Alpha: O mundo antes de Divergente escrita por Regiane Belmonte


Capítulo 13
Capítulo 13




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Enquanto lavava meu cabelo pensava sobre as palavras de Kara, realmente seria mais fácil ter uma nova identidade, o que eu quero deixar para trás não poderá me perseguir se eu fizer isso. Selkis, tinha que ser ideia do George mesmo, não tinha reparado como me sentia sozinha sem os dois ali. A região onde tinha sido dados os pontos estava dolorida e pentear esses cachos cheios de nós só estava me causando ainda mais dor. Kara deve ter ficado preocupada com meus protestos e gemidos de dor durante a tentativa frustrada de pentear meu cabelo, porque assim que joguei a escova na cama, desistindo dessa luta, ela entrou.

– Está sentindo muita dor? – Kara perguntou.

– Não muita, é só que pentear o cabelo sem ter a sensação de tirar cada ponto que tem na minha cabeça é quase impossível. – disse frustada me deitando na cama, já com o uniforme da Audácia. – Desisto, ele vai ficar armado e cheio de nós mesmo.

– Posso ajudá-la se quiser. – Kara disse sorrindo. Ela se aproximou da minha cama e pegou a escova que eu tinha abandonado, sentou-se ao meu lado como uma mãe faria com uma filha e cuidadosamente começou a pentear meu cabelo. – Seu cabelo é tão bonito, sinto muito ter tido que raspá-lo, se não tivesse sido necessário, eu nunca teria feito isso.

– Não tem problema, nunca usei meu cabelo solto mesmo, sempre usei um coque bem feito, a perfeição era essencial na vida de um membro da Erudição, eu estranho a minha aparência toda vez que olho no espelho pela manhã. – Cada palavra saiu de mim com muita facilidade. Eu apenas olhava para o chão e tentava imaginar como minha vida seria daqui em diante, era tudo tão louco agora que eu parava para pensar. Como eu escolhi a Audácia? Não vou sobreviver aqui e isso é obvio. Me sinto completamente tola nessas vestes negras e agora não tneho como mudar isso.

– Prontinho, sofreu demais? – tinha me esquecido da presença de Kara aqui, ela realmente penteou meu cabelo com muito cuidado, nem senti nada enquanto viajava.

– Nenhum pouco, obrigada. – puxei algumas mechas do cabelo e comecei a passar o dedo entre os fios.

– Sei que é parte do seu instinto, mas peço que não prenda seu cabelo até os pontos cicatrizarem, podemos ter complicações se você não deixar que ele cicatrize direitinho. – agora Kara voltou a ser uma enfermeira de novo.

– Tudo bem, nada de coques, ou rabos de cavalo ou qualquer coisa que deixe meus cabelos comportados. – fui dizendo enquanto virava de frente para a Kara. Ela sorriu com a piada, mas depois voltou a ficar séria.

– Então Naomi, como vou te chamar daqui pra frente? – ela perguntou.

– Eu abandonei a Erudição por um motivo e poder deixar esse passado para trás parece ser bem convidativo, mas será que Selkis é um nome adequado? – minha preocupação era verdadeira, não queria parecer uma tonta perante todos os membros da Audácia.

– Acredite em mim querida, esse é o nome perfeito. – o sorriso de Kara voltou e ela fez algo que me surpreendeu, ela me abraçou – Bem vinda a Audácia Selkis. – naquele momento eu me senti tão bem que não dizer exatamente o que estava pensando, só estava feliz por estar ali, na Audácia e isso era ao mesmo tempo aterrorizante e reconfortante. Assim que me soltou Kara olhou pra mim e disse. - Agora espero que faça jus ao seu novo nome. Cobra vai tentar descontar aquele seu pequeno momento de língua afiada com ele e eu realmente espero que alguém coloque aquele menino no lugar dele.

A confiança que Kara tinha em mim era um conforto, não sabia porque exatamente, mas aquilo era bom. Tínhamos um segredo entre nós, ela sabia a minha verdadeira identidade e estava disposta a se esquecer de tudo aquilo, em lugar estranho como a sede da Audácia, isso era como um refugio.

– Espero não te desapontar, farei o meu melhor. – respondi da melhor maneira que pude enquanto segurava a risada.

– Ótimo, agora vamos para o refeitório, jaja está na hora no almoço e acho que você esta com saudades de umas certas pessoas.

Ela se levantou e seguiu pela porta, eu queria ficar e descansar mais um pouco, mas eu realmente precisava ver a Tori e o George então lutei contra o instinto de ficar deitada e me apressei para alcançar Kara.

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Quando chegamos ao refeitório ele estava um pouco cheio já, não via nenhum iniciado, mas os membros da Audácia se espalhavam pelas mesas dispostas lá. Kara me levou até os pratos e fez com que eu me servisse, quando sentamos em uma mesa distante percebi o quanto estava faminta.

– Ficarei aqui até os iniciados chegarem, depois deixo você com seus amigos, tudo bem? – Kara disse isso com tanto cuidado que fiquei com medo do que significava aquilo.

– Oh, quer dizer que não vamos mais nos falar? – abaixei a cabeça para o prato e absorvi o silêncio do outro lado da mesa como sim.

– De onde tirou essa ideia ridícula? – Kara ria igual ao meu pai, como ela conseguia aquilo? – Não, é claro que ainda vamos nos falar, só vou deixar você a vontade com seus amigos, não quero que pensem que você esta com babá logo no seu primeiro dia.

Enquanto ela falava um homem moreno e alto, com uma postura bem desafiadora, entrou no refeitório, atrás dele um grupo de jovens com vestes negras. Não sei dizer o porque, mas imaginei que fosse o grupo de iniciados nascidos na Audácia, por isso voltei a prestar atenção no que Kara dizia, até que ouvi gritos dizendo “É ela” e voltei a olhar para aquelas pessoas que entravam. Antes que eu pudesse quase raciocinar, George estava me abraçando.

– Ta tudo bem Naomi? Você está bem? O que aconteceu com você? – ao mesmo tempo que ele estava preocupado com a minha saúde, estava aliviado por me ver ali.

– George, eu disse pra não chamá-la pelo nome enquanto ela não for anunciada para a Audácia, não sabemos se ela também quer deixar o nome dela pra trás. – Tori deu um sermão no irmão, mas logo se juntou ao abraço, se rendeu ao alivio de me ver ali agora. – Nunca mais me mata de susto assim, ficamos desesperados.

– E eu quase tive que matar um pra guardar uma cama pra você perto da gente. De nada. – George disse dando um beijo na minha testa. Tive que rir disso, a Audácia realmente faz bem para ele.

– Então Kara, como está a nossa iniciada? Pronta para já começar o treinamento? – Amar foi se aproximando da mesa e olhava com completo divertimento da cena onde eu era esmagada como um sanduiche pelos meus dois amigos.

– Ela está bem agora, mas precisa descansar o resto do dia, se não os pontos podem voltar a abrir. Mas devo confessar que essa é uma das recuperações mais rápidas que eu já vi, essa menina é bem forte. – Kara desviou os olhos dos olhos de Amar e encontrou os meus quando disse que eu era forte. Não entendi porque ela estava dizendo isso, mas fiquei aliviada de estar sendo defendida por alguém.

– Tudo bem então, você pode sentar e observar o treinamento, não quero ninguém perdido nas atividades de amanhã. – Amar olhou diretamente pra mim, essa atenção toda estava começando a me irritar. – E aliás, qual é o seu nome mesmo?

– Selkis. – respondi, tentei ser firme, mas Amar era extremamente intimidador e me assustava um pouco.

– Selkis? Que tipo de nome é esse? – e Amar começou a rir. Não tinha percebido mas Cobra e alguns outros membros da Audácia tinham se aproximado para ver o que acontecia e começaram a debochar do novo nome que escolhi para poder abandonar minha antiga vida.

– Deve ser um maldito nome de Erudição, porque é ridículo Amar. – Cobra chegou ao seu lado e se posicionou como um fiel escudeiro, rindo enquanto olhava pra mim.

– Na verdade Cobra, achei o nome exótico e adequado para ela. – Kara ia me defender novamente, eu sabia, não sei porque, mas tinha certeza disso, e não que eu não tivesse agradecida por isso, porque eu estou, mas eu precisava ter a minha própria fama agora. Na verdade eu já tinha, e é ela que eu vou usar.

– Adequado? Porque seria adequado? – Cobra ria tanto que imaginei que logo logo lágrimas escorreriam pelos seus olhos. Ele e mais alguns outros membros da Audácia riam descontroladamente. E eu não deixaria tudo isso dessa forma.

– Sabe o que é Cobra? É que algumas pessoas prestavam atenção nas aulas de História Humana, então não tive necessariamente que explicar alguma coisa. – Me soltei do abraço dos meus amigos e fiquei de pé encarando bem os olhos do Cobra. – Selkis é a deusa escorpião do antigo Egito, era conhecida por ajudar no nascimento e adiantar o caminho para a morte. Seu símbolo especifico é um escorpião pequeno e claro, altamente venenoso, se recebesse a picada de um, era morte instantânea, no máximo você tinha alguns minutos de vida, que eram acompanhados de uma dor agonizante. – Eu não sabia como, mas eu estava andando em direção ao Cobra, eu estava sendo levada exatamente como fui levada até o recipiente da Audácia. – Então, sugiro que não zombe do que você conhece, ou seu caminho para a morte pode ser adiantado. – Nesse momento eu estava de braços cruzados, olhando fixamente para os olhos de Cobra, a centímetros de seu peito, sua expressão era de completo ódio, eu sabia que o havia irritado e estava feliz por isso.

– Você fala demais criaturinha, devia saber que respeitar os mais velhos é fundamental para a convivência em qualquer lugar, já começou falhando nisso. Se eu fosse você eu tomava cuidado. – A nossa volta o silêncio era dominador, ninguém se quer parecia respirar, ele estava me ameaçando descaradamente, não podia demonstrar fraqueza.

– E eu já disse que você fala demais para alguém considerado astuto. – Encarei aqueles olhos negros por mais alguns segundos, me virei e me sentei na mesa aonde meu prato estava. Quando Kara saiu do transe começou a se levantar, segurando uma risada deu uma piscada pra mim. Aquela tensão pode ter durado vários minutos, ou apenas alguns segundos, mas para mim foi insuportável de todo jeito.

De repente uma explosão de risadas tomou conta do refeitório, os membros da Audácia colocavam a mão na barriga para rir. Eu não estava entendendo muito bem de quem eles estavam rindo até que o Amar gritou.

– Atenção pessoal, essa é a Selkis, a única pessoa capaz de fazer o Cobra calar a boca, vamos mostrar a ela os nossos mais profundos agradecimentos. – E todos os membros do refeitório começaram a gritar meu nome, era algo extremamente descoordenado, mas todos riam com aquilo. Enquanto eles gritavam, Amar veio até mim, me fez subir no banco e levantou a minha mão. Alguns membros da Audácia pareciam estar uivando, me senti tão envolvida por tudo aquilo que também comecei a rir. Amar gritou por cima do barulho. – Obrigada por me proporcionar essa alegria, já faz um tempo que alguém precisava dar um jeito naquele garoto.

– Precisando, sabe onde me encontrar. – E começamos a rir de novo.

Não sei exatamente por quanto tempo durou aquela barulheira, só sei que quando olhei na multidão a procura do Cobra, não o encontrei, não sabia exatamente se estava feliz ou triste por ter feito isso com ele, mas pelo menos agora ele sabe que não se deve subestimar o que não se conhece.


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