Arma Química escrita por Darlen


Capítulo 7
Sexto Capítulo: Ajuda de um prisioneiro.




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Ton não fazia o estilo sortudo, nunca ganhara nada. Ele não tinha sorte no jogo e muito menos no amor. Mas parece que tudo aquilo havia mudado diante das atuais circunstâncias.

Ele teve a sorte de ganhar a vida. Mais uma vez. Começou a achar que talvez nunca precisou de sorte de verdade, agora que é tempo certo. E ele agradeceu por isso. Teve a sorte de encontrar uma mulher louca, na qual teve a terrível ilusão de que Ton era seu marido e deu a vida por ele.

Ton caminhou alguns passos, que pareciam ser mais longos do que o comum. Com seu tornozelo latejando e ainda ter que correr de alguns zumbis, só aumentou aquela dor depois que o sangue esfriou. Já em um tanque, as coisas começaram a se acalmar, de certa forma.

–Fique quieto. No três eu vou colocar seu tornozelo no lugar. Ok? -Avisou -Um...Dois...Três! CRECK!

O som abafado dos gritos de dor fizeram, os passageiros levarem suas mãos aos ouvidos.

–A sua sorte foi apenas torcer, e não, quebrar. -João, o médico descendente de japonês do grupo falou, dando-lhe uma pílula para dor.

Ton não sabia para onde estavam indo, e sinceramente, não queria perguntar. Com tanto que descansasse um pouco. Antes de cair no sono ele pôde observar sua família. Sua mãe abraçada a ele, assustada. Pela primeira vez desde que ele tem lembrança, ela não tropeçava por entre palavras. O que era estranho, já que sua mãe era muito tagarela. Luanda também estava lá, seus olhos que mais pareciam ter perdido o brilho, estáticos. Olhando para o nada. Ela se balançava para frente e para trás, como se não pertencesse àquele lugar.

Durante seu sono, Ton teve um sonho. Ele estava num campo, com árvores; frutos; lagoa e balanços. Ele estava com seu pai, cujo largou sua mãe quando ele ainda era pequeno e nunca mais apareceu. Eles estavam jogando futebol. Mas de repente, o cenários se transformou. De repente a grama estava toda queimada, com poças de sangue. A lagoa era vermelha e corpos boiavam na mansa água. E quando ele se virou, para observar atrás o que se remexia, era seu pai. Seu pai zumbi. Ele começou a correr, mas seu pai era rápido. Ele jogou um banco para se defender, mas errou o alvo. Seu pai o alcançou, e começou uma luta corporal. O pai-zumbi deu-lhe um murro e então... Então ele acordou. Ton acordou com o nariz sangrando.

–Meu filho? -A mãe já temia o pior, qualquer sinal de sangue é de tremer os ossos diante de tudo que estava acontecendo.

–Está tudo bem, foi só um pesadelo, mãe.

Sua cabeça latejava, como sempre acontecia depois de sonhos ruins.

O tanque deu uma parada brusca, do nada. Eles observaram Gregório, duvidosos. Todos se perguntando o que estava acontecendo. Eles entreolharam-se, enquanto Gregório abria a porta do tanque. E saltou veículo à fora.

Todos o acompanharam para observar. Bem, não era um motivo muito grande para estacionar ali.

–Olhem só, que garotão assustado. Está com medo desses monstros fedorentos, é? -Gregório falava como um débil. Quem diria, ele era durão, mas adorava um cachorro.

Ele fez com que soltassem uma risada, apesar de tudo. Era estranho ver uma muralha de homem falar daquele jeito, como se o animal entendesse cada palavra, -Ton pensava.

–Podemos ficar com ele? -A pequena menina de lacinho no cabelo perguntou.

–Lamento dizer que não, garotinha. Acho que ele vai ter ficar aqui mesmo. -O soldado alegou.

–Mas vai deixá-lo morrer por esses zumbis? -Charles perguntou.

Ele olhou para o labrador, com aqueles olhos brilhantes que pediam para salvá-lo. Ele estava amedrontado, literalmente com o rabo entre as pernas. Como todos estavam. Esfregava seu focinho nas pernas do soldado. E Gregório fazia carinho nele. Nas orelhas. Cabeça.

–Eu não posso mesmo deixá-lo aqui para sofrer. -Ele disse brincando com o cão.

Ele alisou a cabeça do cachorro assustado, deixou que ele o desse uma boa lambida nas bochechas. Olhou-o nos olhos e quebrou seu pescoço.

Matando-o friamente.

O estalo foi alto o suficiente para a pequena menina soltar um gemido. Então Gregório jogou o corpo do animal na calçada. Todos revoltados, mas não soltávamos uma palavra. Todos sabíamos que mal teriam comida para se alimentar, quanto mais um cachorro. Talvez fosse a medida certa a se tomar.

A menina abraçada ao pai com lágrimas nos olhos. Todos olhavam para Gregório com espanto. Menos Ton, ele amava cães. Em outros tempos não faria e nem deixaria que o fizesse tamanha maldade, mas não questionou. Pois diante daquele mundo, aquilo parecia até um bem a se fazer.

–Não parei só pelo cão no caminho, a partir daqui, vamos a pé. Juntem as coisas. -avisou.

Ton e o grupo estavam assustados demais. Primeiro por toda essa merda que tinha tomado conta do mundo. Não tinham nenhuma noticia sobre o que haveria de ter acontecido ou sinais de que tudo iria melhorar. Perderam pessoas amadas e membros do próprio corpo. Estavam assustados, em choque e famintos. Muitos ali não tinham condição de matar ninguém ou coisa nenhuma para se defender. A perda de Caio. A noiva louca que dera a vida por Ton. Os sons infernais daqueles grunhidos por todas às partes do metrô e algumas do caminho aterrorizavam ainda mais. A cada sinal de zumbi eles corriam ou se escondiam. Para todos, até mesmo a pequena menina, -que Ton descobrira o nome: Lara, -agora possuía uma pequena faca para o caso de se defender. Por todas as partes carros mal estacionados nas ruas. Lojas saqueadas. Sangue e lixo pelo chão. Diversas vezes tiveram que desviar de corpos se decompondo no chão. O ambiente estava com mais moscas do que o comum.

Enquanto eles procuravam qualquer coisa útil, em dupla, a menininha quis procurar com Ton. Ela pediu que seu pai a deixasse acompanhá-lo.

–Ei, venha, vamos procurar naquele carro ali. Mas temos que ter cuidado... -Ton disse para a menina. Ela assentiu.

Ela era silenciosa, mas seus olhos acusavam milhares de perguntas dentro dela.

–Você tem irmãos? -Foi o que ela perguntou.

Ton deu uma olhadela nos bancos traseiros do carro.

–Não, eu sou filho único. E você?

–Eu também sou.

A menina achou remédios na porta do veículo e deu-lhes para Ton guardar na mochila, analgésicos provavelmente.

–Eu costumava querer ter irmãos, mas agradeço por não ter hoje. Agradeço por não sofrer a morte de mais alguém. Por meu pai não sofrer ainda mais, já basta comigo. -ela disse.

–Pensando bem, não seria tão ruim uma ajuda a mais para buscar mantimentos e remédios, hein? -Ton brincou, mas a expressão da menina estava séria. Apesar de nova, ela entendia muito bem o que estava acontecendo.

–Talvez isso tudo tenha acontecido para nos ensinar a trabalhar em equipe. Para nos mostrar que sozinhos não somos quase nada. Sozinhos não temos grandes planos, nossa força se esgota, nossa mente nos maltrata. Sozinhos morremos. -Ton disse.

A menina sorriu de lado, Ton era louvável na arte de falar coisas que, geralmente, preenchiam o coração dos outros.

Eles estavam conversando quando um barulho veio de um prédio ao lado, que antes disso tudo deveria ser um banco. Lá dentro, havia algo se mexendo. Um zumbi, -pensou Ton. Porém ele estava enganado, era um homem. Ele acenava e falava diversas coisas, que não davam para compreender. Ton colocou Lara para trás de seu corpo. Olhou de lado e puxou a menina pelo punho, em direção ao carro.

–Fique aí, está bem? -A garota assentiu e ele foi caminhando com a mão em sua arma.

O homem parecia desesperado e apontava para a porta. Ele tentava passar uma mensagem para Ton com urgência. A porta. Ton foi rapidamente tentar abrí-la, mas estava emperrada. Forçou-a para abrir, mas não conseguiu. Uma checada para ver a menina: tudo em segurança. Forçava a porta e nada. O homem desesperado, manuseava a mão para tentar abrir também. E nada. Um olhada na menina e... Onde ela estava? Uma batida no vidro indicava que uma dúzias de zumbis estavam lá dentro, loucos para devorarem o homem. A menina? Finalmente deu um grito.

–Socorro, Ton! -eles estavam longe do grupo. Um zumbi que saíra da mala do carro, que estava aberta, puxava o pé da menina. Ela tentava fechar a porta, mas... Nada. O zumbi era mais forte.

Ton precisava ser rápido.

O homem precisava de sua ajuda e a menina também.

–Socorro! -a menina gritava.

–Toc, toc, toc, toc. -batidas repetidas no vidro.

Pense, Ton, pense rápido.

O tempo passava mais uma vez em câmera lenta, como naquela vez do carro. Na primeira vez que fugiu dos zumbis. Ele necessitava ser rápido.

Então ele quebrou o vidro. A merda já estava no ventilador mesmo. Ao menos daria um tempo daquele homem de sair do prédio. O vidro se quebrou e ele se jogou no chão. Seus braços e pernas com estilhaços de vidros, sangue escorrendo. Ele correu.

Correu para puxar o monstro. Ele agarrou o monstro pela cintura com um solavanco. O zumbi largou os pés da menina e virou-se para Ton, mas deu-lhe um soco no zumbi.

O homem acompanhado por dúzias de zumbis, corria em sua direção do carro. Ton lutava por sua vida. A menina gritava, assustada. O homem corria. Os zumbis, ensandecidos atrás. Um chute no abdômen do morto-vivo. O peso dele contra seu corpo. Ton conseguiu dar uma virada, alcançou sua faca e a cravou no crânio do zumbi. SPASH! Seus miolos foram perfurados e a besta, finalmente fora morta.

Mas os zumbis ainda corriam, mesmo que vagarosos, eram o suficiente para distribuir mordidas.

O homem pegou a menina no colo e saiu correndo, o mais rápido possível.

Ton, ainda mancando pelo incidente no metrô, atirava em direção ao zumbis. Um. Dois. Três zumbis caídos ao chão. Mas sabiam que aquele barulho só iria atrair ainda mais deles.

A menina gritava e o homem a carregando. Seu pai conseguiu vê-la. Também viu o homem lhe carregando. E Ton, logo atrás, atirando.

Os homens sacaram suas armas e de repente, estavam cercados. Zumbis para todos os lados. O homem desconhecido pôs a menina no chão.

–Rápido, para o caminhão. -estava próximo e os homens o checaram, estava com o tanque cheio.

–Eu sei para onde ir. Vamos para aquela ladeira, lá em cima. Vamos! -falou o desconhecido.

Todos correram para o caminhão. Um aglomerado de monstros estavam pela rua, mas ficaram para trás, ao andar do caminhão. Gregório resolveu dar uma despistada e subir por outro caminho. O homem estranho falava de um abrigo, no alto daquele morro. Numa antiga favela. Um lugar que deveria estar cheio de zumbis, o que parecia suicídio. Mas eles não tinham lugar para ir.

Ofegantes. Nervosos. Palpitações precipitadas. A menina chorava nos braços de seu pai.

–Mas que merda foi essa? -O soldado loiro perguntou.

–Sim, meu filho, o que aconteceu?

Todos tinham perguntas a fazer. Michella o encarava aturdida. Charles deu-lhes água. João, o médico, e os outros soldados observavam. Luanda, como sempre estática, desde Caio ela estava assim. As outras mulheres estavam mordiscando os lábios, amedrontadas. Ton explicou toda a situação.

A mãe de Ton olhava para o homem desconfiada. Algo dizia que ela o conhecia de algum lugar. A situação foi tão agonizante e rápida que ninguém prestou atenção no estranho que ali estava.

Ao olhá-lo com mais atenção seu coração veio até a boca. Precipitado. Talvez aquele homem a assustasse muito mais do que os mortos que caminhavam.

Ele era Ramón.

Pai de Ton.


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