I Do Remember escrita por Liz


Capítulo 1
Capítulo 1 - Some Facts


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem *-*



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A porta de ferro bateu.

Mesmo lá no fundo do corredor, eu conseguia ouvir todas as portas de ferro enferrujado que batiam lá na frente. Era assim que funcionava no manicômio – ou Hospital Psiquiátrico, como as pessoas mais formais gostam de chamar – St. Mary Of Sinners, em Los Angeles. O nome já diz tudo: somos todos pecadores. Pelo menos, é o que eles pensam.

Talvez eu realmente seja uma pecadora pelo meu passado traumático e pelos meus atos inconsequentes, mas tudo na vida acontece por causa de algo. Foi assim na minha vida.

Faz duas semanas em que estou na Solitária – nome dado ao lugar onde os piores pacientes passam alguns dias para reverem suas atitudes e quanto mais atitudes ruins ele tem, mais tempo ficam no lugar. E há um mês que estou aqui em St Mary Of Sinners. Todos podem imaginar o anjinho que eu sou.

Me deram como louca assim que encontraram os corpos. Eu estava realmente louca, porque comecei a falar coisas psicóticas e eu mesmo reconheci isso. O fato mais marcante foi a faca na minha mão. No início, eu era uma assassina, no fim, eu era uma maluca bipolar.

Transtorno Bipolar? Não mesmo. Eu não mudo de humor de um minuto para o outro. Mas então eu entendi que eu deveria fazer isso se não quisesse ir para a cadeia ou algum lugar pior. Imagina só: uma adolescente de dezesseis anos presa por matar três pessoas? Parece ridículo, patético e até engraçado, mas não é a questão quando uma dessas pessoas é a sua irmã mais velha.

O meu luxuoso quarto na Solitária é muito pequeno. As paredes eram para serem brancas, mas ficaram tão sujas que estão quase marrons e pretas. A cama de solteiro parece aquelas de hospitais, só que piores e é toda branca, porém, acabaram ficando sujas depois de duas semanas. Tinha uma porta que levava para o banheiro, mas era impossível ficar mais de dois segundos lá dentro. Porém, algumas vezes não dava para evitar.

Hoje é um dia muito especial. Uma nova psicóloga vai vir me visitar e tentar entender os eventos traumáticos. No início, eram muito traumáticos sim e eu tinha muitos pesadelos. E então, depois, eu entendi que tudo deveria acontecer porque eu sou uma puta de uma sortuda.

Vários psicólogos já vieram. Mas todos eles eram iguais. Não ligavam para os meus problemas, aliás, não ligavam para os problemas de ninguém. Só queriam dizer que fizeram o trabalho e ganhar dinheiro para poderem se aproveitar com bebidas e prostitutas. Sim, as mulheres também.

A psicóloga de hoje é Rachel Walters. Pelas minhas intuições – que nunca falham –, Rachel deve ser uma alta, loira, de nariz empinado, pele clara e com maquiagem exagerada do tipo ‘’palhaça’’. Vai vir com uma pasta enorme de papéis, me perguntar alguma coisa, não vai se interessar pela resposta e vai sair como se nada na vida dela tivesse mudado.

Pronto. Fim do dia especial.

Os passos ecoaram mais perto. Eu sabia quem era. O meu amigo Michael Big Black – era assim que eu o chamava: enorme, quase gordo e negro e muito, muito insuportável. Michael era o enfermeiro que cuidava de mim desde que eu fui parar na Solitária. Ele também tinha um apelido muito receptivo para mim, aliás, para todos os pacientes que ele cuidava.

A porta se abriu em um estrondo.

– Ei, retardada. – Não disse que era um apelido muito receptivo? – A Sra. Walters chegou. Trate-a muito bem e sem mimos. Não tenho tempos para dar remédios e colocar camisa de forças nesse seu corpo magrelo. Vamos.

E eu já desisti a muito tempo de tentar revidar todas as coisas que ele me dizia.

Levantei da cama e segui Michael Big Black pelo longo corredor da Solitária. Todos nós – loucos, maníacos, pirralhos grandes, doentes mentais, retardados, assassinos – usávamos a mesma roupa. Uma blusa branca de mangas curtas de seda pobre e calça larga do mesmo tipo. Na maior parte do tempo, ficávamos todos descalços, nos lambuzando como crianças de dez anos. Eu fiz alguns amigos e admito: eles eram muito legais.

Subi pela escada como de costume. Agora, estava em um corredor todo coberto pela luz do sol. No meu quarto na Solitária, não existia a palavra ‘’sol’’. Apenas uma única luz no quarto e no pequeno e sujo banheiro. Era mais bonito ali em cima. Várias cadeiras brancas estavam espalhadas pelo lugar. Alguns velhos estavam sendo nelas, tricotando e balançando a cabeça de um lado para o outro. Alguns loucos mais novos caminhavam com um sorriso malicioso no rosto.

Michael me empurrou para a uma sala pequena e todo branca, como de costume do manicômio. No centro, havia uma mesa pequena de madeira com duas cadeiras, uma de cada lado. Eu relutei em sentar e Michael, com a sua grande e gorda força, me obrigou a sentar. Ele saiu da sala apressado, não sem antes de avisar para eu ficar bem quietinha ou eu ir me arrepender. Que amigo!

Alguns minutos se passaram e a porta se abriu novamente. Uma mulher de estatura média, negra, de cabelos crespos e curtos entrou na sala. Ela usava uma blusa de botões vermelha e uma saia justa preta que chegava aos joelhos, acompanhada por uma meia calça e um sapato preto de salto baixo. Uma bolsa marrom clara estava em seus ombros e uma pasta transparente estava em suas mãos, quase caindo. Deu para perceber vários papéis saindo dela e a mulher estava com dificuldade para segurar tudo.

Essa era a Rachel Walters? Meu Deus, minha intuição falhou.

Eu quase me levantei para ajudar, mas decidi continuar sentada na cadeira. Rachel derrubou as pastas na mesa e se sentou na outra cadeira. Ela tirou os óculos da bolsa enorme que carregava e abriu as pastas, tirando alguns papéis. Rachel observou atentamente alguns, até finalmente se virar para mim.

– Rose Chester?

– Sim?

– Meu nome é Rachel Walters – ela se apresenta. – Fiquei interessada no seu caso. – Que ótimo! – Mary, Paul e Oliver Hamilton foram encontrados mortos em sua casa há um mês. Mary era sua irmã, Paul o marido dela e Oliver seu sobrinho de três anos. Correto? – Eu assenti. – Todos te julgaram como louca e te jogaram aqui. Mas você não me parece nem um pouco louca.

Dei de ombros.

– Ah, você sabe – eu disse. – Todos aqueles calmantes e camisas de forças. Você aprende a ser bem calminha e não causar problemas.

– É por isso que está na Solitária há duas semanas? – Rachel indaga e me encara. – Apenas quero a verdade, Rose. E você tem que me dizer.

– Tudo bem – eu concordei. – Era uma noite de tempestade. Eu acordei delirando e fui para a cozinha. Estava meio mal e encontrei o Paul na cozinha. Pensei que era um ladrão. Peguei uma faca e o ataquei. Mary apareceu na cozinha com Oliver e eu pensei que eles eram cúmplices e os ataquei também. Finge que era doida e vim parar aqui. Quantos pontos eu mereço?

– Pela criatividade? – Rachel pergunta. – Bem, nenhum. Mas pelo modo como age, como se não se importasse com o que aconteceu, sim, você merece um dez.

– Oh, muito obrigada – falei com ironia. – Vou ter aulas de criatividade com o Michael Big Black. Ele é um mestre!

– Eu tenho certeza que sim – Rachel fala sem nenhuma emoção.

Ela voltou a olhar os papéis que trazia na pasta. Eu estava ficando impaciente. O que ela queria? Fingir que se importava com o que aconteceu? Eu não preciso disso. A única que tem que se importar já se importa. Eu vou sofrer com isso pelo resto da minha vida e não preciso de todo mundo me lembrando o que aconteceu e que eu que o fiz.

– Julian Collins. – Aquele nome saiu como um soco na minha cara. – Ele te visitou todos os dias nas duas primeiras semanas em que você esteve aqui. E você nunca quis vê-lo.

– Não o conheço – disse simplesmente, tentando parecer indiferente. – E nunca vi mais insistente.

– Não é o que ele me disse – diz ela com os olhos nos papéis. – Julian era seu amigo há dois anos. Por que não quis recebê-lo, Rose?

Eu abaixei a cabeça. Não queria dizer a ela sobre Julian. O garoto mais idiota que eu já conheci na minha vida e o que mais me ajudou. Ele sabia de quase todos os meus segredos e com certeza, era um dos garotos mais bonitos que eu já havia visto na minha vida. Seus olhos azuis continham a bondade do mundo e aquela cumplicidade que tínhamos desde que nos conhecemos. Os cabelos castanhos, quase pretos, sempre ficavam esvoaçados pelo vento e ás vezes, tampavam os seus belos olhos. Julian não merecia me ver assim.

– Rose?

Eu levantei a cabeça.

– Eu não queria vê-lo – admiti. – Julian não merecia me ver nesse estado. Sabe há quanto tempo eu não me olho no espelho? Eu não tenho nem vontade de sair daqui como tudo mundo aqui. Eu não quero me lembrar deque algum dia eu tive uma vida que alguns considerariam boa.

– E não era boa?

Não. Era horrível. Perder os pais quando se tem nove anos e ter que ir morar com a sua irmã dez anos mais velha, que tem um namorado que faz tudo por ela e tempo depois, você descobre que ele era um monstro. Paul era o homem mais nojento que eu já havia conhecido. Perto de Mary, ele era um marido maravilhoso. Com o filho, Oliver, era cuidadoso e sempre que podia, estava com ele. Ninguém poderia imaginar que era um psicopata por dentro. E tudo aconteceu justo comigo.

Eu sorri para ela.

– Você quer mesmo ouvir toda a história, Rachel? – perguntei e percebi uma rápida dúvida no olhar dela. – Muito bem. Eu te apresento a minha desprezível vida.


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo, Rose vai começar a contar a história do início ao fim. Os capítulos são alternados: um é no presente, quando Rose está com Rachel e no outro, o passado de Rose.



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