Red Like Blood escrita por Scream Queen


Capítulo 9
Capítulo 8 - Caçada.


Notas iniciais do capítulo

Bom, explorei alguns pontos estranhos, e acho que ficou legal. Espero que gostem!



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Depois de assistir metade da noite passar, – Estrada, árvores, céu - acabei dormindo. Somente me encontrei semiconsciente quando Hunter sacolejou, e eu percebi que me carregava para algum lugar. Com preguiça e sono para acordar, deixei-me levar pela escuridão, entrando num mundo totalmente diferente.

Acordei de verdade horas mais tarde. Totalmente confusa. Uma fresta de sol entrava por uma janela rústica. Estava deitada em um local macio. Olhei em volta, haviam paredes de madeira, chão de madeira, e folhas secas empilhadas por todo ele. Havia um colchão, porém estava distante de mim. Mas então... Onde diabos eu estava deita...

– Sabe, se quer tanto agarrar alguma coisa, eu te compro um ursinho, e vai poder babar nele a noite toda. – Ouvi a voz profunda bem acima de minha cabeça, e quando voltei meu olhar a ela, pude encontrar olhos azuis-cobalto cheios de sarcasmo frio. Local macio... Hm. Eu devia repensar minhas palavras. Meu local macio era Hunter. Afastei-me, surpreendida, assustada, e constrangida. Fiquei parada, de joelhos sobre o chão duro, atrás de mim estava o colchão. Ele se levantou, puxando a camiseta molhada por cima da cabeça, revelando seu físico digno de um Alpha. “Como é que se respira mesmo?...”, ouvi R me desconcentrando. “Respirar é a minha parte. Você é apenas a inquilina que não paga aluguel”, pensei, irritada.

– Sério, eu tenho cara de babador? Ou de ursinho? Eu deixei o colchão para você. Se remexeu a noite toda. E então rolou, caiu do colchão, e se agarrou em mim. – Questionou, sorrindo com humor negro. Senti as bochechas esquentarem, me levantei, com um pigarro.

– É uma mania antiga, desculpe. Onde estamos? – Perguntei, tentando desesperadamente mudar de assunto. Ele pareceu notar, e sorriu, se divertindo com o meu constrangimento.

– Claro. Só evite repetir, e então ganhará um ursinho, Pirralha. Quase chegando à Trinity. Soana já está no esconderijo. Teletransporte. Ela ainda só consegue levar a si mesma, mas me deixou a vassoura, e insistiu irada que eu fosse em busca de você, ou ela mesma ia. Então eu fui, sabia que um Apha ia ser mais poderoso e útil que uma batalha de bruxos. Assim ela também estaria mais segura. Enfim, é uma cabana abandonada. Eu encontrei assim. Vazia exceto o colchão. – Explicou, eu encarei-o venenosamente ao ouvir sobre o ursinho.

– Claro. Estou com fome. Tem alguma comida com você? – Perguntei, meio emburrada, mas observando enquanto ele vestia a jaqueta de couro mesmo sem a camiseta. “Certeza que respirar é a sua parte?...”, “Ah, cale a boca R!”, as discussões mentais começavam cedo.

– Não. A sua mochila com vulgos suprimentos, se é que chama barrinhas de cereais de suprimentos, ficou com Soana. A propósito, e aquelas armas? Onde arranjou tanta coisa? Tenho quantias que são o triplo daquilo em cada cômodo da minha casa, mas não vejo onde alguém como você arranjaria aquilo. – Perguntou, espreguiçando-se e sacudindo o cabelo como um cão. Revirei os olhos.

– Alguém como eu? Desculpe Sr. Família Tradicional E Rica, alguém como eu sabe roubar muito bem. – Respondi, cheia de sarcasmo e irritação. Ele assentiu, pensativo.

– Algum lugar próximo onde possamos comer? – Perguntei, já que ele não respondeu. Ele me encarou incrédulo.

– Sério? Pirralha, há uma floresta enorme a nossa volta, e me pergunta se existe algum lugar para comer? – Perguntou, revirando os olhos e olhando pela janela rústica que era baixa. Me remexi desconfortável. Eu não gostava de caçar. Não era eu no controle. “Saiba que a melhor coisa seria caçar. Não suporto viver presa em você tanto quanto você não me suporta aqui. Eu não nasci para ser presa. E você tira a minha liberdade”, R desabafou, com toda sua raiva. Suspirei. Não era culpa minha. “Não vamos. Eu não confio em você”, respondi. Notei Hunter me observando meticulosamente.

– Eu gostaria de conhecê-la, posso? – Perguntou, franzindo a testa. Ele não fazia ideia do quanto R podia ser insuportável. “Convenhamos, sou insuportável com você. Mas você não tem olhos azuis e um corpo definido”, ouvi seus pensamentos. Ela já estava me irritando. Uma puta profissional presa na minha mente, não poderia ser alguma coisa mais interessante?... Ignorei-a. “E se começar a cantarolar aquela coisa, juro que me mato só pra me livrar de você”, adverti, já prevendo sua reação. “Jura?”, questionou, num tom quase cauteloso. “Juro”, respondi firme. Ouvi seu riso. “Ótimo. Um lobisomem incomoda muita gente, dois lobisomens incomodam muito mais...”, começou, e eu revirei os olhos, com as mãos nas têmporas. Hunter pigarreou.

– O que foi? Ela não quer me conhecer? – Perguntou, desafiador. Eu olhei para ele, irritada.

– Nada disso, não precisa se ofender, Vira-Lata, mas se eu fosse você, não ia querer conhecê-la, e para constar, eu não gosto de caçar. Não sou eu, e não quero matar alguém por culpa da rebeldia de uma menininha mimada de 14 anos. – Disse, apoiando os braços na janela e escondendo meu rosto neles com um suspiro. O rosnar em minha mente era mais que presente, irritante, até assustador.

– Uma loba que não gosta de caçar... Esse mundo está perdido. Okay. Morra de fome. Não há restaurantes por perto. – Replicou, jogando a jaqueta num canto, e começando a arrancar as jeans. Virei de costas, bufando.

– Você sempre sai arrancando as roupas na frente dos outros? – Questionei, irônica. Ouvi seu riso sarcástico, e o tanto que me parecera bom na torre com Sebastian, voltava a ser irritante agora.

– Só das garotas, Pirralha. – Respondeu, e quando eu virei novamente, havia um mastim negro de olhos rubros como sangue. Rubros como um Alpha. “Eles são idênticos. É estranhamente familiar.”, R pensou. “Não estou a fim de ouvir seus devaneios românticos e animalescos”, pensei de volta, me jogando no colchão preguiçosamente, minha barriga roncava. Senti uma pequena dor, acompanhada de um puxão repentino, que me arrastou metade para fora do colchão. Olhei para Hunter, irritada. Segurava minha perna entre os dentes, e o jeans já estava vermelho, provavelmente ele tinha me mordido, e para o bem dele, eu esperava que fosse sem querer.

– Wow. Eu não vou. – Disse, revirando os olhos. – E me solte, está cortando, não está vendo? – Questionei o óbvio, bufando. Ele somente pressionou mais os dentes, e agora doía. – Hunter! Me solte! – Gritei, mas ele continuou, e me puxou, tirando-me completamente do colchão. Arrastou-me pelo chão de madeira, e não importava o quanto eu gritasse e rosnasse em protesto, não soltou até chegar à porta. Minha perna deixava um rastro vermelho, e latejava, os dentes do lobo enterrados na carne. “Ele é bem prático quando quer algo, não é mesmo?”, R perturbou minha mente com seus pensamentos, mas doía demais para que eu respondesse. Ele só parou lá fora, no chão de terra úmida e folhas secas. Soltou minha perna indelicadamente, e um arrepio de dor passou pelo meu corpo quando ela atingiu o chão.

– Eu. Não. Vou. – Disse, a voz saindo um meio termo entre rosnado e palavras. Ele rosnou, e saltou para cima de mim, prendendo-me ao chão com seu peso, os dentes tremendo num rosnado sinistro, próximos ao meu rosto, e então a coisa mais bizarra do mundo aconteceu: Ele falou. Inicialmente, pareciam rosnados comuns de uma besta selvagem, mas depois, após prestar atenção, meus sentidos lupinos se aguçaram, e lentamente, ouvi as palavras se formando no timbre do rosnar.

– Não... Lute... Solte a fera... Eu cuidarei dela... – Foi o que eu entendi. Era sinistro, bizarro, como é que ele falava? E quando ele olhou em meus olhos com seus diamantes de sangue, algo despertou dentro de mim. Algo cresceu, e o calor que se espalhou pelo meu corpo me queimava em febre, e então eu uivei. Eu podia ouvir três timbres neste uivo, o meu, o de R, e o de Hunter. Sem intenção alguma, o uivo foi vívido, cheio de voracidade, e de repente, eu via tudo como num filme. R estava no controle. Eu sentia que meu corpo mudara, mas não me lembrava de tê-lo visto mudar. “R? O que houve?”, perguntei, confusa. “Ele usou sua voz de Alpha. Ele me convocou. Somos parte de sua matilha agora”, ela explicou, e não parecia nem um pouco com ela. Sem sarcasmo, sem tormento... Ela explicava quase de bom grado. “Não confunda indiferença, com agrado”, ouvi-a dizer, seguido de um rosnado. Hunter parecia satisfeito, quando postou-se ao nosso lado. A caçada se iniciou. A batida do coração de centenas de pequenos animais entrou em foco, e algo maior chamou atenção de ambos. Hunter não esperou. Disparou a correr de um modo que até mesmo R se surpreendeu, seguindo-o em seguida. Eu não podia negar. A sensação da liberdade dela me invadia e me fazia bem. “Alce grande. Abater do pescoço. Cuidado com a galhada”, repentinamente ouvi uma voz que não pertencia a R em minha mente. Hunter. “O que? Você pode falar diretamente com a minha mente?”, questionei surpresa. Ouvi o riso de R. “Eu estava esperando por isso. Olá, Hunter”, ela disse de um modo quase malicioso. “Olá, Ra...”, começou, e um rosnado apressado e profundo foi solto por R. “Não diga. Ela terá poder sobre mim se souber o meu nome. Como é que sabe?”, questionou-o. “Ra?... Ra o que? Ótimo, agora tem um complô contra mim em minha própria cabeça”, pensei, irritada. Já víamos o alce agora, escondidos na mata, espreitando enquanto ele comia mato, parado e indefeso. “Sua história com meu Tataravô era uma das histórias que contavam para as crianças dormirem. Havia lições nelas”, ele respondeu. Eu estava incrédula, como alguém conta aquilo para crianças dormirem? “Não é atoa que você é perturbado então”, pensei. “Lições? Que lições? Traição contra seus próximos?”, R exclamou, parecia irada. Toda aquela discussão em minha mente estava fazendo minha cabeça latejar com antecedência pela dor de cabeça que viria depois. “Lábia. Conseguir o que se quer sem força, mas com lábia”, ele respondeu, desafiador, no momento em que saltou, atingindo o animal e derrubando-o. R saltou em seguida, descontando sua fúria na jugular arrancada do alce, que já não resistia mais, e morria lentamente. Eu não suportava ver enquanto eles comiam. Tornava-os menos humanos, feras, bestiais e inconscientes, do tipo que atacariam inocentes sem hesitar... Me fazia tudo isso. Terminaram, deixando pouca carne na carcaça e nos ossos. Já não sentia mais fome. Meu estômago estava embrulhado. Mas aparentemente, R não sentia nada disso. E então Hunter entrou na mata, sem explicações. “Venham. Pode sentir o cheiro, Ra... R?”, Hunter perguntou, quase mencionando o nome dela. Estava me matando de curiosidade, mas parei para me concentrar, junto de R. Cascalho. Água e cascalho. Ouvi o som de água corrente, não muito longe. Já seguíamos Hunter. Um possível riacho nos esperava.

Como esperado, havia um riacho que não era fundo, mas podia-se nadar tranquilamente. A água da corrente forte respingava em nós, e causava uma sensação refrescante. O aroma ali era tão natural que deixava o local mais agradável. Hunter se transformou, voltando a ser humano. “Quer ver isso, Amada?”, R perguntou, rindo. “Não!”, exclamei, e ela baixou o olhar, ainda rindo. “Eu ainda posso ouvir vocês duas, estão cientes disso, certo?”, a voz de Hunter nos surpreendeu. R riu. Eu fiquei em silêncio, envergonhada. Ele sorriu cruelmente, sabia que se eu fosse humana, estaria tão vermelha quanto meu Capuz. Entrou na água, lavando-se do sangue. A água batia-lhe no meio do peito, e provavelmente conseguia firmar os pés no chão. “Já chega R. É a vez da Pirralha agora”, disse mentalmente. R resmungou, mas lentamente eu voltei a ser eu, buscando desesperadamente pelo capuz. Era impressionante como ele tinha poder sobre ela agora. Intacto, ele estava próximo a uma pedra. Era um alívio ter algo que além de não rasgar, sempre reaparecia perto de mim, mesmo que eu estivesse longe dele. Vesti-o, desconfortável, enquanto Hunter mergulhava tranquilamente. Recostei-me numa pedra, mexendo no chão úmido.

– Não vai se lavar? Nem aproveitar, Pirralha? Que tipo de Loba é você? – Questionou, revirando os olhos. Suspirei.

– Mergulhe. – Pedi, sem olhar para ele. Ouvi seu resmungar, algo como: “Uma Loba infantil que cresceu na cidade”. Retirei o capuz rapidamente, já entrando na água, o nível ficava no meu pescoço, próximo ao rosto. Ele emergiu, suspirando,

– Pronto, Princesinha. Já pode relaxar. Não estou aqui para olhar para você. Nem tem o que olhar. Alguém já te disse que parece um garoto? Parece um garoto. – Provocou, rindo de minhas expressões incrédulas. Revirei os olhos, virando de costas e mergulhando. A água a toda minha volta me relaxou, e me fiz o favor de esquecer que Hunter estava ali, me afastando cada vez mais. “Ele consegue te irritar mais que eu? Não é justo”, R resmungou. “Sério? Não se preocupe, ninguém vai te tirar o título de vaca atormentadora”, respondi-a, incrédula. Ouvi seu riso, e mais nada. Algo chamou minha atenção, eu nadava, mas continuava indo para trás, cada vez mais forte. Eu estava chegando perto demais da corrente forte, e já não podia nadar contra ela, então me deixei ser levada com calma. Com calma até que ficou forte demais. Comecei a me desesperar quando a água revolvia e quase engolia minha cabeça. Até bater em algo sólido, e poder ver o sangue se espalhar, enquanto o joelho cortado pela pedra se revelava. Tentei me agarrar, mas não conseguia. Escorregadia demais. Hunter devia estar distante, eu havia me afastado por conta própria. Ou não. Novamente bati em algo sólido, sólido e que emanava calor. Os braços de ferro me envolveram e me puxaram para fora da corrente, meio cuspindo água, meio tentando respirar. Estava na parte calma e rasa do riacho. “Nem nadar consegue. Tão patético, não posso acreditar que seja o meu corpo agora”, R soou, indignada.

– Mas que droga, tenho que te por num quarto acolchoado? Está bem? Sua irmã me mata se tiver se machucado demais. – Questionou, ainda me segurando. Encarei-o. Ainda querendo salvar a própria pele, adorável. O corte já cicatrizara. Por um momento só nos encaramos, ele emanava um calor surpreendente, como um... Ursinho gigante. Um ursinho gigante com cheiro de pelo, sangue, e hortelã. Ri com o pensamento, e me desvencilhei dele.

– É. Ela vai te matar. Estou morrendo. – Disse, fingindo um desmaio bem falsamente. Ele riu de escárnio.

– HA-HA. Muito engraçado. Sei que me quer morto, mas pelo visto está bem. Vamos embora, Soana já deve estar surtando. – Respondeu, se levantando do riacho e correndo para dentro da mata. Coloquei o capuz e segui-o. Chegamos à cabana, ele já estava vestido, até mesmo com a camiseta, agora já seca. Percebi algo.

– Hunter, eu não tenho mais roupas. – Disse, beirando um estado caótico. Ele me analisou, pensativo. O Capuz cobria até quase metade da minha coxa, mas ainda não me deixava confortável sob seu olhar.

– É mesmo... Bom, vamos logo. Não vai te matar ir assim. Não mostra nada, e quando chegarmos, te arranjamos roupas. – Resmungou, dando de ombros e indo para a porta. Postei-me entre ele e a saída.

– Nem fodendo que eu saio assim daqui. – Respondi-o, decidida. Ele suspirou.

– Certo. Faça um feitiço. Transforme minha camiseta numa jeans e vamos logo. Eu sei que não costuma usar nada por baixo da blusa vermelha, tampouco da jeans. Mas anda logo. – Disse, e eu me perguntei como é que sabia dessas coisas. Mas me concentrei quando ele me estendeu a camiseta, quente por alguns instantes em seu corpo. Encarei o tecido, e pensei: “Transforme-se”. Lentamente a coisa se alongou, a textura ficou resistente, e se tornou uma jeans. Vesti-a, saindo com Hunter pela porta, e iniciamos o resto da viagem. Podia ser inacreditável, mas eu já estava com sono. Aquela confusão em minha mente me deixara inconscientemente exausta. “Você só sabe dormir, Amada?”, R questionou, mas não me dei o trabalho de responder. Abracei-me a Hunter – a essa altura já era natural – e entrei em um estado de sono profundo, para não dizer próximo ao coma.


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