Quando Amanhecer escrita por Clara Luar


Capítulo 13
Desmanches


Notas iniciais do capítulo

Olá! Eu falei que não sumiria (>.0) . Quero deixar um agradecimento a todos que ainda acompanham essa fic e um beijo especial para Lady Holland B e safe pelos seus comentários (responderei em breve >w< ), por favoritarem e acompanharem! Vocês são encantadores :') Boa leitura a todos! ;)



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Fay sai vestindo o roupão branquíssimo. Ao contrário do que deixara, o quarto está intacto. As cortinas estão fechadas como sempre. Os tapetes limpos. O vampiro está sentado calmo em uma das cadeiras da mesa de desjejum, bebericando uma taça de vinho. O cheiro é característico: a bebida é uma mistura de licor e sangue. Nota uma grande caixa retangular sobre a cama, com um laço perfeito embrulhando-a.

O rapaz ergue o olhar do cristal, avalia-a de cima a baixo. Bebe um curto gole. Uma das presas finca em seu lábio inferior a fim de sugar o líquido que escorria. Com um gesto calculado de cabeça, indica a caixa de presente.

— É para mim? — Aproxima-se hesitante.

— Mandei fazer especialmente para hoje, em uma costureira local. – Serve um pouco mais da bebida. A menina não pergunta quem ele matou para conseguir o sangue da receita.

Ela abre o presente. Encontra um vestido rosa de fino tecido, mais belo que cetim. Ergue-o para contemplar melhor. O corpete é maleável, com fitas e pérolas brilhantes. A saia não é rodada como seus vestidos de dia a dia, e sim, escorrido e reluzente. Rendas bem trabalhadas enfeitam as curvaturas. É um vestido simples, elegante e lindo.

Encantada, Fay não acompanha a rápida aproximação de Krad. Num piscar de olhos, ele a veste com o novo vestido, o roupão no chão.

A menina vira-se para o espelho e sente-se a mais bela ao ver seu reflexo. O caimento é ótimo e a faz parecer mais madura. Aninhada ao amante, formam um belo casal. Mas o vampiro temperamental não deveria estar lhe dando presente, estando furioso.

— Krad... – tenta retomar a discussão. Quer explicar-se.

Ele corta a fala erguendo-a no alto. Carrega-a no colo até sentá-la na borda da cama.

— Tem mais uma coisa que quero te dar — ajoelha-se.

Do bolso interno de seu terno de risca retira uma caixinha de joia, em forma de envelope. Abre o tampo e mostra a gargantilha de pérolas esculpidas em forma de rosas. São rosadas e combinam com o vestido.

— É maravilhosa... — ela acaricia as pérolas com a ponta dos dedos.

— Fay... — a voz dele sai embargada com muita melancolia. Encara-a, culpado. — Sei que não lhe dei muita atenção nos últimos dias. Essa cidade, no entanto, será um divisor de águas. Sabe que a minha situação... A nossa situação não é uma das melhores. Mas estou cuidando disso. — Acaricia uma das bochechas quentes e macias da humana a sua frente. — Logo poderemos deixar este país, e vivermos em paz. Sem policia, exército ou forças especiais. Em paz, até o último dia de sua vida.

— Ah, Krad... — afasta a mão dele com as suas. Olha-o cautelosa. As palavras parecem ter sumido, e apenas os olhares deságuam em sentimentos profundos.

Estende sua pequena mão em direção ao pescoço do vampiro. A pele que toca é pálida e fria, mas provoca formigamento. Inspira longamente, quando está cheia de ar, deixa sua alma penetrar as memórias do companheiro. Enxerga com facilidade o beco de fantasmas que o espírito do assassinado lhe contara. Era a rua para a joalheria. Em outro canto da memória, uma mulher de cabelos curtos surge de uma porta de vidro, cumprimenta Krad e oferece seus serviços. Ele encomenda a confecção de um urgente vestido. É fácil encontrar as provas que queria, pois Krad não as bloqueia em sua mente. Porém, certos trechos de sua memória parecem recortados, apagados para que ela não os veja. Ao tentar investiga-los, ele a detém. Retira a mão e levanta-se.

Fay disfarça a tontura que sente por forçar seus poderes.

— Se tudo correr bem, hoje será nossa última noite aqui. — avisa, realinhando o paletó em frente ao espelho. — Gosta de jogos, certo? Vamos sair e festejarmos.

— Esta noite?

O acordo com o pai de Ryan surge como um relâmpago na mente da garota. Ela não poderia ir. Logo seria a hora combinada. O amigo viria encontra-la para então partirem num helicóptero até a joalheria. Mas o que dizer para Krad? Talvez seja por isso que ele não a incluía em seus planos: ela nunca pensava no próximo passo, apenas queria executar o primeiro.

— Sim, esta noite — repete em tom de ordem.

— Eu não posso... — chamusca o vestido sobre os joelhos.

— Por que não? — sua raiva é perceptível.

— Porque...

— Porque você vai estar com ele, o humano, não é mesmo? —termina ele.

Ela ergue-se bruscamente. Não há como fingir de desentendida. Ele sabe. Desde a noite do baile, e é por isso que Krad a tratava friamente. Mas como?

— Como você sabe? — indaga.

— Eu estava lá, na reunião. — trinca o maxilar. — Você não notou por estar fazendo seu show, ao invés de ficar onde lhe deixei.

— Você não disse para eu ficar lá... — pensa melhor, isso não é o que realmente importa. Não contém a ironia e a raiva borbulhantes. — Embora você sempre mande que eu apenas fique te esperando. Como se eu fosse uma inútil. Agora faço parte do plano, eles me querem nele! Ao contrário de você, que sempre me manda ficar no carro!

— Por que você não entende que apenas quero protege-la?! — ele braveja. Mantém a conversa num tom de raiva silenciosa. —Como você pode ser tão ingênua? Eles só querem usar você. Esse plano tem mais falhas do que possa imaginar, e o pior: essas falhas são propositais!

— Como você, que nunca elaborou um plano que fosse além de assustar e roubar, pode saber? — tira forças da adrenalina para falar mais alto. É surpreendente como não partiram para a disputa de poderes ainda. — Eu vou participar desse assalto e provar o meu valor! — lágrimas substituem as chamas iradas. — Provar que posso ficar ao seu lado sempre.

O vampiro recua poucos passos. Não gosta dessa demonstração de emoções. Sente inveja por não ser capaz de chorar igualmente. Isso soma-se à raiva.

— Você quer provar ficando longe de mim — a voz é cortante como a lâmina de um punhal. — Está do lado inimigo.

— Que? E-eu não estou... — a voz falha, a visão desfoca e os pés vacilam. A perda de sangue voltou a afetá-la. Apoia os joelhos no tapete cinza com alguns poucos respingos de seu sangue seco.

Krad não vai ao seu encontro de imediato, pelo contrário, contenta-se ao vê-la agachada, fraca e... humana. Caminha lentamente até ela, ao ritmo do arfar frágil da menina. Curva-se sobre, passa a mão por entre a cascata de cabelos e juntando-as, ergue Fay pelo pescoço. Aperta-o e obriga-a olhar para ele. A expressão que a mutante percebe é de um verdadeiro predador. Pela primeira vez desde que estão juntos, Fay sente medo dele. Ao notar o tremer das pupilas da garota, a feição do vampiro se torna total desprezo.

—No fim, você é uma humana... — constata como se nunca houvesse reparado. Para ele, Fay era a rosa em meio ao deserto de humanos homogêneos e monótonos, mas agora, via algo diferente em suas íris púrpuras. Um olhar ainda mais humano. Ela queria pertencer à humanidade. E ele não era capaz de lhe proporcionar isso. Krad nunca voltará a ser o humano que era, a médium, entretanto, poderia se adaptar, assim como adaptou-se ao mundo dele. Bastava que ela... Deixasse-o. — E ficará com os humanos.

Frustrado, ele larga o pescoço fino da humana, que desaba ao tapete tossindo muito. Ajeita o paletó, em seguida a gravata. Olha uma última vez a companheira ainda no chão.

Fay o observa por baixo, em vergonhada demais para fita-lo. Estava fraca, não poderia disputar poderes. Morde os lábios, machucando-os, e retira da dor a última gota de força sobrenatural para transpassar ao rapaz tudo o que sente. Todo o seu amor por ele. Krad, por um milésimo de segundo, vacila em sua decisão de abandoná-la. Não estava acostumado a não ter o que queria. E ele ainda a queria. Mas recompõe-se rapidamente.

Caminha até a porta. Espera, não repensa, e sem se virar para ela de novo, deixa o quarto para nunca mais voltar.

Uma gota dramática de lágrima escorre pela bochecha da garota abandonada. Não tinha, no entanto, força se quer parar chorar. A cabeça tomba e Fay desmaia. A escuridão a preenche por completo.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler :) Se possível deixem um comentário, vou adorar (*^u^)



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