Saga - The Alphas Pack escrita por Matheus Henrique Martins


Capítulo 11
Don't Look Up




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Na sala escura da casa de Rita, eles tentaram permanecer no maior silencio possível. Podiam ouvir os passos dos Atiradores recém-chegados, subindo na varanda e adentrando o hall enorme da casa. Rafa se escondia atrás de uma poltrona vermelha, as mãos tremendo como britadeiras. Enquanto se concentrava em permanecer escondido, conseguiu ter uma visão de seus amigos se escondendo também.

Fernando e Eduardo se postavam corajosamente de cada lado da porta, esperando pela entrada dos inimigos. Andressa estava agachada atrás do sofá em U da sala colossal, a respiração muda, mas o peito subindo e descendo sem parar. Érika paralisada no alto da escada conseguia ter uma visão ampla da sala inteira. Carla e Erick se espremiam debaixo da mesinha de centro, visivelmente desconfortáveis com o esconderijo improvisado.

– Onde eles estão? – perguntou um dos Atiradores que avançavam, um ruivo de olhos castanhos e vazios.

– Eu não sei, eles partiram muito rápido – uma Atiradora loira e baixa sibilou, apontando a arma para a escada. – Quer ir lá em cima checar se os humanos estão aqui?

Rapidamente, o olhar de Érika se cruzou com o de Rafa e ele podia sentir o pânico da garota quando um Atirador de dois metros indiano deu um passo exageradamente ruidoso no primeiro degrau.

No instante em que ele o fez, Carla, que já encarava a cena com nervosismo, saiu de seu esconderijo, chamando a atenção de alguns atiradores.

– Não! – ela se jogou para cima do Atirador de dois metros, pegando ele pelo pescoço e o prensando na parede. – Não!

Os outros Atiradores reagiram na hora atirando, errando por milagre a cabeça dela. Carla lançou o musculoso no chão e o rugiu para os que atiravam. O ruivo mirou na testa dela e Andressa o puxou pelo pé, fazendo sua arma cair. A Atiradora loira e pequena tentou acerta-la, mas Andressa repeliu o tiro rapidamente com a agulha. Aproveitando a deixa, Erick saltou sobre a loira e a mordeu.

O pandemônio se formou e os outros em seus esconderijos saltaram para os doze Atiradores, derrubando alguns, chutando e matando outros. Um deles tentou se jogar para o primeiro andar, mas Érika colidiu com ele e o quebrou o pescoço sem esforço. Outro mirou em Eduardo, mas Fernando chegou antes e tirou a arma dele, batendo com ela em seu rosto muitas vezes.

Rafa suspirou de alivio enquanto se levantava devagar de seu esconderijo, feliz por ter visto que eles conseguiram outra vez. Porém um Atirador livre urrou de raiva e mirou nele.

Por um momento o mundo parou.

Em outro, a bala foi quem parou.

Agora com as mãos erguidas, Rafa impulsionou a barreira na direção do Atirador e este voou pelo chão da sala, até bater no pé de Carla que, ao nota-lo, se jogou com tudo sobre seu pescoço. A luta estava ganha.

Só o que restaram foram corpos ou desacordados ou demasiadamente quase mortos, enquanto o bando de amigos de Rafa suspirava e se entreolhavam.

– Conseguimos – Érika sorriu para todos. – De novo, nós conseguimos.

Palavras erradas, Rafa queria dizer a ela no momento em que eles ouviram Rita, Marco e Lucas descendo as escadas em passos rápidos. Cada um deles analisou a sala e Lucas foi o único que reagiu “normalmente” ao bando de Atiradores desacordados.

– Que porra... – Marco paralisou com a mão no corrimão, freando sua corrida e colidindo suas costas com Lucas.

Rita arregalou os olhos para os corpos e depois olhou de Rafa para Andressa, de Andressa para Fernando e de Fernando para Eduardo. Que sexto sentido aquela garota tinha, Rafa quase quis perguntar.

– Explicação? – ela questionou cruzando os braços.

– Rita... – Lucas a chamou.

– Rita nada – ela olhou diretamente para Rafa. – Quem são vocês? E, bem, o que vocês são? – seu olhar passou novamente pelos corpos dos Atiradores.

Rafa mordeu o lábio inferior e pediu ajuda com os olhos para Eduardo, mas este apenas deu de ombros, ainda com uma centelha de raiva. Ainda bolado, o olhar de resposta de Andressa dizia.

– Olha, Rita, eu quero explicar – Rafa se viu usando suas mãos para explicar. – Mas é muito complicado.

– Eu creio que sim – Marco cutucou a cabeça do musculoso com a ponta do tênis. – Foi você? – ele questionou Carla com um olhar de admiração.

Rafa se voltou para Rita.

– Eu prometo te explicar tudo, mas antes eu preciso que me responda – ele lançou um olhar demorado para a porta entreaberta no hall. – Tem algum lugar em que possamos nos esconder nessa mansão?

Rita mediu a resposta ao olhar para Lucas, enquanto sua testa franzia ainda mais. Não era culpa dela, nem mesmo Rafa confiaria em alguém que mal conhecia e que, no mesmo dia em que abriu a porta para sua casa acontecesse coisas como aquela.

– Temos uma academia – ela respondeu em tom baixo.

– Uma academia? – Erick guinchou seguido por uma risada nervosa. – Não estou tão surpreso, quer dizer, olha o tamanho dessa mansão.

– Na verdade – o rosto de Rita corava. – Fica no andar debaixo.

– Andar debaixo? – Andressa questionou.

– No subterrâneo, ela quis dizer – Marco deu um sorriso travesso. – Mamãe e papai tiveram a ideia depois de assistir Guerra dos Mundos.

– Mas no caso era pra furacões – Lucas comentou.

Alienígenas – Marco corrigiu astutamente. – E não é meio que a mesma coisa?

– É – Fernando sondou o lado de fora com os olhos lindos. – É meio que pior que um furacão.

– Então – Rafa falou. – Vai ajudar?

Rita suspirou uma vez, ainda indecisa.

– Por favor – Erick se interpôs. – Eles vão voltar a qualquer momento, não quer que nos machuquemos, não é?

Dessa vez ela deu um suspiro um pouco diferente e assentiu solenemente.

– Me sigam por aqui – ela virou um corredor que podia dar para a lavanderia, ou talvez a lavanderia desse acesso a academia.

– Obrigado – Erick agradeceu na frente.

Rita apenas deu de ombros e sorriu. Algo dizia a Rafa que dificilmente ela rejeitaria algum pedido de Erick. Outra coisa dizia a Rafa que não sabia bem o que pensar sobre aquilo.

A academia de Rita e Marco realmente era bem abastecida. Várias maquinas feitas de ferro se espalhavam pelo local, pousadas sobre tapetes finos de cor de cobre. A iluminação do lugar era feita por uma luz fluorescente branca e cegam-te que fazia os olhos deles piscarem. Espelhos em horizontal se encontravam pelos quatro cantos do lugar que tinha o tamanho de uma garagem de um prédio.

Andressa podia ouvir os murmúrios de admiração de Lucas e Erick por todo o caminho. Fernando e Rafa pararam para tocar alguns pesos pousados em uma mesinha batida de ferro. Érika e Carla permaneceram quietas até que Marco saltou sobre uma esteira e começou a correr na frente delas, colocando a língua para fora em tom de zombaria.

Enquanto todos começavam a se espalhar e falar analisar as maquinas, Andressa se dirigiu a um dos espelhos, ousando passar seus olhos em seu reflexo. Parecia completamente normal, se não fosse o sútil rasgo no ombro de sua camiseta preta arregata e a mancha de sangue de um possível Atirador em seu jeans, na altura do joelho.

Seus olhos giraram para Rita na academia e uma pontada de inveja a acertou quando ela reparou em suas unhas pintadas e em suas impecáveis roupas. Parecia uma princesa. E perto dela o que Andressa poderia dizer que parecia? A garota teve sua casa invadida por Atiradores e continuava impecável, enquanto Andressa parecia um trapo.

– Você parece preocupada.

Ela voltou o olhar para o espelho e Eduardo estava parado bem atrás dela, os olhos escuros sondando seu rosto. Andressa se remexeu um pouco desconfortável e se virou para encara-lo.

– Olha só se não é o Sr. Bolado – ela provocou. – O que aconteceu pra ficar tão sarcástico? Tomou suco de maracujá?

Eduardo fechou a cara para ela.

– Não estou sendo sarcástico – ele resmungou. – Eu estou mesmo dizendo que você parece preocupada.

Andressa bufou e Eduardo suspirou. A sincronia do movimento dos dois quase a deixou apavorada, mas escondeu isso jogando o cabelo sobre o ombro.

– Você queria deixar o Erick morrer.

– Ele estava espionando – Eduardo a lembrou.

– Estava – ela assentiu. – E agora nos ajudou a matar alguns Atiradores, não basta pra você?

Eduardo fincou pé.

– Eu não confio nele.

– E nem eu na Carla e na Érika – ela não fez questão de falar baixo. – Loiras são todas safadas, eu sei muito bem disso.

– Isso é ridículo, Andressa.

O jeito como ele disse aquela frase fez o estomago dela se revirar.

– Não, não é – ela se forçou para focar na conversa. – Ridículo é você ser tão desconfiado e tão certinho em toda a missão em que nos metemos.

– Você fala como se estivesse em todas as nossas missões – ele atacou.

– O que quer dizer com isso?

– Você sumiu, Andressa. Onde estava você quando fomos caçar a Érika?

– Eu estava lá...

– Logo depois de eu e o Rafa termos que acordar você. Logo depois de você ter... – seus olhos escureceram. – Você nem mesmo foi com a gente até a base dos Atiradores.

– Ei, ei, ei – ela o interrompeu e deu um passo a frente. – Não tente fazer como se fosse eu que estivesse acabando com o nosso Pack! Foi você quem deixou essas lobas bestas entrarem, agora aguenta o tranco do lobo querer entrar também!

A garganta de Eduardo fez um barulho estranho e ele deu um passo na direção dela. Andressa não se moveu um centímetro.

– Isso não vai ficar assim, entendeu? – ele ameaçou. – Não vai demorar muito pra termos que voltar pra La Iglesia e você pode ter certeza, eu vou pedir a Anna para que você saia do Pack.

Por um segundo o coração dela parou, mas em um outro repentino ela deu de ombros.

– Faça – ela desafiou. – Me tire do seu Pack e eu vou procurar o meu mesmo. Talvez eu passe na tenda do Felipe quando voltarmos, o que você acha?

– Isso não é engraçado – ele respondeu.

– Não era a intenção – ela retrucou. – Você sabe muito bem que ele iria me aceitar de braços abertos, não sabe? Eu ia entrar no Pack dele mais rápido do que demorei pra entrar nas calças do Lucas.

O rosto de Eduardo se contorceu e Andressa sentiu pena por estar blefando. A raiva pairava sobre os dois, as palavras carregadas de magoas saindo inevitavelmente.

– Vai lá então com ele – Eduardo apontou com o queixo para longe. – Vai lá com seu amiguinho humano. Aposto que ele te protegeria melhor do que qualquer um.

– Eu não preciso ser protegida!

– Não? – ele sorriu provocador. – Prove, então.

Revoltada, Andressa girou com raiva para se afastar dele. Mas então algo aconteceu. Eduardo a pegou pelo braço, quase que em um movimento reflexo, e a virou para ficar de frente para ele.

Os dois se encararam quando os braços dela se encaixaram nos dele. Eles se beijaram. Se jogando um no outro de uma forma abrupta e rápida. Andressa levou suas duas mãos para tocar nos cachos da cabeça dele. Eduardo a pegou pela cintura e aproximou com paixão, os lábios devorando os dela. Toda vez que ela puxava os lábios de volta, ele os mordia. Ela puxava de novo e ela mordia. E assim sucessivamente.

Mas mesmo em um beijo daqueles, quente e voraz, ela podia sentir sua garganta comemorando a vitória de finalmente beijar ele nos lábios (beijar de verdade, e não como aquele beijo estupido na escola). Eduardo também aparentava querer aquilo há muito tempo, sendo que seus braços antes retesados agora descansavam em sua barriga, de modo afetuoso. Ela ousou abrir os olhos uma vez e viu seus olhos fechados e quase chorosos. Eduardo com certeza ansiava por aquilo.

Quando terminaram (ou melhor, quando Eduardo finalmente parou de morder os lábios dela) os dois se olharam com um misto de surpresa apaixonante.

– Isso aconteceu mesmo? – Eduardo sussurrou, os olhos brilhantes.

Ela apenas assentiu surpresa e apaixonada demais para dizer qualquer coisa coerente. Eduardo sorriu de forma tocante e tocou sua testa com a dela, já começando outro beijo daqueles.

E, assim do nada, o motivo da briga deles... Qual era mesmo? Até mesmo eu esqueci... ♥... fora esquecido.

Rafa e Lucas se sentaram em um dos tapetes espalhados na academia enquanto observavam os outros. Fernando e Erick treinavam, os urros fazendo eco em todo o local a cada golpe desferido, revidado ou repelido. Érika e Carla estavam debruçadas sobre uma das mesas de metais, estudando um dos mapas que Rita tinha retirado de um armário no canto com a mesma cor. Marco instruía Eduardo na esteira, enquanto uma Andressa se recostava em um dos pilares, com uma expressão admirada.

– Parecem todos tão relaxados – Lucas comentou com uma voz distante. – Parece até que não estavam chutando alguns traseiros de Atiradores.

Rafa assentiu.

– Toda essa correria – ele apertou os olhos. – E mesmo assim, nada parece desmotivar eles.

Lucas o encarou por alguns segundos e desviou o rosto, Rafa notou isso e apenas suspirou de volta. Mas isso não o impediu de fazer uma pergunta:

– Rafa, o que realmente vem acontecendo?

Na voz do amigo ele podia ouvir toda a frustração. Ajeitou os ombros e se virou para ele decisivo.

– Mesmo que eu te conte Lucas, não há nada que mude isso – ele disse com sinceridade. – Eu não posso escolher. Praticamente fui arrastado pra essa história toda e não posso voltar atrás.

– Rafa – o amigo balançou a cabeça. – Sempre dá pra fazer suas próprias escolhas.

A frase filosófica entrou na cabeça de Rafa por um segundo e ele, sem nem mesmo saber por que, pensou em Brenda Sherman, a garota que tinha ficado de detenção com ele mais cedo. Ele podia jurar que ela tinha dito algo parecido.

– Não é tão simples – Rafa sacudiu a cabeça. – Eu abri uma caixa que praticamente liberou a destruição do mundo. E agora eles não querem sair da minha cola por que eu me envolvi, sem querer.

– Mesmo assim – Lucas fungou. – E como assim eles estão na sua cola? Eles são policiais? São do FBI?

Rafa olhou o amigo com cara de desdém.

– Me responde, você que esta com a gente o dia inteiro... Acha mesmo que eles parecem policias? Parecem do FBI pra você?

Lucas deu de ombros.

– Às vezes a Andressa é bem durona – ele respondeu. – O que eles são então?

– Caçadores – Rafa respondeu. – Vieram de uma vila no deserto do México, são treinados desde criança, e cresceram com esses dons. São um Pack de Caçadores.

Rafa se surpreendeu com o quanto tinha aprendido sobre o grupo, e olha que não fazia nem um mês que os conhecia.

– Tá, mas o que eles caçam?

– Vampiros, Lobisomens – Rafa deu de ombros. – Todos os possíveis pesadelos que saem da mente de crianças.

– E tudo isso existe mesmo?

Rafa fechou a cara de novo e apontou com a cabeça para Erick que ainda lutava com Fernando. Agora os olhos estavam vermelhos, a boca entreaberta, os caninos expostos. Ele jogou a camiseta num canto da academia e Rita, toda suspiros, foi buscar.

– Uau – Lucas não parecia saber se ria ou gritava. – E há quanto tempo você sabe disso?

– Não muito – Rafa confessou, ainda não conseguindo acreditar que no quanto o tempo passava devagar naquela cidadezinha. – Se lembra daquela sexta-feira em que eu Andressa veio me buscar?

– Lembro – Lucas assentiu. – Yanca, no caso – ele revirou os olhos para o disfarce da caçadora.

– Isso – Rafa assentiu.

– Desde aquele dia? – Lucas arfou. – Por que não me contou antes?

Rafa balançou a cabeça incredulamente para ele.

– Ei, Lucas – ele insinuou um tom falso de alegria. – Acabo de abrir uma caixa que vai destruir o mundo e um trio de Caçadores vão ficar na minha cola por quase um mês! Quer vir correr de Atiradores comigo?

Lucas o fitou.

– É, eu acho que não parecia fácil contar – ele mordeu o lábio inferior. – Mas eu nunca escondo nada de você.

– Eu sei, Lucas.

– Só que...

– Só que? – Rafa girou para o amigo. – Só que, o que Lucas?

O amigo de repente ficou um pouco mais pálido.

– Merda – ele bateu no joelho. – O que eu vou fazer com a Vick?

– Vick? – Rafa repetiu. – O que vai fazer com a Vick? Vai contar pra ela que gosta dela?

Lucas dessa vez fechou a cara, olhando o resto da academia de um jeito entediado. Rafa não demorou muito para entender.

– Você contou?

– Eu a beijei – Lucas assentiu. – Ela estava ali, falado sobre garotos, praticamente defendendo a Taffara por ter perdido o Henrique... E aí, eu não aguentei mais, Rafa... Eu a beijei.

Rafa não sabia bem o que dizer enquanto encarava o amigo envergonhado. Ficou imaginando ele se debruçando sobre Vick, puxando a garota pela nuca para beijar seus lábios. Que orgulho, Rafa aplaudiria se tivesse chegado a ver a cena.

– Ei – ele chamou a atenção do amigo que ainda corava.

– Quê?

– Estou orgulhoso de você – ele deu um tapinha em suas costas e sorriu. – Por ter finalmente conseguido o que queria.

Lucas sorriu de volta em agradecimento.

– Valeu Rafa – ele socou de leve o ombro do amigo. – Agora só falta eu descobrir se ela gostou ou não do beijo.

Os dois riram, mas logo Fernando parou na frente deles, lançando uma sombra sobre a conversa.

– O que foi? – Rafa parou de rir para encara-lo.

– Estão te chamando – ele apontou por sobre o ombro dele.

Rafa esticou o pescoço e viu Carla, Érika e Erick, que havia parado o treino com Fernando, debruçados sobre a mesa de ferro, apontando e dizendo o nome de Rafa várias vezes.

– Parece que estão interessados em algo que você sabe fazer.

Ele se levantou, com Fernando e Lucas em seu encalço, e andou até o trio. Érika tinha os olhos perdidos no mapa, parecendo enxergar através dele. Erick gesticulava enquanto conversava com Carla, a testa cheia de suor. Carla cruzava os braços enquanto falava, passando os olhos em Rafa de vez em quando.

– O que foi? – ele perguntou assim que parou na frente dos três.

As duas lobas e o lobo se encararam por um breve momento antes de se voltar para ele. Rafa não sabia dizer se aquilo tinha sido ensaiado, mas ambos seus olhos brilharam quando fizeram aquilo.

Carla descruzou os braços.

– Queremos saber sobre aquilo que você fez lá em cima.

A testa de Rafa se franziu.

– Hein?

– A coisa da barreira – Érika agitou as mãos na frente do rosto. – Você fez uma barreira quando um dos Atiradores tentou acertar você.

Rafa assentiu, mas sua testa continuava franzida.

– Tá, e daí?

Erick se virou para ele.

E daí? – ele repetiu com o sotaque inglês ficando evidente em toda a frase. – Você usa uma barreira quando um Atirador quase mata você e diz... E daí?

Rafa deu de ombros.

– Tá, e daí?

Erick grunhiu.

– Escuta aqui...

– Escuta aqui você – Fernando entrou no caminho. – Ele esta dizendo o que ele acha sobre a sua pergunta. Seja mais especifico – ele o empurrou. – E menos um Vira-lata.

Erick se afastou surpreso, mas talvez em parte porque Andressa tinha chegado por trás da rodinha, com Eduardo ao seu lado. Suas mãos estavam entrelaçadas, mas eles podiam fazer muita coisa com uma mão apenas.

– Ok – Carla revirou os olhos para a confusão. – Nós queremos saber como você fez aquilo acontecer. Como conseguiu criar aquela barreira?

Rafa mordeu o interior da bochecha enquanto pensava na resposta. Não sabia muito bem se tinha mesmo resposta. Lembrava-se da barreira, tinha usado a primeira vez em La Iglesia, quando ele e Fernando tinham sido encurralados por Atiradores pela primeira vez.

Tentou pensar como a tinha criado e só se lembrava do jato de adrenalina, que agora já estava meio acostumado, toda vez que algo sobrenatural os atacava. Suas mãos se erguiam praticamente sozinhas, como por reflexo, e a faziam. Apenas isso.

– Eu não sei – ele disse em voz alta. – É sempre automática. Eu nunca penso quando a faço, ela simplesmente surge a minha volta, sem forma. Eu posso até a sentir sendo levantada, mas nunca sei como faço. Quando dou por mim, minhas mãos estão levantadas e eu sinto essa força, como uma rocha na minha frente, uma rocha que eu posso manipular.

Carla pensou um pouco.

– Geralmente isso acontece quando você é atacado? – ela perguntou. – Toda vez que a adrenalina corre pelas suas veias?

Rafa fez que sim com a cabeça.

– Basicamente isso. Eu apenas penso e ela aparece. É como se... É como se ela...

– Sempre estivesse com você?

Rafa fez que sim com a cabeça de novo.

– Exatamente. Quando eu preciso dela, ela aparece. Como se soubesse exatamente quando eu preciso de ajuda. Eu acho que por isso que eu nunca sei como eu a invoco.

– Acha que pode invocar agora? – Érika perguntou.

Todos olharam Érika na hora.

– Foi só uma pergunta, eu hein.

– Acha que pode? – Carla questionou.

Rafa deu de ombros, um pouco constrangido quando todos pararam o que estavam fazendo para prestar atenção nele.

– Tente – Fernando sugeriu, dando um passo pra frente.

Rafa assentiu e se concentrou. Tentou sentir algo ao seu redor. Algo sólido. Logicamente, nada aconteceu na hora. Mas então Rafa invocou a imagem do Atirador mirando nele e a barreira se abriu na hora, jogando uma das esteiras próximas pra longe.

Marco seguiu até onde ela caiu e depois se virou para Rafa, os olhos arregalados.

– Aquilo custa mais de 100 dólares, tenha cuidado!

– A Marta? – Rogério perguntou enquanto despejava um pouco de suco de uva para Roberto, Vick e as Camillas. – A Marta é uma assassina?

– Tecnicamente – Roberto apertou os olhos para o suco. – Ela contratou um, o que é diferente.

– Ela pagou alguém pra matar o turista – Camila Alves simplificou.

– Pagou alguém... – Rogério se recostou na bancada da pia. – Vocês tem certeza que essa policial não tomou umas drogas?

– Dificilmente – Camilla Polli respondeu. – Ficamos praticamente o dia inteiro com ela, a vadia bateu na porta da minha casa pra me trazer até lá... Ela bateu na porta da minha casa, ouviu?

Vick revirou os olhos.

– Mas eu ainda assim não entendo – Roberto franziu a testa. – Marta não é uma amiga do Rafa, que esteve doente recentemente?

– É uma amiga de longa data – Vick assentiu. – Desde o jardim de infância pelo que eu sei. Ela até mesmo compareceu na festa do Rafa.

– E ela se parece mesmo com alguém que contrataria um assassino? – Rogério questionou.

– Na verdade, não – Vick se espreguiçou na cadeira. – Ela mais parece uma pessoa que só mata alguém se quebrarem a unha do polegar dela.

– Ela não me parece uma assassina – Roberto tirou os óculos para limpar as lentes com a camiseta. – Que motivo ela teria pra fazer algo assim?

– Motivos eu não sei – Vick suspirou. – Mas o que eu realmente sei é que eu só suspeitei de uma pessoa dentro daquela sala.

– Quem?

– Não é obvio? – ela questionou, mas quando pareceu que ninguém ia conseguir adivinhar, desistiu: - Taffara!

– Ah – Camila Alves exclamou. – Verdade, tem ela também.

– Eu também achei que seria ela – Roberto desabafou.

– Eu não – Camilla Polli discordou.

Todos na mesma hora se viraram para encara-la.

– O que foi? – ela deu de ombros. – Ela não me parece culpada.

– Como não? – Vick guinchou. – A garota é um veneno em formato físico. Será que não vê que ela é má?

– Eu não vejo nada disso – Polli continuou balançando a cabeça. – Ela me parece tão normal quanto qualquer um de vocês.

– Você tá de brincadeira? – Camila Alves guinchou. – Ela odeia o Rafa, a Vick e o Lucas. E sem falar que até mesmo contou aos pais de Roberto que ele era gay. Ela o empurrou do armário, praticamente.

Os argumentos eram bons, mas nada parecia convencer Camilla Polli.

– Ainda assim, isso não me parece motivo o suficiente.

– Motivo suficiente pra que? – Roberto questionou.

– Pra matar alguém.

Um silêncio penetrante durou na sala, mas logo Vick, que ainda parecia perdida em pensamentos, virou o punho na mesa de um jeito bem rápido e anormal.

– Sabe o que eu acho? – ela abordou a todos quando fez a pergunta. – Que essa história da Marta tá muito mal contada. Ainda acho que Taffara fez alguma coisa pra se livrar da acusação.

– Por favor, isso é um exagero – Camilla Polli riu nervosamente.

– Cala a boca – Camila Alves revidou. – Continua Vick.

– Ela deve ter usado alguma artimanha ou plantado alguma coisa assim – Rogério disse ao invés. – Alguma coisa que incriminasse a amiga do Rafa e não ela mesma.

– Tipo o que? – Roberto questionou. – Ela não conseguiria saber com e-mails e controlar contas desse jeito assim.

– É, sei que o cabelo dela é lindo – Vick confessou. – Mas ela não saberia transferir a conta de um usuário pra outra.

– É, ela não – Rogério assentiu. – Mas outra pessoa, quem sabe?

– Acha que alguém esta trabalhando pra ela?

– Fala sério, Vick – ela a encarou. – Você mesmo disse. Ela é uma vadia controladora, que dificuldade ela teria pra conseguir alguma coisa?

Roberto de repente expirou audivelmente.

– Eu cansei – ele se levantou.

– O que? – Camilla Polli se assustou um pouco. – Do que você se cansou, hein?

– Me cansei da Taffara – ele cruzou os braços. – Ela cospe venenos sobre nossas cabeças, revela meu segredo e ainda é capaz de usar uma roupa branca no outro dia? Isso tá errado.

Vick se inclinou para frente na cadeira.

– O que esta sugerindo, Roberto?

Ele esquadrinhou a ilha da cozinha enquanto pensava na resposta.

– Ela armou com a gente até agora – seus olhos miraram em cada um na cozinha. – Então acho que é a hora de jogarmos na mesma moeda.

– Você quer se vingar dela? – Camilla Polli questionou.

– Eu quero acabar com ela – Roberto retrucou e depois olhou os outros. – Alguém mais me apoia nessa?

Rogério foi o primeiro a erguer a mão. Camila Alves seguiu seu exemplo se levantando para ficar do lado de Roberto, totalmente a favor. Vick sorriu explicitamente enquanto todos esperavam.

– Pode contar comigo – ela assentiu para Roberto.

– Pode é? – uma voz falou da soleira da cozinha.

Todos olharam para a figura parada bem ali de braços cruzados e sorriso lascivo no rosto. O estomago de Vick estremeceu com um barulho audível. Era Diogo.

– Taffara! Taffara espera! – Rael chamava enquanto tentava alcançar a garota de salto quinze. – Taffara, pode, por favor, me esperar?

A garota girou nos calcanhares para ficar frente a frente com o assassino de seu namorado. Rael parecia pálido e cansado, a camiseta listrada e sem mangas grudando na pele por conta do calor. Ou quem sabe, por conta do medo.

– O que você quer? – ela sibilou pra ele. – O que mais você quer de mim? Já me tirou tudo!

O rosto de Rael se contorceu de dor.

– Eu sei o que eu fiz – ele engoliu em seco. – Por isso eu quero me desculpar.

Taffara arquejou, jogando as mãos para o alto.

– Ah, então você acha que é tão fácil assim? – ela deu um passo a frente. – Você matou meu namorado! Matou o Henrique! Acha que um pedido de desculpas vai concertar o que você fez?! Está redondamente enganado!

Ele tentou abrir a boca pra falar, mas ela agitou os dedos para que ele se calasse.

– E não só matou meu namorado como também você, o desgraçado do Rafa e o resto de todos os seus malditos amigos esconderam de mim que ele estava morto! Esse tempo todo! Já faz quase um ano que ele morreu e eu pensando que ele apenas tinha ido... Embora... – ela começou a chorar histericamente. – A ironia disso é que ele realmente foi embora, não foi? Para sempre!

Ela não suportou por muito tempo e levou a mão à boca, sentindo sua garganta se fechar na mesma hora. Ela queria gritar – e muito – mas se conteve, o que só deu mais vontade de chorar ainda.

Rael tentou se aproximar em consolo, mas ela explodiu, agarrando ele pela gola da camiseta.

– Não se atreva! – ela gritou. – Não se atreva a sentir pena de mim, seu filho da mãe! Você pode ter matado o Henrique, mas pode ter certeza que eu vou fazer sua vida inteira um inferno por isso!

Ela então o largou e Rael mais do que correu para fora do estacionamento. Enquanto olhava aquele cara magrelo e gay correndo sua mente não conseguia se acostumar com o fato de que ele tinha matado seu namorado.

Mas... Henrique estava morto – ela pensou nisso e seus joelhos cederam – e o simples fato de isso ser verdade era o suficiente para que ela não pensasse em nada mais do que naquelas três palavras.

Henrique estava morto.

– O que esta fazendo aqui? – Vick cruzou os braços para Diogo. Os dois estavam do lado de fora da casa dos Capoci, se encarando de modo tenso no jardim.

– Que história é essa que você quer armar pra cima da Taffara? – ele não respondeu a pergunta, Vick percebeu.

– É mais do que justo – ela retrucou. – Essa vadia tem armado com a gente faz tempo já... Alguém tem que dar um jeito nela.

– Vocês já não deram? – ele questionou. – Ou esqueceu que você e o resto dos seus amigos mataram Henrique Borges?

– Não foi bem assim...

– Foi bem assim, sim – ele fincou o pé. – Pior do que matar é esconder uma morte, Vick. Rafa Capoci e seu ex-namorado mataram o Henrique e esconderam isso da Taffara. Isso é um crime sério.

– Tá – Vick piscou para clarear sua visão. – Eu sei disso tudo, não precisa ficar repetindo o tempo todo. Mas foi um acidente, Rael não queria ter empurrado ele de verdade.

– Ah, então era pra ser uma brincadeira? – Diogo ironizou. – Ele ia empurrar uma vez de leve do penhasco e esperar ele voltar?

Vick suspirou.

– Olha, Diogo, você prometeu ficar calado – ela o lembrou.

– Não – ele sorriu sem nenhum traço de humor. – Você flertou comigo só pra garantir que eu não abriria minha boca pra ninguém, fez isso sabendo que do que eu sabia.

– Eu fiz pelo Rafa – ela defendeu. – Ele é meu amigo e eu fiz o que eu pude pra proteger ele.

– Tá, tá, que seja – ele deu um passo. – E se fosse o contrário, ele faria por você?

– Isso não vem ao caso...

– Claro que vem – ele franziu os lábios parecendo querer falar muito mais.

Vick desistiu.

– Escuta Diogo, diga e pense o que quiser – ela começou a se afastar. – Eu ainda assim vou fazer armar pra cima da Taffara. Só porque o Henrique morreu não quer dizer que ela possa sair fazendo o que quiser com quem quiser.

– Claro que...

– O Roberto nem sequer sabia de nada – ela retrucou. – E olha só o que ela fez, contou a verdade sobre ele aos pais.

Diogo deu de ombros friamente.

– Ele teria que dizer uma hora ou outra.

– Mas ele não estava pronto!

– Quem é você pra julgar isso, Vick Melo? – Diogo balançou a cabeça incredulamente. – Você é a garota que finge gostar de mim só pra cobrir a morte de alguém!

Exaltada, Vick não aguentou mais e deu um tapa no rosto dele. Diogo foi para trás, surpreso com o ato. Vick arfou, tão surpresa quanto ele.

– Você ficou louca?

Ela estava prestes a se desculpar, mas então hesitou e deu outro tapa na cara dele. A sensação que passou pelo seu corpo foi ainda melhor do que a primeira. Uma mistura de surpresa e coragem.

– Que merda... – Diogo arregalou os olhos pra ela. – Você esta com algum problema?!

Vick respondeu com uma risada leve e começou a subir as escadas de novo.

– Ei, onde pensa que vai?!

– Você estava enganado – ela o interrompeu com um olhar profundo. – Eu não sou mais a garota que finge ser sua namorada.

E com isso fechou a porta na cara dele. A sensação que sentiu depois disso foi duas vezes melhor que o tapa. Era a mesma sensação que sentia ao tirar um peso das costas.

– Nós vamos morrer – Rafa desabafou enquanto encarava o complexo na sua frente. – Pode falar, pode mandar spoiler, eu aceito de bom grado. Nós vamos morrer, todo mundo.

Eles se encontravam em frente à base dos Atiradores, um lugar com características cinza e grandes, nada mais nada menos do que isso. Eduardo, Fernando, Érika e Carla observavam o local com familiaridade, sendo que já tinham ido até lá antes. Erick e Andressa pareciam temerosos, mas eles não tinham por que temer.

Mas Rafa tinha... E estava aterrorizado.

– Eu não quero fazer isso – ele desabafou. – De quem foi a ideia estupida de virmos até aqui no “ninho de abelhas” dos Atiradores e provocar nossa morte?

– Sua – Andressa deu de ombros.

– Ah, é – Rafa assentiu e depois olhou por sobre o ombro. – Mas não foi minha ideia que eles viessem conosco!

Lucas, Rita e Marco se arrastavam atrás deles, os únicos humanos ali seguindo o Pack. Era preferível que eles ficassem na casa de Rita, seguros e longe do combate, mas Fernando e Eduardo ficaram com medo que os Atiradores chegassem ali e eles ficassem desprotegidos.

– Eles estão mais seguros aqui do que lá – Eduardo disse. – Agora, pessoal – ele olhou todos. – Foco, por favor!

Todos se endireitaram e olharam para frente. Com o dia indo embora, a base assumia um brilho ainda mais perigoso e assustador. Mas aquilo era irrelevante pesando o fato de que muitos Atiradores estavam ali dentro, portando armas perigosas.

– Então – Carla deu um suspiro alto. – Qual o plano?

– Nós vamos invadir, simples – Fernando começou a andar.

– Para de palhaçada – Rafa em um reflexo o pegou pelo braço. – I-isso é sério – ele gaguejou quando notou o que tinha feito.

– Ok – Fernando engoliu em seco, mas não pareceu insatisfeito pelo toque.

– Nós vamos sim invadir – Andressa os ignorou enquanto explicava. – Mas não tão simples assim como Fernando disse. Primeiro contaremos com uma distração do Edu – ela apontou para ele e Edu sacudiu os dedos, todo divertido. – Ele provavelmente vai dar cabo de uma boa porção deles. Então, quando eles menos esperarem, nós invadimos e matamos todos eles.

– Nossa – Érika levou a mão ao pescoço. – Do jeito que você disse pareceu mesmo meio simples.

– Que seja – Andressa revirou os olhos. – Todos prontos?

– Espera – Erick ergue a mão. – Como vamos saber se eles não estão esperando nosso ataque?

– Eles acham que estamos fugindo, Vira-lata – Eduardo parecia impaciente. – Por isso nem vão desconfiar quando matarmos todos eles na hora.

– E quanto aos outros? – Lucas questionou. – Pelo que eu observei até agora, eles estão nos seguindo e podem estar fazendo o mesmo agora.

– Então eles vão ter o azar de nos encontrar todos juntos – Carla estufou o peito. – E vão ter que nos engolir.

Eles então se entreolharam e sabiam que a hora enfim tinha chegado. Andressa sacou a agulha. Erick, Érika e Carla se juntaram e andaram em uma formação triangular. Fernando e Eduardo seguiram logo na frente. Rafa ficou na frente dos humanos.

Quando chegaram perto o suficiente, Eduardo foi o primeiro a dar partido ao plano. Deu dois passos mais pra frente quando todos pararam atrás dele e espalmou as mãos. Rafa esperou por fogo, mas algo diferente aconteceu. A terra começou a tremer e o ar sibilou no ouvido de todos. E só então Eduardo invocou o fogo.

A junção dos três elementos causou alvoroço. O ar soprou nos janelões enormes e o terremoto abalou e fez rachaduras na frente. Mas o que fez mais impacto foi a enorme bola de fogo que Eduardo lançou contra frente do lugar.

Rafa foi para trás e pode sentir Lucas ir pra trás com ele, assustado. O que quer que tivesse uma chama de vida dentro daquele lugar, não tinha mais. Enquanto as chamas se alastravam por sobre o complexo, eles esperaram que alguém aparecesse dos lados que restaram.

Mas nada disso aconteceu.

Por minutos o fogo fazia um estrago na estrutura e todos olharam atentos, preparados e posicionados para brigarem com Atiradores. As mãos de Rafa coçavam. Ele queria usar sua barreira pra cima de alguém.

Mas nada ainda aconteceu.

– Por que ninguém esta aparecendo? – Lucas ecoou seus pensamentos, o tom de voz nervoso. – Não deveria ter uns dez Atiradores já saindo do prédio? Agora mesmo?

– Deveria? – Rafa perguntou a Fernando, mas este apenas trocou um olha rápido com Eduardo.

– Deveria? – ele repetiu a pergunta.

Eduardo parecia prestes a responder, mas então algo aconteceu. Ele se dobrou nos joelhos e caiu no chão. E então Fernando caiu também. E Andressa logo depois. Rafa e os outros começaram a ficar confusos, até que Rafa sentiu.

Algo agudo e pequeno se infiltrou em seu braço. Ele olhou. Era um dardo tranquilizante. Quando seus olhos se ergueram, ele viu Érika, Carla e Erick caindo logo em seguida.

– O que esta acontecendo? – Lucas o segurou antes que ele caísse.

Rafa estava prestes a responder, mas quando eles começaram a aparecer em uma direção completamente contrária do complexo, ele perdeu a fala. Os Atiradores. Andavam sem medo e em marcha, as armas carregadas.

Para o ódio de Rafa, ele entendeu tudo. Eles sabiam da invasão. Deixaram eles explodirem o complexo de propósito.

Confirmando ainda mais o ódio de Rafa, Carolina apareceu no seu campo de visão, o cabelo escuro balançando ao vento, o sorriso maligno estampado no rosto.

– Veja só o que temos aqui – ela tocou cada um deles com o olhar. – Parece que vocês foram conduzidos, hein?

Os passos de Taffara vibravam enquanto ela subia as escadas para o seu respectivo quarto. Sua respiração estava ofegante por conta da última discussão, o esforço de voz a deixou cansada. Seus passos faziam eco, mas eram arrastados, lentos. Ela sentia que a cada vez que subia queria descer.

Ao chegar em seu quarto, o único som que escutou foi o de suas roupas escorregando de seu corpo. Ela precisava de um banho quente e, quem sabe, logo depois, de sua cama de casal enorme. O dia tinha pedido demais dela.

Pegou sua nécessaire e já estava preparada para sair do quarto, até que notou que no chão o tapete felpudo de entrada estava meio torto. Sim, ela era certinha por notado isso, mas também quem tinha feito aquilo deveria ter mais discrição.

Lentamente, ela fingiu não notar aquilo e foi até a atrás da porta pegar sua toalha. Foi então abrir uma das gavetas. E foi nessa hora que dentro de seu gigante armário, alguma coisa se mexeu. Ela levantou os olhos, sabendo que era o intruso.

Nem precisou abrir as portas de madeira, podia sentir o nervosismo de quem quer que estivesse ali por ela estar tão perto. Debochada, Taffara girou em seu próprio quarto, seminua e sorriu secretamente.

– Ah, quem será que esta debaixo da cama? – ela parou perto do colchão, fingindo que pensava ter alguém ali. – Quem será a pessoa não gorda e que não consome Bolo Gordo o dia inteiro pra poder entrar debaixo da minha cama, hein?

Ela pode sentir a pessoa no armário se agitar e então fechou os olhos e se agachou debaixo da cama.

– Saía de onde estiver... – ela cantarolou enquanto abria os olhos. – Saía de onde...

Ela se interrompeu, porque tinha alguém mesmo debaixo da sua cama. E não no armário.

– Vick? – ela guinchou. – Mas o que...? – ela se virou para o armário. – Então, quem...?

– Eu falei que não ia dar certo – Rogério saiu pelas portas-duplas. – Essa coisa de se esconder dentro de um espaço desses não foi uma boa ideia.

– Bom, a ideia meio que foi sua – Camila Alves saiu pelo mesmo lugar que ele. Seguida pela outra Camilla. E então por Roberto.

– Mas que bosta é essa? – Taffara se levantou, na mesma hora em que Vick finalmente saiu debaixo de sua cama. – O que vocês todos estão fazendo aqui?

– Bem... – Rogério queria falar, mas então percebeu que ela estava seminua e avaliou. Taffara tentou cobrir o corpo.

– Isso é alguma conspiração?

Vick, que não parecia muito abalada com a descoberta dela, ficou de frente para a garota e sacou uma maquina Polaroid das mãos. Apertou um botão e uma foto começou a se revelar dali.

– É meio que uma chantagem, Taff – ela sorriu. – Você meio que entende disso, não é?

Ela começou a abanar a foto saída da Polaroid e Taffara logo entendeu o que ela estava esperando. Uma foto de Taffara seminua logo seria revelada ali mesmo, em suas mãos.

– É a hora de fazer você finalmente pagar – Roberto se colocou de frente para ela. – Isso é por ter feito com que meus pais soubessem de mim – ele pegou a foto da mão de Vick. – Quando essa foto chegar ao conhecimento dos seus pais, você vai sentir como eu me senti!

Ele começou a abanar a câmera na cara dela e Taffara abaixou os olhos para a imagem enquanto sentia o vento bater em sua cara. Com um sorriso no rosto, olhou o resultado da foto revelada.

– Eu deveria olhar algo de relevante aqui? – questionou se voltando para Roberto.

Ele olhou confuso para ela e virou a foto em sua mão. Sua testa se franziu também. A foto estava em branco.

– Mas o que...? – ele virou e revirou a foto. – O que diabos tá acontecendo aqui?

– O que foi? – Camila Alves olhou por sobre o ombro dele. – Mas o que? Por que não tem nada aparecendo?

– Como assim? – Vick pegou a foto de volta e virou e revirou também. – Onde esta a foto?

– Será que a câmera quebrou? – Camilla Polli questionou e Taffara riu.

– Ou será que alguém se esqueceu de algo?

Todos se viraram para ela e Taffara foi até sua jaqueta jogada no chão. Do bolso esquerdo dela tirou algo pequeno. Uma pecinha preta de nada.

– O que é isso? – Vick questionou.

Rogério arfou.

– Uma das peças da câmera – ele respondeu. – Sem ela a foto não revela de jeito nenhum.

Taffara riu enquanto todos a encaravam.

– Como conseguiu isso sua demônia? – ele guinchou.

Ela não disse nada e apenas jogou a pecinha em um canto do quarto.

– Não importa – ela sorriu. – Só sei que sem isso nenhum de vocês pode armar pra cima de mim, podem?

Eles se entreolharam, confusos demais. Mas Taffara não tinha tempo pra isso, tinha que despacha-los logo uma vez que já tinha ganhado aquela.

– Agora sumam daqui – abriu a porta de modo frio. – Eu tenho mais o que fazer do que olhar para essas caras de peixe morto que vocês amadores sabem fazer – ela indicou a porta. – Vão!

Rogério saiu, avaliando o corpo dela uma vez. Camila Alves quase a levou junto ao irromper do quarto. Camilla Polli saiu com um olhar inexpressivo lançado a ela. Roberto parecia constrangido e chateado e saiu sem olha-la.

Mas Vick ficou.

– Vamos – Taffara bateu na própria coxa, impaciente. – Eu não tenho tempo pra você, vá também.

Mas então Vick se lançou nela e Taffara achou que iria apanhar outra vez. Porém, ela apenas a pegou pelos ombros e a sacudiu, os olhos em brasa.

– Nos deixe em paz! – Vick grunhiu. – Só, por favor, nos deixe em paz!

O tom dela era desesperado e ela parecia colocar Taffara como a culpada. Ela pensou em rir de Vick, mas mudou de ideia.

– Eu? – ela atirou os braços dela longe. – Sou eu que tenho que fazer isso?

– Sim! – Vick guinchou. – Você vive arruinando nossas vidas, torturando nossos amigos e armando pra cima de nós! Agindo como uma vadia nos corredores! Não se cansa disso, não?

O sorriso de Taffara era satisfeito.

– Não.

Vick tentou investir, mas dessa vez Taffara a pegou pela argola, assim como com Rael antes.

– E você parece tão pura falando de mim – ela sussurrou. – Como se fosse diferente, não é?

– Bem, eu nunca revelei aos pais de ninguém sobre a orientação sexual do filho deles.

– Não mesmo – a voz de Taffara era séria. – Mas que escondeu um segredo por quase um ano, escondeu, não é?

Vick estremeceu e arregalou os olhos. Ela sacou, Taffara pensou.

– E nem mesmo eu fingi gostar de um cara só porque ele sabe demais. Mas admito que eu faria o mesmo, Vick.

– Você sabe – só foi isso que ela respondeu.

– Que Rafa Capoci e seu ex-namorado são os culpados no assassinato da morte do meu namorado? – ela perguntou. – E que você e o Lucas são cumplices? É eu sei de tudo.

Rafa não conseguia acreditar na situação em que eles se encontravam. Os Atiradores os cercavam, fazendo de todos eles reféns. Eduardo estava meio grogue e Fernando e Andressa com armas apontadas na cabeça. Marco, Rita e Lucas rendidos no chão, como vitimas. Rafa não estava muito diferente deles, mas se odiou ver todos eles naquele estado.

– Então – Carolina parecia ter ganhado na loteria. – Essa não é uma reuniãozinha maravilhosa?

– Deixe todos irem – Rafa falou apressado. – Não é a mim que você quer? Deixa eles irem.

– Calminho aí, herói – um Atirador careca atrás dele o cutucou. – Ninguém vai partir tão cedo.

Rafa fungou para ele e olhou para a arma. Ela se moveu sozinha e acertou o nariz dele. O careca foi pra trás e Rafa foi pra cima. Mas nem teve tempo pra fazer muito, já sentia outra arma apontada na nuca dele.

– Que ousadia – Carolina ria e muito. – Olha só se não é o garoto que abriu a caixa. Parece que esta criando coragem, hein?

– Algo assim – ele retrucou para ela.

Não pode ver o rosto de Carla, mas ela de repente o chutou em algum ponto e ele se dobrou para ficar de joelhos.

– Tira as mãos dele! – Fernando se levantou.

– Parado – Carolina apontou para ele. – Sei que você esta louco pra morrer antes dele, mas vai ter que esperar.

– Ninguém vai morrer aqui a não ser seus Atiradores e você!

– Ah, é? – ela riu balançando a arma como se fosse um brinquedo. – Eu estou louca pra ver o que vocês têm em mente!

Fernando parecia estar prestes a tentar algo ousado, mas então algo aconteceu. O sol finalmente baixou de vez e a noite foi tocando o céu. Em questão de segundos, Fernando começou a tremer e sua forma foi mudando.

– Fernando... – Rafa sussurrou. Fernando mudou na frente dele, tomando a forma do que só poderia parecer uma águia branca com olhos dourados.

– Olha só, agora você tem penas e é mais inofensivo – Carolina riu. – Eu te prefiro assim, meu amor – ela apontou a arma.

– Deixa ele! – Rafa se forçou para levantar.

– Ah, vocês estão tirando minha paciência – ela voltou a mirar em Rafa. – Um protege o outro o momento todo. Podiam ser mais melosos do que isso?

– Espera, Rafa esta certo – Andressa chamou sua atenção. – Deixa os outros irem. Somos nós do Pack da Anna que você quer, não é? Para poder negociar a caixa?

– Não é tão simples assim – Carolina ainda apontava para Rafa ao falar. – Vocês envolveram os humanos, mas não podemos deixar os três saírem dessa sabendo sobre nós, podemos?

– Se quiserem, pode sim – Carla ironizou.

– E ainda tem vocês – Carolina a avaliou. – La lobas – ela riu como se fosse alguma piada comum. – Vocês e ele – ela apontou para Erick. – Vão vir conosco quando isso acabar. Reservamos ótimos cargos pra vocês dessa vez na corporação.

– Isso não vai ficar assim – Eduardo ainda conseguia falar. – Anna vai te achar, saber o que você fez. E quando a hora chegar você vai se encontrar nessa mesma situação.

Carolina riu alto e o careca Atirador se atreveu a rir junto. Ela parou e o encarou até que ele parasse também.

– Mal posso esperar pelo dejá-vu.

Ela então girou para Rafa e este se preparou para o que quer que o aguardava nos próximos segundos. Iria morrer, sempre soubera disso, só rezava para que seus amigos não encontrassem o mesmo destino da mesma forma.

– Rafa! – Lucas gritou antes de alguém o segurar para ele não correr até ele.

– Esta tudo bem – Rafa gritou de volta olhando o amigo. – Vai ficar tudo bem, eu prometo.

Eram mentiras e o olhar aflito que Lucas sabia disso. Carolina destravou a arma e Rafa se preparou.

– Tentando convencer a si mesmo? – ela sussurrou e riu. – Que clichê.

Ele nem a olhou nos olhos.

– Faça isso logo.

– Como quiser.

Ele fechou os olhos e pode sentir algo vindo.

De repente... Um clarão forçou Rafa a abrir os olhos e ele viu coisas se movendo sobre seus olhos. Os Atiradores atiravam para todos os lados, cegos pela luz inexplicável que tinha surgido repentinamente. Tentou ver seus amigos, mas a essa altura nada parecia o mesmo. Levantou-se, tentando tatear na luz e procurar a fonte dela. Mas só o que conseguiu tocar foi o braço de alguém.

– Rafa? – ele não sabia quem era, mas estava bem perto dele e o ajudava. – Rafa, esta tudo bem?

Ele queria responder, mas um Atirador pairou na frente deles e começou a disparar. Rafa sentiu o escudo criar forma na hora, mas não conseguiu ver bem se estava dando certo.

Os tiros pararam.

O braço que ele tocava caiu.

A luz passou rápida diante de seus olhos.

Alguém o levou.

– O que estava fazendo lá em cima? – Camila Alves questionou Vick quando ela saiu pela porta da frente da casa de Taffara. – Ela estava te ameaçando?

– Não.

– Vocês saíram na porrada?

– Não foi nada disso...

– Como ela sabia? – Rogério questionou enquanto eles andavam. – Como ela... Como aquela coisa foi parar na mão dela? Ela nem estava com a gente e conseguiu uma peça da câmera!

– Ela deve ser o demônio – Roberto fungou.

– Eu desconfiava que ela fosse mesmo – Vick deu de ombros. – Mas é mesmo curioso como isso aconteceu – ela se virou para Camilla Polli. – Tem certeza que ninguém mexeu na câmera quando a levamos?

– Tenho – ela respondeu rápido demais.

Roberto suspirou.

– Não importa – ele deu de ombros. – Ao menos conseguimos botar medo nela, não é?

– Você tá brincando? – Rogério grunhiu. – A vadia nem piscou. Ela sabia que íamos estar no quarto dela.

– Como? – Camila Alves perguntou.

Rogério parecia prestes a responder, mas então Roberto caiu trôpego na frente deles. Vick se agachou ao lado dele e tocou sua cabeça.

– Roberto? – ela o sacudiu. – Roberto, acorda!

Rafa acordou em um lugar totalmente diferente. Era noite, ainda, mas o cenário não lhe parecia familiar. Seus olhos se ergueram e ele pode ver o que parecia ser uma antiga igreja velha e acabada em sua construção. Ficou observando o alto dela e só percebeu segundos depois que estava deitado em um deserto na frente dela.

Não muito longe dali, ouviu vozes:

– Você nos aparatou no meio de um conflito contra os Atiradores!

– De nada, viu!

– E o que foi toda aquela luz, eu quase morri!

– Você não morreu coisa nenhuma, eu salvei sua vida! Salvei a vida de todos vocês.

Enfim criando coragem, Rafa se levantou e sentou-se na areia, os olhos perdidos focando o deserto. Não muito longe dali, ele pode ver Andressa e uma garota loira – que a principio ele achou que fosse Érika – conversando de forma abrupta. Mas se olhando com conhecimento. Ao lado delas, Eduardo estava sentado, coçando os olhos. Fernando em sua forma de corvo olhava tudo e mexia o pescoço estranho. Em algum ponto atrás deles, Érika e Erick se desvencilhavam, pareciam ter ficado grudados por um bom tempo.

Em outro ponto especifico, ele deduziu que Rita, Marco e Carla se aproximando, ambos em pé, olhando para ele de longe com expressões indecifráveis.

E então teve o som.

Um ofegar.

Rafa virou a cabeça para o lado e percebeu que ao lado dele alguém estava deitado. Lucas. A barriga para cima, os olhos mirados para o alto. Parecia estar descansando, mas então ofegou e cuspiu sangue da boca.

O ofegar vinha dele.

– Lucas? – a voz de Rafa quase não saia. – Mas... O que?

– Rafa – ele se esforçava para continuar falando. – Eu... Sinto... Eu sinto muito, cara.

Enquanto tentava entender do que o amigo falava, seus olhos baixaram e encararam com horror o corpo do amigo. Ele havia sido baleado. Muitas e muitas vezes. Três pontos vermelhos na perna. Cinco em um braço e dois no ombro. E um... Ao lado do peito.

– Lucas... – sua voz saiu mais alta dessa vez, ofegante. – O que você...

– Eles estavam atirando – Lucas parecia engasgar. – Eles estavam atirando e... E eu pensei que iam te acertar... Então eu te puxei pro lado... Eles iam te acertar e eu...

– Lucas, não! – Rafa tocou o peito do amigo. – Não, não, não! Isso não tá acontecendo, Lucas não!

O amigo virou os olhos pra ele e queria ter dito algo, mas eles foram interrompidos por algo acima deles. Vários pontos vermelhos cruzavam o céu diretamente.

– Os Atiradores – alguém parecia próximo. – Eles estão vindo atrás de nós!

Mas Rafa ignorou a voz e os tiros e voltou para Lucas. Ele olhava o alto ainda.

– O que é aquilo lá em cima? – perguntou debilmente, os olhos já quase se fechando.

– Não olha – Rafa tocou a testa do amigo. – Não olha pra cima, por favor.

– Por...

– Só não olha, Lucas – Rafa fungou, sentindo o torpor em suas mãos.

– Rafa – o amigo chamou.

– O que?

– Eu finalmente entendi... – ele deu um espasmo ultraviolento antes de continuar. – Eu entendi porque você não pode falar nada pra mim...

– Lucas... – a voz de Rafa começou a tremer.

– Eu entendi – ele sorriu. – Era muito... Complicado.

Mesmo com as lagrimas ameaçando sair, Rafa assentiu e tentou sorrir de volta.

– Sim, era muito complicado... Ainda é.

Lucas pareceu querer rir junto, mas então seus olhos se voltaram para o céu e seu sorriso minguou. Ele não voltou a olhar para o rosto de Rafa de novo.

Porque.... Estava morto.


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