Seja Um Anjo escrita por LunaLótus


Capítulo 19
Mortal


Notas iniciais do capítulo

"Amar como uma humana é a minha fraqueza. Amar como humana me fez humana. E os humanos… morrem."



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Eu devo uma explicação sobre toda essa história. Os acontecimentos desde que eu e Rael fomos sequestrados até o dia da morte de Neto ocorreram muito rápido e muitas coisas ficaram sem porquê. Bom, vou tentar contar do início.

Há muito tempo, quando o Pai decidiu que escolheria alguns anjos para descerem à Terra, não previu que seu “experimento” teria um revés. Os frutos das relações entre anjos e humanos seriam especiais, mas não necessariamente se tornariam seres angelicais quando sua vida terrena terminasse. Então, todos acharam que o experimento não havia dado certo e deixamos a vida seguir normalmente.

No entanto, um anjo, chamado Gabriel, manteve-se fiel ao experimento. Ele observava sua família e, quando percebeu a aproximação entre dois Descendentes-humanos, esperou para ver no que aquilo daria. E, assim, eis-me. Nasci dessa união, no ano de 1940, dia seis de abril. Filha única. Faleci dezoito anos depois, vítima de uma gripe que assolou a cidade onde eu vivia. E me tornei um anjo.

Lembro do dia em que acordei em Casa. Gabriel estava ao meu lado, sorrindo para mim, apresentando-se como meu irmão. Eu não fazia ideia do que estava acontecendo.

– Onde estou? - perguntei.

– Em Casa.

– Casa? E o que aconteceu… antes? O que eu… Quem eu sou?

Não me lembrava de nada. De minha vida terrena, dos meus pais, da minha história. Eu apenas havia acordado ali. E acho que Gabriel percebeu isso.

– Seu nome é Samantha - disse ele. - Um anjo. Nascida para servir ao Pai.

Apesar de tão pouca informação, aquilo fez sentido para mim. Sorri. Eu era Samantha, um anjo.

A única coisa que não fez sentido era o fato de eu não me sentir totalmente assim.

Foi Gabriel que me designou para ser o anjo da guarda de Neto. Ele me orientou para sempre observá-lo e protegê-lo. E, para minha missão, eu poderia consultar o Livro, porém apenas uma vez. Eu sabia mais ou menos como a vida de Neto deveria seguir, apesar da sua inclinação para a adrenalina. Netinho era uma pessoa boa, e humanos assim sempre eram recompensados.

Porém, ao comprar uma moto nova, Neto disse que o nome seria Viuvinha, e quando perguntaram o por quê, respondeu:

– Porque tenho certeza que vou morrer em cima dela.

Isso não era normal. Mesmo que ele não sentisse, eu senti o poder daquela frase. Então, corri para abrir o Livro e vi: a Página havia sido alterada.

Recusei-me a aceitar aquilo. Neto era minha responsabilidade, e ninguém sob minha responsabilidade morreria assim. Para mim, a morte era o pior castigo do ser humano. Na minha mente, os anjos são imortais porque são bons. Mas os humanos pecam, e por isso eram mortais.

Não podia acreditar que fora Neto que havia alterado a sua Página. Uma pessoa não poderia querer isso. Eu não queria isso.

Como fui tola!

Tomei a missão de salvar Neto nas minhas mãos. Eu nada sabia sobre os Descendentes-anjos. Não haviam registros também sobre a possibilidade de existirem. Não podia nem imaginar no que iria me envolver.

Mas acho que Gabriel sim.

Ao permitir que eu viesse para a Terra, Gabriel sabia dos riscos. Sabia o que poderia acontecer. E eis aqui o revés do experimento do Pai: os Descendentes-anjo seriam mais fortes que qualquer anjo já gerado, porém também os mais fracos, e sua fraqueza se encontraria na sua sensibilidade e empatia pelos humanos. Amar é angelical, mas amar como os humanos é a fraqueza dos Descendentes-anjo.

Amar como uma humana é a minha fraqueza. Amar como humana me fez humana. E os humanos… morrem.

Eu não planejei fazer amizades tão fortes. Não planejei ter um lar, uma família mesmo que adotiva. Mas, principalmente, não planejei me apaixonar.

Meu plano era salvar Neto. Meu plano era fazê-lo passar pela data fatídica são e salvo. Meu plano era fazê-lo ter uma vida longa e feliz.

Bom, meu plano foi por água abaixo.

Mas, apesar de tudo, estou feliz. E esta felicidade tem nome.

Rael.

“Sam,

Pensei em começar essa carta com querida Sam, mas imagino que você iria debochar de mim. Porém, acho que você sabe que é minha querida.

Você não está aqui. Em outros tempos, eu daria graças ao Pai pelo momento de silêncio e paz, mas agora sinto falta… Sinto falta da sua voz, da sua bagunça, da sua irritação. Sinto falta de você andando pela casa, me chamando da cozinha apenas para me provocar. Sinto falta de você me falando coisas que não entendo, mudando de canal para os filmes mais chatos, perturbando-me com maquiagens ou conversas sobre garotas.

Ah, como eu queria sentir sua presença. Seu perfume ainda impregna a casa, os móveis não mudaram e seu quarto continua do jeito que deixou. A cozinha conserva o seu gosto por organização, mesmo que a pia às vezes encha de pratos, e os canais mais chatos agora são os que mais passam na TV.

Seu riso era meu sol. Sua voz, minha bússola. Seu olhar, meu motivo de viver.

Como posso viver sem você, Sam? Doeu. Dói muito. Tê-la ao meu lado, mesmo que estivéssemos brigando, fazia-me sentir completo, tranquilo. Apesar de quase sairmos nos tapas, no final, eu sabia que ficaríamos bem e logo você iria sorrir para mim. E esse sorriso, meu Pai, esse sorriso destruía todas as minhas muralhas.

Mas quando eu a fazia chorar… Sim, eu sei que já te fiz chorar. Já a ouvi pela porta do banheiro, e também no dia em que fui embora. Toda vez que uma lágrima sua caía, minha vontade era de correr para te abraçar, implorar seu perdão, dizer que te amo e que tudo iria ficar bem. Quantas oportunidades perdi!

Quantas vezes eu poderia ter te abraçado, apenas por abraçar? Quantas vezes poderia tê-la observado dormir e visto seu sorriso leve enquanto sonhava? Quantas vezes poderia ter ignorado todas as regras, puxado-a para mim e beijado? Quantas vezes poderíamos ter saído para passear, poderia ter pego em sua mão e declarado meu amor em praça pública?

Quantas vezes, Pai, quantas vezes eu poderia ter dito que a amo?!

Meu coração dói. Eu estou tentando conter as lágrimas, e todos os dias tento não lembrar da sua ausência. Tento não pensar que você me deixou, tento não recordar da sensação da sua respiração indo embora, enquanto sussurrava que me ama. Eu tento, Sam, tento todos os dias.

Mas amar você é tudo o que me mantém de pé. E, se eu não lembrar disso, não há mais motivos para existir.

Rael.”


Há mais mistérios entre a morte a vida do que podemos imaginar...

– Baby! - chamo. - Cheguei, amor!

– Meu anjo! - responde.

– Me ajuda aqui, por favor… Tem muita sacola.

– Deixa que eu pego. Me dá aqui. Você não pode pegar peso - diz, beijando-me e tomando todas as sacolas da minha mão.

– Amor, eu estou grávida, e não doente.

– Tá, mas não pode pegar peso.

– Ao menos vamos dividir!

– Não.

Ele entra para a cozinha e eu o sigo.

– Você demorou - fala, após deixar todas as compras em cima da mesa. Puxa-me para um abraço e um beijo longo. Suspiro. - Senti sua falta.

– Eu também senti sua falta… - Sorrio.

– Queria ter ido com você - reclama, fazendo bico. Eu rio e toco seu rosto.

– Já voltei, amor. E você tinha que pintar o quarto de nossa princesa.

– Eu sei. - Toca em minha barriga. - Só não gosto de ficar sem você.

Sei exatamente a que ele se refere. Ele, assim como eu, não se recuperou totalmente de tudo. As lembranças doem demais, em nós dois.

– Tudo aquilo aconteceu há cinco anos, meu amor. Não precisa ter medo. Não vou embora.

Não responde, apenas abaixa o rosto, e eu sei que ele está pensando nos nossos dias escuros.

– Ei, olha para mim. - Espero até ele me olhar. Então digo: - Não vou deixá-lo. Nunca mais. Eu amo você, Rael.

– Promete? - pede.

– Prometo.

– Eu amo você, Sam. - E acaricia meu rosto.

Encaramo-nos por longos segundos. Até que um raio de sol incide sobre nós. E eu sorrio.

– Acho que alguém está feliz por nós - digo.

Rael olha para o céu, sorri também, e volta-se para mim novamente:

– Acha que ele será o anjo da guarda da nossa Lílian?

Penso sobre isso. Neto, o anjo da guarda da nossa filha? Gabriel, com certeza, estaria por trás disso.

– Sim, eu acho, sim.

Amor.

Todo amor é digno. Todo amor é bom. Todo amor é compreensível.

E como nós, humanos, sabemos amar!

Já nascemos assim! Amar é um ato tão natural do ser humano quanto a respiração.

Amar foi minha fraqueza, mas também aquilo que me salvou. Meu amor por meus amigos, pelos humanos, pela Terra e, principalmente, meu amor por Rael me fez voltar.

Não se iluda, não diga nunca a frase “ninguém me ama.” Amor não é somente entre casais. Ele está em todo e qualquer local. Está em você, na sua casa, nos seus amigos, nos seus animais de estimação.

Ame a si mesmo, e só então poderá amar e ser amado. Cuide de si mesmo, e só então conseguirá se permitir cuidar e ser cuidado. E, lembre-se sempre que, antes mesmo de você existir, o Pai já o amava.

Não tenha medo de amar. O amor é poderoso. Ele cura e salva.

Ah, e olhe em volta! Sabe a vida? Ela adora nos surpreender.



Neto é um personagem real. Sam, Rael e as amigas da Sam também. Algumas passagens dessa história realmente aconteceram.

Então dedico esta história a:

Neto, o maior professor que já tive e um grande homem;

O meu Rael, por ser a minha inspiração de anjo;

Às minhas amigas de perto, que, mesmo longe agora, sempre me incentivaram;

Às minhas amigas de longe, que, mesmo sem nunca termos nos visto, foram meu apoio nos momentos mais difíceis durante esse último ano;

E a você, que acompanhou S.U.A. até o final e aguentou essa autora chata.

Muito obrigada.


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Notas finais do capítulo

E eis aqui o último capítulo desta história. Sei que a qualidade não está das melhores nesses dois últimos, e peço perdão por isso! A universidade consumiu meu tempo e minha criatividade. Eu juro que vou tentar revisar e melhorar umas coisinhas aqui e outras ali, assim que eu puder! Eu agradeço de todo meu coração pelo imenso carinho que recebi ao longo desta história. À Caçadora de Estrelas, LuaReyna, Moony Black, Nath, Miss Smith, Dríada Dias, Srta Potter, Dama Invisível, Tainá Luz, The Doctor, E H Lewis, s0nh4d0r4, Kadyia Isilmore e stefany severiano por todos os comentários divos! Também não posso deixar de agradecer pelas recomendações mais que lindas da Nath, LuaReyna, Dama Invisível e s0nh4d0r4. E também os meus anjinhos fantasmas! Muuito obrigada por tudo! Espero que possamos nos ver em breve, e que tenham gostado do capítulo! Que eu não tenha decepcionado vocês! Amooo