Uma história de amor um pouco diferente escrita por Weslley Fillipe


Capítulo 13
Capítulo Doze - Acordo numa cabana velha.




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Amanheci naquele dia debaixo do chuveiro morno, Megan e Gabriel estavam em pé perto do box, quando eu ia perguntar o que estava fazendo no banheiro, eles fizeram um gesto em direção ao meu quarto e na hora eu percebi : havia tido um ataque leucêmico no meio da noite.
– Não irei perguntar se dormiram bem, portando me desculpem.
– Eu odeio a Jully cara. - Gabriel
– Ela parece aquelas bonecas assassinas. - Megan
– De boneca ela não tem nada, agora de assassina...
Me troquei e fui para o sala com meu livro ler um pouco, não estava com fome portando não tomei café da manhã, apenas comi uma maçã.

Logo na tarde do domingo minha mãe achou que eu precisava sair, que estava muito dentro de casa e isso não fazia bem pra minha doença.
Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa ao meu favor, ela já havia comprado dois ingressos pra uma balada onde eu não conhecia ninguém.
– Está dizendo que você vai deixar eu ir sozinho pra uma balada onde tem drogas, bebidas e doenças?
– Você precisa sair um pouco afinal.
– Vou sozinho ?
– Não, pedi para os pais da Amber deixá-la ir com você.
– Você convenceu os pais da Amber deixá-la ir comigo numa balada onde tem drogas, bebidas e doenças?
– Foi difícil, mas sim
– Tá então... Tá. - Eu achei que minha mãe queria um pouco de liberdade, mas não disse nada, afinal ela também tinha o direito de ser feliz.

Amber chegou na minha casa ás nove horas da noite com seu pai.
– Hey Harry, cuide da minha filha está bem ? - O pai dela diz
– É capaz dela acabar cuidando de mim Sr. Collins
– Vamos ter cuidados papai, prometo.
Regra número um, se você é um adolescente com câncer : nunca prometa que irá ficar tudo bem.

Ela sentou no banco do carona do carro da minha mãe, eu no volante e partimos.
– Você sabe onde é ? - Amber
– Bem, não faço a mínima ideia.
– No ingresso não diz ?
– Não, apenas diz '' venha se ferrar com a gente ''
– Interessante.
Antes que eu desse meia volta, recebo uma mensagem de Gabriel parecida com um enigma : Siga as luzes e a música alta.
Tudo bem, seguimos em frente por quarenta minutos, ao norte até avistarmos várias luzes brancas pelo céu. Uma batida eletrônica tão forte que o carro quase para.
Dirigi por mais quinze minutos até avistar onde estavam pegando os ingressos, não gostava nada daquele lugar.
Eu e Amber demos nossos ingressos, perguntaram quantos anos tínhamos e dissemos dezoito, claro.
Quando entramos, Amber sentou numa cadeira que estava á direita da porta e eu fui comprar duas bebidas pra gente. ( lá não vendia coca-cola, fazer o que né )
Ela não gostava de bebidas alcólicas, eu também não, nossos cânceres também não, mas estávamos com sede.

Estávamos interagindo feito dois idiotas, no meio de um bandode adolescentes drogados e loucos, dois idiotas que não sabiam dançar.
Bebi minha dose depois de uma hora, Amber depois de duas. Uma garçonete passou servindo outra dose por conta da casa e claro que pegamos. Junto á bebida havia um tipo de comprimidinho branco e um rosa no copo dela. Achamos que era doce e misturamos junto a bebida.
Regra número dois : Se você é adolescente e tem câncer, nunca use drogas!

Aquele doce mágico era incrível! Eu e Amber começamos nos agarrar em um momento, no outro estávamos agarrados com outras pessoas desconhecidas, em outros estávamos jogados no chão. Eu estava muito tonto, não conseguia entender nada, mas percebi algo : Amber estava no chão e sem seus cateteres.
Regra número três : Se você tem câncer não fique sem seus cateteres por mais de cinco minutos, você pode morrer.
Eu tentei ir em direção a ela, mas várias pessoas me empurravam e eu ia me distanciando cada vez mais, gritando o nome dela e ela apagada.
Teve uma hora que parecia ter visto dois homens altos e morenos segurando ela por cada um dos braços, eu tentei impedi-los mais nem conseguia levantar do lugar onde eu estava jogado.

Quando eu finalmente consegui me levantar, eu saí puxando a blusa de todo mundo, levei vários socos e cuspidas na cara até finalmente não aguentar mais e desmaiar.
Regra número quatro : Se você é nerd e tem câncer, não tome socos na cara e nem tente se esforçar demais.
Fiquei desmaiado por cerca de duas horas de acordo com as dores em meu corpo.
Enquanto estava desmaiado, sonhei que eu estava num lugar cheio de fogo, ( provavelmente o inferno ) e um homem gigante e vermelho ( provavelmente o diabo ) ria de mim com uma risada assombrosa repetindo várias vezes '' ela morreu por sua culpa seu otário! Você queimará aqui pelo resto de sua vida! ''
Acordei num susto com o corpo dolorido que bati a cabeça em algo que parecia panelas. Havia um homem sentado a porta, um senhor branco e baixo barbudo com um cigarro na boca disse :
– Você e a sua namorada tiveram sortes de eu ter achado os dois jogados na estrada, essas horas eram pra estarem mortos!
– Onde estamos ? O que você fez com a Amber, o que você ... AI!
– Fique quieto menino - ele colocou a mão na minha testa pressionando com força. - Você está queimando em febre!
– Por favor.... Por favor me diga o que aconteceu com a Amber!
– Sua namorada está no outro quarto cochilando.
– Ela está bem ?
– Tirando o fato dela ter câncer e ter perdido os cateteres diria que sim.
– Como... Como o senhor sabe que ela tem câncer ?
– Fui médico há cinquenta anos rapaz.
– Entendo... Mas ela perdeu os cateteres! Como pode estar conseguindo respirar ?
– Fui médico há cinquenta anos rapaz.
– O senhor já disse isso
– Pelo fato de eu ter sido médico há cinquenta anos é claro que teria um cateter sobrando no meu antigo consultório!
Eu não sabia quem ele era e nem se estava dizendo a verdade, mas era a única pessoa com quem eu podia contar no momento. - Muito obrigado por estar nos ajudando... Onde estamos? O que aconteceu ontem ? Por que estávamos jogados na rua ? Por está nos ajudando ?
– Chega de perguntas, você está fraco e precisa repor as energias,antes que sua leucemia ataque novamente igual fez ontem.
– Como o senhor... Ah já sei, médico há cinquenta anos.
O senhor assentiu com a cabeça.
– Como se chama ?
– Maciel. Francisco Maciel Bento.
– Maciel Bento.. O senhor... O senhor é parente da doutora Maria Ester ?!
– Sim, sou o pai dela.
Aquilo foi uma surpresa incrível pra mim, eu estava sendo salvo pelo pai da doutora que estava salvando minha vida.
– Pela sua surpresa ela deve ser a médica que está cuidando da doença de vocês, correto ?
– Sim, ela é uma médica incrível.
– Eu sei.
– Assim como o pai
– Não, ela é melhor que eu.

Não discordei. Eu me levantei devagar porque ainda sentia dor e fui até o quarto vizinho. Não fiz barulho algum pois o Sr. Francisco havia dito para que eu não a incomodasse, o estado dela era diferente do meu.
Após tomar meu café, sentei na varanda dele, ele estava fumando novamente.
– Me desculpe pelo incômodo.
– Eu sou um ex-médico rapaz, eu fiz um juramento que salvaria qualquer vida que estivesse morrendo na minha frente.
Não disse nada por cinco minutos.
– Poderia me explicar como foi que nos encontrou ?
– Bem, vou resumir... Eu estava indo até uma farmácia comprar remédio de pulga para o meu cachorro. ( ele havia um cachorro gigante que eu não fazia ideia de como não notara antes ) E quando cheguei na avenida vocês dois estavam jogados todos sujos com os celulares em cima da barriga da garota. Pelo jeito que o pulmão dela remexia buscando ar percebi na hora que tinha câncer e levei os dois pra minha casa.
– Um hospital não seria mais seguro ?
– Não, ele estava muito distante, não me interrompa.
– Desculpe...
– Bem, então trouxe os dois quase sem vida pra minha casa, coloquei um cateter reserva que tinha na garota e dois tubos de oxigênio e fiquei orando para que ela não morresse na cama onde minha filha morreu. Você foi mais simples, só estava machucado e sangrando pelos pulmões por causa da leucemia. - Ele dizia isso como se fosse algo simples.
– Sua filha... Ela tinha câncer ?
– Leucemia, morreu com dezesseis anos.
– Entendo, então é por isso que sua filha, a Dra Maria Ester se preocupa tanto comigo.
– Quando ela morreu, Maria tinha dez anos. Ela jurou pela sua própria vida que faria o que for possível pra salvar todo mundo que tem câncer.
– Ela não permitiria que outras pessoas sofressem o que vocês sofreram.
Ele assentiu. - Ela já salvou cerca de quarenta vidas, nunca falhou.
– Presumo que eu serei o primeiro, sinto muito decepsioná-la
– Estado terminal ?
– Quase.
– Ainda tem esperanças
– Dou essas esperanças para alguém que amará a vida mais do que eu.
Após nossa conversa, ele se levantou e foi até a sala, pegou um livro intitulado '' O diário de Anne Frank '' e me entregou. Eu conhecia aquele nome, ele foi citado em '' Uma Aflição Imperial ''. Não disse nada, apenas peguei o livro e comecei a folhear.
Pelo pouco que li, Anne era uma menina alemã que morreu aos quinze anos na Alemanha nazista; eu havia entendido a mensagem, ele quiz me dizer que não precisa estar saudável para viver feliz, que a morte não escolhe saúde, ela escolhe pessoas.
Amber acordou duas horas depois que eu. Estava segurando sua mao :
– Onde..
– Está tudo bem.
– Seu rosto, está machucado!
– Já disse que está tudo bem sua boba, não se preocupe.
Ela olhou para os lados e não conheceu nada, viu um senhor sentado na cadeira fumando um charuto e lendo um jornal, uma cabana velha quase caindo aos pedaços.
Ela apontou para o senhor
– Ele é a pessoa que nos salvou.
Ela assentiu e relaxou os pulmões, soltou um gemido de dor e apertou minha mão. Eu beijei sua testa e deitei sobre seu peito.
Vinte minutos depois ela se levantou e comeu um pouco de sopa que o velho tinha preparado. Ele olhava pra ela com os olhos tão iluminados que estranhei que fosse algum estranho, até que olhei para um quadro atrás da porta da sala, uma foto antiga de uma garota indêntica a Amber, tão linda quanto.
– Aquela... É sua filha ? - Disse, Amber olhou para o quadro
– Sim, minha doce Annie.
– Ela... Ela se parece comigo! - Diz Amber
– Foi por isso que nos ajudou ? - Harry
– Também, mas quando nos tornamos médicos, juramos pelas nossas vidas que salvaríamos qualquer ser que estivesse morrendo . - Ele já havia dito aquilo.
Ficamos nos entreolhando por vinte minutos até que Amber limpa a garganta fingindo uma tosse :
– Bem, então... Quando poderemos ir embora ?
– Vocês não podem, não agora.
Confesso que fiquei com medo.
– E por que não ? - Eu disse
– Estamos agora há mais ou menos setessentos quilômetros da casa de vocês.
– Mas você disse que nos trouxe pra cá por que o hospital era muito longe! Não creio que fosse mais longe que setessentos quilômetros!
– Ah, bem ... É que ... - Ele corou, seus olhos encheram de lágrimas e então eu me calei.
– Desde que minha filha morreu, Maria nunca mais me visitou, minha esposa me abandonou, vivo sozinho há mais de trinta anos.
– E por isso nos raptou ? - Amber diz
– Bem, não. Vocês dois quase morreram ontem, se saírem daqui antes de estarem recuperados irão morrer no meio do caminho. - A expressão triste se fora, e a expressão solitária retornou.
– Bem então, acho que seremos seus hóspedes até melhorarmos, nos desculpe - Digo. - Então não temos outra escolha, vamos ajudá-lo a limpar aqui. - A casa parecia um chiqueiro.
– Não seja tolo garoto, se vocês não aguentariam uma viagem de carro quem diria limpar esse chiqueiro que é minha casa! - Ele disse, com o cigarro entre os dentes da frente. A barba chamuscada e o rosto todo sujo.
Amber me olhou com medo, eu sorri como se dizia '' vai ficar tudo bem, não se preocupe '' .
Amber nunca havia usado droga na sua vida, e a noite passada foi sua primeira vez. Eu falhei ao tentar diverti-la, eu falhei ao tentar protegê-la, eu falhei em tudo, e agora sua doença avançara mais um pouco.
Ele nos '' permitiu '' que déssemos uma volta em torno da casa, precisávamos de um tempo a sós. Amber sentou do meu lado e cruzou os braços com o meu, ela percebera que eu estava me sentindo culpado.
– Hey, ta tudo bem não se preocupe, você nem queria ter ido naquela festa idiota. - Ela diz
– E pelo visto você também não ...
– Faço tudo pra agradar o garoto que eu amo. - Ela me beijou no rosto.
Fiquei totalmente vermelho na hora e sem palavras, não sabia que ela sentia aquilo por mim.
Eu acenti com a cabeça e começamos a nos beijar. Ela estava com um pouco de falta de ar então deitamos de lado.
Regra número cinco : Se sua namorada tem câncer e usa cateteres não beije deitado de lado.
Ela sentiu um pouco ofegada e nos levantamos. Ficamos de pé.
– Eu ti amo, sabia ? - Ela diz, na expectativa de eu responder ao amor dela.
– Eu...Bem... Fico feliz por isso. - Digo por fim. Afinal, estava confuso ainda com esse assunto.
Ela sorri,um pouco decepsionada; beija minha testa e entra pra dentro. Sento e fico olhando o lugar onde estávamos, era um lugar horrível.


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