Destinazione escrita por Nancy


Capítulo 9
Vida longa ao credo


Notas iniciais do capítulo

Queridos e queridas;
Sei que não adianta pedir, implorar e rezar o terço pra vocês comentarem, sintam-se a vontade para guardarem suas opiniões, mas agora preciso que me digam o que acham de uma ideia: eu queria mudar o protagonismo da fic, alternar entre os capítulos (futuramente). Não vou revelar quem será o outro protagonista, mas quero que me digam o que acham. Se puderem fazer este favor, agradeço.
Boa leitura =*



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Monteriggioni, Itláia – 1503

A virada o século foi marcada pela calmaria ao redor do mundo. Não se teve noticias de guerras ou qualquer desentendimento entre nações. A mesma coisa acontecia entre Assassinos e Templários, mas a paz durou apenas até 1501.

Ezio havia estado em Roma naquele ano. Prosseguiu com a missão de encontrar Rodrigo Bórgia, o atual papa. Seu plano quase acabou em desastre após o confronto com Rodrigo. Ezio descobriu outro templo no subterrâneo da Capela Sistina, mas apesar de seus esforços, o papa permaneceu vivo, escapando por seus dedos como se fosse fumaça, mas agora totalmente ciente do poder que Ezio possuía e da enorme vontade de matá-lo.

O dia anterior havia sido exaustivo para Ezio. Estivera reunido com Mário, suas irmã e mãe e com o representante do conselho da Ordem italiana, Maquiavel. A discussão que havia sido gerada entorno da sobrevivência de Rodrigo deixou Ezio mais do que irritado, embora Mário o tivesse reconfortado com sua confiança. Mas naquela noite ele teve uma surpresa agradável, recebera a visita de uma antiga amiga, Caterina Sfoza, haviam se conhecido há muitos anos, quando o Assassino a salvara de um naufrágio.

Doze longos anos haviam se passado desde que Ezio retornara para a Itália, anos que demoraram a passar, mas que apesar de tudo o tornaram mais forte e habilidoso, não somente na arte da luta, mas também na da mentira. Frequentemente perguntado sobre seu estado de espírito, principalmente pelos companheiros de jornada, ele havia desenvolvido uma habilidade impressionante para esconder o quanto o luto o consumia. Maya estava morta, só podia estar. A culpa por tê-la deixado partir sem ao menos exigir uma boa explicação ou então segui-la, o consumiu durante muitos anos, tomando noites de sono, refeições e até dias inteiros. Mas a dor que o afligia não poderia durar para sempre e embora tivesse deixado marcas, ele se obrigou a superar.

As cortinas pesadas impediam que a luz do dia entrasse pelas janelas, dando ao quarto um ar luxurioso. Deitada ao lado do Assassino estava a bela Caterina, uma mulher por volta dos quarenta anos, mas com o corpo de uma jovem de vinte. Os cabelos de tom acobreados, os seios medianos, mas perfeitamente redondos, os olhos caramelados que encaravam Ezio. Traçava um caminho sem fim pelo peito nu dele, arrepiando-o com as unhas cumpridas.

Eles haviam dormido até tarde, mas Ezio não estava interessado em dispensar mais momentos de amor em troca dos treinos com canhões que realizava diariamente, mesmo que uma parte de sua mente o condenasse pela escolha. Enquanto isso era possível ouvir ao longe os sons de marcha e gritos de ordens, seguidos pelo estrondo de um canhão.

– Prática de artilharia – Ezio a tranquilizou quando o tiro de canhão soou. – Mário é um capitão exigente.

Nenhum servo ousou incomodar o “descanso” do casal, logo os gemidos de Caterina abafaram qualquer ruído, mas o ato de amor foi interrompido por mais do que apenas um rugido de canhão. Subitamente a tranquilidade do quarto foi substituída pela explosão das janelas, sendo atiradas para dentro do quarto juntamente com parte dos tijolos das paredes, o projétil pousou incandescente ao lado da cama, fazendo o piso ceder alguns centímetros com o peso.

Che diavolo?! – Ezio esbravejou, tendo se atirado protetoramente em cima de Caterina. Não demorou a pular da cama, vestindo a camisa e as calças, notando o peitoral de sua armadura destruído pela bala de canhão, calçou as botas e num piscar de olhos já se virava para Caterina, também vestida. – Tenho que encontrar Mário!

– Liderarei minhas tropas pelo flanco dos invasores, avise-o disto. – ela falava num tom alto e autoritário, muito diferente do que usava momentos antes.

– Fique fora de vista! – ele gritou em resposta, correndo e saltando pelo enorme buraco na parede, caindo sobre as telhas logo abaixo, vendo a cidade em chamas, pessoas aterrorizadas, casas queimadas, canhões sendo disparados e soldados sendo organizados. Sua distração quase o impediu de desviar da bala de canhão que voava em sua direção, ao vê-la no último instante, rolou para o lado, sendo jogado para o chão pelo impacto da explosão.

– Ezio! – falou a conhecida voz estrondosa de Mário, ajudando-o a levantar o tio bateu em seu ombro sorrindo.

– O que está havendo, tio? – ele perguntou confuso.

– Cesare Bórgia parece ter-se irritado com a estadia de um forte Assassino intacto por tanto tempo.

– Forte Assassino?!

– Exato, eles acham que toda a cidade é composta por Assassinos, temos que mantê-los do lado de fora dos portões ou a situação ficará ainda pior!

– Caterina irá liderar as tropas para atacá-los por trás!

– Ótimo, vamos encurralá-los então. Pode cuidar dos canhões por mim, não pode? O pobre armeiro já não está mais entre nós.

– Conte comigo tio, defenderei os muros! – Ezio se apressou, sendo segurado por Mário, o homem confiante e sorridente que em breve mostraria aos Bórgia com quem eles haviam mexido.

Insieme per la vittoria!

Insieme! – respondeu sorridente. – Tio! – chamou-o na última hora – Tome cuidado, sim?

– Não se preocupe garoto.

O ataque surpresa não tinha tido o efeito desejado por Cesare, apesar de ter metade de Monteriggioni em chamas e o castelo praticamente destruído, os muros e portões resistiam bem. A batalha do lado de fora se iniciou assim que as tropas de Caterina chegaram, surpreendendo o exército inimigo. Mário liderou o ataque frontal, mantendo os inimigos ocupados. Mas a preocupação não diminuíra. Enormes torres de madeira e ferro se aproximavam dos altos muros que cercavam a cidade. Poucos dos soldados que recarregavam e atiravam dos muros ainda permaneciam vivos. Apesar dos esforços de Ezio e dos soldados sobreviventes, as torres começavam a atingir os muros, obrigando-os a recuar para os portões internos da cidade.

– Onde está Mário? – perguntou Cláudia desesperada. Ela a mãe haviam guiado as pessoas até a passagem que as levariam para as montanhas ao leste e para longe da batalha, mas algumas pessoas ainda permaneciam na cidade, feridas ou procurando por filhos e entes queridos.

– Ainda do lado de fora, preciso ajudá-lo. – Ezio estava ferido, mas ainda tinha forças para lutar e faria o que fosse preciso para defender o que restara da cidade. – Vá para as montanhas, guie as pessoas que já foram e leve nossa mãe com você. As alcançarei quando tudo estiver resolvido.

– Ezio...

– Vá Cláudia! – ele falou com urgência, empurrando a irmã para dentro da passagem e fechando as portas, obrigando-a a seguir em frente.

Quase nenhum soldado havia restado, mas Ezio ainda tinha esperanças de que as tropas de Mário e Caterina tivessem conseguido conter o exército de Bórgia do lado de fora. Todo seu mundo desabou quando os portões internos explodiram, revelando um grupo de soldados enormes liderados pelo próprio Cesare, extremamente seguro de si. Ezio teria força suficiente para matar todos os soldados e arrancar a cabeça de Bórgia, não fosse a imagem diante de seus olhos. O tio que apenas momentos antes lhe passara tanta confiança e certeza, agora rastejava em sua direção completamente incapacitado, ferido e multilado. Ele não teve reação, o choque tomou completamente sua mente e corpo, impedindo que Ezio fizesse qualquer coisa.

A expressão no rosto de Cesare era de puro deleite, ver o temido Ezio Auditore sem reação, totalmente incapaz de lutar era algo que valeria toda sua vida. Mas ele não poderia se dar ao luxo de deixar que o Assassino logo fosse movido pela ira que em breve o atingiria.

– Pelo visto, hoje eu consegui dois prêmios. – o Templário falou com a voz alta, esbanjando escárnio. – A sua cara... – apontou para Ezio, sorrindo deliberadamente – E isto. – ele ergueu a Maçã dourada, exibindo-a para o Assassino ainda imóvel.

– Eu vou matar você... Vou matar todos vocês. – Ezio falou num tom inaudível, ainda em choque pela situação.

– Desculpe? Não consigo ouvir a sua voz de inseto, Auditore. – Cesare cuspiu, retirando do cinto uma arma um tanto familiar a Ezio. – O que acha, devo testá-la? Eu adoraria...

– Ezio... – Mário murmurou, agora incapaz até mesmo de tentar se arrastar até o sobrinho.

Não houve tempo para algo fosse feito, dois disparos foram feitos ao mesmo tempo. Com um estampido alto, a arma de Cesare terminou com a vida de Mário e uma flecha certeira atingiu as costas de Ezio, fazendo-o cair desacordado no calçamento.

Abril/1503 Edimburgo – Escócia

Os doze anos que se passaram foram os mais prósperos de toda a história do país. A principal fonte de renda escocesa, a pesca, atraía consumidores de muitos países, movimentando a economia. As crianças tinham acesso ao estudo, os adultos tinham bons empregos e bons salários. O período ficou conhecido como a era de ouro escocesa.

Nos primeiros dois anos após a ascensão de Jaime IV ao trono, Anne se propôs a iniciar o treinamento dos soldados. Os jovens com mais de dezesseis anos tinham a oportunidade de fazer parte do que dentro de alguns anos seria um exército. Em 1497 Anne passou a ensinar à seus alunos mais confiáveis e habilidosos, a doutrina Assassina. Apesar de ter estado afastada da Ordem há alguns anos, seu conhecimento e habilidades estavam melhores do que jamais estiveram, mas embora os homens e mulheres a quem ensinou, tivessem se mostrado extremamente fiéis e Anne confiasse em cada um deles, ela não podia nomeá-los Assassinos, apenas um mestre poderia e sem a aprovação do conselho da Toscana, ela não seria nomeada como tal. Mas aquilo não a impedia de continuar com a árdua tarefa de manter o credo vivo em seu país.

Com o passar dos doze anos, o exército escocês ganhou certa fama, a de manter qualquer ameaça longe de suas terras com total eficácia. Na primavera de 1503, a Ordem Assassina escocesa descobriria que qualquer informação tem um preço, mesmo que aquilo implique em entregar seus irmãos para a morte certa.

Na manhã do dia quinze de abril, os cidadãos foram despertados por tiros de canhões vindos da praia. O sino de alarme foi soado e enquanto as pessoas ainda tentavam entender o que estava acontecendo, parte do exército já se posicionava nas ruas da capital, ajudando feridos e lutando contra os invasores.

– Quem são e o que buscam? – Jaime exigiu saber ao entrar na sala onde estavam os três homens mais confiáveis do reino, líderes do exército na ausência de Anne.

– Ainda não sabemos meu senhor. Os navios chegaram pela madrugada encobertos pela névoa do oceano, os soldados que montavam guarda na praia estão mortos. Não há bandeira que os identifique.

Jaime não aceitava meias explicações. Pegou a luneta em cima da mesa de reunião e a apontou para a janela com uma vista privilegiada da longínqua praia. Realmente os soldados não saberiam identificar os invasores, mas o rei se lembrava perfeitamente do símbolo estampado na bandeira hasteada nos navios de guerra. Anne havia desenhado aquele símbolo enquanto o explicava mais sobre seu credo e a história dos Assassinos. Eram navios Templários.

– Onde está minha irmã? – ele perguntou num tom sério e autoritário.

– Não sabemos senhor. – respondeu um dos homens.

– Mas que diabos, não sabem de nada! – vociferou irritado, saindo da sala a procura de Anne.

O centro comercial da cidade estava tomado pelo caos, casas pegavam fogo e pessoas feridas eram retiradas das ruas por soldados. Os soldados inimigos não usavam nenhum uniforme que tornasse mais fácil a identificação. Vestidos com túnicas de ferro e portando a cruz Templária pouco conhecida pelos escoceses. O pequeno grupo de Assassinos que Anne havia treinado lutava para chegar até o maior problema que tinham: os navios que disparavam tiros de canhões incessantemente.

Anne não estava muito longe do centro, ajudando os soldados a retirarem crianças e mulheres do caminho. Ouviu o grito desesperado de uma criança e então deixando a mulher nos braços de um dos soldados, correu por uma viela estreita, encontrando um dos inimigos arrastando um menino para a praia.

– Anne! Anne! – a criança berrou quando a viu. Fazendo o soldado que apertava seu braço se virar para ela.

– Ora, ora. Exatamente quem eu queria ver. – o homem falou num tom de escárnio, ainda segurando a criança, obviamente machucando-a. – Posso até ganhar uma promoção se levar sua cabeça comigo.

– Tente a sorte. – Anne respondeu com frieza impressionante.

O homem tinha quase o dobro de seu tamanho, o corpo forte e robusto, ele poderia vencê-la apenas usando o peso de seus braços e pernas. Mas a expressão de surpresa pela resposta de Anne já a dizia que ele era tão inútil quanto qualquer outro que ela havia matado no caminho.

– Solte a criança antes que se machuque brutamonte. – ela mantinha a espada no cinto e o arco nas costas, sem dar nenhum sinal de que precisaria das armas.

– E quem será o responsável por isso? Uma jovenzinha do seu tamanho? – ele riu, jogando a criança do chão com certa força e sacando a espada, apontando-a para o peito de Anne.

A Assassina ao menos precisou se preocupar em atacar o homem, orgulhoso como qualquer outro soldado, ele avançou brandindo a espada, certo de que a mataria. Usando a parede de tijolos ao seu lado, Anne tomou impulso e desviou da lâmina afiada que passou zunindo por seu rosto, com a força que deveria atingir o chão, ela mirou os joelhos do soldado, quebrando suas pernas e arrancando um grito ensurdecedor. O movimento rápido da mão ativou a lâmina escondida em seu bracelete aproximando-a do pescoço do homem.

– Quem os mandou aqui? – perguntou com autoridade.

O soldado choramingou no chão, mas não respondeu.

– Quem os mandou? – ela gritou, pisando na perna quebrada, fazendo-o gritar de dor.

– Bórgia! Bórgia! – ele se desesperou – Cesare Bórgia!

Anne não se deixou abater pela surpresa, manteve a expressão fechada e embora soubesse que estava assustando a criança, precisava de informações.

– O que Templários querem aqui? Fale antes que minha paciência se esgote, maldito.

– Você! Ele quer você, não sei por que, eu juro!

Grazie. – respondeu antes de pegar a espada do soldado e cravá-la em seu coração. Caminhou até a criança que segurava o braço roxo pela força com que o homem o arrastara. – Você está bem?

O menino não respondeu, apenas assentiu com a cabeça, aterrorizado pelo que acabara de ver. Anne o pegou os braços, acariciando seus cabelos.

– Vamos, vou te levar para um lugar seguro, certo? – Ela caminhou por ruas estreitas e vazias, puxando o capuz sobre a cabeça e escondendo os cabelos chamativos. Conseguiu chegar ao castelo sem maiores problemas, entrando pela passagem dos servos. Deixou a criança com uma das empregadas e correu para a sala de armamentos, onde Jaime estava se preparando para a batalha.

– Anne! Por Deus onde esteve? – ele a abraçou assim que a viu.

– Ajudando nas ruas. – respondeu rapidamente – Sei quem está por trás do ataque...

– Templários...

– Sim, mas é alguém que eu não pensei saber de minha existência. – Ela olhou pela janela de vidro, vendo a luta nas ruas ao longe.

– O que eles querem aqui?

– Eu. Não sei por qual motivo, mas se os Bórgia querem um problema, acabaram de conseguir.

– Vai ficar longe das ruas então, trate de ficar segura aqui dentro enquanto cuidamos dos invasores.

Anne riu com aquilo, mas não por diversão, por incredulidade.

– Só pode estar brincando. Vamos chegar até os navios e acabar com isso. Vou reunir os Assassinos, você cuida das ruas e garanta que as passagens a oeste estarão livres para que possamos chegar à praia sem sermos vistos.

– É arriscado de mais, se querem você não vai ser fácil passar despercebida.

– Você ainda me subestima. – ela encerrou a conversa, puxando o capuz preto para cobrir os cabelos e saiu da sala, reunindo todos os Assassinos que encontrou pelo caminho.

Depois da luta árdua que foi travada das ruas a oeste da cidade, finalmente o grupo de Assassinos se esgueirou pelas ruas vazias, chegando à praia onde podiam se esconder entre uma selva de rochas e então abordar os navios menos protegidos. A tarefa de abordagem não foi difícil, embora tenham sido recebidos por mais soldados do que haviam imaginado ainda estarem nos navios. Escondidos no porão de carga dariam seguimento ao plano de Anne.

– Certo, agora faremos o seguinte: Francis e eu iremos acender os barris de pólvora e explodiremos os navios. Eles estão ancorados muito perto uns dos outros, a explosão de um deles vai ser suficiente para acabar com todos os outros cinco. Esperaremos cinco minutos para que vocês pulem na água e nadem até a praia. Não saiam para a areia, ainda há muitos soldados fora dos navios. Corram para as ruas e fiquem o mais longe que puderem, entenderam?

– Mas e você e Francis? – perguntou o mais novo dos Assassinos.

– Não se preocupe, teremos tempo de fugir. Vão!

Obedecendo a ordem de Anne, o grupo afastou um dos canhões e pulou pela abertura, nadando para longe.

Os dois Assassinos se apressaram em organizar os barris de pólvora juntos uns dos outros e despejando o conteúdo de um deles, fizeram uma trilha até o convés, com um lampião a óleo, Anne acendeu a pólvora e largou o objeto, correndo e se atirando na água juntamente com Francis, nadando o mais depressa possível, mas não o suficiente. Quando o som da primeira explosão os alertou, ambos mergulharam nas águas profundas, buscando não serem atingidos por nenhum pedaço de madeira dos navios. Ao chegar à praia Anne se deu conta de que não estava acompanhada de Francis. O corpo do Assassino boiava não muito longe dali, trespassado por um pedaço grande de madeira.

– Merda. – vociferou para si mesma, se odiando por ter tido a ideia da pólvora. Mas não havia tempo para se lamentar, centenas de vidas ainda estavam em jogo na cidade e Anne tinha a obrigação de ajudar na luta.

De fato a batalha nas ruas de Edimburgo não foi nada fácil e naquela noite apesar de terem saído vitoriosos, os escoceses não tinham nada para comemorar, centenas de vidas foram perdidas, famílias destruídas. Casas teriam que ser reconstruídas, plantações, lojas, abrigos, escolas, tudo estava destruído.

– Não sabemos ao menos por onde começar Vossa Majestade. – falou o representante do conselho popular.

Jaime respirou fundo, tinha alguns ferimentos superficiais pelo corpo, mas nada grave. O rei mantinha o olhar no chão, perdido em seus próprios pensamentos. Anne cuidava de um soldado ferido, ajudando o médico a desinfetar os cortes profundos na pele. O silêncio tomava conta do local, embora alguns gemidos de dor pudessem ser ouvidos. Anne se levantou ao ouvir as palavras do homem que conversava com Jaime. Limpou as mãos nas vestes já imundas de sangue e se aproximou.

– Jaime... Eu não tenho a menor ideia de como vamos continuar com tudo depois do que aconteceu hoje, mas isso é algo que vai ter que lidar sozinho. – ela falou sussurrando, evitando que as pessoas por perto ouvissem.

– O que quer dizer Anne? – o rei fixou toda a atenção na irmã.

– Eu sei quem causou isso... – ela respondeu com seriedade. – E se ele teve poder suficiente para nos atacar com tal força, é porque as coisas na Itália estão muito ruins. – Anne respirou fundo, tentando não deixar os pensamentos ruins tomarem conta de sua mente.

– Não pode simplesmente nos deixar. Quem vai cuidar do exército enquanto estiver fora?

– Qualquer um dos três homens competentes que eu escolhi para o cargo. – devolveu num tom urgente. – Jaime se eu não acabar com os Bórgia e descobrir o que querem comigo, jamais teremos paz alguma. Se os Bórgia ainda estão vivos é porque os Assassinos não obtiveram sucesso em sua missão e isso também é por minha culpa. Estou partindo para a Itália ao amanhecer.

Não houve mais o que discutir. Com o passar dos anos Jaime tinha aprendido que nem sempre ele conseguia mudar a mente de Anne. No auge de seus 34 anos, ela havia desenvolvido uma personalidade mais dura, não podia ser comparada com a jovem de doze anos atrás que se envergonhava perante grandes multidões, embora ainda tivesse o mesmo rosto jovem e a mesma disposição. Sua natureza Imortal finalmente se provara verdadeira, ao menos no que se tratava de aparência.

A noite não foi nada tranquila, como Anne já esperava. Não conseguiu pregar os olhos, pensando em tudo, mas principalmente em Ezio. Então os Assassinos estavam mortos, era o pensamento que dominava sua mente. Depois de tantos anos a principal missão dos italianos havia falhado e os Templários viviam sua era de glória e agora eles pretendiam dar um fim no que restara da ameaça Assassina: Anne.

Antes mesmo do raiar do sol, Anne desceu as escadas e se esgueirou pela passagem dos servos, carregando uma bolsa com uma roupa mais quente e dinheiro. Vestia o robe típico dos Assassinos, mas não era o que ela usava anos antes, o tecido era mais leve e permitia que ela se movesse com mais facilidade. Coberta pela vestimenta preta e munida de sua espada presa ao cinto de couro, ela planejava sair do castelo sem ser notada, mas Jaime a esperava a saída da cozinha, já acostumado com o caminho que a irmã tomava quando queria passar despercebida.

– Então eu deveria mesmo ter pulado a janela... – falou ao passar pela porta, sendo seguida pelo rei.

– Se quisesse me evitar, sim. – ele respondeu com os braços cruzados, caminhando rapidamente ao lado de Anne.

– Vou considerar isto da próxima vez. – a Assassina tomava o caminho até o estábulo, preparando a sela do cavalo. – Se veio com a intenção de me impedir de ir, deveria ter ficado dormindo.

– Ora vamos, nenhum de nós dormiu esta noite. Não vim tentar mudar sua decisão, sei que meus esforços não valeriam de nada. Apenas quero saber mais sobre essa missão que você mesma se impôs.

Anne apertou a sela no enorme cavalo preto, respirando fundo e então se virando para o irmão. O deixaria em uma situação complicada, lhe devia ao menos explicações.

– Cesare é o filho de Rodrigo Bórgia, a quem você mais provavelmente conhece como sendo o papa Alexandre VI. Há quatorze anos, outro Assassino e eu fomos designados para matar Rodrigo, mas as coisas deram errado, uma missão mais importante cruzou nosso caminho. Rodrigo se tornou papa e tudo se acalmou, dois anos depois eu vim para a Escócia e o grupo com quem eu realizava a missão retorou para a Itália com a intenção de eliminar Bórgia. – ela baixou o olhar, respirando fundo novamente e então montando no cavalo segurando as rédeas. – Se Cesare ainda está vivo é porque os Assassinos estão mortos e isso não vai ficar impune.

Jaime se aproximou com um suspiro, olhando para a irmã. – Apenas não morra certo? Complete sua missão e retorne. Sei que é egoísmo meu pedir isso, mas você se tornou parte importante de minha vida e de meu reinado, preciso que volte.

Anne assentiu, esboçando um sorriso fraco. – Voltarei não se preocupe. Se “ele” está morto então nada mais me prende à Itália.

– Gostaria de ter conhecido O Assassino, você fala com paixão sobre ele, nunca a vi falar assim sobre mais ninguém.

Ela sentiu o coração apertar e então desviou o olhar lacrimoso, engolindo as lágrimas e se ajeitando sobre a montaria.

– Te vejo em alguns meses Jaime. – Anne não se demorou na despedida e partiu galopando na direção da estrada pela qual viera há doze anos. Estaria em Roma dentro de um mês e voltaria com a cabeça de Cesare em uma bandeja de ouro.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Uma rápida transição do AC2 pro Brotherhood... rápida e necessária queridos. Se quiserem me animar com opiniões, ficaria grata



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