O anjo e o demonio escrita por Lu Rosa


Capítulo 24
Ormonde




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– Ela desligou o telefone na minha cara! – reclamou Neil.

David nem respondeu. Estava ocupado abrindo a bolsa com as armas. Ele pegou uma que parecia uma pistola.

– Delegado, você fica com essa. As balas foram gravadas com uma cruz na ponta. Vai ser útil se ele tiver montado um exercito. Não tem efeito em vampiros mais velhos, mas é morte certa para os recém-criados. – ele jogou-a para Neil

Neil pegou a pistola e a destravou, colocando-a no coldre no lugar da sua.

– Nigel, essa é pra você. – ele entregou outra pistola para o rapazinho. – Sua tarefa vai ser pegar os sobreviventes. Vamos distraí-lo o máximo de tempo possível. Vamos contar que ele ainda esteja em seu sono de beleza – ironizou.

– Seria melhor se pudéssemos contar com ajuda, David.

– Não dá tempo para avisar o Instituto. Agora além das vítimas, Ângela também corre perigo. – a voz dele tremia de nervoso.

Nigel colocou a mão no ombro do amigo.

– David, não vai acontecer nada com ela. Vamos chegar antes.

David olhou para o amigo. As pupilas estavam dilatadas de medo.

– Nigel, se acontecer alguma coisa comigo, não se preocupe com nada. Tire Ângela e os outros.

– Não vai acontecer nada! – respondeu o outro teimosamente. – E eu nunca deixaria você para trás.

– Ei, casal. Vamos – chamou Neil da porta. – Ainda temos que pegar Margaret Dougherty. Se não ela sai voando numa vassoura atrás da neta.

David pegou a bolsa com o restante das armas e os três homens correram escada abaixo

***

À medida que entrava na caverna, os olhos de Ângela não conseguiam ver nada. Ela não pôde deixar de sentir um arrepio de medo ao pensar nas lendas vinculadas àquela caverna. Contava-se que ela havia sido esconderijo da fortuna do clã durante os anos de guerra entre a Inglaterra e a Irlanda. Mas houve quem jurasse que era a própria entrada para o inferno.

Éadrom (luz) – ela bateu as mãos. As tochas presas na paredes acenderam-se.

Ela olhou para o lado e viu o que parecia trapos velhos. Ao chegar perto viu o que era. Eram restos mortais de alguém!

A jovem se afastou horrorizada. Andando para trás, ela bateu o pé em algo. Virando-se rápido, viu que era uma pessoa. Então, foi até uma das tochas da parede e a retirou.

Chegando perto do corpo caído, ela viu que a mão da pessoa estava em cima de algo, como se a segurasse. Sufocando o terror, ela ergueu a mão pegando pelo pedaço do tecido. Um celular! Agora ela poderia ligar e pedir ajuda.

Ao ligá-lo, ela viu a tela de apresentação. “Olá Joseph.”

Não. Não podia ser! Ela pensou deixando o celular cair. Aproximando a tocha, ela viu as feições do corpo. Era Joseph Reston. Ela emitiu um som fraco de horror. As faces estavam emaciadas e brancas como se não houvesse sangue nelas.

– Ele morreu hoje de manhã. – ela ouviu uma voz fraca de mulher.

Olhando em volta, ela viu outra pessoa tentando se levantar. Ela se aproximou e viu que era sua amiga Susan.

– Oh meu Deus! Susan! Espera, deixa eu te ajudar – ela prendeu a tocha na parede e correu para ajudar sua amiga.

– Eu estou fraca. Ele bebeu muito de mim.

– Como assim bebeu? – perguntou Ângela notando a palidez cadavérica da amiga.

Ela mostrou a parte interna dos pulsos. Havia cortes em forma de X em cada um deles.

– Ele nos usava como fonte de alimento. Realizava sangrias e recolhia o sangue em taças. O homem que estava aqui antes de mim o desafiou não comendo o alimento que ele nos trazia, e morreu. Ângela, quando eu cheguei, havia um homem que tinha acabado de morrer. – ela apontou para o outro lado. – Era o Daniel. Ele havia matado o pai dos meus filhos. Então eu me forçava a comer por que pensava nos meninos. Eu tinha que sobreviver. – ela soluçava baixinho. – Eles estão bem, Ângela?

Ângela pegou nas mãos frias de Susan.

– Eles estão sim, minha querida. Estão lá conosco. Pensam que você ainda está viajando. Mas Sean teve um pesadelo. Foi como eu descobri que onde você estava.

Susan fechou os olhos, como se sentisse um grande cansaço.

– Agora sim. Se eu tiver que morrer, morrerei em paz.

Ângela segurou o rosto da amiga.

– Nada disso. Vou tirar você daqui. – Ela ajudou Susan a levantar.

– Ângela, há outros que podem estar vivos...

– Desculpa, querida. Mas eu vou tirar você primeiro. Vamos.

– Ora, minha querida... Deixando-me tão cedo?

Ângela e Susan olharam na direção da voz. E ali estava Anton sentado com uma taça na mão, completamente à vontade.

A jovem ajudou a outra a se sentar.

– Anton, o que está havendo? Por que esses corpos estão aqui e você mantinha a Susan presa aqui.

– Para me alimentar. Há algum tempo eu comecei a conceber uma ideia. Devo admitir que talvez não fosse uma ideia original. Eu a adaptei da história João e Maria, conhecem? Mas eu não tinha tempo para construir uma casa de doces... Então tive que colher minhas vítimas. Mas veja você: eu não as mato. Isso é bom, não é? Eu as alimento e bem. Por que eu me certifiquei de obter a melhor comida da cidade. Mas uma vez ou outra, eu acabo perdendo uma fonte e, então, tenho que pegar outra. Aliás, o sangue de sua amiga foi o melhor que eu já provei.

– Isso é doentio! Você é doente, Anton. Precisa de um médico. Você não é um vampiro. Vampiros não existem, meu Deus. – Ângela estava desesperada. Aquilo era um pesadelo. Ele matava pessoas por um prazer macabro.

– Meu amor, minha querida é você que não está vendo a verdade.

Ângela olhou para Susan deitada no chão, quase desfalecida.

– Porque você está fazendo isso, Anton? – ela começou a chorar – O que nós lhe fizemos?

– Ângela, Ângela... Você é tão doce, tão frágil. Isso tudo é por você, meu amor.

Ela o olhou através das lágrimas. Então tudo aquilo era por sua causa. Todas aquelas pessoas mortas... Por culpa sua?

– Eu andei por todo espaço e tempo à sua procura. São quatrocentos e sessenta anos nas minhas contas. E a procuro desde que você era Marion Rochester. – Ormonde explicou.

Ângela o olhou como se ele fosse louco.

– É eu sei. É difícil de acreditar. Mas eu a conheci quando você era uma belíssima dama da corte de Elizabeth I. Eu era um dos mais promissores lordes da corte da rainha Bess. Tinha todas as mulheres aos meus pés. Menos você. A mulher mais virtuosa da corte. Você amava seu marido acima de tudo. Você me levou à loucura e uma noite eu a ataquei. Você morreu chamando por seu marido. Suas últimas palavras foram para ele. – Ormonde socou uma coluna de pedra, despedaçando-a - Não para mim! Nem para me amaldiçoar por matá-la! – ele gritou. Ângela recuou assustada. - Não. Mesmo em seus últimos momentos você declarou seu amor à ele. Chocada, a rainha me baniu para a Irlanda. Eu sabia que você era irlandesa e eu desafiei Deus a acabar comigo se eu não conseguisse varrer cada irlandês da face da Terra.

– Eu não acredito em você. Anton, por favor, você deve ver um médico. Você não está bem. Você está fantasiando tudo isso.

Ele deu uma risada assustadora. Ângela encostou-se na parede.

– E o final dessa história você já conhece. Nós nos encontramos novamente anos depois. Tínhamos as almas ligadas por crime e perdão. Agora você era a linda filha de um lorde irlandês e trocava juras de amor com seu prometido no alto daquela torre ali – ele apontou para a Torre Dougherty. – E novamente você preferiu abrir os braços para a morte do que para mim. E agora, mais de três séculos passados, estamos frente a frente novamente. Mas agora eu tenho o poder de finalmente fazê-la minha companheira. Por que eu entreguei minha alma ao mal, mas uma única coisa permaneceu. O meu amor por você, Marion.

Quando ele apontou para a Torre, Ângela soube que toda aquela história era verdade. E seu coração apertou-se ao lembrar-se de tudo que David lhe dissera. Era tudo verdade. Anton Cartwright era um vampiro de quatrocentos anos. E por todo esse tempo ele sempre buscara a ela, Ângela, num círculo de amor e ódio.

– Eu não sou Marion. Meu nome é Ângela. E eu perdoo você, Ormonde por tudo que você passou. Mas nunca vou amá-lo. Nem se minha vida depender disso.

Mas agora ele não era apenas um humano louco de paixão. Num átimo de segundo ele ficou frente a frente com ela. Ângela ainda tentou correr para o outro lado da caverna, mas ele era mais rápido.

Como muitas outras vítimas antes, Ângela sentiu que havia chegado sua hora, pois ela não iria se entregar àquele demônio.


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