Queimando escrita por Vulpe
Notas iniciais do capítulo
Quarta temporada, entre o ep 4 (Metamorphosis) e o 10 (Heaven and Hell). Altos índices de melancolia Winchester. Boa leitura!
Queimando
Os dois tinham um segredo.
A única coisa que jamais contariam um para o outro.
Sam apontara, com razão, que Dean passara a beber mais desde que voltara do Inferno. O álcool deixara de ser algo que lhe dava prazer, de diversão e comemorações. Tornara-se indispensável por sua capacidade de entorpecer os sentidos e distanciar a realidade. No mínimo uma vez a cada começo, meio e final de caso, Dean pegava uma garrafa e entornava de uma vez só. Ou um copo em um bar qualquer. Às vezes até a seringa que escondia no fundo da mochila, dependendo da intensidade dos sonhos e do caso que investigassem. O que quer que encontrasse primeiro, na verdade. Não fazia mais distinções.
Um dia, esperando no Impala que Sam terminasse de jogar conversa fora com a mãe de uma das ‘vítimas’, - cara, o zelador maníaco por limpeza possuído por um demônio apenas trancara os três garotos em uma sala de aula, ele não conseguia considerar isso traumático nem com muito esforço – enfiou a mão no bolso do casaco e pegou seu cantil. Tomou um longo gole e fechou os olhos enquanto sentia a bebida queimar sua garganta. Não lembrava com o que estava cheio, mas fosse o que fosse era forte e justamente do que precisava. Tomou outro gole e esvaziou o cantil. Concentrou-se na queimação por alguns segundos, no conforto que aquilo lhe trazia. Então abriu os olhos, perguntando-se se ainda teria daquela garrafa no hotel para uma segunda dose.
Girou o cantil de metal nas mãos, olhando os desenhos em relevo. Não conseguia afastar o sentimento de que havia algo errado enquanto observava os traços. Quando percebeu o que era, franziu o cenho. Não podia ser. Devia ter se confundido. Não era possível-
–Dean, o que você está fazendo com a água benta? Decidiu que é melhor que vodka? – brincou Sam, sentando no banco de passageiro. Dean conseguiu dar um sorriso falso quanto ligava o motor e respondia:
–É, Sammy. Queima igual.
Sam não percebeu o fundo de desespero na voz do outro. Riu e perguntou para onde iriam a seguir, também mascarando o medo, causado pela lembrança ativada pela piada.
Como uma das condições para ensinar a Sam como usar suas habilidades psíquicas, Ruby exigira sobriedade. Sam prontamente concordara, disposto a fazer qualquer coisa que o deixasse mais perto de matar Lilith. Mas o trato não o impedia de beber, apenas de ficar bêbado e incapacitado. Assim, no final de cada treino, ele bebia um gole de alguma coisa para se aquecer e tentar recuperar as forças. Inclusive, criara o hábito de carregar consigo o cantil de prata de Dean. Um lembrete do irmão e do motivo de seu esforço.
Era preciso o lembrete, não porque sua motivação fraquejasse, mas sim porque os treinos o esgotavam. Ao extremo. Certa vez, depois de uma longa noite de exorcismos, quase exorcismos e fúteis tentativas de exorcismos, chegou ao quarto de motel que fazia as vezes de casa com a visão borrada. Pegou a garrafa de plástico de cima da mesa sem se importar se continha suco ou água ou álcool, mas ao mesmo tempo desejando que fosse álcool. Alegrou-se ao constatar que seu desejo fora atendido.
Nunca colocaria vodka em uma garrafa de plástico, usaria o cantil do irmão. Mas Ruby era surpreendentemente caótica e desorganizada para alguém com tantos planos e conhecimentos, então supôs que aquilo era trabalho dela.
Colocou a garrafa vazia de volta na mesa, meio tonto por conta do álcool e com a garganta queimando. Sorriu ligeiramente, mas o sorriso logo morreu quando olhou para os restos do rótulo da garrafa. Rótulo que ele mesmo arrancara de manhã, para depois encher o recipiente com água benta.
Deveria ter questionado Ruby, tentado descobrir o que exatamente estava se tornando. Mas não o fizera. Não podia se dar ao luxo de que a resposta o afastasse de seu objetivo. Ignorara, ignoraria detalhes se desse jeito pudesse colocar as mãos em Lilith.
Mas, mesmo tentando deixar o acontecimento para lá, não conseguiu esquecer do modo como queimara.
Nunca comentaram sobre o assunto com ninguém, nem quando tempos melhores vieram. Em determinado momento os dois consideraram confidenciar o fato a Cas, mas um olhar ao anjo foi o suficiente para dizer que ele já sabia. Encontraram olhos azuis que perdoavam.
Mesmo assim. Mesmo assim.
Depois daquilo, nunca conseguiram parar de se perguntar quão bons realmente eram.
(i keep a flask of holy water
inside the pocket of my jacket
and i sometimes forget
and swallow it down
instead of alcohol
it burns just the same
and i wonder how good
i really am
–c.u.)
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Obrigada por ter lido! Ainda não postei nada feliz, mas continuo apreciando reviews e etc! =3