Arrow de coco escrita por Ricardo Oliveira


Capítulo 2
Capítulo 2 - O retorno de Olívio Rainha




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Meu nome é Olívio Rainha. Na minha curta carreira empresarial fiz poucas coisas, nada tão digno. Mas nos cinco anos que passei em Dois Irmãos, realizei muitos feitos. Me orgulho de alguns, outros eu prefiro esquecer. Mas agora, vanglorio-me de ter acertado com extrema precisão um disparo decisivo: Estão vindo me resgatar.

Guardo a aljava com as flechas e o arco na minha grande maleta. Uma das únicas coisas que sobreviveu ao naufrágio. Não podem saber o meu segredo, não podem chegar nem perto disso. O barco que eu atingi começa a se aproximar da Praia do Bode. Meus pés descalços pisam na areia quente com o maior prazer. O peso da maleta é quase nulo pois ela possui, além dos meus equipamentos, apenas umas ervas boas. Cortesia de um chinês que vivia aqui. Vivia.

Eu tenho que nadar para chegar até eles. Só disponho de uma mão livre para isso, mas nem de longe é um problema. Eu não sou mais o frango que era ao chegar aqui. Não foi necessário o tal Uei Proteína, nem as loucas dietas que eu via na internet antes de partir. O segredo da força é a vontade. A única coisa que nos fortalece verdadeiramente é ver a morte sem morrer. E a vontade de tomar uma água de coco Kids.

– Quem é você, rapaz? – O idiota pergunta quando eu subo no barco, auxiliado apenas por uma corda, enquanto o resto dos idiotas assiste pasmo. Eu posso estar mudado, diabo, há quanto tempo não me olho em um espelho? Mas qualquer um que não tenha vivido em uma ilha deserta pelos últimos seis anos, conhece Olívio Rainha. Não tem problema. Olívio Rainha não deseja tanta atenção assim. É com o Arqueiro dos cocos que Brasília vai ter que se preocupar quando eu retornar:

– Meu nome é Olívio Rainha. – É a coisa mais sensata a se responder. Pessoalmente, eu acredito que qualquer introdução deva começar com o seu nome. Do contrário, como vão saber com quem estão falando? Quem estão ouvindo? O idiota me avalia como se decidisse se me devolve ao mar ou não. Ele que tente. Posso assumir o comando dessa pocilga antes mesmo que eles percebam sem nem precisar flexionar o meu arco desgastado. Mas prefiro fazer as coisas do jeito honesto. – Leve-me de volta para casa e prometo que será recompensado.

“Eu acordava na Praia do Bode. A única coisa de que me lembrava era tomar minha água de coco Kids de caixinha com papai. No iate. Rainha Gambito. Minha maleta, quase sem roupas, estava jogada praticamente ao meu lado. Dentro dela, também estava o arco e as flechas de brinquedo que eu havia usado no meu vídeo para o GIB. Ok, eu só precisava procurar pelo primeiro indício de civilização. Mal sabia eu que me arrependeria por encontrar…”

– Ele está com cicatrizes por 24% do corpo. Seja lá o que ele passou na ilha, o Olívio que vocês perderam pode não ser o que encontraram. – Eu ouvia o meu médico dizer para a minha mãe, Maria Rainha. Era a primeira vez que eu vinha para o Hospital Santa Lúcia, em Brasília. Mas pelo jeito, minha família já conhecia bem aquele lugar. Maria e minha irmã, Tereza Rainha, estão preocupadas comigo. Meu cabelo foi levemente cortado, minha barba, completamente. Estou mais reconhecível para elas, mais humano.

– Ligeirinha. – Eu chamo Tereza, sorrindo. Minha irmãzinha mais nova carrega esse apelido desde que éramos pobres, nenhum policial conseguia alcançá-la quando ela roubava e fugia. Contudo, eu não encontro a Tereza que deixei. A Tereza que olha para mim com os olhos marejados é uma verdadeira dama. Ela me abraça, eu retribuo. E então, me lembro de algo:

– É um talismã budista. – Tiro uma pequena ponta de flecha da maleta com alguns dizeres e entrego para ela.

– O que significa? – Ela pergunta, encantada com o presente. Eu a encaro levemente. “Parece que eu tinha um dicionário de seja-lá-qual-for-essa-língua naquela ilha?”, contudo, eu opto por dizer:

– Reconciliação. Eu sempre pensava em me reconectar com você, quando estava lá. – Isso deve deixar uma impressão melhor, afinal. As pessoas devem pensar que os anos na ilha me amoleceram, me fizeram mais sensível.

– Olívio, você vai adorar a Rainha Coconsolidados. Nossa produção de água de coco nunca esteve tão alta. – Minha mãe falou, empolgada. É óbvio que um jovem de visão como eu era não perderia a chance de investir a fortuna adquirida em algo que desse frutos. Talvez até literalmente. Assim, nasceu a Rainha Coconsolidados, empresa dedicada a fornecer água de coco para os cidadãos de Brasília.

– Tenho certeza de que sim. – Respondo, tentando parecer tão animado quanto ela espera que eu esteja. Ela não sabe que eu sei da lista. Meu pai morreu pela lista. A lista daqueles que queriam corromper o coco em minha cidade. Ela faz parte disso, todos fazem. Cabe a mim dar um fim e trazer o coco natural de volta. Custe o que custar.

O jantar em família foi extremamente tranquilo. Muitas perguntas, mas eu sou uma vítima traumatizada, não preciso dar tantas respostas. Agora temos uma mansão e empregados. Vou demorar um tempo para me acostumar com isso. Quanto mais pessoas na casa, mais pessoas para tentar descobrir o meu segredo.

Duas da manhã. Todos estão dormindo, pelo menos é o que eu espero. Abro a maleta, ninguém pôde tocá-la desde que cheguei. Sete flechas. O bastante para fazer uma visita antecipada na Rainha Coconsolidados. Ver se o pesadelo de meu pai se tornou realidade. Visto a cueca verde que usei como capuz na ilha. Não podem saber quem eu sou, ainda não. Amanhã, os noticiários falarão que Olívio Rainha voltou dos mortos. Hoje, eu posso muito bem mandar alguém para os mortos. Durante cinco anos, alguns malditos envenenaram a minha água de coco em Brasília. Agora, chegou a hora da cura entrar em ação.

De uma vez por todas.


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