O Som do Espaço escrita por Leticiaps


Capítulo 2
Capítulo 2




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Philippa sempre foi uma criança sozinha. Ela as vezes tentava se enturmar, mas depois de um tempo ela simplesmente cansava. Preferia ficar sozinha mesmo e as pessoas não entendiam isso. Sempre preferiu ficar lendo em um canto enquanto as crianças de quatro anos ficavam correndo de um lado para o outro. Ou então, quando descobriu os instrumentos musicais, ficar tocando. Era um talento natural, ela simplesmente pegava os instrumentos e BOOM alguma coisa boa saia de lá. Era tudo que ela precisava.

O problema foi quando, aos sete anos, ela começou a ter insônia. Ninguém sabia o porquê. E ela não se importava muito. Na maioria das vezes quando estava sem sono, pegava seu cobertor, esquentava sua mamadeira com leite quente – porque sim, aos sete anos ainda tomava mamadeira – e ficava observando as estrelas, deitada no jardim.

Claro que nada daquilo fazia sentido para ela, era só uma confusão de pontos brancos no céu e que ocasionalmente formavam imagens. Mesmo assim achava legal ficar olhando, impedia que ela ficasse irritada por não conseguir dormir.

Até que uma noite ouviu um barulho estranho. Largou seu violino – normalmente levava também e ficava tocando baixinho – e seguiu o som. Era um som estranho, nunca havia ouvido antes e quando identificou de onde veio, ficou tudo mais claro: uma caixa policial havia aparecido em seu jardim.

Então esperou.

Sem saber exatamente quanto tempo ficou parada esperando alguma coisa acontecer, decidiu se aproximar, mas levou um susto quando a porta abriu.

Um homem meio careca e orelhudo, usando uma camisa vermelha e uma jaqueta de couro saiu de lá.

– Olá. Eu sou o Doutor. Não tenho certeza, mas acho que estou em... Oxford?

– Sim, senhor.

– Senhor, não, Doutor.

– Quem é você?

– Já disse, eu sou o Doutor.

– Isso não diz muita coisa sobre você.

– Não, não diz. E você, quem é? – mas lá no fundo, ela tinha a impressão que ele já sabia quem era ela.

– Eu me chamo Philippa.

– Prazer em conhecê-la. – e estendeu sua mão enorme, a qual ela apertou com vigor.

– Por que você estava dentro de uma... Cabine policial?

– Ah, essa a minha Tardis.

– Sua o que?

– Tardis. – percebendo a confusão da menina, ele a chamou. – Venha cá.

– Por que eu deveria? – em resposta ele caminhou até a caixa e abriu as duas portas.

Impossível! Aquilo era... Maior do lado de dentro?

– Isso não...

– Faz sentido? – então ele entrou na caixa. E continuou entrando, sem bater em fundo algum. Ela correu atrás dele.

– Mas... Isso não faz sentido. – sussurrava. E saiu da caixa, deu uma volta nela e entrou de novo. – Eu devo estar louca. Provavelmente são as horas sem dormir.

– É uma máquina do tempo.

– O que?

– Time and Relative Dimension in Space. Tardis. Uma máquina do Tempo.

– Ah, bom, é, acho que faz sentido. – mas ela estava tão perdida que não tinha certeza sobre o que estava falando.

– Então, para onde você quer ir?

– Como assim?

– Máquina no tempo. Viaja no espaço também. Então, para onde você quer ir? Ou para que tempo?

– Eu... Não sei. Deixe-me pensar. – Era um daqueles momentos impossíveis de escolha, como ter vinte e sete opções de sorvete para escolher e acaba ficando com o de chocolate. É muito liberdade. Nesse caso, ela escolheu o chocolate mesmo.

– Eu quero ver as estrelas. Não revire os olhos assim, o que foi?

– Você poderia ser mais especifica?

– Um buraco negro engolindo uma estrela?

– É um pedido estranho para uma garota de... – ele se aproximou bem dela, e se inclinou, olhando-a nos olhos. – dez anos?

– Sete! – batendo o pé.

– É, não é o que parece. – o que ela honestamente não entendeu. Ela era uma menina muito pequena e magra. Por que alguém pensaria que ela era mais velha do que era? – Entre de uma vez. E feche a porta.

– Como funciona isso? – ela ficou muito tentada a apertar alguns botões, mas o Doutor percebeu antes e deu um tapinha em sua mão.

– Isso é tudo muito complexo – ele girava envolta do console, apertando botões, empurrando alavancar e girando mais botões – e pra ser sincero nem eu não sei direito. – completou baixinho, o que por sorte ela não ouviu.

E mesmo se ele tivesse falado alto, não faria diferença, pois bem naquela hora aquele barulho estranho começou de novo.

– Por que ela faz esse barulho? Parece que está sofrendo.

– Ela faz esse barulho porque está funcionando. Nós estamos indo para... Anh... Algum ponto no espaço e... Alguns milhões de anos no futuro.

– Então é isso que você? Não é realmente um médico, você só fica vagando por aí, pulando de planeta em planeta.

– Na verdade eu passo um tempo surpreendentemente grande na Terra. Estou sempre salvando a pele de vocês.

– Aquilo em Londres esse ano foi...

– Foi.

– Que legal!

– Não ficou assustada?

– Não. Eu deveria?

Ele parou um tempo e depois respondeu:

– Não. – e sorriu para ela. – Ah, chegamos! – caminhou até a porta e cautelosamente a abriu. – Mas nós não estamos no espaço.

– Achei que você soubesse mexer nessa máquina. – Philippa tentava espiar, mas não entendia. Parecia que ainda estavam na terra, mas agora era dia. Ele olhava bravo para ela. – O que?

– Deixa para lá. Vamos.

– Mas eu estou de pijamas.

– Não importa.

– Como não impor... Ah ta. – todo mundo naquele planeta usava roupas mais parecidas com pijamas, na sua maioria brancas. Na verdade o Doutor era quem estava chamando muita atenção. Atenção demais.

– Qual o problema com eles? Por que eles usam essas roupas? Onde estamos?

– Não sei. Não sei e... Acho que... Não, também não sei. A Tardis decidiu alterar as coordenadas. De novo.

– Ela faz muito isso?

– Mais do que deveria.

– Gostei dela. É como se ela te levasse para onde precisa ir. Mas por que você precisaria vir para cá?

Quando se deu conta ele estava parado a alguns metros dela.

– Tem alguma coisa errada com esse lugar. Isso não faz sentido.

– O que tem de errado? Além do fato deles se parecem muito com os humanos, apesar da pele levemente roxa?

– Esse é o problema. A pele deles não devia ser levemente roxa.

– Mas achei que você não conhecesse o lugar.

– Vamos embora daqui. – ele a pegou pela mão e a arrastou até a Tardis.

– Mas por que? Me explica. – ela odiava essa mania que os adultos tinham de não explicar nada para ela.

– Vamos voltar para a terra e eu te explico. – eles entraram na caixa e ele a trancou, correu para o console e rapidamente voltou a apertar botões.

– Vamos, mexa-se. Por que você não quer ir embora? Me ajude, precisamos tira-la daqui. – ele parecia desesperado.

– o que eu faço? – a garota estava surpreendentemente calma para a situação. Provavelmente porque não sabia do perigo que estava correndo.

– Qualquer coisa! – gritou.

Então ela saiu apertando todos os botões que viu pela frente. Em resposta a máquina começou a se agitar e os dois mal conseguiam ficar em pé.

Agarrado a alguma coisa no console, ainda tentando manter o controle, o Doutor gritou:

– Deu certo. – e aos poucos a caixa foi parando. – Mas ainda não se solte...- Era tarde demais. Ela se soltou e num movimento brusco, foi lançada porta a fora, ficando à deriva, distante da Tardis.

– Doutooooooooooooor! – ela tentava gritar, mas nenhum som saia.

De onde ela estava era possível ver muitos planetas, o que era assustador por si só. Porém, naquele momento, só uma coisa importava: oxigênio. Lentamente seu ar foi acabando e ela foi perdendo a consciência. A última coisa que viu foram flashes do console da Tardis.


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