O tempo estava bom. Eu podia sentir a brisa de verão que passava por entre as janelas do carro e fazia meus cabelos não pararem quietos um segundo sequer, enquanto eu tentava manter meus fones presos aos ouvidos antes que eles voassem com os fios de cabelos.

Encostei minha cabeça na janela, apreciando a vista do pôr-do-sol. Era uma bela visão de fim de tarde. As nuvens se mantinham em perfeita harmonia junto aos raios solares, que iluminavam parte de dentro do carro, onde Luke tirava um cochilo desde que saímos de casa.

E com meus fones ao máximo volume, tudo que eu conseguia descrever eram as bocas dos pais de Luke se mexendo nos bancos da frente, como se estivessem tendo uma conversa pacífica de fim de tarde. Soltei um suspiro e encarei minha mala. Não estava acreditando até agora que meus pais me obrigaram a ir para esse tal acampamento e nem sequer tiveram o bom senso de me levarem. Tive que vir com Luke, que era meu vizinho e melhor amigo. Ele sempre ia para esse acampamento nas férias e quando minha mãe disse que eu precisava de ordem e limites, a Sra. Castellan comentou sobre o fato de que este ano eu poderia ir para esse lugar com Luke, e que ela e o Sr. Castellan, que eu vivo chamando pelo primeiro nome, Hermes, já que ele era como um segundo pai pra mim, não se importariam de mais uma pessoa no carro.

Apoiei a cabeça dessa vez em minha enorme mala, que fazia minha visão de Luke ser cortada, e fechei os olhos. Eu não dormi, apenas fechei os olhos para tentar relaxar. Meus pais não podiam ter feito aquilo, mas eles fizeram e isso era algo com o qual eu estava inconformada.

Passou-se alguns minutos e eu me manti do mesmo jeito, e planejava continuar a ficar daquela maneira, se não fosse pelo fato de eu sentir uma mão mexendo em meus cabelos.

— Annie — ouvi a voz de Luke e abri os olhos. — Annie, nós chegamos querida vassoura.

Vassoura? Ele estava sorrindo, e dava para ver que guardava uma gargalhada, e então entendi o motivo do "querida vassoura" e dessa palhaçada toda. Se suas mãos estavam em meus cabelos e ele agia daquela maneira, com certeza havia feito algo de engraçado em mim.

— Solte meus cabelos — eu disse afastando suas mãos de mim e olhando no retrovisor, me deparando com uma Annie que parecia ter caído de um penhasco. — Idiota.

Dei-lhe um empurrão, enquanto ele soltava aquela gargalhada que estava presa. Comecei a arrumar meus cabelos e acabei rindo com ele. Nós não tínhamos exatamente chegado, estávamos numa estrada que já ia direto para o acampamento. Eu não conseguia ver muitas coisas pela janela, graças à quantidade absurda de árvores que haviam inclinadas para a estrada, dando uma impressão de que elas cairiam por cima de nós a qualquer momento.

— Deuses, estamos quase chegando lá — exclamei num tom de lamentação.

— Lá é maneiro cara — Luke tentou me reconfortar. — Você vai gostar, tipo, tem árvores, chalés, pessoas, um lago, mais árvores...

Eu o olhei com uma expressão de deboche. O deixei no vácuo e encarei a paisagem que eu tinha a partir da janela. Demorou pouquíssimo para tudo se cobrir novamente, e então o carro adentrou uma grande passagem e virou à direita, seguindo.

Pude ver algumas casinhas de madeira bem simples e poucas pessoas que se encontravam em frente a uma casa um pouco maior que as outras, na qual tinha apenas um garoto em pé na varanda.

O carro parou, e Luke e eu saímos. Tivemos uma despedida rápida do Sr. e Sra. Castellan. Peguei minha mochila que estava no porta malas e a coloquei nos ombros, enquanto puxava a mala de rodinhas. Observei todo o local, descobrindo que haviam casinhas como as que eu havia visto de longe dos dois lados da estrada que estávamos e algumas trilhas que cortavam uma grande mata que se iniciava bem onde era a entrada do acampamento e passava por trás das casas e terminava não sei aonde.

Assim que o carro se distanciou após uma buzina, eu e Luke atravessamos aquela pequena estrada e paramos onde estavam as outras pessoas, que aliás eram todos adolescentes.

— Castellan... E Chase? — o garoto que estava na varanda perguntou em voz alta, já que estava distante, com um caderno na mão e uma caneta em outra, anotando algo.

— Sim — respondeu Luke com a voz na mesma altura.

— Todos podem se aproximar daqui por favor? — peguntou o garoto na varanda.

Ao me aproximar, percebi que ele não era exatamente um garoto, ele era um homem que parecia ter um pouco mais de vinte anos, para ser exata. Um homem bem bonito, com olhos verdes e uma expressão divertida, tanto que apenas em olhá-lo, já dava vontade de rir. Não rir dele, mas rir para ele.

— Bem, para quem não sabe, meu nome é Percy e eu sou o instrutor de vocês — disse deixando o caderno e a caneta que segurava em uma mesinha que também se encontrava na varanda. — Esse ano o acampamento está mais que vazio, está super vazio. Graças a isso, os outros instrutores não quiseram aceitar a proposta dessa vez, por isso acho que eu mando aqui esse ano.

Ele fez uma falsa expressão de mau, e algumas pessoas comemoraram, tipo os gêmeos que eu havia visto, que bateram as mãos no ar.

— Por quê essa alegria toda? — me inclinei um pouco e perguntei a Luke.

— Percy é o melhor instrutor daqui — começou a explicar enquanto ignorávamos a fala do nosso "instrutor" na varanda. — Os outros são um cu. Percy não liga quando nós dormimos tarde, ou fazemos festas, ou coisas do tipo, se é que me entende.

Fiquei um pouco surpresa com isso, deve ser esse motivo para Luke gostar tanto desse lugar. Sorri de lado e voltei a prestar atenção na fala de Percy.

— Eu acho que não tenho mais nada a dizer já que só temos três campistas novos este ano, então se precisarem de ajuda, perguntem aos outros campistas. Alguém tem alguma dúvida? — perguntou, porém ninguém respondeu. — Não? Okay. Por ser o primeiro dia, vocês estão livres para andar por ai. Por favor, não subam em árvores, não pulem no lago, não derrubem o galpão, não façam sexo, não invadam os chalés de outras pessoas e não saiam do acampamento. Esse ano, todas as meninas, dez ao todo, ficaram no chalé 1, e todos os garotos, que são nove, ficaram no chalé 2. Vejo vocês ás 20:00 na fogueira, em frente ao refeitório.

Todo mundo começou a cochichar entre si, até Percy voltar a falar e interromper a todos.

— Outra coisa... Se quando eu estiver andando pelo o acampamento, eu achar uma camisinha... — ficou sério e encarou à todos. — Rezem para ela não estar estourada.

Alguns adolescentes começaram a rir e, por fim, ele pulou da varanda e começou a cumprimentar algumas pessoas que estavam mais próximas. Eu encarei Luke e ele me encarou de volta, como se não soubesse mais o que dizer.

— Bem, eu tenho que te apresentar à muitas pessoas — começou a andar e eu o acompanhei. — Mas vamos guardar nossas coisas primeiro né. Vem, vou te mostrar onde é o chalé 1.