Skyler abriu os olhos naquela manhã de segunda completamente deprimente. Dia nublado, céu cinza, mas era assim que ela gostava. Ela não era um vampiro, mas se sentia como um. Há dias ela dormia os dia todo, porque ela odeia o sol.

Ela ainda sentia raiva. Raiva porque internaram ela naquele lugar detestável, só porque era viciada em coisas com mortos-vivos. Séries, filmes, livros, histórias. Isso não é normal? A cabeça dela rodeava nos argumentos. "Mas eles também são viciados em um monte de coisas, a sociedade toda é", ela pensava. Já se passaram cinco anos desde que ela estava presa ali, querendo sair a qualquer custo.

Saiu do quarto em direção ao refeitório. Se sentou como sempre na mesa à esquerda no canto inferior, assim que pegou a bandeja com torradas queimadas e um Toddynho quente.

— Bom dia, Sky— Ashton, seu melhor amigo, se sentou em sua mesa. Ele estava ali pelo mesmo motivo que ela, o que aproximou os dois.

— Bom dia? O dia está como eu gosto! Finalmente, nada de sol, ou de felicidade.— Skyler riu mordiscando a torrada.

— Que bom— Ashton sorria de um jeito estranho, o que fazia Skyler rir.— Pare de rir!

— Não dá— Skyler falava enquanto mastigava a torrada, deixando a comida descer pela sua boca, e cair novamente no prato, quando a voz do guarda ressoou em sua direção: "Bons modos, Skyler!"— Estão fabricando robôs aqui, puta merda.— ela disse.

— Eles fabricam o que a sociedade quer, são pagos pra isso.— Ashton diz, comendo seu cereal. Skyler se sentiu idiota por não ter pegado o cereal, e sim as torradas com gosto de ferro derretido.

De repente todas as mesas em volta de Skyler e Ashton se esvaziaram. As pessoas sentadas nelas alguns segundos atrás estavam com os rostos fixos nas janelas que rodeavam o refeitório, e guardas circundavam todo o perímetro. Skyler pegou a mão de Ashton e se espremeu por entre a multidão, abrindo espaço para eles, chegando finalmente ao que causava tal preocupação em todos.

— O que é aquilo?— Carolinne, uma garota do quartoΩζ β (Ômega Zeta Beta) olhou para eles, alternando seu olhar com a criatura que vinha em direção ao sanatório.

— Aquilo é um doente— respondeu Dynn, do mesmo quarto.

— Aquilo não é um doente— disse Skyler, enquanto sua boca formava um perfeito "O".— Aquilo é um zumbi.

A criatura andava mancando, sua pele cinza-chumbo apodrecida levava várias mordidas consigo, o sangue e a carne à mostra no corpo da criatura deixavam claro para Skyler o que ele era. Ela passara anos pesquisando sobre a fisionomia dos mortos-vivos. Ela sabia tudo sobre eles, Ashton também. No lugar do queixo, a criatura tinha a carne facial toda á mostra, como, exatamente, um zumbi deve ser.

Skyler apertou mais forte a mão de Ashton. Eles sabiam como lidar com um zumbi, até aparecer um bando deles por entre as árvores do campo de recreação. Vários deles, com suas roupas ensanguentadas e rostos deormados, clamando por carne viva.

— Todos para o abrigo subterrâneo!— A voz de Dean, o diretor do Sanatório Briarcliff, ecoou no refeitório— No chão do corredor Gama, quarto Alfa Beta Delta!

Uma orda de pacientes correu pelo local, procurando a sala Alfa Beta Delta, no corredor à esquerda do quarto onde Skyler costumava ficar, mas Ashton e Skyler foram mais espertos que a maioria. O Alfa Beta Delta tinha sim um abrigo subterrâneo, que tinha uma saída bem aberta para o lado de fora, ou seja, ficariam encurralados. Os dois correram para o quarto de Ashton, apagaram as luzes, desligaram o ar condicionado, trancaram a porta e as janelas, fecharam as cortinas e se encolheram em um canto do quarto, o máximo que puderam, sem fazer barulho algum.

— Mas e eles?— Ashton perguntou, assustado, mas com expressão de alguém forte.— Eles não vão escapar.

— Não cabe um sanatório inteiro aqui.— Skyler diz, com a voz firme— Eu também quero livrá-los disso, Ash. Mas não temos como. Eles não sabem como reagir.

— É, mas assim que eles forem embora, ou pelo menos diminuírem a voracidade, saímos e procuramos por sobreviventes, pode ser?— Ashton sorriu abraçando Skyler.

— Está bem, isso é um apocalipse zumbi, mas isso não muda o fato de eu odiar abraços, Ashton Portman.— Skyler sorriu se soltando dos braços do amigo.

— Ok— Ashton diz, levantando as mãos em um gesto de redenção. Por mais que fosse um verdadeiro apocalipse, eles não estavam tão assustados, pois sempre acreditaram nisso, e estavam preparados. Eles até sorriam às vezes, mas desfaziam o sorriso logo que pensavam que aquelas criaturas não estavam ao seu favor.

Passaram uma, duas, três horas e, pelo que Skyler contara, na quinta hora o barulho diminuiu. Esperaram quinze minutos, o que para Skyler pareceu uma eternidade, e cada um arrancou, o mais silenciosamente que puderam, as pernas de uma cadeira. Abriram a porta, corpos mordidos e decepados por zumbis de espalhavam pelo chão liso do corredor, mais pra frente um zumbi percebeu a presença dos dois. Skyler correu até ele e lhe enfiou a perna da cadeira bem na cabeça. Teria que ser na cabeça, ou não morre.

— Olha aqui...— Ashton dizia quase sussurrando enquanto olhava fixamente para um corpo mordido quase inteiro.

— Rebekah.— Skyler diz olhando aquele nariz torto que ela mesma entortara meses antes, quando Rebekah a provocava por ser...Bem, ser a Skyler.

— É. Ela foi mordida no tórax, cóccix, pernas, antebraço, pescoço e rosto.— Ashton sorri, rindo para Skyler.— Tem alguns lá fora, mas nada com o que não possamos lidar por enquanto.

— Certo— a garota diz, se virando de costas para Ashton e caminhando em direção à saída— Você vai pela saída do Alfa Beta Delta, escapamos por aquela cerca destruída e...— A fala de Sky foi cortada por um grito agudo de Ashton. Skyler se moveu para trás e viu um maldito morto-vivo mordendo o tornozelo de seu melhor amigo.— Ash!

Skyler correu com todas as forças e acabou com a vibe do zumbi. Agachou-se perto de Ashton e os olhos dele já não mostravam mais vida. Mas Skyler não se permitiu chorar. Apertou a mão de Ashton e fechou os olhos. Abriu-os em seguida com apenas um propósito: Vingar Ashton. Destruir aqueles que ela tanto amava: os zumbis.

Em outras palavras, ela precisava sobreviver.