Seja Um Anjo escrita por LunaLótus


Capítulo 1
299 km/h


Notas iniciais do capítulo

"Você sabe, sim. Fique avisada. Não pode mudar o rumo das coisas, Samantha. As coisas são como devem ser. Você não quer machucar as pessoas que você ama, quer?"

*Revisado em 04/03/2016.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/545226/chapter/1

É isso aí. Mais um dia de ócio neste monte de merda – lê-se colégio. Ou melhor, o último dia de ócio. Não que não haja muito o que fazer durante o período letivo. Não, sempre há toneladas de atividades, exercícios, pesquisas... O que eu quero dizer é que essas coisas não mudam. Nunca.

Olha lá, lá vem o grupinho nerd. São os alunos que sempre sentam nas primeiras fileiras da classe, sempre levantam a mão para responder todas as perguntas e (quase) sempre são os preferidos dos professores. Este grupo, em particular, é o preferido da escola. Convivi com eles durante todo o meu Ensino Fundamental e boa parte do Ensino Médio. E eles sempre se vestiam da mesma forma. Calças jeans, a farda da escola e uns óculos quadrados grandes (que me parecem ser a moda do momento).

— Oi, Samantha – Luís fala comigo.

— Oi – respondo, e então sigo meu caminho.

Veja bem, não sou uma nerd. Ou talvez eu seja. Minhas notas são relativamente altas e Luís sempre está tentando me incluir naquele grupinho. Mas eu não gosto de panelinhas. Não, obrigada. Estou muito feliz do meu jeito.

Mais à frente, estão as populares e desejadas. São as garotas que metade da escola já pegou, e a outra metade quer pegar. Sem estereótipos definidos, baixas, altas, loiras, morenas, ruivas, negras, magrinhas ou gordinhas. Não importa como são, são sempre as meninas mais bonitas do colégio. E eu... Bem, eu também não quero me meter com elas. Nem contra nem ao lado. O que têm de lindas, têm de malvadas.

Ah, é, ainda estou parada aqui na frente do pátio, procurando as Vacas. Bom, Vacas são as minhas amigas. E nem vem, é normal chamar amigas assim.

Decido ir para a primeira aula do último dia deste Hades. O prédio da escola é relativamente grande, com cerca de trinta salas, além de biblioteca, auditório, jardins, quadras, cantinas, diretorias e mais um monte de outras salas que nem sei para que servem direito. Só sei que estão aqui.

Oh-oh! Alerta de boys-que-se-acham-infinitamente! Este é o grupinho com que eu menos tenho paciência. Formado por garotos cheios de músculos que geralmente pegam as meninas populares e desejadas, monopolizam a quadra, os assentos do fundo da classe e todos os espaços relativamente cools daquela escola. São sempre convidados para todas as festas, e também são sempre eles que se metem em confusão.

Graças a Deus, estou indo embora destes Campos da Punição hoje!

Okay, é hora da aula. Vamos lá.

— Samantha! – ouço o grito de uma das Vacas. Viro-me e lá está ela: Bárbara. Vem correndo em minha direção e me segura pelo braço, quase fazendo nós duas cairmos.

— Onde vocês estavam? Fiquei esperando um tempão! – reclamei.

— Estávamos com os MUPS.

— Meu Deus, vocês não desgrudam deles!

— Ah, qual é, Sam, você vai sentir falta deles também... – diz Laryssa, que acaba de chegar.

Reviro os olhos e não respondo.

— MAPS! – a voz de Ramon inunda meus ouvidos. Ele me aperta em um abraço de quebrar os ossos, e eu retribuo.

— Monka, você está me sufocando! Que perfume é esse? Não consigo respirar, meu Deus! – A minha voz mal sai, por causa da falta de ar em meus pulmões.

Ele finalmente me solta e abraça as outras meninas. Logo, todos começam uma conversa animada, que basicamente é quem fala mais alto e se faz ouvir. Porque eu não entendia absolutamente nada e só fazia dar risada.

Ah! Você deve estar se perguntando o que são MAPS ou MUPS. MAPS significa Melhores Amigas Para Sempre; um nome criado por nós basicamente para zoarmos umas às outras. E MUPS significa Mongoloides Unidos Para Sempre; um apelido criado pelas MAPS para zoar nossos amiguinhos.

Olhei para cada um daqueles rostos. Éramos doze: quatro meninos e oito meninas. Bárbara, Brena, Carol, Laís, Laryssa, Marina, eu, Rafaella, Ramon, Rodrigo, Felipe e Matheus. Tivemos momentos tão inesquecíveis, tão memoráveis... Cada riso, cada briga, cada provocação parecem ter sidos gravados a fogo em minha mente.

Permito-me ficar triste e nostálgica por um instante. Quando sairmos deste prédio hoje, tudo isso terá ficado para trás. Cada um de nós irá seguir seu caminho. É claro que conseguirei manter contato com as meninas, mas os meninos moram em outro lugar. Cada um está indo cursar a sua faculdade. Bárbara e Laís ainda deram sorte porque vão estudar juntas. O resto de nós... Bem, não tanto.

Mas hoje é dia de festa, digo a mim mesma. Tenho que me despedir de meus amigos, e farei isso com estilo. Assim, divertimo-nos até o horário bater.

E nossos caminhos se separam.

O ponto de ônibus não é muito longe da minha escola. Enquanto espero, as lembranças dos momentos com minhas amigas vêm e vão. Um pressentimento toma conta do meu peito, mas não sei o que ele significa. Resolvo ignorá-lo e só chegar em casa bem. Sem choros, sem saudades. O ônibus chega e eu subo.

Olho a rua pela janela. Ignoro enquanto os outros passageiros se acomodam e não reparo na pessoa que se senta ao meu lado. O automóvel começa a se locomover e eu me ajeito na desconfortável cadeira.

— Último dia de aula? – pergunta a pessoa que está ao meu lado. Um jovem. Pela voz, não parece ser muito mais velho do que eu. Sequer o olho.

— É.

— Sua camisa é diferente. Concluiu o terceiro ano?

— Foi.

É, eu sei. Mas, ei, minha mãe me ensinou direitinho – nada  de conversar com estranhos!

— E em que pretende se formar?

— Medicina.

O cara fica em silêncio por um momento. Arrisco-me olhá-lo de rabo do olho, porém ele está usando um boné que dificulta a visão do seu rosto. Retomo a minha contemplação da rua. É quando meu telefone toca.

— Oi, vaca! – falo. É Laís.

— Onde tu tá, vey?

indo pra casa. O que foi?

— Tu não tinha dito que ia tomar sorvete com a gente?

Levanto as sobrancelhas.

— Eu disse?

— Afz! Não fala comigo mais, não! – Lai retruca, imitando Matheus. Eu rio. – Sim, mas tu vem, né?

— Vou, Lai. Só vou almoçar e volto.

— Tá bom, mas não demora! Beijos! I need you!

— Tá. Beijos. I need you too!

Desligo a ligação e percebo que o cara está me olhando.

— O que foi? – pergunto.

— É assim que você trata suas amigas? – replica.

— Filho, minha mãe não briga comigo e nem elas reclamam, então não tenho por que dar ouvidos a você!

O ônibus começa a parar e o cara vai se levantando.

— Seu lugar não é aqui, Samantha. Você sabe disso, não sabe?

Fico tensa, mas faço com que minha voz saia com naturalidade.

— Não faço ideia do que você está falando.

— Você sabe, sim. Fique avisada. Não pode mudar o rumo das coisas, Samantha. As coisas são como devem ser. Você não quer machucar as pessoas que você ama, quer?

Bufo, com raiva.

— E quem é você, afinal, para me dizer qualquer coisa?

Ele se levanta e sai do carro.

— Não me importa o que você diga! Você é louco! Sei o que estou fazendo! Idiota! – grito pela janela.

Quando volto a me sentar, noto que todos estão me encarando. Baixo os olhos para o assento ao meu lado e percebo algo que não estava ali antes. Um livro.

299km/h.

Droga!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Hey, quanto tempo! Eu sei, sumi, não foi? Como vocês estão? Bom, não sei se algum dos meus antigos leitores estarão lendo isto aqui agora, mas quero que saibam de uma coisa: eu morri de saudades! E, para compensar, estou com duas histórias novinhas! Claro, vou postar só uma primeiro! Beijoos ♥