dar uma risadinha.

– Onde sempre ficam – ele respondeu com malicia. – Eu me chamo Felipe e esta é a Giulia. Fomos chamados pela Anna para te levar até Vallywood.

Carla sentiu um arrepio na espinha.

– Me levar de volta? – ela questionou. – Mas por quê? Achei que Layane iria checar minha memórias – ela enrubesceu com a memória do beijo da ruiva.

– Ah, pode acreditar que ela checou – Felipe comentou com uma risadinha e Giulia o encarou até ele parar. – Foi mal.

– Ela já conseguiu tudo o que precisava – Giulia respondeu. – Agora temos que levar você de volta.

Carla franziu a testa, se lembrando de toda a raiva que Anna tinha usado para agredir ela. Parecia furiosa e aflita por respostas, por que de repente mudou de ideia?

– Ela disse algo sobre uma missão.

Carla levantou a cabeça.

– Missão?

– É – Giulia se virou para ela. – Anna disse que já sabe o que você fez e quer que você de um jeito nisso.

Carla engoliu em seco.

– Não sei do que você esta falando.

– Sabe sim – Felipe comentou todo risonho. – Vocês lobos adoram uma mentira, não?

Carla o fuzilou com olhos e pode senti-los ficando vermelho, mas Felipe não se retraiu.

– Cão que ladra não morte.

Ela meio que tentou ir pra frente, mas Giulia já estava com o arco preparado, uma flecha apontada para o peito dela.

– Agora escute aqui, Carla, eu não sei quem você pensa que é, nem sei mesmo o que Anna pretende, mas seja lá o que for que seja, é melhor fazer, senão...

– Senão o que? Vão me matar? – Carla riu. – Não podem, é contra...

Giulia atirou a flecha antes que ela terminasse e Carla se abaixou para ver ela atravessada nela. Foi só então que viu que era uma flecha diferente, com um cheiro sutil.

– Wolfsbane – ela sussurrou.

– Flecha banhada em Wolfsbane – Giulia corrigiu. – Mas também serve.

Carla então se deitou novamente no banco, não se dando o trabalho de ser derrubada.

One Republic estourava as caixas de som com o refrão de What You Wanted e os jovens cantavam em sincronia. A festa tinha começado a toda. Pessoas entravam de minuto a minuto e Rafa e Rogério se revezavam para cumprimentar cada novo convidado. Eduardo e Fernando tinham ajudado eles a colocarem uma luz negra, de forma que as pessoas com roupas brancas na sala brilharem.

Andressa ajudava servindo alguns convidados e alguns se serviam sozinhos, ou tomando algo do barril de cerveja; um garoto em particular tinha colado um canudo enorme do lado dele e começado a beber enquanto uns caras uivavam de êxtase.

Em um sofá do meio da sala, Rodolfo estava na rodinha de maconheiros, onde eles passavam baseado uns para os outros, rindo um do outro e fazendo uma fumaceira no meio da sala.

Rafa beijou uma garota no rosto e apertou a mão do namorado dela. Ficou avaliando as pessoas bebendo e conversando e começou a sentir que talvez a festa não fosse tão ruim assim.

– Rafa?

Ele se virou para o próximo convidado e quase pulou de alegria ao ver quem era.

– Marta! – ele correu para abraçar a amiga e os dois começaram a dar pulinhos de alegria. Ele não via a garota desde a sexta-feira passada, quando ele abriu a caixa e tudo tinha começado. – Onde você se meteu menina?!

– Ah, viado, aquela doença me pegou de jeito – ela gritou por cima da música. Usava um arco vermelho e o cabelo afro estava jogado para trás. O vestido de bolinhas estava tão curto que Rafa achou que se batesse um vento... – E como assim tu fazes uma festa e não me chama, bicha?

Rafa revirou os olhos.

– Não foi exatamente ideia minha – ele apontou para o irmão mais novo que cumprimentava umas garotas da oitava série.

– Oh, nosso mini Capoci esta crescendo – Marta colocou a mão no peito, emocionada. – Me lembro de quando ele ainda assistia Bem 10 e lia Mangás!

Rafa sorriu.

– Cá entre nós, ele ainda vê!

Os dois riram e Marta se despediu para falar com outras colegas que gritaram o nome dela. Rafa se voltou para o próximo convidado.

Dessa vez ele sentiu vontade de gritar de novo, mas não de alegria. Taffara entrava toda pomposa, com um vestido cinza de decote curto e um laço prendendo o cabelo em um coque charmoso e chique.

Rafa deu licença para ela e sua corja de amigas entrar e Taffara jogou o cabelo por cima do ombro – como se para dizer que tinha notado a presença dele.

– Quem é que convidou ela? – ele se perguntou baixinho.

– Quem é que convidou eles? – Rogério resmungou de volta e Rafa seguiu seu olhar pela entrada.

Vick Melo adentrou na festa de forma mais tímida. Usava uma camiseta branca que iluminava seu corpo e ofuscava o jeans escuro. As Camillas pairavam do lado dela, usando roupas listradas – Camila Polli com listras azuis, Camila Alves de listras verdes – Diogo, o namorado, segurava a mão firme dela, usando uma arregata de time de basquete e jeans.

As Camillas gemeram ao avaliar Vick.

– Se soubéssemos que teria luz negra viríamos da mesma forma, para abalar – Camila Alves reclamou.

– Por mim, querida – a outra Camila deu de ombros. – Eu abalo de qualquer forma, com ou sem luz.

Vick parou para avaliar a festa e encontrou os olhos de Rafa por um segundo. Não esperava mesmo que ele viesse falar com ela, mas, para sua surpresa, acenou com a cabeça, meio que a contragosto.

– Vamos logo com essa festa – Diogo comentou impaciente e ela segurou a mão dele.

– Posso ao menos falar com o meu amigo?

– Claro que pode – Diogo retrucou largando a mão dela. – Mas vai você, eu não.

E com isso deixou ela ali, sozinha.

Vick revirou os olhos e tentou tomar coragem para se virar para Rafa, mas só encontrou um mini Capoci ali.

– Cadê o Rafa? – ela perguntou.

Rogério apontou para a pista de dança e Vick seguiu seu olhar. Rafa agora conversava com o loiro, um dos novos alunos, no canto da sala.

– Como assim ela esta por aqui? – Rafa questionou, parecendo aflito.

Fernando deu de ombros, parecendo não querer tocar no assunto.

– Edu falou que tinha dopado com ela no estacionamento na tarde de ontem – ele respondeu. – Foi um encontro breve, mas ela estava sozinha.

Rafa se lembrava de Carolina, a chefa dos Atiradores. Lembrava-se do cabelo escuro grande, com uma franja atirada na frente, e do quanto ela era bonita e perigosa ao mesmo tempo. Ele não sabia dizer se ficava admirado ou assustado se dopasse com ela em um estacionamento.

– E vocês não me contaram isso antes por quê? – Rafa questionou bravo.

Fernando se serviu de um pouco de ponche e o encarou intensamente.

– Não queríamos te apavorar – ele explicou. – E se você não quisesse dar essa festa extravagante só por causa disso?

Rafa revirou os olhos.

– Eu já te falei cem vezes que não fui eu quem teve a ideia, e você deveria parar de convencer seu amigo a omitir coisas só porque esta preocupado comigo.

Fernando cuspiu a bebida e o encarou.

– O que quer dizer com isso?

Rafa o encarou de volta, se recusando a desviar.

– Que história era aquela de você me carregar até o quarto?

Fernando fechou a cara.

– Aquilo não foi nada – ele balançou a cabeça. – Podia ter sido a Andressa, o Edu ou...

– Mas não foi – Rafa o interrompeu. – Foi você.

Os dois se encararam enquanto a música trocava para Safe With Me do Sam Smith. Como se invocado, Rafa virou o olhar pela sala e encontrou os olhos de Roberto sobre ele.

Usava uma camiseta xadrez azul-escuro e jeans confortáveis. O cabelo loiro parecia castanho naquela escuridão toda e Rafa sentiu o impulso de ir falar com ele – mas notou que ele olhava dele para Fernando.

– Puta merda – Rafa murmurou por reflexo.

– É o seu namorado?

Rafa olhou para o seu rosto e Fernando o nadador, com um olhar não muito simpático.

– Claro que não – Rafa bufou. – Somos amigos, apenas.

Fernando o encarou de volta, como se tentasse ler algo ali, mas então deu de ombros.

– Se é o que você diz.

Acabando com a tensão dos dois, Andressa passou por eles, com uma garrafa de vodca e começou a se juntar a algumas garotas que dançavam na pista. Elas sacudiam as pernas e faziam movimentos com os braços, de forma que Andressa nunca tinha visto antes.

Primeiro ela as observou, depois começou a tentar pegar o ritmo delas. Uma das garotas, uma morena alta, fez cara de aprovação para ela e bateu palmas, fazendo Andressa sorrir. Mesmo não conhecendo ou gostando de Andressa, elas pareciam mesmo admiradas com a rapidez dela.

Andressa girou e começou a sacudir os braços, com a garrafa ainda na mão, o que foi perigoso, já que quase acertou a cabeça de uma das garotas.

– Ai, desculpa – Andressa riu sem graça e tocou o braço da garota. – Desculpa, desculpa mesmo. Eu sou uma desastrada!

– Esta tudo bem – a garota de cabelo preto apenas deu de ombros e sorriu para ela de volta, ajeitando os óculos na frente do rosto. – Eu me chamo Leticia, como você se chama?

– Yanca – Andressa respondeu, lembrando-se do nome de disfarce. – Prazer em te conhecer.

– Igualmente – a outra ergueu a mão e Andressa a cumprimentou. – Então, você é nova por aqui?

Andressa apenas deu uma risadinha.

– Você nem faz ideia do quanto.

Leticia a avaliou rapidamente.

– Quer um pouco? – Andressa ofereceu a garrafa.

– Eu prefiro algo mais forte – Leticia respondeu, pegando um cantil que estava entrelaçado ao seu corpo.

– O que é isso?

– Algo mais... Revigorante – Leticia sorriu. – Quer um pouco?

Andressa deu de ombros e a garota despejou um pouco dentro da garrafa de Andressa. Fosse o que fosse era transparente, mas a garota apenas deu uma piscada para Andressa e começou a dançar.

Andressa deu de ombros, deu um bom gole na nova mistura e começou a seguir seu exemplo.

Lucas olhava toda a festa com nostalgia. Se lembrava de ser convidado para várias festas naquela casa e, muita dessas vezes, de ajudar na realização delas. Mas isso foi muito antes, de ele ser trocado.

Ele olhou para Rafa que conversava com o suposto namorado novo, e não pode deixar de conter a raiva. Como Rafa podia ter jogado tantos anos de amizade assim pela janela? Só por conta de uns caras novos?

Lucas encarou o amigo e viu que agora ele tinha mudado um pouco, o cabelo escuro parecia meio rebelde e o jeito como se vestia, como se agora não desse a mínima para o que era primavera ou verão, e descobriu que algo tinha o feito parar de se preocupar com as mesmas coisas de antes.

O que teria feito isso?

Alguém esbarrou em Lucas e ele se se segurou no Sofá para não sair.

– Ei – ele reclamou, mas o garoto de cabelo escuro apenas o encarou de volta esperando. Era um dos novos amigos de Rafa, que tinha cara de ser o mais velho. – Nada não – Lucas respondeu quando ele esperou.

Ele continuou atravessando a multidão e Lucas afagou o próprio ombro, jurando que tinha doido mais do que esperava.

– Então a Anna pega a Layane? – Rafa perguntava.

Fernando tomou mais um pouco do ponche e sacudiu a cabeça.

– Eu diria mais a Anna não “pega” ninguém – ele respondeu. – Ela meio que é a dominadora dessa relação, então só ela pode decidir quem é que pega quem.

Rafa colocou a garrafa de cerveja na boca e ficou pensando.

– Mas elas se pegam? – questionou mesmo assim.

Fernando assentiu cansado.

– Eu diria que sim – ele sorriu.

Rafa sorriu de volta e tomou mais um gole da cerveja, feliz por eles falarem de algo mais leve dessa vez.

– E você? Já pegou alguém?

Fernando franziu toda a testa.

– Como?

Rafa se balançou nos próprios pés, ouvindo a música mudar de novo, dessa vez para Melhor que se Faz da Karol Conká enquanto reunia coragem para falar de novo.

– Você já ficou com alguém? Já beijou antes?

Fernando demorou um pouco para responder e dessa vez seus olhos desceram para os lábios de Rafa. Puta que pariu, puta que pariu, Rafa começou a pensar enquanto Fernando continuava olhando.

Fernando levantou os olhos de novo, fazendo os ossos de Rafa ficarem moles.

– Fê! – Eduardo chamou, fazendo ele se virar e Rafa suspirou.

– Só um segundo – Fernando se levantou do degrau da escada e foi ver o que o amigo queria.

Rafa pegou tomou mais um gole da cerveja e ficou olhando enquanto um cara baforava na cara de uma menina. A menina perguntou se ele era louco e ele abaixou a calça para ela.

– Finalmente só.

Rafa olhou para cima e Roberto estava parado na lateral da escada, os braços recostados na rampa.

– Você veio – Rafa sorriu.

Roberto assentiu solenemente.

– Eu disse que queria vir – ele sorriu de volta. – Posso me sentar com você?

Rafa fez que sim com a cabeça e o amigo se moveu para se sentar do lado dele.

– Quer um pouco? – Rafa ofereceu a bebida.

Roberto pareceu hesitar um pouco, mas algo fez com que ele pegasse a bebida e bebesse com vontade.

– Maravilha – Roberto terminou de beber. – Agora não vou ser um chato total por hoje.

Rafa revirou os olhos.

– Você nunca é chato para mim, sabe disso.

Roberto ergueu as sobrancelhas.

– Sei?

Rafa o cutucou de brincadeira, mas o amigo segurou sua mão na dele. Ele o encarou e Roberto apenas respirou fundo.

– Você ainda se lembra daquela coisa que eu ia te contar?

Rafa pensou um pouco.

– Aquela coisa que eu disse para você dizer apenas se estiver preparado?

Roberto franziu a testa, mas então fez que sim com a cabeça.

– Sim, eu acho – ele riu e Rafa o acompanhou. – A coisa que vou dizer quando estiver preparado.

– Quando? – Rafa repetiu.

– É, isso mesmo – Roberto assentiu, olhando ele nos olhos. – Quando.

Rafa devolveu o olhar e sentiu que algo estava por vir. Mas uma vaia de garotos perto dali chamou sua atenção. Ele se levantou e viu um bando de caras olhar para o segundo andar. Seguindo o olhar deles teve uma visão horrível.

Rael, seu ex-namorado, se atracava com um jogador musculoso do time de futebol da escola. Os dois estavam enrolados em volta da fita de NÃO ULTRAPASSE como se aquilo fosse brincadeira.

O rosto do ex de Rafa estava vermelho e ele parecia ocupado enquanto devorava a boca do jogador, mas Rafa tinha certeza que ele sabia muito bem que Rafa estava olhando.

Quando Rael deixou o cara começar a beijar o pescoço dele e abriu os olhos para sorrir para Rafa de um jeito malicioso, ele teve certeza: Ele sabia.

Rafa começou a andar subir a escada, mas encontrou a resistência da mão de Roberto na dele.

– Rafa, não – ele insistiu. – Não liga pra ele.

– Eu lido com ele – Rafa puxou sua mão e começou a subir.

Enquanto ele subia, o jogador de futebol e Rael se viraram, esperando o que ele ia fazer. Rafa parou na frente dos dois e encarou primeiro o jogador, depois Rael.

– Ciúmes, Capoci? – ele riu audivelmente. – Ah, por favor, supere isso!

Rafa nada disse e apenas se agachou para tocar a fita de não ultrapasse. Ela rasgou facilmente, se separando de lado entre Rael e o jogador de futebol.

– Pronto – Rafa deu um meio sorriso. – Agora vocês podem usar o quarto se quiserem.

E com isso Rafa voltou a descer a escada, enquanto os caras de antes e um punhado de pessoas que ele nem tinha percebido que tinham parado para olhar começavam a aplaudir. O jogador de futebol tentou tocar Rael, mas esse por sua vez deu um tapa na mão dele e cruzou os braços.

Rafa se sentou com Roberto, que agora sorria para ele com orgulho.

Enquanto isso, em frente a teve da sala, Rogério e a garota loira nova que Rafa tinha atendido tentavam escolher a próxima música.

– Affs – Rogério reclamou. – Só tem Lana Del Rey nessa bosta?

A garota aplaudiu feliz.

– Eu amo a Lana!

Rogério a encarou com nojo.

– Te odeio desde já.

A garota franziu o cenho.

– Por quê?

– Essa é a cantora favorita do meu irmão – ele cuspiu no chão. – Eu nunca escutaria uma musica dela nem se me pagassem.

A garota ficou sem o que dizer por um momento, mas então deu de ombros.

– E se eu te fizer um boquete?

Rogério levantou os olhos para ver se era brincadeira, mas a garota sorria lascivamente para ele.

– Tudo bem – ele começou a apertar uns botões no controle remoto todo sorridente e mudou de música. – Eu acho que tenho meu preço.

Rafa ouviu a música mudar abruptamente no meio de uma para uma da Lana Del Rey, que ele gostava pra caramba.

– Ai meu DEUS – Rafa começou a se levantar chocado. – Eu amo essa música!

Roberto continuou sentado e confuso.

– Que musica é essa?

Blue Jeans, white short – ele cantou. – Você nunca ouviu Lana Del Rey?

– Não!

Rafa o olhou com desaprovo.

– Que decepção – ele colocou a mão no peito. – Essa é a minha musica! – ele gritou sobre o som da voz da mulher.

– Não – disse outra voz atrás dele. – Essa é a minha música.

Ele se virou e era mesmo Fernando, cantando com ele a música, certinho, sem errar nenhuma parte, de olhos arregalados da mesma forma que ele.

Aquilo parecia meio gay, mas quando chegou a parte I will love you untill the end of times as garotas começaram a dançar ao redor dos dois, inclusive Andressa, fazendo os dois se olharem e cantarem juntos, fingindo que tinham em mãos microfones invisíveis.

Sim aquela cena parecia muito gay, mas Rafa não ligou nem um pouco porque ele era daquele jeito mesmo.

Enquanto isso do outro lado do salão, Vick tentava beber alguma coisa. Isso mesmo, ela tentava. Toda vez que conseguia encher o copo de bebida, Diogo vinha e derrubava seu copo, esparramando bebida pelo chão.

– Você pode ser menos idiota? – ela questionou.

– Você pode ser menos vadia? – ele retrucou.

Vick inalou fortemente.

– Escuta aqui, eu não vou ficar te aturando!

Diogo riu, malevolamente.

– Ah, vai sim. Ou esqueceu que eu sei o que seu amiguinho Rafa fez?

Vick engoliu em seco e encarou Rafa todo feliz do outro lado do salão.

– Quer que todos saibam o que ele fez no Natal passado? O que ele fez com o namorado da Taffara?

– Ok, eu já entendi – Vick suspirou e jogou o copo no chão. – Sem mais bebidas.

Diogo sorriu e entrelaçou os braços nela, como se fosse devora-la.

– Boa garota.

Conforme a tarde se acabava, nuvens escuras invadiam o céu, deixando ele com uma cor rosa atraente. Todos ao redor de Rafa cheiram a bebida, inclusive ele, e os corpos começam a se espremer nele, dançando Boom Clap da Charli XCX.

Tudo parece estar girando, mas não de um jeito que Rafa esperava. Algumas pessoas o empurram para um lado e outras para outro. No meio do multidão ele vê Andressa, parecendo a mais divertida de todos enquanto empurra as mãos para cima.

A bebida parece realmente estar fazendo efeito e Rafa se culpa por não ter comido nada antes. Mesmo assim, ele encontra disposição para fazer o que estava fazendo antes.

– Fernando? – ele sai gritando pela multidão, lutando contra o som alto. – Fernando?

Mas no meio de tanta gente fica quase impossível ele conseguir encontrar algo.

Rafa então opta por atravessar a multidão e, inconscientemente, acaba indo parar no hall de entrada, a porta toda aberta, com um vento frio entrando por ela.

– Fernando? – ele para na soleira, procurando pelo jardim. – Fernando você tá ai?

Mas o jardim esta quase escuro e silencioso. Rafa não consegue ver nada demais até que um movimento na floresta chama sua atenção. Era impressão dele ou algo loiro tinha acabado de passar correndo por ali?

– Rafa? – alguém o chama.

– Fernando? – ele se vira, esperançoso.

Mas sua visão bêbada só encontra Roberto, parado atrás dele com um olhar estranho.

– Não – ele responde. – Por que esta aqui fora?

– Eu estava procurando o Fernando – ele se atrapalha com as palavras. – Eu estava procurando o Fernando.

Roberto assentiu.

– Percebe-se. Algum sinal dele?

Rafa balançou a cabeça.

– Então venha, vamos entrar – Roberto o puxou delicadamente. – Esta escuro aqui fora.

Andressa não parava de pular com a música, se sentia infinita só no fato de estar no meio da festa. Todos a olhavam como se ela fosse o centro dela, como se fosse a que mais soubesse dançar ali.

Será que estranhariam se soubessem do fato de que ele podia matar qualquer um ali com facilidade? Enquanto pensava nisso Andressa girou os olhos pelo salão e encontrou um garoto de cabelo escuro, parado na ponta da escada.

Ela achou que fosse Eduardo, mas ao semicerrar os olhos, viu que estava mais para Lucas, que era mais baixo e só um pouco mais magro que o outro.

Vendo o olhar meio infeliz do garoto, ela atravessou a multidão e começou a andar até ele. Lucas notou que ela se aproximava e logo levantou a cabeça.

– Não venha me dizer para dançar – ele avisou. – Eu odeio isso.

Andressa se empoleirou para se sentar ao lado dele.

– Eu não ia dizer isso – ela ofereceu a bebida. – Quer um pouco?

– Quero – Lucas pegou a garrafa e engoliu tudo de uma vez só.

– Quanta sede – Andressa riu.

– Fala como se você não tivesse bebido bastante – Lucas resmungou.

– Eu? – ela apontou para si. – Não.

– Sei, sei, e por que estava se acabando de dançar?

– Eu estava dançando – Andressa guinchou. – Dançar não é beber, sabia?

Lucas a avaliou por um segundo.

– Desculpa, eu não quis ser grosso.

– Imagino que não – Andressa assentiu. – Não precisa se desculpar. Quer me dizer o que tá te deixando triste?

Lucas fez que não com a cabeça.

– Não, não quero.

Andressa deu de ombros.

– Tuuuudo bem, então.

Lucas a olhou de novo.

– Tudo bem, mesmo?

– Sim. Não quer falar não fala.

Lucas assentiu, mas, como Andressa tinha previsto, começou a desatar a falar mesmo assim.

– Você não odeia festas? – Roberto perguntou a Rafa, enquanto ajudava ele a se sentar no chão do hall. – Pessoas gritando alto e bebendo porque estão todas tristes?

– Não – Rafa falou honestamente. – Eu odeio festa porque as pessoas fingem que não sentem nada disso – ele cuspiu, encarando um cara que dançava. – São todos falsos.

– Deus me livre ser assim um dia – Roberto comentou.

Rafa o avaliou de leve.

– Mas você esta sendo – ele comentou e Roberto arquejou.

– O que? Não estou não!

– Esta sim – Rafa insistiu. – Já bebeu cinco garrafas de cerveja e ainda não me falou o que queria me falar antes.

Roberto corou e olhou Rafa nos olhos.

– Ok, você ganhou – ele suspirou. – Eu estou mesmo me segurando para não falar.

– Quando estiver preparado – Rafa o lembrou, tocando seu ombro de leve e sorrindo gentilmente.

Roberto o olhou nos olhos e de repente Rafa se perguntou se algo iria acontecer.

– Rafa – uma voz estragou tudo, vindo da entrada da casa.

Ele se virou e viu Eduardo, sozinho, parecendo cansado e com os olhos assustados.

– Edu? – ele se levantou e andou até o amigo. – O que foi?

– Eu preciso de você – Eduardo falou arfante.

Rafa franziu o cenho.

– Edu, do que esta falando? – ele questionou, com medo.

– Não tem tempo pra explicar – ele grunhiu, falando mais baixo.

– Rafa? – Roberto chamou logo atrás. – Rafa, o que foi?

Rafa olhou de um para o outro, indeciso. E então Eduardo se inclinou no ouvido dele:

– Nós achamos o assassino.

Rafa foi tomado por um golpe de sobriedade e logo se recompôs.

– Rafa? – Roberto se intrometeu entre os dois. – O que foi? O que esta acontecendo?

Rafa encarou o amigo.

– Eu preciso ir – ele respondeu e Roberto fechou a cara.

– Não.

– Roberto, é sério – Rafa respirou fundo já indo para a porta. – Eu preciso ir mesmo, é urgente.

– Rafa, não – Roberto pegou sua mão, o puxando.

– Caubói – Edu chamou da soleira, impaciente. – Precisamos ir.

– Tá vendo? – Rafa apontou. – Eu preciso ir.

Roberto ainda assim encarou continuou o puxando.

– Não antes.

Rafa franziu o cenho.

– Não antes do que?

– Antes disso.

Roberto o puxou com tudo e colou seus lábios nos dele. No começo Rafa não soube bem o que fazer, mas então sentiu outro golpe de sobriedade e agarrou Roberto pela parte de trás da nuca, beijando ele com mais incentivo.

O gosto da boca de Roberto era bom, mesmo depois de cinco garrafas de cerveja. Tinha algum sabor de menta fria e fazia com que a boca do estomago de Rafa sentisse algo.

– Rafa? – Eduardo pigarreou.

Relutante, Rafa se afastou do garoto que antes considerava um amigo.

– Agora sim – Roberto sorriu para ele. – Era disso que eu estava falando.

Rafa sorriu e o beijou de volta bem rápido, antes de seguir com Eduardo para fora da casa.

Rafa começou a seguir Edu para fora do jardim, ainda meio desnorteado com o beijo que tinha dado. Mas mesmo assim, não pode deixar de notar que Eduardo estava sozinho.

– Cadê o Fernando?

Eduardo se virou para ele, mordendo os lábios de um jeito hesitante.

– Isso não importa agora, Rafa – ele respondeu. – Temos um assassino para pegar.

– Edu – ele o puxou. – O que você não esta contando?

– Escuta Caubói, ou você vem comigo, ou não.

Rafa cruzou os braços e o outro apenas deu de ombros, adentrando a mata ao redor do jardim. Rafa ficou mais alguns segundos batendo o pé ali fora, mas então correu logo atrás dele.

– Ao menos você sabe quem é o assassino? – ele perguntou.

– Tá mais pra assassina – Eduardo respondeu, tirando uma arma da cintura.

Rafa observou isso.

– Posso pegar uma também?

Edu suspirou, mas se agachou para pegar uma adaga na altura da perna e lançou para ele.

– Feliz agora?

Rafa apenas suspirou como resposta e eles começaram a entrar na floresta. Edu ia na frente, a arma apontada e Rafa fazia o que podia com a adaga quente nas mãos.

– Eu não estou vendo nada – Rafa reclamou, passando os olhos pelas arvores.

E justo nesse momento algo se moveu na frente deles, o mesmo borrão loiro que Rafa tinha visto antes.

Eduardo se atirou para frente e começou a disparar, fazendo Rafa pular com o som dos tiros.

Ele atirou muitas vezes, mas Rafa teve a impressão de que a coisa continuava ali, se movendo. Eduardo continuou atirando, mas a coisa continuava se movendo, até que subiu com tudo para a árvore.

Rafa semicerrou os olhos e pode ver uma garota loira parada no galho mais resistente, os olhos dourados no meio das arvores indicando onde ela estava.

De repente, assustando até Rafa, Edu lançou uma bola de fogo e incendiou o galho, fazendo a explosão iluminar toda a floresta. Não tinha como a garota sobreviver.

– Pronto, acabou – Rafa suspirou de alivio.

Mas então algo passou com tudo atrás dele e Rafa foi lançado até o chão. Sentiu folhas de carvalho em seu cabelo e em sua boca e ficou muito puto com isso – ele tinha tomado banho, cara.

Eduardo deu mais disparos, mas então abaixou a arma com tudo.

– Porra – ele reclamou chutando o chão.

– O que foi? – Rafa perguntou.

Eduardo o ajudou a se levantar e os dois olharam para o vulto que corria pela floresta a mais de dois metros dali.

– Perdemos ela.

Give me Love do Ed Sheeran tocava lá da sala enquanto Taffara se servia na cozinha, enchendo seu copo do ponche inconfiável, se perguntando se Rafa seria tão descarado de colocar algo a mais para deixar ela gorda.

Ela fazia sua tarefa com calma, até que ouviu alguém fungar. Ela procurou com olhos em algum canto da cozinha, mas só então percebeu a abertura para a lavanderia.

Taffara parou na soleira e procurou pelo chão branco. Rael parecia um borrão choroso no canto, fungando e se encolhendo perto da máquina de lavar. Ao notar Taffara ali, ele se encolheu ainda mais.

– Vai embora – ele limpou as lágrimas do rosto. – Eu não estou a fim de brincar de “Pinhata com o Veado de novo”.

Taffara revirou os olhos. Na sexta série, Taffara costumava provocar Rael com o fato de ele ser gay, então na sua festa de doze anos, em vez de ser um cavalo sua pinhata tinha formato de Veado, e ela o chamou de Rael na frente de todos.

– Me surpreendo por você ainda lembrar disso – ela começou a adentrar a lavanderia, lentamente, e olhou para ele com pena. – O que você tem?

– Não te interessa – Rael soluçou. – Você, sua vadia escrota, é a última pessoa que eu contaria meus problemas.

Taffara assentiu.

– É, vamos ser realistas, eu sou cruel – ela pegou o Iphone escondido no cós e deslizou pela câmera. – Mas acho que você não precisa me contar nada. Eu vi o que o Rafa fez hoje.

Rael olhou para ela um pouco suspeito, mas então cruzou os braços.

– Eu ainda gosto dele.

– Jura? – Taffara fingiu surpresa. – Conte uma novidade. Você se atraca com um cara no segundo andar da casa dele, na frente de todo mundo. Tem como ser mais obvio?

Rael mostrou o dedo para ela.

– Você não esta ajudando.

– Ah, eu não vim ajudar – ela começou a chegar perto dele, se sentando no chão com ele. – Como disse antes, sou realista. E você meu querido, sabe muito bem que você e o Rafa não tem nenhuma chance, não é?

Ele a encarou um pouco temeroso.

– Escuta Taff, sobre o natal passado...

– Esquece – ela o interrompeu. – Eu sei o que vai dizer. Que sente muito, eu sei. Mas já aconteceu. Você só estava sendo um namorado ciumento, eu sei.

Rael abaixou os olhos para o pulso.

– Mas tem algo que você não sabe – ele murmurou.

Taffara o olhou.

– Desacredito totalmente – ela suspirou. – Vai me dizer o que, que você ajudou o Rafa a mandar meu namorado embora?

Rael levantou a cabeça.

– Hein?

– Natal passado – ela se virou para ele. – Eu sei o que vocês dois fizeram, Rafa me contou.

– Rafa te contou?

– Sim, ele contou que você estava com ciúmes da amizade dele com o Henrique. E que vocês dois brigaram feio e que Rafa teve que mandar ele embora.

Rael abriu a boca para falar, mas então se deteve.

– Foi isso que o Rafa te falou?

Taffara franziu o cenho.

– Tem alguma outra versão?

– Porra – Rael levou as mãos ao rosto, como se estivesse mais do que aflito.

– Rael? O que foi? Você tá me assustando.

– E é pra ficar – ele levantou a cabeça, piscando os olhos por trás dos óculos. – Taffara... o Rafa mentiu pra você.

A garota sentiu seu mundo se inclinar.

– Do que diabos você esta falando?

– Rafa não o mandou embora, Rafa nem sequer tem nada a ver com isso... Quer dizer tem, mas não foi ele que... Foi eu.

Taffara balançou a cabeça, ficando cada vez mais confusa.

– Você o que?

E então Rael contou e a garota teve que se segurar em uma das máquinas por ter ouvido aquilo.

Agora Andressa girava pela festa, perdida enquanto a música ecoava pelas paredes. Não conseguia encontrar Rafa e Edu. Fernando ela podia entender o desaparecimento, mas onde Edu e Rafa tinham se metido?

Ela olhou para a porta aberta no hall de entrada e decidiu seguir até lá, até que uma garota entrou na sua frente.

– Oooi? – a baixinha deu a ela um sorriso de aparelho. – Você é a Yanca?

Andressa assentiu levemente.

– Você é a namorada do Ricardo, né? O de cabelo preto?

Andressa fez que sim de novo, pensando em Edu e o fato de eles andarem de mãos dadas pelo corredor.

– Então, tem essa foto – a garota começou a fuçar o celular. – E tá rolando por todos os grupos de Whatsapp da escola.

– Foto? – Andressa questionou, olhando o celular da garota.

A garota levantou o aparelho e Andressa pode ver Edu e Fernando em uma das salas da escola, parecendo mesmo alunos típicos da Vallywood High School. Mas algo na frente deles não parecia.

Taffara praticamente se jogava na frente deles, inclinando o corpo de forma ousada e tocando os dedos em um dos botões da blusa. Andressa olhou para o Edu da foto e viu que ele olhava naquela direção.

Subitamente ela pegou o celular da garota e tocou várias vezes até que deu um zoom no rosto do suposto namorado. Ele definitivamente gostava do que via.

– Onde conseguiu isso?

– Eu já disse, mandaram pra mim e...

Andressa atirou o celular longe e começou a procurar com raiva pelo salão um vestido cinza e sentiu falta da agulha que Fernando tinha insistido para ela não trazer.

Suas unhas crisparam quando ela não conseguiu encontrar Taffara e ela tentou a cozinha, já planejando pegar a vadia pelo pescoço.

Ela encontrou uma garota de cabelo escuro, mas sem nenhum tom castanho. Com um misto de alivio ela reconheceu a garota com quem estava conversando – era Leticia.

Andressa estava prestes a falar com ela, mas parou quando A viu despejar um bando de ervas no copo de um garoto que estava de costas para ela.

Talvez fosse apenas um estimulante, Andressa pensou, mas então Leticia sussurrou algumas palavras e passou a mão em cima da bebida, fazendo as ervas sumirem dentro da bebida.

Ela se afastou do copo e o garoto se virou para pegar seu copo, enquanto continuava a conversar com outra garota que estava ali na cozinha.

Andressa se virou rapidamente antes que ela a visse e correu pela pista de dança, sentindo que necessitava de Edu naquele momento – ele sim saberia explicar a Bruxa tinha colocado na bebida.

Com um golpe de ódio, Andressa se lembrou que também tinha aceitado uma bebida dela.

– Yanca? – Lucas apareceu na frente dela. – Tá tudo bem, você parece – ele fez gesticulou com as mãos.

– Pareço o que? – ela questionou, estridente.

– Só tonta – ele deu de ombros. – Quer um pouco de agua? – ele começou a andar para a cozinha.

– Não, não, não – Andressa o puxou, segurando seu braço. – Dança comigo? – ela pediu aninhando os braços na nuca dele.

Ela podia ver que ele hesitava, mas quando a música Universe da banda Kids of 88 começou a tocar, ele tocou a cintura dela e fez o que pode para se balançar de um lado para o outro.

No outro lado da sala, Vick observava os dois, com um olhar duvidoso. Mas que diabos era aquilo? Lucas não odiava os novos amigos de Rafa?

– O que você tá olhando? – Diogo questionou, no ouvido dela.

Ela apenas balançou a cabeça.

– Se eu soubesse explicar, explicaria.

– Talvez só estejam conversando – Camila Polli deduziu.

– E precisa tocar na cintura? – Camila questionou, estridente.

Vick apenas ficou fitando os dois, não sabendo dizer se gostava daquela coisa nova. Por que Lucas estava dançando com ela? E, sim, por que precisava tocar a cintura dela?

Rogério se juntou a eles, vindo do jardim dos fundos.

Camila Alves o encarou.

– Você sabe o que é banheiro? – ela questionou, retorcendo o rosto. – Que nojo, Rogério, seu banheiro é no segundo andar!

Rogério deu de ombros.

– Eu não estava mijando – ele resmungou.

Camila estava prestes a questionar, mas então uma garota loira passou por eles, passando a mão para limpar a boca e dar um sorriso para Rogério antes de voltar para a festa.

– Essas garotas de festa – Rogério sorriu. – São animais! Quem quer ser a próxima? Dessa vez eu posso usar o banheiro do segundo andar.

– Nunca – Camila Alves revirou os olhos.

– Eu – Camila Polli ergueu a mão e até mesmo Vick e Diogo a encararam. – Que foi gente? – ela pegou a cerveja da mão de Vick. – Essa festa tá muito entediante.

– Eu posso mudar isso, gata - Rogério ofereceu a mão para ela e os dois subiram para o segundo andar.

– O que ela era? Uma loba? – Rafa perguntou enquanto ele e Eduardo cruzavam o meio da floresta escura.

– Uma Beta – Eduardo assentiu. – Droga, por que eu não o ouvi o Fernando mais cedo? – ele resmungou.

– O que ele tinha dito? – Rafa perguntou subitamente desperto.

– Tá mais para o que ele previu pelo visto – Eduardo cuspiu. – Ele se perguntou se não tinha alguma possibilidade de Carla ter mordido alguém durante o tempo que ficou aqui.

– E tem? - Rafa franziu o cenho. – Espera como tem certeza que pode ter sido a Carla?

Eduardo apenas o encarou e Rafa se lembrou.

– Alfas são os únicos que podem transformar alguém em lobo – ele se respondeu.

– E eu creio que ela tenha transformado ela – Eduardo atirou a arma no chão.

– O que você vai fazer? – Rafa questionou enquanto o outro espalmava as mãos.

– Eu? – ele sorriu sem nenhum humor. – Eu cansei de brincar.

E então ele ergueu as mãos, fazendo toda uma ventania soprar na floresta. As copas das árvores começaram a fazer um barulho irritante e Rafa pode ver milhares de carvalhos flutuarem no ar.

Porém, no meio de todo o alvoroço, ele conseguiu ver a garota de antes de novo, tentando lutar contra a ventania, se agarrando ao tronco de uma árvore.

– Pode me ajudar? – Edu gritou, apontando para ela.

Rafa parou do lado dele, sem saber meio o que fazer.

– Você explodiu um lobo com um demônio no dia em que nos conhecemos e não faz a menor ideia do que fazer agora?

Rafa semicerrou os olhos para ele, mas então ergueu a mão na direção da garota. De imediato nada aconteceu, mas então o tronco da árvore explodiu e Rafa observou a garota voar longe e cair com um baque no chão.

Edu parou o vento na mesma hora, pegou a arma do chão e correu na direção da garota.

– Não se mova! – ele apontou na cara dela. – Rafa, pegue as correntes no carro!

– Correntes? Por quê?!

– Só pegue! – o outro guinchou.

Rafa correu de volta para o jardim de sua casa, parando para dar uma olhadela na festa enquanto fuçava o Eco Sport. Mexeu no porta-malas, tendo que abrir ele com a mente, e pegou o que pareciam correntes pesadas de prata.

Percorrendo todo o caminho ardiloso até Eduardo ele observou enquanto ele agora mirava bem na cabeça dela, ordenando para que ela ficasse quieta.

– Segura isso – Edu passou a arma para Rafa. – Segura isso e aponta bem na cabeça dela.

Rafa fez aquilo, tremulo, sentindo o olhar dourado da garota sobre ele. Ela era loira e podia ser considerada linda, se ele não estivesse com a arma apontada para ela. Sua boca estava sangrando e o cabelo cheio de folhas secas.

Edu começou a enrolar a corrente em volta dela, levantando o corpo dela de vez em vez para passar a corrente.

– O que vamos fazer com ela? – Rafa perguntou, devolvendo a arma para ele.

– O que você acha? – Eduardo começou a puxar o resto da corrente que tinha sobrado, de forma que a Loba ia junto. – Vamos executar essa desgraçada.

– Por que vocês tem que matar tudo o que caçam? – Rafa resmungou, olhando para a garota que resistia contra as correntes.

– Você não esta seriamente me perguntando isso. Agora anda, me ajuda a levar ela até o carro.

Rafa começou a tentar ajudar, mas então a garota se soltou das correntes com um rugido animal e derrubou os dois novamente, correndo pela floresta.

Eduardo se levantou e suspirou.

– Lá vamos de novo – e uma brisa forte começou a soprar.

Dessa vez Andressa e Lucas dançavam mesmo, lentamente, os corpos colados um no outro. Ela podia sentir a batida do seu coração e por um momento quis que seu coração batesse da mesma forma – como quando ela chegava perto de Eduardo.

– Acho que o Rafa me odeia – Lucas sussurrou a cabeça pousada no ombro dela.

Andressa balançou a cabeça.

– Não odeia não – ela murmurou. – Por que acha isso?

– Porque ele não fala mais comigo – o garoto fungou. – Ele só quer saber dos novos alunos. E de você.

– Eu? – ela se afastou para olhar para ele. – O que sou eu comparada a você, Lucas? Você é amigo de infância dele!

– Isso não quer dizer nada – ele fungou de novo. – Parece que ele mudou muito desde aquela época.

– As pessoas não mudam – Andressa o olhou nos olhos. – Só transformam.

Lucas bufou e colocou a cabeça no ombro dela de novo.

– Essa foi uma frase de merda.

Andressa sorriu de leve, sentindo carinho e pena pelo garoto ao mesmo tempo.

– Quer que eu fale com o Rafa sobre isso?

Lucas a olhou nos olhos.

– Faria mesmo?

Ela assentiu.

– Mas eu nem gosto de você – Lucas resmungou.

Andressa deu de ombros, tentando não ficar tão ofendida.

– Eu gosto – ela sorriu. – De mim.

Lucas sorriu de volta para ela e, de repente, com tanta aproximação e o cheiro de álcool circulando o ar, ele a beijou carinhosamente.

Andressa sentiu não sentiu nada naquele beijo. Não tinha a mesma voracidade que o beijo de Eduardo. Mas tinha algo ali, ela pode sentir enquanto a língua dele dominava a dela.

E de repente Andressa sentiu algo que ninguém tinha feito ela se sentir antes: Normal.

– Meu Deus – Lucas se afastou dela. – Desculpa, eu não sei mesmo porque fiz isso.

Andressa balançou a cabeça.

– E eu não sei por que você parou – ela colou os lábios dele nos dela e se aninhou mais nele.

– Mas e o seu namorado? – Lucas perguntou entre beijos.

– Quem? – ela se refreou. – Vai ficar ai falando de um cara enquanto eu te beijo?

Lucas não soube o que dizer, mas então Andressa assumiu tudo, pegando ele pelo braço e o levando até as escadas. Quando passaram por um grupo perto dali, Lucas encarou Vick rapidamente.

Andressa começou a rondar os quartos, mas em um o Mini Rafa parecia lamber a parte debaixo do corpo de uma garota, enquanto essa por sua vez batia a cabeça na parede, implorando por mais.

Eles invadiram o quarto dos pais de Rafa, mas nele Rodolfo e duas garotas conversavam e a cama estava ocupada com vasos, relógios e outros objetos caros.

– Vem – Lucas a puxou para outro quarto.

Andressa não sabia como, mas soube que aquele era o quarto de Rafa. Talvez pelo pôster de Jensen Ackles de Supernatural, ou talvez pela mochila largada no canto do quarto.

Mas nada daquilo importou mais quando ela se virou para Lucas.

– Quer mesmo fazer isso? – ele perguntou os olhos brilhando.

Andressa respondeu arrastando ele para mais um beijo e o jogando na cama. Ele não soube bem o que fazer em seguida até Andressa tirar a camiseta e sentar no colo dele.

Os dois voltaram a se beijar com mais voracidade, Andressa puxando ele pela nunca e Lucas apalpando os seios dela, enquanto se esforçava para abrir o sutiã.

Dessa vez Lucas girou para ficar por cima e começou a fazer uma trilha de beijos, do pescoço até a cintura dela. Ele a olhou nos olhos enquanto ia abrindo o zíper da calça com os dentes. Andressa o ajudou no que pode nessa parte, descendo a calcinha de renda.

Os dois arfaram quando ela ficou nua, e por um segundo Andressa pensou que o garoto ia desmaiar. Mas então Lucas se atirou em cima dela e começou a se livrar da própria calça.

De olhos fechados, os lábios devorando os dela, Lucas colocou o pênis para dentro dela, enquanto a garota segurava as costas dele para aceita-lo.

Andressa afundou na cama, cheia de desejo enquanto Lucas assumia o controle de seu corpo.

O dia já estava quase nascendo quando Rafa e Edu finalmente tinham conseguido domar a Loba e entraram na residência dos Capoci. O hall de entrada estava cheio de copos no chão e Rafa viu um ou dois garotos dormindo no chão, sem camisa.

Na sala, ele reconheceu Vick e uma das Camillas esparramadas no sofá, deitada uma na outra, e Roberto e Rodolfo largados no carpete, um baseado no meio dos dois.

– Onde tá Andressa? – Edu perguntou depois de eles checarem a cozinha.

– Lá em cima? – Rafa apontou para o segundo andar, com a fita de NÃO ULTRAPASSE quase caindo para no segundo andar.

Eduardo apontou para que ele fosse primeiro e os dois começaram a checar os quartos. Em um Rogério e uma garota respiravam solenemente.

– Camila? – Rafa sussurrou e a garota se remexeu um pouco.

Eduardo o puxou na hora e os dois adentraram o quarto dele, que estava com a porta entreaberta. Na cama bagunçada, Lucas e Andressa estavam de frente um para o outro, sem coberta e nus.

Rafa olhou de lado para Edu, sem saber o que fazer ou falar – ele parecia imóvel demais. Mas então o mais velho andou com frieza, pegou a camiseta de Andressa no chão e a cobriu.

Enquanto Rafa observava descrente, ele tirou o braço dela do peito de Lucas.

– Leve-a até lá embaixo quando ela acordar – disse e então saiu do quarto o mais rápido que pode.

***

– Tem certeza que o Edu não viu nada? – Andressa questionou ao terminar de se vestir.

– Tenho – Rafa assentiu, do lado de fora do quarto. – Agora podemos ir?

Andressa fez que sim e os dois desceram as escadas, sem fazer muito barulho para acordar os ilustres hóspedes de Rafa. Chegando na soleira, Rafa e Andressa viram duas coisas: A porta do carro aberta e um atirada no chão.

Os dois começaram a correr para dentro da floresta e viram o caos que se seguia.

Agora além da Loba, outro lobo tinha se juntado a eles, de pele loira e olhos mistos. Os dois da mesma espécie se atracavam, tentando abocanhar um ao outro enquanto Eduardo pairava ali, desnorteado.

Andressa tentou se meter na briga, mas então a Loba lhe deu um tapa, fazendo ela se curvar para longe. Edu gritou de raiva e o lobo, aproveitando a distração da Loba, a abocanhou, fazendo ela gemer de dor.

Edu manipulou a terra para controlar a garota e Andressa tentou chutar a cara dela, mas a garota a jogou e a puxou para baixo com ela.

Mas, enquanto os dois tentavam conter a garota, Rafa se viu olhando o lobo enorme na sua frente, sacando a adaga.

– Rafa, não! – Edu gritou para ele, enquanto segurava A loba com as próprias mãos.

– Que?

– O Lobo não é nosso inimigo! – Andressa falou. – Ele é...

– Dessa – Edu a reprimiu e eles voltaram a atenção para a Loba que se debatia.

O Lobo enorme tentou se virar e correr, mas então o sol nasceu através das árvores e Rafa pode ver o que nenhum deles queriam que ele visse.

Criando corpo na frente, o lobo se transformou em homem. As costas familiares cheias de folhas secas e o resto do corpo nu deixando Rafa sem nenhuma palavra.

Porque aquilo não era mais um lobo... Era Fernando.


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