O dia amanheceu ensolarado, assim como Hermione havia lido na previsão do tempo no Profeta Diário. Podia sentir o cheiro do café que Kate preparava de onde estava.

Deu uma espiada pela janela, só por hábito, para ver se Harry ainda dormia. As cortinas do quarto dele não estavam abertas, concluíra mesmo que ele ainda permanecia adormecido. Sorrira, era quase hábito os dois acordarem praticamente juntos.

 Um sincronismo perfeito. Mas hoje ele bancava o dorminhoco.
Resolveu descer para tomar seu café. Seth havia sentado no lugar onde habitualmente se sentava, então o expulsou apenas com um olhar para logo depois iniciarem uma discussão matinal que fez Kate derramar todo o bule de café em sua roupa branca.

- Olha o que vocês me fizeram fazer? –brigou.

- Desculpe mamãe e bom dia pra você também!

- Parecem crianças! - exclamou a mulher olhando feio aos dois.

- Seth de fato ainda é criança mãe - resmungou Hermione.

- Para mim, vocês dois são, e parem de brigar. Sorte de o Sirius ir para o trabalho tão cedo... Humpf - Kate subiu as escadas tentando tirar em vão a mancha formada

- Agora vou ter de trocar minha blusa nova! -berrou lá de cima. Seth ignorou a mãe e a irmã, pegou seu skate e saiu, deixando Hermione sozinha com seus devaneios.

- Ah esse garoto ainda me paga! - murmurou ela. Seth normalmente ganhava as disputas com a irmã, devido ao fato de ser o caçula e sempre ter uma desculpa melhor do que a dela na ponta da língua.

 
Não gostava de tomar o café da manha sozinha, a mãe demoraria um pouco então ela resolvera não se demorar mais. Com certeza Harry acordaria atrasado e sairia voando de casa.

Engoliu o último pedaço de pão e foi se arrumar. Na verdade, nunca sabia o que vestir. Tirou um jeans e uma regata branca do armário e se aprontou rapidamente.
Ainda na porta do quarto lembrou-se que mais tarde poderia esfriar e então pegara um casaco leve, sempre gostara de andar prevenida.

Hermione saíra de casa com os braços cheios de livros pergaminhos, ultimamente, a sessão de runas do ministério estava lotada de relatórios indecifráveis, que ela estava tentando traduzir, e como ela gostava de ser a primeira a obter qualquer resultado geralmente levava o trabalho para a casa.

Seu carro acabara dormindo na rua, então não tivera o trabalho de tirá-lo da garagem. No rádio que acabara de ligar tocava uma música suave contradizendo o que seria seu dia no ministério.
 

De súbito, olhou para o lado, como se um reflexo a obrigasse e viu uma loura de cabelos longos saindo da porta da casa de Harry, com a distração, jogou o carro na calçada e atropelou uma lata de lixo, fazendo um barulho estrondoso e muita sujeira.

Desceu do carro ainda com o coração acelerado. Com certeza o impacto de ver Harry acompanhado fora maior do que o do carro batendo na lixeira.
Ela olhou novamente para a casa vizinha e a tal loura se despedia de Harry com um sorrisinho nos lábios.

Seu coração acelerou e sem pensar direito foi até Harry cumprimentá-lo, tentando desvencilhá-lo de sua “amiga” .

“Hermione, o que há com você?” - pensou ela suspirando fundo.

Iria se atrasar para o trabalho, mas no momento isso não era importante. Harry então se dirigiu á loura:
- Wendy conhece Hermione?

- Não - respondeu secamente - Infelizmente não tive o prazer de conhecer a famosa Hermione... - terminou a loura erguendo de leve a sobrancelha.
Hermione empinou o nariz, como se quisesse ser superior a ela. Olhou para Harry e depois para Wendy sem dizer uma só palavra.

- Então me deixe apresentá-las... Wendy esta é Mione, Mione esta é Wendy. Ela trabalha comigo no departamento... - disse Harry.

Wendy dirigiu um olhar antipático á Hermione, que deu um beijo na bochecha de Harry, avisando ao pé do ouvido que estava atrasada para o trabalho. Harry retribuiu o beijo e ignorando a impaciência de Wendy, ficou parado na porta, observando Hermione ir embora e deixar a lixeira caída.

- Essa aí é ruim de roda, hein - caçoou Wendy, mas Harry não lhe deu atenção.

- Mione quase não comete erros, não sei o que pode ter acontecido... - respondeu ele vendo o carro virar a esquina.

Wendy deu de ombros, puxando a mão de Harry para irem juntos ao trabalho. Afinal também cumpriam horários, e deviam assim como Hermione estar atrasados.

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O dia fora cansativo, horas e horas envolta em pergaminhos fizeram a energia de Hermione se esvair. Para Harry também não fora diferente, o departamento nessa época do ano ficava muito sobrecarregado.

Hermione estava voltando para casa e novamente trouxe trabalho do ministério, com certeza passaria mais uma noite trabalhando em seus pergaminhos, mas veria isso depois, pois estava ansiosa para conversar com Harry. Não tirara a cena que presenciara de manhã da cabeça. Estava começando a ficar paranóica. Não sabia bem o porquê de tanto drama, mas no fundo sempre aprendera a ser alerta. E uma coisa era certa: não queria ninguém roubando a atenção do “amigo”.

Na verdade, nunca admitiria uma outra explicação para a cena que fizera, mas seu expediente havia acabado e era isso que importava e agora lá estava ele, sentado nos degraus da escada da varanda. Com as mãos dentro dos bolsos do moletom vermelho.

Ouviu o barulho do carro de Hermione entrando na garagem da casa ao lado, sentiu uma euforia, que tentou atribuir á curiosidade do comportamento da amiga. Hermione saltou do carro, exausta e foi até o portão cumprimentá-lo e avisá-lo que já estava indo, só iria deixar as suas coisas em casa e que o mais rápido possível se juntaria a ele.

Harry sorriu e disse que ficaria esperando. A moça logo chegou com o rosto vermelho.
Harry imaginou que o dia de trabalho da amiga havia sido mais desgastante que o dele, pois seu rosto demonstrava cansaço.

- Oi. -Hermione se sentou ao seu lado, fazendo os dois ficarem bem próximos.

Ele sorriu e a olhou de canto de olho - Vejo que seu dia conseguiu ser pior que o meu - comentou divertido.

- O seu dia não deve ter sido tão ruim assim, até arrumou uma nova amiga... -disse, fazendo cara de desolada. Seria uma chance perfeita para tocar no assunto e descobrir tudo dele.

- Wendy? - perguntou surpreso, pois a esta altura não pensava mais na loira.

- É, essa mesma. - Hermione estava curiosa para saber o que Wendy fazia na casa de Harry tão cedo.

- Ela só está precisando de alguém que a ouça... Terminou um relacionamento á pouco tempo, sabe.

- Ora Harry, é pra isso que existem os psicólogos! É mais o que eu tenho há ver com isso não é mesmo? Afinal de contas o ouvido é seu... - terminou ela sorrindo.

- Imagina, você pode dizer o que quiser... - disse Harry abraçando-a de leve

- Está frio, vou pegar um casaco. - disfarçou Hermione tentando escapar do contato.

- Pode ficar com o meu, eu não estou com tanto frio... - Harry tirou o casaco e tentou vestir á amiga, mas sem sucesso. Os dois caíram na gargalhada.

- Você é mesmo um cavalheiro, não culpo essa tal de Wendy vir bater todos os dias em sua porta - disse ela ainda sorrindo pela confusão ao vestir o casaco dele. Harry corou, sem graça.

Nada disso, só não ia deixar você sair daqui... Quero dizer, ficar com frio!

- Você gosta da sua amiga? - perguntou Hermione mal intencionada.

- Gosto, ela é uma pessoa legal, além de ser veela. É difícil sair na rua ao lado dela. - Harry falou naturalmente

- Imagino... Deve ficar com ciúmes não é? Tipo você gosta dela e deve ser constrangedor essa situação...

- Não! Eu gosto dela como amigo, não sou afim dela. - Harry quis deixar bem claro
- Ah certo - respondeu mais aliviada.

- E o Duda, tem falado com ele? - Harry começou a sentir frio, mas não pediu o casaco de volta. Ele ficava melhor nela, pensou ele, e adorava sentir o perfume dela depois.

- Claro que não... Mas bem que ele tenta, eu sempre dou um jeito de despistá-lo, me desculpe, mas aquele seu primo... - Harry sentiu vontade de socar Duda

- Pode deixar que ele não vai se aproximar de você. - falou sério
- Quem bom que eu tenho você, porque o pateta do Seth não presta nem pra assustar um mosquito! – disse ela e Harry riu, imaginado Seth tentando assustar um mosquito.

- Ele é um bom skatista - disse, entre risos. Ela o acompanhou numa risada gostosa.
- Harry, não está com frio? - Hermione percebera que os lábios do amigo estavam sem cor, o inverno começava a mostrar as sua cara.

- Um pouco... - Hermione o abraçou tentando cobrir seus braços
Harry não se mexeu com medo de Hermione parar de abraçá-lo. Virou-se para falar algo que esquecera e se deparou com o rosto da amiga muito próximo do seu. Seus narizes quase se encostaram tamanha era à aproximação. Os olhos verdes hipnotizados pelos castanhos que emanavam um brilho diferente do habitual.

Hermione ficou paralisada, com os olhos semicerrados. Harry se aproximou mais, sentindo a respiração dela. Um estrondo assustou os dois, que se repeliram, assustados.
Seth acabara de levar um tombo de skate bem na frente dos dois,que se ajeitaram,tentando disfarçar.

- E aí, cara?-cumprimentou Seth, observando o joelho ralado.
- Seth! - exclamou Hermione se recompondo das emoções sentidas há pouco.

- E ai maninha?! Curtinho um tempinho com o Harry neh? – disse o garoto e Hermione sentiu uma vontade imensa de estrangulá-lo, mas em vez disso disse educadamente:

- Acho melhor entrar e fazer um curativo...
- Também acho-disse Harry olhando para Seth inconscientemente furioso
- Certo então já to indo! - disse o garoto que colocou o skate debaixo do braço e rumou para dentro de casa.

Hermione evitou olhá-lo nos olhos, mas Harry puxou seu queixo, obrigando-a a ficar cara a cara com ele. O silencio falava por si só. Não precisava dizer nada, pois nos olhos dele estava mais do que obvio que queria continuar o que fora interrompido. Hermione engoliu em seco. Sentia seu coração pulsar mais rapidamente.

Harry passou a mão nos cabelos dela e pôs uma mecha atrás da orelha. Com a outra mão, ele puxou levemente sua nuca e encostou seus lábios nos dele. Hermione fora pega de surpresa, mas no fundo desejava tanto quanto ele aquele beijo. O beijo fora perfeito, nunca imaginaria que os lábios de seu melhor amigo fossem lhe proporcionar uma sensação como aquela.

Harry percorreu a boca de Hermione com a língua, como se nunca tivesse beijado ninguém antes, apesar de ser experiente e de já ter beijado diversas garotas, agora era totalmente diferente. Estava beijando Hermione. A garota que sonhava beijar desde que entrara em Hogwarts.

Ela correspondia cada toque dos lábios e língua, até se afastarem e terminarem o beijo com um selinho. Ambos estavam ofegantes e mal podendo acreditar que eles tinham se beijado. E que não fora um beijo qualquer.

Harry tentou não causar um clima vergonhoso para os dois e abraçou lhe mostrando uma constelação que conhecia. Ela então sorriu e deixou-se levar pelo momento. Encostou a cabeça no peito dele que sentiu o perfume exalar dos cabelos dela.
Ele suspirou mal podendo acreditar que aquilo estivesse acontecendo.

Era um misto de sensações maravilhoso.
Lílian surgiu na janela para avisar que o jantar estava á mesa, mas Harry ignorou a mãe. No momento, ele só pensava na confusão de sentimentos que havia se formado.

Não era só ele que estava confuso. Hermione também estava e muito. Seu coração, bem no intimo talvez desejasse isso com muita vontade.

- Hermione, eu... Eu não sei o que está acontecendo comigo. - Harry disse perto de seu ouvido
- Nem eu sei o que está havendo comigo - devolveu-a num sussurro.
- É melhor não tentarmos entender...
- É meio difícil dizer isso pra mim... - disse ela sorrindo nervosa.
- Então esqueça o seu lado racional, de sabe-tudo... Sinto-me bem com você e não preciso entender o que se passa no meu coração. Você precisa? - Harry sorriu

Ela o olhava como se quisesse acreditar que isso fosse real. Nunca imaginaria que pudesse estar ali ouvindo o que ouvira a pouco e muito menos que fosse beijada de tal modo. Talvez precisasse mesmo dar ouvidos ao seu coração. Mas o que ele dizia? Se batia tão apressado.

Não queria admitir para si mesma que se apaixonara por Harry, seu melhor amigo. Sua cabeça lhe dizia que isso era impossível, mas seu coração não.

Hermione não sabia o que fazer numa situação dessas. Que droga não haver manuais para isso - pensou ela olhando fixamente para o moreno ao seu lado.

Ela fez que não com a cabeça. Realmente não precisava entender apenas curtir o momento.
Mas ainda hesitava. Ela era o que se podia dizer de azarada no amor e não queria que um impulso destruísse o que tinha com Harry, ele era especial demais.

- Harry, sinceramente, também me sinto bem ao seu lado, mas nossa amizade é algo muito importante, não suportaria perdê-la.
Ele desviara os olhos.
Harry não havia pensado nisso, na verdade, não acreditava que algo pudesse estragar a amizade deles.

Isso não era motivo para futuros alardes, a amizade deles era sólida o bastante para agüentar esse possível estremecimento. Irritava-se com a indecisão da morena. Hermione às vezes ou quase sempre era movida apenas pela razão.

Isso incomodava Harry, pois gostaria de ouvir que ela também sentia seu estômago revirar quando o via. Sempre gostara de aventuras, de quebrar regras e se arriscar, e ele sabia que estava disposto á tudo isso por ela.

O silencio chegava a incomodar. Ela não dissera nada e ele concluiu que ela estava pensando. Pensando em como dizer o que ele esperava ou pensando numa forma carinhosa de lhe despachar.
Mas em vez disso, ela sorriu como se no fundo também quisesse correr aquele risco, mas não tinha coragem de dizer, o que o deixou mais confortável na situação.

- Harry eu sei que na maioria das vezes eu sempre sei o que fazer, mas dessa vez é diferente... Eu não sei o que fazer ou o que dizer e tenho medo de me magoar, mas alguma coisa me diz que devo correr esse risco porque uma coisa seria pior do que me magoar...

- E o que seria pior Mione? - Ele perguntou o que seria pior que isso.
- Pior seria me acovardar e magoar você!

A noite estava perfeita. O clima ameno dava a impressão de que nenhuma tempestade chegaria à vida deles. Hermione teve certeza que Harry entendera muito bem o seu recado, embora o moreno continuasse a olhar para o céu, com uma expressão de felicidade no rosto.