Ele era o tipo de Deus que não gostaria de conhecer, que nunca pediria ajuda... Ele era o tipo de Deus que não se importava com nada, ao menos fora isso que pensei quando o conheci... Quando ele estava atravessando aquela rua... Quando pensei que ele fosse ser atropelado. Quando descobri que era um Deus e quando também descobri seu jeito nada bom, sendo o tipo de criatura ao qual eu nunca liguei. Mas, agora estou aqui, em baixo da chuva, segurando o guarda-chuva sobre sua cabeça, com meu coração batendo tão forte contra meu peito, temendo que ele fosse pular para fora. Eu sei... Sempre soube que começaria a amar a bondade que havia nele, mesmo fingindo não ter... Mesmo tendo me mandando embora diversas vezes.

— Yato... - Sussurrava, mas parecia que ele não queria ouvir.

E ali estava eu, tolamente, querendo que ele olhasse para mim com aqueles olhos azuis, que com o tempo aprendi a amar tão calorosamente.

— Olhe para mim, Yato. - As lágrimas já estavam queimando e nublando a minha vista, não poderia prendê-las por muito tempo. —Por favor...

O motivo por querer a atenção dele naquele momento? Foi por causa das palavras "eu gosto de você" que saíram tão inesperadamente, levadas pelo clima caloroso... Levadas, por qualquer motivo banal. Deveria ter me controlado mais, deveria ter esperado mais tempo, deveria ter tido forças para virar o rosto para o dele e dizer que não preciso do amor dele, apenas o amar... Mas, sou tão egoísta que estou, desesperadamente, querendo mais.

— Por favor...

E quando pensei que ele não fosse olhar, seus olhos azuis se dirigiam para os meus, notando claramente as lágrimas não derramadas. Um leve rubor se fez presente naquele rosto pálido a minha frente, a franja meio úmida, caindo parcialmente sobre os olhos, mas não podendo esconder o brilho triste dos mesmo.

— Somos diferente, Hiyori... - Talvez aquela fosse a única coisa que ele pudesse dizer.

Esticava o braço para mais perto dele, deixando que a chuva forte caísse sobre meu corpo, pouco me importante se no dia seguinte pegaria a pior gripe que já havia pego. As lágrimas se misturaram contra as gotas d'água... Mas sabia que ele conseguia ver claramente cada lágrima, cada leve fungada que dava... Ele poderia ver tudo. Até mesmo a cor vermelha de meu sangue, em minhas veias. Ele era um Deus, afinal... E eu uma humana qualquer, que queria a todo custo ter o coração daquele Deus...

— Somo diferentes...

— Comecei a amá-lo sabendo disso. - Sussurrava, mais para mim do que para ele, tentando enfiar na cabeça que não era certo... Que não poderia dar certo.

— Você irá embora e eu ficarei aqui, sozinho... - E descendo o olhar para o chão, ele completou.— Sempre sozinho.

E com aquelas palavras, pude sentir meu coração diminuindo a pulsação e a palavra "idiota" vibrando em minha mente. Sempre havia pensando em meus sentimentos e somente em mim, não nele. Não em como ele iria se sentir quando estivesse prestes a morrer... Não quando ele iria ver meu corpo sucumbir a mortalidade humana.

— Yato...

E sem esperar uma resposta, perguntava.

— Você me ama?

O observava se erguer tão rápido como sempre fizera, esticando os braços como se quisesse tocar o céu e ficando na ponta dos pés, mas logo ele voltava a posição normal, tirando o seu casaco azul e o passando por cima de meus ombros, seus lábios aproximavam-se suavemente de minha testa, porém não a tocava.

— Você está encharcada, idiota. Deve segurar o guarda-chuva em cima de você, não de mim.

De alguma forma, um pouco de felicidade se acumulou no centro de meu peito, quando ele enfiou uma das mãos no bolso do seu casaco, que estava sobre meus ombros. Ele estava próximo, tão próximo quanto se permitia estar. Não precisava de palavras, descobri. E nem de beijos. Ou de abraços melosos. Precisava apenas estar ali e não me mandar embora novamente, pois ele sempre iria saber que eu permaneceria ali, ao lado dele e de Yukine.

Tudo começou com uma estrada qualquer, um quase atropelamento e uma briga sem sentido. Como todas as outras brigas.

As palavras não ditas por ele, ecoaram fundo em meu peito, completando o quebra-cabeça que eu havia começado.