O ensandecer das luzes escrita por Matheus Cavallini Amaral


Capítulo 2
Capítulo 1 - Areias de sangue


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, mas enfim saiu o próximo capítulo! Espero que gostem, o primeiro deixou a desejar eu sei, mas vamos compensar neste.



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A chuva caía fracamente naquela manhã, o céu estava nublado, escondendo o aconchegante sol do nascer do dia. Na cidade de Noctrun pequenos comerciantes começavam a abrir suas lojas ou montar suas tendas no centro da cidade, um local grande com um gigantesco obelisco demarcando seu centro, nele havia diversos entalhes, pedindo força e riqueza à luz. Ao sul da cidade havia uma enorme construção circular feita de pedra branca e circundada por diversos estandartes de uma mesma bandeira, era rodeada por pátios e por pequenas construções, ali estava a joia da cidade, o motivo de quase todo o seu lucro e crescimento, uma construção tradicional daquele reino, o coliseu, lá diversas lutas eram apresentadas desde simples combates homem a homem até grandes representações de campanhas vitoriosas dos reis de Agrinor.

–Teme a morte gladiador? – disse o carcereiro, um homem com cabelos esbranquiçados, porém com o físico forte de um homem de vinte anos. O gladiador ficou em silêncio apenas observando a face do carcereiro, este por sua vez pegou seu chicote e perguntou novamente ao homem.

–Não temo a morte mais do que temo seu chicote – respondeu o encarcerado, homem jovem com músculos definidos, seus cabelos eram curtos e negros, no rosto via-se a marca das lutas, três grandes cicatrizes que o cobriam, uma do olho a boca, outra da bochecha para o queixo e a última da orelha até o nariz.

–É bom que não a tema, porque ela há de chegar em breve – com um sorriso cruel e palavras fúnebres o homem deixou o local.

–Garythan você acha que vamos morrer? – um jovem magricela veio de encontro com o gladiador acorrentado – Somos imortais, amigo.

–Todos os homens morrem, nós gladiadores somos feitos para morrer, ou na arena ou na cama com uma enorme garrafa de vinho barato e duas mulheres. – respondeu o encarcerado.

O homem magricela riu, ele não possuía cabelos e seu rosto era pequeno, não possuía cicatrizes exceto uma grande nas costas. –Você realmente como animar as pessoas não é? – Ambos os homens riram.

–Precisamos treinar Ankris, se o desgraçado estiver falando a verdade há uma grande luta chegando, se apronte o mestre logo vai chegar.

Passados vários minutos um homem forte trajando uma armadura de placas completa chegou, seu rosto era coberto de cicatrizes e seu nariz aparentava ter sido quebrado diversas vezes, em sua cintura estava preso um pesado molho de chaves, como de costume quatro homens armados completamente vinham junto dele, desencorajando qualquer fuga ou rebelião.

O mestre de armas levou os dezesseis gladiadores que jaziam na prisão para um espaço amplo, banhado pelo céu. A cada homem foi dada a chance de escolha entre várias armas como: espadas, escudos, lanças, maças, tridentes e redes. Em seguida foram divididos em duplas para o treino de combate, como de costume Garythan e Ankris treinavam juntos, pois foram uns dos primeiros gladiadores treinados pela família, logo eram amigos a muito tempo.

–Vamos idiotas, lutem como homens se não eu mesmo matarei vocês! – urrava o homem do chicote.

–Deixe-os treinar em paz, eu vi sua habilidade com amas, o pior dos meus gladiadores lavaria o chão com o seu sangue, seu rato imundo – sussurrou o treinador ao carcereiro – Agora quero suas equipes, rápido ou eu capo vocês seus vermes – bravejou o mestre de armas.

– O velho esta irritado hoje – sussurrou Ankris para Garythan.

–É o velhaco do chicote, pelo visto não é só a gente que o quer morto – dizia Garythan preparando-se para a batalha.

Os dezesseis gladiadores se dispuseram de dois lados da arena de treino, os grupos se posicionaram em linhas e prepararam-se para avançar logo em seguida. Os grupos entrelaçaram-se em uma grande batalha, ambos pareciam animais em busca de um pequeno aglomerado de comida, lutando como monstros até que apenas um grupo predominasse. Garythan junto de Ankris seguiam a frente do grupo, rapidamente derrubaram dois de seus companheiros do outro grupo, logo a equipe de Garythan sobrepujou o inimigo e então puderam comemorar a vitória. Tanto Garythan quanto Ankris eram invejados pelos outros gladiadores, pois por serem os membros mais antigos, dispunham de um ligeiro maior acúmulo de moedas, as quais defendiam com sua própria vida se necessário. Terminado o confronto o grupo vencedor foi instruído a ir para as suas celas e lá ficarem, como uma recompensa pela vitória em batalha.

Naquela noite havia vinho, o mais barato da cidade, contudo ainda era vinho. Garythan lembrou-se das palavras do velho “a morte há de chegar em breve”, de repente o vinho já não parecia ter gosto, a comida parecia pó em sua boca, seu coração acelerou algo estava errado, algo iria acontecer. Seus olhos fitaram os companheiros, bêbados com o vinho barato , fartos da comida sem gosto, trocando gracejos e histórias de antepassados, algo estava para acontecer.

–Temos de sair daqui, nós vamos morrer! - Gritou Garythan, seus olhos estavam vidrados olhando os companheiros.

–Esta louco? Somos imortais, vencedores da arena, ninguém pode nos matar, além de tudo para que nos matariam? Somos mais úteis vivos que mortos - respondeu um dos colegas - Sente-se e relaxe, ou durma você bebeu muito hoje.

O gladiador começou a olhar paras os rostos preocupados de seus colegas, procurando ao menos algum que o apoiasse, contudo ninguém respondeu sua suplica. Quando tornou a gritar, sobre a morte e a fuga de todos os gladiadores algo o atingiu na nuca, uma forte pancada que o fez perder a consiência, o golpe fora dado por Arrithan, um dos gladiadores favoritos do povo, pois nunca perdera nenhuma batalha sequer na arenas, possuía músculos exageradamente grandes e uma altura descomunal, seu rosto era coberto por uma enorme e suja barba, seu corpo era coberto de cicatrizes e ele as expunha como troféu de muitas batalhas.

O grupo levou o companheiro para sua cela trancafiando-o em sua alcova solitária.

–Ankris, ele sempre enlouquece quando bebe demais? - perguntou um garoto de quinze anos, era novo, estava havia apenas um mês dentro da escola de gladiadores, era um tanto magricela e aparentemente frágil, contudo possuía uma exímia rapidez na arena o que tornava o frágil jovem em um veloz animal, preparado para matar ou morrer.

–É a primeira vez, ao menos entre nós, o que acontece nos prostíbulos, fica nos prostíbulos meu rapaz. Vamos, temos de descansar, ouvi um dos guardas dizendo que teremos uma luta amanhã.

–Devemos avisar ao mestre sobre Garythan? - perguntou o magricela de quinze anos.

–Não, dê a ele uma noite, se estiver recuperado pela manhã nada falaremos - disse por fim Ankris, remoendo pensamentos sobre o que ocorrera com o amigo naquela noite.

Todos os gladiadores se retiraram para suas devidas celas e la ficaram, imóveis, o espíritos de todos ficou abalado ao ver Garythan enlouquecer na véspera de uma luta, pois ele por sua inteligência e força era visto como um líder por eles, mesmo entre aqueles que o invejavam e desejavam sua habilidade.

Longas e tortuosas horas se passaram até que a sombra da noite desse lugar a aconchegante e calorosa luz do nascer do sol. A cidade parecia mais viva do que nunca, um grande alvoroço de carruagens no centro da cidade criava um barulho insuportável, a gritaria das feiras podia ser escutada por toda a cidade, todos iriam ver o espetáculo que haveria no grande coliseu, pessoas vinham de vilas próximas para poderem apenas para ver a morte de alguns homens. O sol ja estava a pico quando as grossas portas do coliseu foram abertas, centenas de pessoas se deslocaram de uma única vez em direção ao local, atraídos pela sangue como moscas são atraídas pela simplória luz do archoque.

O sol ficava cada vez mais forte, as pessoas se amontoavam, buscando sempre um espaço para poderiam presenciar a rapidez da morte. Na parte central da arquibancada esquerda, uma região era coberta do sol por uma enorme tenda de cor azul, repleta de detalhes em fios dourados , dentro dela três enormes cadeiras foram colocadas para que o rei, a rainha e seu filho pudessem assistir ao glorioso espetáculoque estava por vir. Como de costume o rei deu início as lutas com um brinde a luz e um rapido discurso sobre como o reinado dele era farto e abençoado, em último momento, honrando a tradição guerreira do reino de Agrinor deu vivas aos militares presentes a seu lado, sentados em banquetas de madeira cobertas por lã e couro.

Diversas lutas ocorreram, tentando saciar a insáciavel sede de sangue da platéia, o intervalo entre elas o rei sempre parava e orava a luz e voltava a dizer sobre a prosperidade de seu reinado e do amor que ele tinha para com os plebeus a sua volta.

–Meus amigos! - começou o rei após o término de uma das lutas - Trago a vocês esses espetáculo! - o povo gritou vivas e elogios ao rei, com um gesto de mão pediu silêncio a todos- Agora, para comemorar o centenário do reinado de minha família e de nossa vitória, contra o déspota que governava estas terras! Hoje, comemoramos a nossa liberdade! - Urrou o rei, e com essas palavras o povo o aplaudiu e logo em seguida os gladiadores entraram na arena. Eram dezesseis, armados com espadas curtas e broquéis, vestiam um saiote de couro junto de um peitoral de ferro. Ao chegarem ao centro da arena sacaram suas espadas e as ergueram em direção ao rei, como uma saudação.

–Quem vamos enfrentar? - Perguntou Ankris, ele estava com aparência cansada e estava suado, como se houvesse passado a noite em claro.

–Não sei, mas preparem-se - respondeu Garythan, ele havia se recuperado recuperado parcialmente do ataque de loucura que o acometera na noite anterior - Os portões se abriram, atenção.

O grupo de gladiadores então se organizou em duas linhas, esperando calmamente o inimigo que estava adentrando os portões da arena. Um grupo de cinquenta homens entrou, todos trajando armaduras completas de ferro somadas a pesados escudos que os protegiam do joelho ao pescoço, na cintura traziam espadas curtas e adagas, dois deles destacavam-se, um por carregar o estandarte do rei, um pano azul com o desenho de duas lanças cruzadas sobre a cabeça d eum dragão que cuspia fogo e o outro por estar com uma espessa armadura de placas e uma poderosa espada bastarda. Os homens se organizaram em duas fileiras e levantando os escudos cumprimentaram o rei, seu nome eram Krillan II, seu corpo era forte com músculos definidos do treino como antigo com um cavaleiro, era um exímio lutador e um ótimo político, seu pai havia morrido em uma emboscada dos servos fiéis ao antigo rei. Krillan foi coroado aos dezesseis anos e já haviam três que estava no trono.

–Todos, atenção ao meu comando! - urrou Garythan aos companheiros ao perceber a situação em que estavam.

Os homens começaram a avançar lentamente, atentos a qualquer movimentação dos gladiadores, o rapaz que segurava o estandarte recuou para a frente da segunda fileira dos soldados enquanto o líder seguia a frente de todos. Garythan mandou que seus homens se unissem em uma única fileira organizando os mais fortes e habilidosos no centro.

–Olhem rapazes, servos do rei - gritou Garythan para todo o coliseu escutar - achei que íamos ter uma luta digna na arena hoje, estava enganado, enviaram apenas quarenta contra nós - gracejou.

As tropas inimigas começaram a avançar masi rapidamente, insitados pelo gracejo do sujo inimigo. Quando chegaram perto da linha de gladiadores o líder ergueu a mão, sinalizando que a segunda fileira aguardasse e seguiu para a batalha com metade de seus soldados. Como o esperado os soldados chocaram-se contra o centro da linha, procurando rompê-la, contudo o centro manteve-se firme, recuando poucos passos a medida que as pontas avançavam entrelaçando os soldados em um abraço frio e mortal. Garythan deixou a linha para enfrentar o líder, tentou golpeá-lo de surpres, mas ele abaixou no instante em que a lâmina cortaria seu braço e com uma rápida iniciativa contra atacou buscando o peito de seu oponente, este por sua vez ergueu o broquel defendendo o golpe as pressas, Garythan jogou-se no chão após defender o golpe e no instante que o oponente foi golpeá-lo jogou um punhado de areia em seu rosto em seguida trançou as pernas do homem com as suas e jogou-o no chão, um golpe e a vida do líder se fora junto com sua cabeça, os soldados agora jaziam quase todos mortos ou prestes a morrer, seus escudos eram grandes e desajeitados por isso foram rapidamente sobrepujados pelos rápidos gladiadores, como em um ritual Garythan para desespero de seues companheiros ergueu a cabeça do líder em direção ao rei e gritou:

–Ao rei!

O rei não mostrou-se indignado, mas pareceu sequer reparar no ato do gladiador apenas fitou perplexo a derrota dos soldados perante aos lutadores.

Ao ver o massacre da primeira linha o rapaz que segurava o estandarte resolveu ordenar aos homens restantes organizarem-se em duplas e avançou, confrontando diretamente os inimigos, estes que se organizaram rapidamente em um semicírculo preparando-se para defender e rechaçar as investidas inimigas. A batalha perdurou por mais um quarto hora, quando os soldados recuaram para tomar fôlego para um último ataque, os rostos de ambos, soldados e gladiadores, estavam empapados de suor e sangue, abatidos pelo cansaço e pela perda de seus companheiros . A noite chegara, a luz em todo seu esplendor iluminava a escuridão, na arena para iluminar a batalha diversos archoques foram acessos para que a platéia pudesse se deleitar com a obra da morte. Muitos naquele dia morrerram tanto soldados quanto gladiadores, todos de encontro com os vastos campos de luz abençoados ou amaldiçoados por seus companheiros. Ao redor da arena centenas de corvos espreitavam, esperando inpacientemente o seu jantar, preparados para assim que houvesse a chance abocanharem um punhado de carne fria. O anjo da morte andava por aquela arena, apenas observando o que estava por acontecer, feliz, com todo o sacrifício que foi concedido a ele naquele momento.

Apenas sete gladiadores restavam, Garythan e Ankris estavam entre eles, Arrithan havia sido derrotado, quando quatro soldados caíram sobre ele, quanto aos soldados haviam ainda dez remanecentes, todos atingidos pela dor do cansaço, o último avanço deu-se por fim, os soldados ergueram suas espadas e em um bárbaro ataque encontraram o doce e frio sorriso da morte.


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Notas finais do capítulo

Se puderem comentem, os comentários me fazer ver como esta o andamento da história se vocês gostaram ou estão insatisfeitos. Espero que gostem.

Em breve saíra o novo capítulo!



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