Avatar: A Lenda de Yan escrita por Leonardo Pimentel


Capítulo 12
Inverno Desértico




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Essas duas semanas que passaram, pareceram passar nesse meio tempo, no qual estou olhando pela janela. Todos diziam que a neve devia cair em torrentes já nessa época do ano, mas tudo o que eu podia ver, era o céu acinzentado, sem nenhum floco de neve. O cinza do lugar, fazia a cidade parecer morta e os sons e a vida pareciam nunca ter existido. O pior de tudo, era assistir as crianças andarem de cabeças baixas pelas calçadas, puxando seus trenós pelo chão duro, sem neve. Olhei na direção do lago. Ele deveria estar congelado. Mas as águas estavam calmas, fluídas, como se o inverno fosse uma realidade distante.

Azsa estava sentada numa cadeira, olhando a televisão, concentrada. Na tela, estava a imagem de um dos médicos responsáveis pela pesquisa com as dobras de sangue e som. O doutor estava dando uma entrevista ao vivo, no centro de pesquisas do hospital da Cidade. Haviam dezenas de microfones, flashs e perguntas em bom bom.

─ Alguns dobradores de ar desenvolveram no ano passado, a dobra do som, responsável pela detecção de doenças, através do sonar. Um corpo saudável, quando exposto à dobra de som, transmite de volta ao dobrador, uma vibração específica. Mas quando o corpo está doente, ou com “defeito” ─ o médico fez sinal de aspas com os dedos e arrumou os óculos nos olhos. ─ ele manda de volta as mesmas vibrações, só que de modo diferente. A água por si só, é um meio de cura poderoso, mas o sangue, quando dobrado, mostra-se cinquenta vezes mais efetivo, podendo até mesmo curar coisas, que as nossas pesquisas estão tentando descobrir a cura, por muitos anos.

Doutor! Então o invés de usar a própria água na cura, eles usam o sangue, sem nem mesmo tirá-lo do corpo? ─ perguntam. Ninguém sabe de quem é a voz, a não ser o próprio médico.

Ele assente, sorrindo.

─ Exato. A dobra do som detecta as doenças e a dobra de sangue cura. Se fomos nos basear em comparações, podemos citar a dobra de terra, para exemplificar como funciona a dobra do som. Os dobradores de terra sente a vibração no solo e a vibração é enviada pelo corpo, até o centro de comando, o cérebro. Lá, ela é decodificada e reconhecida, traduzida e utilizada. A dobra do som também. O dobrador de ar lança o som e ele retorna do paciente, em vibrações no ar. Se há uma anomalidade, ele reconhece. Até uma simples gripe não passa despercebida pela dobra do som.

Quando o doutor terminou a fala, houve uma onda de aplausos altos, e algumas ovações.

─ Amor! ─ chamou Azsa. ─ Olha só o que você conseguiu fazer! O doutor está explicando tudo, na televisão...

Desvio meu olhar da janela e olho a televisão. Azsa sorri abertamente para mim, do jeitinho que eu gosto de ver. Eu a amo. Sento-me do lado dela, olhando para a televisão. Passo meu braço ao redor dela e continuamos a assistir.

─ Iremos fazer uma pequena demonstração. ─ o doutor ergue um braço, chamando alguns pacientes.

Mas eles param. A câmera e os microfones captam gritos terríveis vindos de não sei onde. Há algumas explosões, nas quais o doutor é lançado para trás e cai desmaiado. Os pacientes correm, antes mesmo que a gente possa ver outra coisa e a câmera muda de lugar, mostrando o que está acontecendo. Um ataque! Dobradores de água, vestidos com uniformes metalizados, saem correndo, dobrando água, sangue e gelo, transformando a sala de impressa num caos por inteiro.

Olho para Azsa e ela sabe o que penso, pois já está se erguendo da cadeira, pronta para sair correndo. Ela vai na direção da porta, quando o primeiro tremor toma conta do palácio presidencial. Seguro a mão dela e estamos correndo o máximo que podemos. Precisamos ajudar. Olho para ela, ela parece determinada, mas no fundo, posso enxergar o medo, nos mesmos olhos, pelos quais me apaixonei. Sinto medo de deixá-la sozinha, portanto, seguro mais firme em sua mão. Já vi o poder de Azsa em ação e sei que ela é forte o suficiente.

Estamos no hall de entrada da mansão, quando vejo Meelo saltar do último degraus, correndo, suas vestes ondulando atrás dele. Ele não precisou dizer nada, para mim, eu já estava correndo ao lado dele e de Azsa e já sabíamos para onde deveríamos ir. Meelo girou o corpo, quase abaixando-se, para expelir uma onda de ar, que escancarou as portas. Saímos para a rua, quando vimos no céu.

Aviões turquesas, vindo em formação, estavam deslizando pelo céu, em silêncio. Uma dúzia deles. Olhando para aquilo, senti uma sensação fria se alastrando pelo meu corpo, conforme eles avançavam na direção da cidade. Alguns dobradores de água estavam nos olhando e lançaram diversas estacas de gelo. Meelo e Azsa dobraram ar e fofo e as estacas se desviaram, indo acertar o concreto da mansão, os jardins, exceto a gente. Azsa avançou, os pés envoltos das chamas, fazendo-a flutuar. Ela girou o corpo no ar e uma labareda poderosa de fogo cresceu, lançando alguns dobradores de água contra a parede dos prédios do outro lado da rua.

Meelo golpeou o ar diversas vezes e as lufadas poderosas de vento nasceram e causaram barulhos surdos, conforme iam acertando seus adversários.

─ Cuidado com a dobra de sangue! ─ berrei, antes de perdê-los de vista. Sinto o medo em mim.

Deixo o poder Avatar se alastrar por mim. Sei que meus olhos brilham, não preciso ver um reflexo meu, pois todos os meus sentidos estão aguçados. O ar ao meu redor se move potente, fazendo meus cabelos e vestes ondularem também. Estendo minhas mãos para frente e movo meus dedos. Giro as palmas das mãos para cima, e do solo, duas enormes pedras se desprendem. Elas flutuam ao meu redor. Agora posso ouvir o barulho dos aviões no céu. Movo minhas mãos de baixo para cima e as pedras dobradas se tornam enormes lanças, que voam contra a esquadrilha de naves. Ouço o zumbido das lanças cortando o ar e acertando as naves. As explosões deixam rastros de fumaça e fogo pelo céu. As naves que se safaram do meu ataque emergem das ondas de fumaças cinzas e iniciam o que elas vieram fazer aqui.

─ Bombas! ─ berrou alguém.

Dos aviões que restaram, eu podia ver, as bombas caindo como pequenas formigas potentes. Elas zumbiam no ar e quando acertaram o solo, eu senti o impacto, mesmo de longe. A explosão fez tudo tremer e me lançou para trás; seis cogumelos gigantes de fumaça se ergueram, ganhando altura e os céus. Os gritos e sirenes ecoaram potentes pela cidade.

Deixei o fogo surgir de meus pés e como propulsores, eles me deram a capacidade de voar. Aterrissei num prédio alto, rolando de qualquer jeito pelo chão. Suspirei e deixei que o ar inflasse meus pulmões. Girei meu corpo no mesmo lugar e dei um potente soco, fazendo o fogo emergia num fluxo contínuo, queimando dois aviões. A explosão alta fez meus ouvidos doerem e as naves caíram nas ruas. Dali de cima, pude ver a água sendo dobrada em diversos pontos da cidade. Meus olhos se encheram de cenas caóticas, enquanto a invasão ganhava força.

Disparei fogo em diversos aviões e os mais desprevenidos, caíam e sucumbiam diante de meu poder. As naves da Cidade da República estavam no céu em poucos instantes e a batalha aérea foi intensa. Consegui enxergar Rohan numa das naves, berrando comandos, que eu não ouvia. A troca de tiros e bombas foi completamente doentia. As naves que caíam causaram os primeiros incêndios. Kyle apareceu de repente, em cima de uma onda gigantesca de água, arrastando consigo, um número considerável de soldados invasores. Entro novamente no Estado Avatar, antes de disparar inúmeros tiros de fogo, os quais acertam mais algumas naves. As explosões são mais fortes, o que me faz rolar até a beirada do prédio.

Há diversos dobradores de água, fogo e terra pelas ruas, defendendo a cidade também. Alguns dobram raios e cristal, num show intenso de cores, contra os dobradores de água. Os cristais zumbiam todas as vezes que passavam rasgando o ar, contra as aeronaves. Diversos aviões explodiam, enquanto alguns dos soldados de Jaya conseguiam escapar. As explosões eram altas o suficiente, para ecoarem pela cidade. Corri o máximo que pude. Lancei-me do prédio e o fogo brotou das plantas do meu pé, impulsionando o meu corpo. Sei que tentaram me acertar no ar, pois uma estaca de gelo passou a poucos centímetros de mim, zumbindo potente. Meus olhos estavam aguçados. Consegui lançar fogo contra meus atacantes, antes mesmo deles conseguirem dobrar a água contra mim novamente. Aterrissei.

Ao meu redor, haviam montanhas de carros quebrados, virados e pegando fogo. Soldados da Lótus Branca lutavam em companhia de alguns cidadãos, os berros e os elementos ecoando pela rua. Quando fui ajudá-los, eu notei algo.

Uma das grandes árvores da avenida continuava imóvel no seu lugar na calçada. Um tom amarelado se espalhava pelo seu tronco, tomando conta de todo seu corpo. Lentamente, o tronco começou a se torcer e quando me dei conta, as outras árvores estavam se comportando da mesma maneira. Meus olhos foram na direção das folhas, que caiam mortas lentamente. Olhei para o céu, na procura de algum avião, mas tudo o que pude ser, foi o sol aparecendo por entre as nuvens, que lenta e suavemente, se dissiparam sobre nossas cabeças. O calor do sol se alastrou de repente. As árvores definharam e caíram ao meu redor, parcialmente chamuscadas pelo calor e falta de água. Aquele era o poder dos dobradores de água de Jaya?

Corri para o centro da cidade, olhando para todos os lados. Pulei no ar e meu pé lançou uma coluna de fogo contra dobradores de água de Jaya. Eles dobraram a água e criaram um escudo. Lancei diversas labaredas, dando socos potentes no ar. O fogo queimou o ar ao redor, conforme avançava contra os meus inimigos. Entre no Estado Avatar e continuei a lançar o fogo. Os poucos inimigos que conseguiam se defender utilizando a água, em movimentos suaves, estavam cansando, eu notava em seus movimentos lentos. Lancei minhas mãos no chão e meus dedos fincaram na terra. Girei os punhos e a terra se espalhou como areia movediça. Meus inimigos afundaram. Corri.

As explosões ecoavam ainda. Diversos aviões sobrevoavam nossas cabeças, lançando bombas por toda a cidade. A fumaça se desprendia dos incêndios, e o calor insuportável já me fazia suar, encharcando minhas vestes. O chão tremeu, quando alguns soldados da Lótus Branca, unidos, lançaram uma gigantesca rocha contra um avião gigantesco. A nova explosão sobre os prédios, poderosa, lançou-nos para trás e a pressão fez com que eu caísse sobre as pedras. Ergui-me rapidamente e me juntei a esses soldados.

─ Juntos! O Avatar está aqui!

Fizemos os mesmos movimentos: pulamos no ar, girando nossos corpos. As pedras se desprendiam como balas de revólveres, zumbindo e acertavam os aviões. Entrei novamente no Estado Avatar. Soquei o ar de baixo para cima e uma pedra se ergueu. Era maior do que eu, muito maior. E aguardei. Quando outro avião passou, dei um soco na rocha e uma lança de pedra se desprendeu e acertou o avião que passou veloz. Fogo tomou conta dele e ele caiu entre os prédios.

─ Atenção, imitem o que estou fazendo! ─ berro. Um dobrador de terra toma meu lugar e as estacas de pedra voam velozes contra os aviões.

Continuo a correr, pois sei que uma ameaça maior se aproxima de nós, e temo que essa ameaça prejudique quem eu amo. Eu já sinto indícios de cansaço, quando dobro a esquina e vejo Azsa, com os cabelos ao vento, lutando sozinha contra vários homens dobradores de Jaya. Corro na direção dela, antes de pensar em qualquer coisa. Seguro-a pelo braço. Outros dobradores de água estão ao nosso redor. Novos chegam. Eles somam dezenas. Olho para eles. Sinto meu corpo perder o controle, quando um deles utiliza a dobra de sangue em mim. Meus ossos estalam num som perigoso, como se eu fosse quebrar a qualquer instante; a dor é excruciante.

─ Vocês não vão me matar! ─ grito.

Entro no Estado Avatar e o vento ao meu redor fica intenso e poderoso. A dobra de sangue já não mexe comigo, ao ponto que eu cuspo o fogo causticante contra meus inimigos. O fogo queima ao redor, enquanto Azsa dispara potentes labaredas ardentes. A minha namorada dá uma rasteira no chão e as chamas tomam conta do chão, derrubando outros dobradores inimigos. Dou um urro e o fogo voa em todas as direções. Azsa usa do meu fogo, para produzir os ataques dela e unidos, conseguimos derrubar todos. Seguro as mãos dela e saímos em disparada.

Um balão de guerra com a insignia da polícia sobrevoa nossas cabeças. Os dobradores de metal lançam os cabos sobre diversos dobradores de água de Jaya e os ergue no ar. Consigo ver o choque elétrico percorrer o metal e desacordar diversos dos invasores. Azsa larga minha mão, no instante preciso, no qual ela dá um mortal no ar. O fogo se desprende do seu pé, criando uma enorme coluna, que queima a água que ia nos acertar. Somos mergulhados num véu delgado de vapor, no qual recebemos diversos ataques. Junto meus braços na minha frente e a terra se eleva numa maciça defesa impenetrável. Beijo Azsa nos lábios.

─ Amor, pegarão o presidente Meelo. ─ Azsa ofega cansada, enquanto segura meu braço, trêmula. ─ Jaya está com ele no palácio presidencial.

Olho para ela, imóvel. As ideias não se conectam com a realidade.

─ Ele também prendeu os ministros. Precisamos fazer algo...

─ Não. ─ eu falo. ─ Eu preciso fazer algo.

Olhando para os olhos de Azsa, eu noto meu reflexo. Meus olhos brilham intensamente, ao ponto que meus cabelos rodam ao redor de minha cabeça. Minha trança se desfaz e as vestes dançam conforme o vento açoita meu corpo. Largo a mão de Azsa e permito que o fogo nasça novamente das solas de meus pés. Dobro meus joelhos e quando deixo que o impulso me leve, tudo o que deixo para trás é o solo trincado, pela pressão de meu poder. O grito preocupado de Azsa morre atrás de mim e eu permito que os ventos levem meu corpo. O fogo emite um cheiro de queimado, ao mesmo tempo que a sensação do calor toma conta de mim. Voo pelo céu, desviando das bombas que caíam e dos sucessivos ataques que eu era alvo. Quando avisto o palácio presidencial, desço.

Aterrisso de modo barulhento e firme. O chão ao redor de meus pés fica negro por causa do fogo e trincado. Ele cede. Meus cabelos rodam ao redor de minha cabeça, negros como a noite. Ergo minhas mãos, fazendo força e as pedras se elevam do solo, grandes o suficiente para esmagar qualquer um. É necessária muita força física para mantê-las ao meu redor, pairando.

─ JAYA! ─ grito com potência. Minha voz soa como diversos tons e grossa. ─ Apareça seu covarde maldito!

Giro meu corpo, junto dos meus braços e as pedras acompanham os movimentos. Quando abro meus braços, as pedras voam nas quatro direções e explodem os carros e os dobradores de água. A pedra da minha frente bate contra o palácio presidencial e explode em diversas pequenas pedras. O chão treme ao meu redor. Cuspo fogo para frente, enquanto meu berro preenche o ar. O fogo se alastra na direção do palácio e as janelas cedem ao calor, quebrando, o vidro se espatifando contra a cabeça da maioria dos soldados.

A onda surgiu de cima do palácio presidencial. A água veio na minha direção num potente jato, que eu parei antes mesmo de me acertar, estendendo a mão. A água explodiu em milhões e milhões de gota, parecendo chuva. Jaya surgiu, em cima de uma onda, e veio na minha direção. Movi meu braço e o fogo queimou na direção dele. Jaya saltou para o lado e rolou no chão. A água que ele usava como apoio, congelou. Quando ele se recompôs, a água voltou ao estado líquido. Jaya girou ao redor de si mesmo e a água copiou seu movimento e acertou-me em cheio, quando mandada para frente. Rolei para trás, bati a cabeça e a dor aguda se espalhou sobre meu corpo.

Choquei-me contra uma parede de um prédio. O prédio tremeu perigosamente e desabou atrás de mim, levando consigo outros prédios. Ergui-me quando vi Kyle. Eu ia berra o nome dele, mas era tarde demais.

Kyle girou as mãos ao redor da cabeça, depois o corpo. A água de seu cantil se ergueu voraz, desprendendo vapor. O choque da água contra Jaya emitiu um ruído doentio, no qual eu sei que a queimadura aconteceu. A água fervente jogou Jaya contra uma das enormes janelas do palácio presidencial. Corri na direção de Kyle, olhando-o. A dor se alastrava sobre meu corpo, mas eu não ia permitir que ela me danasse naquela hora. Respirei fundo, dando diversos socos de baixo para cima. As estacas nasceram da terra e fluturam ao meu redor. Quando haviam dez, eu fiz o movimento e elas entraram pela mesma janela que Jaya entrara, numa tentativa minha de matá-lo. Quando as estacas penetravam pela janela, o barulho do choque das rochas, contra o que fosse lá dentro, era alto o suficiente. A poeira se ergueu numa cortina, saindo de dentro da casa.

Os aviões continuaram a voar. Eu só tive tempo o suficiente para puxar Kyle, antes da bomba explodir a poucos metros. Mesmo com um escudo de terra, fomos lançados contra um carro virado. Senti minhas costas cederem ao impacto, no mesmo instante que meus dedos perderam o casaco de Kyle. Gritei de dor. Senti minhas costas quentes e úmidas. Talvez fosse apenas o sangue.

Quando me ergui, olhei de relance o céu e reparei que os aviões da Cidade da República não mais sobrevoavam.

As novas bombas do exército de Jaya estavam próximas, quando avistei um ponto laranja sobre a mansão.

O ponto laranja girava no mesmo lugar sempre, disparando rajadas poderosas que ar, que emitiam sons abafados. Lutava contra dez dobradores de água, conforme o ar fluía de seus movimentos giratórios. Girava em pé, muitas vezes na altura do chão, mas o ar sempre o obedecia e ele continuava a reduzir a água a pequenas gotículas inofensivas. Os primeiros dobradores de água, da invasão, acabaram caído do telhado e se espatifaram no chão.

O presidente Meelo juntou as mãos, num último golpe mortal e a esfera de ar ao redor dele se expandiu, lançando todos para fora de seu alcance. Nesse instante, noto os grilhões ao redor dos pulsos e tornozelos dele. Meelo lutara com os braços e pernas amarrados. Meus olhos são puxados para outro detalhe.

Jaya emergiu do portal destruído da mansão presidencial. Quando olho a face dele, sinto nojo. A pele está queimada com diversas manchas, bolhas e o ferimento está tão vermelho, que eu sinto a dor pelo meu inimigo. As mãos dele também estão do mesmo jeito, da mesma forma... Em carne viva. Mas ele não parecia sentir dor, tampouco parecia sofrer. Jaya saiu dos escombros da mansão, olhando-me com um prazer, deveras, monstruoso. Quando olhei mais atentamente para o homem dobrador de água, notei que as feridas estavam se... curando!

─ Kyle, olhe!

Jaya tocou a pele recentemente curada e eu apenas me abstive a assistir aquilo, surpreso demais.

─ A cura através do sangue. A imortalidade. Soube que você, Avatar Yan, experimentou a cura através do sangue, não? ─ Jaya sorriu. ─ Vou matar cada um dos estudiosos dessa habilidade e apenas eu terei esse poder.

Jaya ergueu as mãos, pronto para atacar, quando Meelo aterrissou na minha frente, em silêncio, as mãos amarradas pelas algemas metálicas, prontas para nos defender. Eu sentia o chão tremendo, sentia as bombas sendo constantemente lançadas e conseguia ver a fumaça ao redor, na cidade. Mas o mundo parecia em silêncio, como se respeitasse aquele momento único. Kyle dobrou a água e quebrou as algemas dos punhos do presidente e dos tornozelos. Eu estava com medo.

─ Jaya, pare o ataque imediatamente! ─ ordena Meelo. Ele nunca pareceu tão velho quanto agora.

─ Entregue-me o Avatar.

Jaya girou o corpo e a água de seu cantil ergueu-se perigosamente como uma serpente. Ele moveu os dedos e a água seguiu na nossa direção. Meelo empurrou a mão direita na frente do corpo e um escudo de ar se projetou ao nosso redor. A água caiu como chuva, molhando-nos, inclusive a Jaya. Ele riu.

Meelo assoviou alto o suficiente. Olhei para ele sem entender.

─ Antes de Korra morrer, ela me fez prometer que eu sempre protegeria você Kyle, assim como o próximo Avatar. Eu estou fazendo isso agora.

Quando Meelo terminou de falar, tudo o que senti foi o chão se soltando de meus pés e distanciando de mim. Jaya deu um grito doentio, enquanto eu era içado do chão. Meelo o atacou e eu o vi pela última vez, desviando da água e jogando uma lufada de ar contra o tirano. Azsa gritou, Kyle se debateu e tudo o que eu pude fazer foi fechar meus olhos. Chorei.


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Notas finais do capítulo

Meelo, herói! *----*