Quando Amanhecer escrita por Clara Luar


Capítulo 11
Atacada


Notas iniciais do capítulo

Faz tempo!! Desculpem, é falta de inspiração :P E também comecei uma nova fic :3
Boa leitura õ/



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Para à porta do quarto que divide com Fay. Os olhos frios congelam a madeira luxuosa. Recordando a noite passada onde presenciou a garota relacionando com mafiosos, confirmando sua participação no assalto sem se quer da metade do estrago que causaria à cidade, volta a irritar-se. Passara os dois últimos dias a pesquisar sobre, descobrir uma forma de interferir e adquirir o lucro antes deles e agora descobre que Fay pactuaria com a máfia St. Clair. Ela entrou no lado inimigo e não notou.

Passa a chave-cartão no maquinário da tranca e adentra. Depara-se com um quarto completamente desarrumado. O forro da mesa foi puxado e arrastado ao chão, despencando com a louça e o que sobrou do café da manhã. A porta do armário foi corrida até o limite, as cortinas desalinhadas e as almofadas espalhavam-se. Pensa o tamanho da fúria de Fay depois que saiu sem lhe desejar bom dia. No entanto, nota atmosfera é mórbida e carregada com cheiro férreo. Mais precisamente, aspirava sangue. O tapete confirma mostrando rastros vermelhos. Seu corpo esfria mais que o normal. Caso lembra bem, os humanos chamam de “arrepio”. Um buraco negro revira em seu estômago. Sangue nunca é um bom sinal.

Cobre o nariz com o lenço de bolso ao entrar. Nenhuma precaução, porém, é capaz de impedi-lo de aproximar da origem do alimento vampiresco com súbita velocidade. Num instante vai de encontro à Fay, que deita na cama enroscada no lençol. Ele rastreia com as pontas dos dedos as gotas de sangue que escorreu pelo vestido florido. A menina suava fria, arfava e a expressão que mostra é de uma dor exaustiva. Está parcialmente desmaiada, mesmo assim, sua mão direita suja de sangue segura firme a raiz do pescoço. Os ombros estão inchados de tanto arranhados. Precisa forçar a retirada da mão. Descobre a fonte de tanto sangue espalhado: o estigma dilatado rompeu a cicatriz e liberava um líquido viscoso, de início negro, mas ao dispersar ganhava o tom rubro do sangue da médium.

– Ah, Fay... – o sofrimento dela transpassa o toque.

A raiva é dominada e afogada pela preocupação. O medo de perdê-la é ainda mais forte e passa a conduzir seus movimentos. Desfaz-se bruscamente do paletó, atirando-o no ar. O fato de não ter usado gravata hoje facilita o processo. Arregaça as mangas da camisa social antes de erguer sua amada nos braços como se não pesasse nada. Os lençóis manchados arrastam e a barra da saia compartilha do sangue perdido. Precisava limpa-la e aliviar a excessiva transpiração. Um segundo é o suficiente para leva-la ao banheiro da suíte. Infelizmente, a redonda banheira está vazia. Deita-a na porcelana alva, toma a mangueira do chuveiro e apressa em girar a torneira. Sua força sobre-humana faz a torneira rodopiar. O chuveiro libera um jato gélido de água no piso.

– Merda!...

Está atrapalhado. Não sabe se tira os olhos da menina ou concentra-se em nivelar a temperatura e a força da água. É como se cada minuto a aproximasse da morte e que cada uma de sua inspiração ofegante pudesse ser o último. A ideia de transforma-la em uma vampira corre a mente. Paralisa. Não, isso não seria o certo, já que prometera dar-lhe o direito de escolher. E Krad amava a humanidade flamejante das íris violetas dela. Estes olhos estavam fechados, não o viam e isto era ainda mais agonizante. Mesmo irritado, nunca seria capaz de dizer que a odiava. Na perambulação pela vida, ela trouxe-lhe uma razão para querer aproveitar o “sempre” que adquiriu com a imortalidade. Não permitiria que morresse agora.

Já havia uma poça sob seus sapatos.

Regula com mais cautela a água, em morna e velocidade média. Deita em seu peito, com cuidado, a cabeça de Fay, embaralhando a mão entre os cabelos longos e os dedos tocam-na suavemente para erguer o queixo. Traz a mangueira para perto e molha a região da ferida. A água afoga o estigma e faz o fluído púrpuro deslocar-se pescoço a baixo, penetrando o decote. Umidificou o vestido aos poucos, traçando as linhas rendadas das roupas íntimas. Krad mordisca o lábio inferior ao acompanhar a trajetória. Não imagina como consegue pensar em certas bobagens estando tão preocupado. Porém, eram fatos: o sangue escorria e precisava tirar a roupa dela. Apoia a mangueira na borda para dentro da banheira, permitindo formar uma poça rasa no interior desta. Desloca-se para junto da garota, pondo-se sobre ela. Sustenta-se sobre os joelhos, por isso, sua calça social molha. Agora ele está de quatro sobre ela, as mãos apoiadas na parede ladrilhada à frente, seu rosto tão próximo do dela, que a menina mais parece estar dormindo. Tateia as costas de Fay procurando pelo zíper do vestido. A cabeça dela levanta zonza, aconchegando-se logo em seguida no ombro do vampiro. O repentino movimento o faz interromper o seu.

Krad abre a boca para falar algo, mas nada sai. As alças caídas, o pescoço ferido estava próximo demais. O cheiro delicioso dela penetra suas narinas. É capaz de sentir as presas aparecerem. O desejo que percorre a carcaça que chama de corpo é quente como fogo. Tomba para trás, sentando na água que enche a bacia de porcelana. Não consegue tomar a distância que deseja, visto que o corpo dela vem junto, agarrado à sua camisa. Seu peitoral é pressionado pelos bustos molhados delas. A pele dela encosta-se aos seus órgãos mais sensíveis. A fogueira foi acesa. O Instinto vampírico exigia mais que o contato físico. Agarra-a com força como o predador que captura a sua presa. A coluna dela solta um estalido.

– Krad?... – murmura.

A mutante entreabre os olhos só para ver a sombra das presas fisgarem sua carne. Fecha as pálpebras e grunhi alto. Pegos de surpresa, seus poderes disparam para todos os lados; o espelho do banheiro trinca, a torneira salta e a água esguicha. A mangueira desliza e tomba fora da bacia de porcelana. Empalidece com a perda de sangue. Tenta fazê-lo soltá-la, contudo, Krad a puxa mais, empurra-a para si e impõe outra mordia, chupando o líquido púrpuro como gostava: silencioso e intensamente, como um beijo. Mesmo fraca Fay debate-se, esmurrando o peitoral do vampiro, que mal reage.

– Para!... – sussurra, já atordoada com tanta perda de sangue.

Incomodado com o alvoroço da presa, desprende-se e permite que ela o observe com clareza. As íris gélidas pegavam fogo, colorido com o vermelho mais fúnebre que já vira. Veias negras transpareciam por baixo da pele pálida das bochechas lisas. O lado vampiro de Krad reclamava mais e mais. Um terror preenche a garota. Ela não estava forte o suficiente para enfrenta-lo agora. No desespero, lança mão de sua última cartada: beija-lo. De forma poderosa empurra a língua para dentro, enrosca e puxa; oferecendo-lhe todas as gotas do seu amor. Não permite ser interrompida. Ele rejeita-a de início, entretanto, pouco a pouco retribui o gesto com um maior cuidado. As mãos dele deixam de agarrá-la dolorosamente, alivia o nó dos dedos, e passeia pelo corpo dela, suave como se tocasse um piano permitindo belas notas de suspiros. Relutante, Fay afasta-se para recuperar o fôlego e aproveitando contempla a nova face do amante. As pupilas dilatadas não estão manchadas com o céu vermelho de antes e as rachaduras negras sumiram. A expressão dele é incerta, porém, reconhece o que acabara de acontecer. Ele baixa os olhos, encontrando o decote do vestido, foge a fitar a parede.

– Desculpe-me. – é tudo o que consegue dizer.

Está sombrio. Mesmo que ainda estejam bem próximos, Fay sente-o distante. Percebe o corpo dele que queimava ficar morno, prestes a esfriar. Ele se acalmava. Contudo, mesmo que o companheiro esteja acostumado a controlar suas emoções e desejos, ela não o sabia. A médium queria mais.

Puxa a face de Krad com a ponta dos dedos. Mostra a ele seu sorriso mais angelical. Apesar do deslize, ele conseguiu parar; merecia um prêmio por isso. Desabotoa os três primeiros botões de sua camisa. Escorregam os dedos para dentro da gola. Ele segue seus gestos sem saber qual a finalidade. Fay inclina o rosto e morde, cuidando para pressionar principalmente os caninos, a raiz do pescoço dele. Demora-se a fim de deixar uma boa marca dos dentes. O rastro que deixa nele é uma vermelha mancha circular na pele pálida.

– Estamos quites. – diz com mais um sorriso pintando nos lábios.

Krad suspira, formando um leve sorriso de alívio com resquícios da culpa nos cantos dos caninos. Abraça-a. O abraço desta vez é gentil, macio e protetor. Desliza os braços suavemente e a ponta de seus dedos encontra o zíper. Abre o fecho. O vestido sai inteiro sobre ele.

Contemplam-se uma última vez e sucumbem ao desejo primitivo, muito humano e vampiresco.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler :)



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