Sonhos, ou melhor, pesadelos.

Pesadelos e mais pesadelos. Toda noite, durante o sono eu via Arthur indo embora de alguma forma. E aquelas asas... Porque em meus "sonhos" ele sempre era um anjo? Anjos não existem! Não entre os humanos. Isso não tem a mínima lógica.

Meu celular tocou me tirando dos meus devaneios. Atendi sem nem mesmo olhar quem era, como de costume.

– Sophizinha minha linda! - a voz masculina disse do outro lado da linha e no segundo depois começou a gargalhar como uma hiena.

– Bruno vá se ferrar! - ele gargalhou mais ainda. Eu amo meu melhor amigo! Sintam a ironia. - Eu to com saudade seu infeliz!

– Eu também estou!

– Você vai vim nos visitar nas férias do meio do ano né? - perguntei fazendo beiço, mesmo sabendo que ele não veria.

– Ah, não sei Soph. Talvez. - Bufei. - Fiquei sabendo que tem uma pirralha fazendo aniversário daqui alguns dias...

– Bruno, a Dhully só faz aniversário daqui a dois meses. - falei na maior inocência.

– Eu tô' falando do seu aniversário Sophia!

Tenho certeza de que ele está revirando os olhos nesse exato momento.

Mas... Eu faço aniversário daqui a uma semana! Como eu me esqueci disso? Caraleo!

(n.a/ Ok eu tô desrespeitando bruscamente a língua portuguesa. E tô falando um baita palavrão. Dane-se.)

– Você deveria fazer uma festa incrível e com tudo que tem direito. - Bruno disse animado.

– Não. Com certeza não.

– Ah, qual é! É o seu aniversário de dezoito anos Soph! Você já pode até ser presa.

– Não eu não vou fazer uma droga de festa Bruno. Até porque o meu melhor amigo não vai estar aqui. - murmurei a última frase.

– Ah Soph, eu já te expliquei lembra? - fiz que sim em um movimento com a cabeça.

Ok isso não tem lógica. Bruno está em outro país, como ele veria meus movimentos?

– Eu sei Bruninho. - concordei.

– Bruninho não! Sophizinha.

Rimos dos apelidos idiotas e ficamos quase duas horas no celular. Coitado do Bruno que vai ter que pagar uma conta alta de telefone. Dane-se! Eu sou má. Beijos.

(...)

– Soph! Seu aniversário ta chegando! - a baixinha disse animada dando pulinhos de alegria.

Legal, todo mundo resolveu me lembrar disso hoje. Eu tô' ficando velha gente! Que felicidade!

– Eeee! - fingi animação dando pulinhos.

Minha melhor amiga me fuzilou com o olhar.

– Se anima amiga, dezoitos anos! Já pode ser presa! - disse ainda saltitando como uma hiena. Espera... Existe hiena saltitante?

– Eu tô' ficando velha Dhully. Velha! - bufei.

– Para de ser dramática. Eu hein. - revirou os olhos.

– Shopping então?

– Sim! Shopping! - novamente a ruiva estava parecendo um hiena saltitante.

Isso existe né? Ah, dane-se.

Deve ser a milésima vez que eu venho com a Dhully para esse shopping só neste mês. Sim, isso é possível. E não, não é exagero. Essa nanica que eu chamo de melhor amiga me arrasta para o shopping com ela pra comprar até um shorts para ir no colégio no dia seguinte.

Mato ou esquartejou uma pessoa dessas? Brincadeirinha!

– Esse! Eu amei esse! - a ruiva praticamente gritou olhando um vestido na vitrine, entrando correndo na loja.

Detalhe: ela estava me puxando pela mão. E com a sorte incrível que eu tenho, acabei por tropessar nos próprios pés e cair de cara no chão.

Ok agora eu vou mesmo matar essa nanica!

No segundo depois, Dhully já estava me ajudando a levantar me olhando preocupada... Mentira. Ela apenas me olhou pasma começando a rir como uma hiena - hienas riem! - e nem sequer perguntou se eu estava bem.

Eu tenho a melhor amiga do mundo! Só que não.

– Obrigado pela preocupação. E por me ajudar. - falei irônica.

– De nada. - retrucou debochada e correu até uma atendente.

Cinco minutos depois, a ruiva apareceu na minha frente - eu estava sentada num "sofázinho" da loja - com um vestido preto nas mãos. O vestido que ela havia visto na vitrine.

– Toma. - disse esticando os braços e colocando o vestido em meu colo. Olhei-a de uma forma interrogativa. - Vai vestir logo Sophia!

Dei de ombros, me levantando do mini sofá com o vestido em mãos e rodiando toda a loja com o olhar na procura dos vestuários.

– Sophia... - Dhu chamou já sentada no mini sofá.

Olhei para ela de canto do olho, a mesma apontava com o dedo para a minha frente.

Sim, os vestuários estavam bem na minha frente. E não, eu não sou cega queridos. Estava longe Ok? Tipo, havia pessoas na frente já que aquela loja estava cheia.

Fui até lá e todos os vestuários estavam ocupados. Êh!

Eu batia os pés no chão impaciente e os meus dedos já estavam doendo. Fazia quase meia hora que eu estava esperando um bendito ser sair de dentro de algum dos vestuários. Ok talvez não faça meia hora, deve fazer uns dez minutos no máximo pra ser sincera. Enfim.

Mais alguns minutos e um ser finalmente sai de um dos vestuários. Um mini-ser na verdade. Ela devia ter no máximo 1,50 de altura. Tinha os cabelos negros e cacheados com as pontas azuis. Já posso roubar o cabelo dela e sair correndo?

– Ai! Você é cega? - a mini-ser reclamou ao esbarrar em mim.

– Eu estava parada! Você leva duas horas para vestir uma mísera peça de roupa e ainda sai empurrando os outros? Cega é você! - revidei já irritada.

– Eu não estava vestindo nada! - olhei-a confusa - Eu fui entregar um vestido para a minha amiga que está no vestuário. Eu passei por você a no máximo cinco minutos para entrar nesse maldito vestuário! - ela disse novamente e mais rápido do que antes.

Preciso dizer que levei algum tempo para assimilar tudo que ela havia dito? E não venham me chamar de lerda!

– Então quer dizer que essa droga ainda não está livre? - ela fez que não com a cabeça.

Suas órbitas incrivelmente azuis pareciam ser capazes de fuzilar o primeiro ser que estivesse em sua frente. No caso eu.

– Só vendem vestidos nessa loja? - perguntei mais para mim do que para qualquer pessoa alí.

– Parece que sim. - a mini-ser mais baixa que a minha melhor amiga respondeu. Agora emboçando um sorriso divertido no rosto.

– Sim senhorita. Vendemos apenas vestidos nesta loja, mas do outro lado do shopping há uma mesma loja da nossa que vende sapatos. - uma atendente disse aparecendo do nada e sumindo da mesma forma.

A garota dos cabelos divos e eu trocamos olhares confusos e no segundo seguinte ríamos como malucas sem motivos aparentes.

– Um vestuário! - falei aliviada assim que vi uma garota loira e alta saindo de um deles.

Vi a garota indo falar com a mini-ser, deve ser a melhor amiga dela que ficou duas horas nesse bendito vestuário.

Vesti o vestido em poucos segundos e me encarei no espelho em uma das estreitas paredes do local.

Era um vestido preto com saia evasê, os braços, as costas e algumas partes da frente eram de renda.

O vestido era lindo! E se encaixou perfeitamente no meu corpo.

Sai tímida do vestuário e fui em direção ao pequeno sofá onde deixei minha melhor amiga. Ela ainda estava lá, só que ao seu lado já haviam diversas sacolas. Sem comentários sobre isso.

– Então senhora maníaca por compras... - disse para chamar sua atenção.

De primeira vi Dhu me olhar do tipo "O que você disse querida amiga?" mas logo sua expressão mudou mais para "Uau", já que foi exatamente isso que ela disse.

– O que foi?

– Perfeito! Ficou perfeito pra você! - ela disse saltitando, como sempre. Sorri tímida. - Vá se trocar antes que você estrague ele. Eu vou comprar ele para você de aniversário adiantado.

– O quê? Dhu não precisa! Digo... Onde eu vou usar um vestido desses?

– Sophia cala a boca e vá se trocar. - disse mandona indo em direção a uma das atendentes da loja.

Mas duas horas para algum vestuário ficar livre para eu me trocar; mas cinco horas acompanhando minha melhor amiga que entrava em todas as lojas possíveis e comprava tudo que via pela frente e mais 10 horas ouvindo a ruiva implorando para que fizéssemos uma festa no meu aniversário.

– Não, não e não! - repeti pelo milésima vez. - Eu não vou fazer uma festa!

– Então pelo menos vamos a uma pizzaria Ok? Não vai recusar umas boas pizzas né?

Pensei em hesitar por um momento. Mas... Ela disse pizza! Pizza! É claro que eu não vou recusar pizza!

Concordei em um movimento com a cabeça.

– Apenas um jantar na minha pizzaria predileta Ok? Não ouse inventar qualquer coisa sua nanica. Ou eu mato você! - avisei lançando meu melhor olhar assassino.

Ela concordou dando uma risidinha suspeita.

Se ela aprontar, eu acabo com ela!