O céu estava bonito, com uma Lua cheia e clara, sem falar das estrelas. O clima não estava nem muito frio e nem muito quente, porém às vezes um vento frio me atingia firmemente. E lá estávamos eu e Percy, caminhando para não sei onde.

Ele usava um casaco preto, que estava aberto, com uma blusa polo por baixo e uma bermuda simples, com um AllStar. Ele até poderia parecer um adolescente qualquer, tirando o fato da marca de uma barba rala crescendo em seu rosto e seus olhos verdes estonteantes, que tinham uma expressão de adulto.

O assunto não surgia, e eu tentava mais que tudo, não olhar para sua bunda, que por um acaso era enorme. Okay, eu tinha que admitir: meu instrutor era gostoso, tipo, pra caralho.

— Então, Annabeth... — ele enfim resolveu quebrar o silêncio. — Seu primeiro ano aqui, certo?

— Sim — respondi, sem saber o que mais falar —, e pode me chamar de Annie.

— Está sendo um inferno como pensou que seria? — perguntou e eu fiquei um pouco surpresa por ele saber a minha opinião sobre o acampamento sem mesmo eu comentar sobre isso. — Sabe, a maioria dos adolescentes que passam as férias aqui, me dizem que antes de chegar, pensavam que suas férias seriam uma grande merda.

Me senti um pouco melhor por ele falar isso. Então quer dizer que todos que entram odiando esse lugar passam a gostar dele com o tempo?! É algo meio estranho de se pensar, como se fosse um acampamento mágico ou coisa do tipo, mas eu acabei por me interessar.

— Entendo — eu não pude evitar o sorriso. — E você gosta mesmo disso tudo?

— Digamos que eu acabei me acostumando... — ele me olhou de lado, como se analisasse meu rosto — Por quê?

— Porque você não parece ser do tipo de pessoa à toa da vida que passa as férias em um acampamento vigiando adolescentes rebeldes por um salário ridículo — eu acabei por falar demais, porém ele apenas soltou um riso fraco.

— Eu não ganho por isso. Além de contar pontos extras na minha faculdade de administração — mordeu o lábio —, meu pai também é sócio do dono daqui.

Nós havíamos chegado à área dos chalés, e eu não conseguia ouvir ou ver mais nenhum sinal de adolescentes por ali.

— É mais por obrigação? — perguntei depois de algum tempo.

— Eu adoro esse lugar, ele vale mais que minhas férias.

Andamos em silêncio pela estrada. O vento estava ficando cada vez pior e eu sempre passava a mão por meus braços nus para aquecê-los. Eu estava um pouco nervosa por Percy andar tranquilamente ao meu lado, e isso me incomodava. Era bom conversar com ele, me distraia.

— Você não devia estar com os outros? — acabei por perguntar. — Eles podem fazer alguma besteira, ou sei lá.

Fiquei imaginando o quanto de besteiras que aquelas pessoas estavam aprontando para essas férias. Do jeito que Percy é, ele não ficaria puto facilmente.

— Acho que vocês já são grandinhos — afirmou, me encarando com aqueles lindos olhos verdes que brilhavam à luz da Lua. — E para isso que servem Connor e Travis. Se algo sério acontecer, eles me contam. Na verdade, eles praticamente cuidam do acampamento sempre que estão aqui.

— Eles parecem ser...

— Imprevisíveis? — me cortou com outra pergunta e eu assenti. — E são. Mas quem pode negar algo a eles?

Eu fiquei um tempo pensando comigo mesma. É verdade que os Stoll's parecem não ter controle, mas acho que isso não vem ao caso.

— Você pode — o respondi ainda pensativa —, mas faz o contrário, os deixa livres até demais.

— Sim — demorou um pouco para responder —, e talvez nem seja por eles, e sim por mim. Eu não aproveitei a adolescência como vejo os adolescentes de hoje em dia aproveitarem, por isso os dou a maior liberdade possível, com limites, é claro, mas que não os incomode.

Pelo o que entendi, Percy gostava de ver os adolescentes se divertindo e querendo voltar ali mais vezes para continuar a viver coisas assim, e eu gostei de saber disso. Pelo o que Luke me falou, ele era não um dos melhores, mas sim “o melhor” instrutor desse acampamento; e isso deve ser por esse seu ponto de vista em perceber que adolescentes têm que viver dessa maneira sim e foda-se o resto.

— Gostei — eu o olhei, mas dessa vez, fiquei encarando, sem medo.

— Pois é — sorriu. — Eles praticamente amam.

— E sempre é assim? Você deixa as pessoas soltas por ai, indo à qualquer lugar pelo acampamento?

— Deixo — riu para si mesmo. — Mas isso porque tudo é seguro, de seu jeito. Só tem um lugar que é totalmente proibido de ir sem um instrutor, no caso desse ano, eu, que é a praia.

Parei de ouvir assim que ele disse a palavra "praia". Como assim o acampamento tinha uma praia? Isso era inédito! Aquele lago já tinha uma paisagem maravilhosa ao seu redor, imagine uma praia aqui.

Acho que Percy percebeu a minha mudança de expressão e parou de falar e voltou ao assunto anterior, no qual seria a praia.

— É que nos "fundos" do acampamento, temos uma praia. Se você mora por essa região com certeza já a frequentou — deu uma pausa. — Podemos dizer que no terreno daqui, é o final dela.

Eu mexi a cabeça positivamente, mostrando que entendi de um modo básico tudo o que ele quis dizer.

— Mas... — ele continuou, dando a impressão de que mudaria de assunto. — E o seu namorado? O que ele acha de você passar as férias inteiras aqui?

— Namorado? O que? — eu me assustei, e acho que dei um passo em falso, já que, quando percebi, estava atirada ao chão. Por que ele queria saber se eu namorava?

— Annie — Percy me olhou assustado, porém me ajudou a levantar v, tudo bem?

— Acho que sim — respondi sem jeito. Mas é claro que nada estava bem, eu tinha acabado de cair na frente dele!

Acho que meu rosto virou um pimentão, de tão vermelho que o mesmo deve ter ficado.

— Tropeçou em algo? — perguntou olhando para trás, enquanto escondia uma risada. Porém eu mesma já havia começado a rir, fazendo com que ele se deixasse me acompanhar.

— Não, acho que foi só por cair mesmo — continuei rindo, ainda não acreditando que eu havia caído.

Comecei a andar olhando para meus próprios pés. Como encarar aqueles olhos verdes agora? Ele deve estar pensando o quão infantil eu devo ser. Oi, meu nome é Annie e eu adoro cair de repente. Ops, cai.

— Eu sou muito retardada — sussurrei para mim mesma, mas acho que ele ouviu.

— O que disse?

— An... – pensei em qualquer coisa que rimasse. — Que esse frio me deixa bolada.

Que merda foi essa?

— Ah, está com frio? — fez uma expressão com certa dúvida.

Bem, no final das contas eu estava sim com frio, mas ele não precisava saber. Tarde demais. Agora ele me verá como um ser indefeso.

— É, mais ou menos.

— Tome — ele tirou o casaco e o estendeu para mim. — Eu já me acostumei com o clima das noites aqui.

Que droga, eu não queria aceitar. Tenho que admitir que foi gentil da parte dele, porém mesmo assim era estranho. Vamos raciocinar mais Annie, pensei comigo mesma. Eu vou passar as minhas férias inteiras convivendo com Percy, então devia me acostumar com que, se ele gostasse de mim, ele me trataria como uma irmã ou amiga ou colega, sei lá, mais nova.

— Não precisa — tentei parecer o mais despreocupada possível. — Estou bem.

— Deixe de frescura! — ele mesmo se aproximou um pouco e deixou o casaco em meus ombros.

Encarei-o por um instante. Ele sorria e, mesmo eu tentando permanecer séria, acabei sorrindo também, em uma forma de agradecimento.

— Obrigada — eu acabei por encaixar meus braços em seu casaco.

— Não há de que — respondeu, ainda com aquele sorriso.

Nós continuamos a caminhar lado a lado pela estrada. Eu posso dizer que não trocamos mais nenhuma palavra, nem para eu perguntá-lo até onde estávamos indo.

Fui começando a ficar com sono ao andar pelo sereno. Que horas deveriam ser? Umas dez, eu acho. Credo, estava cedo e eu já estava com sono.

Aproximamos-nos mais dos chalés 1 e 2, e eu percebi que ele foi diminuindo o passo. O acompanhei, e quando realmente chegamos aos chalés, ele parou e se virou para mim, me encarando.

— Vamos voltar? — perguntou mudando o olhar para a estrada em que estávamos há poucos minutos.

— Acho que vou ficar por aqui mesmo. Sabe... — me aproximei do chalé 1, ainda encarando Percy. — O dia foi cansativo.

— Okay — colocou as mãos no bolso, igual fizera anteriormente. — Boa noite então, Annie.

— Boa noite, Percy.

Observei ele se virar e voltar a andar em direção ao refeitório. Alguns instantes depois, subi as escadas do chalé e abri a porta, adentrando e logo depois fechando a mesma.

Acendi as luzes e percebi que não havia nenhuma garota ali. Avistei a beliche aonde eu colocara minhas coisas e voltei a apagar as luzes. Caminhei até minha cama me guiando pelo escuro. Quando a achei, tirei minhas coisas de cima dela e coloquei no chão. Amanhã eu arrumava aquilo.

Me deitei do jeito que eu estava e puxei as cobertas que ali ficavam. Fechei os olhos e respirei fundo, me lembrando de todo o meu dia, considerando a viagem até esse acampamento, a ida ao lago com Luke e seus amigos, a noite na fogueira e, por fim, minha conversa com Percy; até que abri os olhos me lembrando de uma parte da conversa que não ficou muito esclarecida.

— Namorado? O que?