Era alguma hora entre meia-noite e duas da matina.

Música preenchia o meu ser, sua batida causava pressão em meu corpo e as luzes piscavam de forma hipnotizante. Eu dançava com uma morena gata e nossos corpos estavam colados em uma dança sensual e ritmada. Virei-a de frente para mim e juntei nossos lábios invadindo sua boca. O gosto de vodca poderia ser tanto dela quanto meu. A fase beijo de cinema acabou e eu me separei dela a largando no meio da pista, indo buscar uma nova bebida.

- Esse é um recorde! – exclamou Frank atrás de mim – Leo Valdez conseguiu ficar com uma garota e deixá-la no meio da pista depois de três minutos. Demorou mais tempo que o normal.

- Conheço o tipo dela. – falei com um sorriso sacana – Só libera depois de dançar.

- Você é o pegador mais barato que eu já conheci. – ele riu.

- Eu só me aproveito do meu charme.

- Ou das garotas. – ele disse bebendo mais um gole de sua bebida azul.

- Dane-se. Eu sou irresistível.

Frank começou a engasgar com a bebida de tanto rir e eu me limitei a arquear as sobrancelhas.

- Vamos ver se você ri com a pergunta que eu vou fazer pra você. – avisei.

- Manda.

- Quantas garotas você já pegou nessa festa?

- Sete. – ele disse confiante. Pobre Zhang.

- Catorze. – sorri.

- Então você quer ser o maioral, Valdez?

- Eu já sou o maioral, Frank.

- Então eu te desafio. – falou – Você vai ter que dar uns pegas naquela gata ali.

Eu olhei para onde ele havia apontado. Sentada num sofá, uma garota de cabelos loiros olhava para os cantos bebendo um drink violeta. Os cabelos ondulados estavam com um ar sexy, como se houvesse sido penteado pelo vento, os olhos amendoados contornados por delineador e rímel. O corpo era curvilíneo e coberto por um short desfiado e um blusa de alças avermelhada. O que mais me chamou a atenção foi sua boca sem sinal de gloss ou batom, mas com um tom carmim afrodisíaco e pelo jeito de seu bronzeado, não parecia ser de Houston ou muito menos do Texas. Várias pulseiras adornavam seu pulso e uma correntinha no pescoço escrito “Miami”. Uma garota que levaria a loucura qualquer idiota, inclusive eu.

Passei a mão em meu cabelo o desarrumando mais do que já estava e bebi de um só gole a bebida que descia queimando e rasgando minha garganta. Sorri para Frank, era óbvio de que o desafio já estava ganho, afinal, quem não cai de amores por Leo Valdez?

- Sabe... Tem algo estranho aqui. – sussurrei no ouvido da garota por trás, fazendo com que a mesma quase caísse da ponta do sofá aonde estava sentada.

- Você realmente tem razão, se que eu nunca vi na vida. – respondeu irritada analisando metade de sua bebida perdida ao cair no chão – É realmente estranho você ir á uma festa e tentar descansar um pouco antes de voltar pra pista de dança e um garoto simplesmente te jogar e fazer você perder metade do seu drink preferido.

- Calma aí, gata. – falei abrindo meu sorriso de lado que faria metade de Houston disputar por ir comigo pra cama.

- Da última vez que chequei eu não era um gato, e sim um ser humano. – falou ríspida.

- E se que tal se eu te pagar m novo drink? O que acha?

- Não nasci ontem! – exclamou me analisando – Você tem cara de quem colocaria boa noite Cinderela no drink pra eu ir pro quarto com você, mas adivinha? Eu não sou uma dessas vadias que você está pegando desde que a festa começou.

- Como sabe que eu só fiquei com vadias desde que a festa começou?

- Eu... Eu não disse isso. – falou nervosa passando uma mecha do cabelo por trás da orelha.

- Bom, até agora não negou estar me olhando.... Devo adicionar você no grupo de whatsapp do Team Leo?

- Team o quê? Não! – gritou – Olha por que você não dá o fora?

- Porque você não me disse seu nome ainda. – respondi com um sorriso de lado. Aquele desafio era extremamente divertido, ela se irritava fácil demais e eu simplesmente me alegrava com isso.

- Ana. – ela bufou – Ana Smith.

- Conta outra. – ri – Tá basicamente estampado na sua cara que acabou de inventar esse nome. Tirou da onde? Do Facebook com três milhões de Ana Smith espalhadas pelo mundo?

- Me chame do que quiser... Eu não vou revelar meu nome.

- Então eu não revelo o meu. – retruquei. O jogo ficava cada vez mais animado.

- Primeiro: por que eu gostaria de saber seu nome? Segundo: você já me disse seu nome... Leo, certo? – ela falou com a língua ferina.

- Vou te chamar de Garota Irritante. – falei aleatoriamente e tentando mudar de assunto.

- Garota Irritante? Por que não me surpreendo com o nível de criatividade? Oh, eu lembrei! Você não tem nenhuma, acertei?

Bufei irritado e a prendi pelo braço e a levando para a parede onde a prendi com o meu corpo.

- Afinal, quem você é? Parece ter me observado bastante durante a festa, pois se duvidar sabe até quais movimentos minha língua fez na boca de cada garota, com certeza não é daqui, o estilo é diferente de qualquer garota de Houston. – falei explodindo, a bebida diminuía minha paciência pra qualquer um – Se eu chutasse diria que é da Flórida e que está passando as férias aqui e que se sentiu atraída por mim. O que te incomoda tanto? Precisa de um beijo para finalmente parar de parecer mal comida?

Seus olhos estavam arregalados depois de cada palavra que cuspi em sua cara, eu até poderia ter me sentido um idiota se eu realmente me importasse e não estivesse sob efeito alcoólico. Um minuto se passou e ela estava com a mesma expressão, os olhos pareciam querer derramar uma única e solitária lágrima e eu finalmente senti meu estômago embrulhar por fazê-la se sentir mal, afinal, por que eu havia sido tão idiota?

Valdez, você é o pegador mais barato que eu conheço. A voz de Frank ecoava em minha mente e eu mentalmente concordei com ele.

- Quer saberw Eu provavelmente estou ficando louco com esse ambiente daqui. Vamos tentar mais uma vez? – ela me olhou receosa – Prometo que na primeira vez que eu for um idiota te deixo ir embora sem pegar qualquer informação sua.

Um sorriso destacou-se em seus lábios carmins e levemente molhados. Era como a bonanza depois da tempestade.

- Jura? – ela perguntou e eu abri meu sorriso inocente assentindo com a cabeça.

O vento quente de Houston bateu contra a minha pele como um sopro do inferno e meu cabelo encaracolado se agitou aos poucos assim como o da Garota Irritante.

- Por que me trouxe aqui ? – ela perguntou sentando ao meu lado nos degraus da casa onde a festa acontecia.

Encarei o céu estrelado e pacífico, aqui fora estava tão calmo, tudo na mais perfeita hora e o ar puro enchia meus pulmões me deixando com uma sensação estranha de liberdade. Dois lugares tão perto um do outro separados por uma porta e desse mesmo jeito tão diferentes.

- Vamos fingir que nunca houve toda aquela discussão lá dentro, ok? – pedi ignorando sua pergunta.

- Finja que eu estou acreditando.

- Então, de onde você é? – perguntei voltando a encarar a escuridão.

- Devo mesmo dar essa informação á você? – falou me encarando e eu encarei seus olhos castanhos.

- Prometo que não irei te perseguir. – falei rindo e pela primeira vez naquela madrugada ouvi seu riso romper o silêncio da rua.

- Sou da Flórida, Miami, na verdade. Vim visitar minha amiga que mora aqui e ela simplesmente me fez vir pra esta festa.

- Te largou sozinha sentada no sofá bebendo um drink violeta e foi trocar saliva com outros caras?

- Na verdade, ela estava tentando ficar com você. – ela revelou – Por isso fiquei te observando. No fim, provavelmente ela desistiu e ficou com a opção número dois, mas estou impressionada com sua popularidade.

- Como assim? – questionei.

- Ela me apresentou umas amigas dela, todas querendo ficar com você e já estavam até planejando a ordem de cada uma. Elas dizem que você tem um estilo despojado, mas eu não o classificaria assim.

- E como me classificaria? – perguntei interessado, dessa vez encarando sua boca.

- Você tem uma aura de tristeza, como se houvesse perdido algo importante, ao mesmo tempo que seu olhar parece misteriosos pra mim. E você não diz a palavra.

Comecei a fazer leves carícias em seu rosto desenhando em suas maçãs algo que nem mesmo eu sabia.

- E qual é essa palavra?

- Eu te amo. – ela suspirou de olhos fechados – Tecnicamente é uma frase, mas você não parece o tipo de cara que fala isso.

- Vai ver porque como eu gosto de pensar, é preciso saber se é amor verdadeiro ou apenas mais um ataque de loucuras.

- E como você classificaria o amor? – ela me questionou mais uma veza inda de olhos fechados.

- É a luz, uma luz que eu finalmente percebo que preciso ver. – repliquei. Meus dedos enrolados em seu cabelo fazendo carinho.

Ela abriu um sorriso. Um sorriso misterioso abrindo novamente seus olhos e encarando a noite.

- Tente a sorte. – falou aleatoriamente, mas eu incrivelmente entendi, ela havia me dado uma chance. Não saira de meu lado enquanto falávamos e agora me dava uma chance de ganhar o desafio.

- Você é um desafio. – falei – O meu desafio.

Puxei seu rosto para perto do meu e acariciei suas maçãs do rosto delicado. Ela não era “gata”, era bonita e há uma diferença entre esses contextos. Encarei sua boca e seus olhos do mesmo jeito que fazia comigo.

- Faça. – falou suspirando.

Meus lábios foram de encontro com os dela. Um longo selinho seguido por outro e outro. Ela era viciante e eu não queria que aquele fosse um beijo do tipo “ Hey! Sou Mark e tenho 11 aninhos!’, então, movi uma de minhas mãos para sua nuca aprofundando mais seus beijos em meus lábios sedentos por ela. Minha outra mão parou em sua cintura fazendo carícias ali. E não era assim, eu era invasivo, um pegador nato sem se deixar apegar, mas eu simplesmente não queria deixar que ela fosse.

Seus lábios se entreabriram com meu pedido silencioso e aprofundei seu beijo. Sempre achei estranho descrever como era um beijo, por isso, descreverei como era seus lábios por meu toque no escuro. Macios, exalavam o perfume de seu hálito alcóolico e eu sentia de leve o sabor do resquício de seu gloss sabor uva. Eu gastava meus pulmões para manter aquele momento, morreria sem ar. A Garota Irritante separou seus lábio do meu passando a língua por cima de seus lábios agora mais avermelhados.

- Calipso. – falou sem fôlego.

Meu cérebro parecia bugado, eu apenas queria aquela sensação maravilhosa novamente.

- O quê?

- Queria saber meu nome certo? Acabou de saber. – ela falou com um sorriso.

- E o que isso significa?

- Que aceito o drink que queria me pagar. – falou com um sorriso maroto brincando em seus lábios.

Eu tinha razão... Ela era minha loucura. Me deixava doido.