Depois de toda a informação e de algum tempo para digeri-la, eu e Anthony conseguimos "voltar ao normal", se é que depois de tudo o que aconteceu isso será novamente possível. Acho que cada evento, cada palavra, muda uma pessoa pra sempre. Não há uma forma de esquecer aquilo e voltar a ser como era antes, quisera eu que isso pudesse acontecer, mas não dá. Anthony e eu agora temos um elo, uma ligação. Isso não pode ser apagado.

– Srta. Grayhouse. Está me ouvindo?! – diz minha professora de Matemática, sra. O'Leary, que era um lobisomem.

– O que...? – Eu digo, voltando ao planeta Terra.

– Srta. Grayhouse peço encarecidamente que preste atenção na minha aula, e que resolva esse problema, já que se acha tão inteligente que não precisa prestar atenção às minhas aulas. – ela aponta para o quadro com um sorriso maléfico. Ela parecia uma das Fúrias, sem brincadeira. E o problema matemático? Mamãe havia me ensinado quando eu tinha 12 anos. Eu tenho conhecimentos avançados sobre muitas áreas do conhecimento, sorry teacher.

Quando eu ia levantar, Vincent se levanta primeiro e começa a discutir com a professora sobre as coisas pelas quais eu passei hoje. A professora ficou indiferente a tudo o que meu irmão falou e disse que se ele não ficasse quieto e voltasse para o seu lugar, tanto ele quanto eu iriamos para a detenção. Sim, eu fiquei puta da vida com a sra. O'Leary, aquela velha nojenta.

– Sra. O'Leary. A meu ver, a senhora está sendo injusta. E creio que mostrar as presas e as garras – fiz gestos acompanhando o que eu digo – não vão te deixar mais assustadora a ponto de nos cagarmos de medo da senhora, e aliás, não há como a senhora ficar mais estranha, já que parece uma Fúria. Aquela coisa estranha da mitologia grega. Enfim, se quer que eu resolva esse problema estúpido que eu já sabia resolver desde meus 12 anos, eu farei, mas meu irmão não tem nada a ver com isso, e é melhor a senhora tomar cuidado com o que diz a respeito da minha família, pois não sou muito tolerante e estou cagando e andando para sua idade. – Sério, tinha como ela ficar mais assustadora, mas eu não deixei ela ver isso e continuei ali, enfrentando-a. Até meu irmão ficou assustado com minha reação, pois eu nunca fui de enfrentar um professor.

– Muito bem, srta. Grayhouse. Seu irmão não irá para a detenção, mas você, garotinha atrevida... Eu faço questão de te levar à detenção. Comunicarei ao sr. White e à srta. Collins sobre sua falta de educação e comportamento. Creio que não serão tolerantes com relação a isso. – dei de ombros, para que parecesse que eu não estava nem aí para o que ela fosse fazer, o que a deixou com raiva.

Acho que foi de propósito que ela "esqueceu" de encolher as garras quando foi me puxar pelo braço e me arrastar até a sala do diretor e acabou me ferindo. Lycan se materializou na frente da professora e rosnou de forma ameaçadora pra ela, mas acho que a sra. O'Leary deve ter pensado que, por ser um lobo, ele ia se encolher de medo quando ela rugisse, uivasse ou o que quer que ela tenha feito, mas aquilo só deixou "meu" lobo com mais raiva, pois ele fez o mesmo que a professora, só que mais alto, forte e definitivamente ainda mais ameaçador e mortalmente assustador, quase me caguei. A professora se encolheu e começou a ganir (?) como um filhotinho de cachorro assustado. Eu ri horrores e disse a Lycan que ele podia voltar para onde ele veio e ele olhou para a minha professora com um ar triunfante e sumiu. Metade da sala estava apavorada, a outra metade nem se mexia. Mas aí houve a primeira risada, e depois mais outra e outra até todos estarem rindo da nossa queridíssima professora de Matemática.

Tá certo que depois de se recuperar, ela mandou todos ficarem calados e me levou direto para a sala do diretor, que era ninguém mais ninguém menos que Anthony. A professora contou "tudo" a ele, omitindo a parte que ela me feriu e a parte em que ela parecia um filhotinho assustado perante Lycan. Ela estava escondendo ainda os meus ferimentos com a própria mão, mas aí eu resolvi que queria ferrar um pouco mais com ela e girei meu braço, fazendo-a me soltar. Eu mostrei as feridas que ela deixou em mim e contei tudo o que aconteceu, sem esconder nada e logo vi que Anthony tinha as mesmas marcas que eu, ainda sangrando no mesmo braço. Nos olhamos por alguns segundos com espanto, mas logo depois ele se recompôs e disse à professora que eu não seria punida, mas que ela seria demitida por ter se portado de forma antiética e agressiva com relação aos alunos. Eu me segurei pra não rir, foi um esforço tremendo.

Assim que ela saiu batendo o pé, me virei para sair, mas Anthony me chamou e disse que iria fazer o curativo em meu braço e que era para eu ajuda-lo com o dele, para que ninguém fizesse perguntas demais sobre os ferimentos idênticos. Acho que nos aproximamos depois do que aconteceu, mesmo tendo acontecido a menos de 1 hora. Ele fez como disse e eu o ajudei com o curativo dele. O sinal bateu anunciando que era hora de ir embora. Me despedi de Anthony e segui para a sala de aula afim de pegar meus materiais.

Vincent estava me esperando na porta com meus livros em mãos e com um sorriso travesso no rosto. Caminhamos conversando e rindo da nossa agora ex-professora de Matemática até os armários, guardamos nossas coisas e fomos encontrar Luke e Lucy no portão do colégio, onde estavam junto com meus pais ao lado do carro. Lycan apareceu ao meu lado na forma de Husky, parecia até um cachorro normal, a não ser pelo fato de que estava "rindo" e zoando da minha ex-professora de matemática – zoando mentalmente, é claro, afinal até agora ele não havia se transformado em humano. Quando eu abri a porta para entrar, ele pulou na minha frente e se sentou ao lado da janela, onde eu sempre sento. Revirei os olhos e entrei enquanto todos riam. Para um primeiro dia de aula, tudo correu de forma absolutamente normal e muito bem.