- Shion-kun. - A voz da Safu me tirava de meu mundo interno, fazendo com que arrastasse o olhar de onde ela estava. - Shion-kun, você está aqui. - E apoiando as mãos contra os joelhos, ela sorria e falava sobre estar sem ar por ter me procurado a escola inteira.

- Desculpe, Safu... - Olhava para o livro no meu colo e arranjava uma desculpa. - Apenas vim pegar sol e ler um pouco.

- Eh?! - E olhando para o livro, ela resmungava. - Mas ele está fechado...

- O fechei rápido quando você me chamou. - Tentava a todo custo evitar que ela descobrisse o motivo por estar sempre ali, de um tempo para cá.

- Mas Shion-kun... Você nunca mais almoça comigo.

- Desculpe, lugares lotados não fazem mais meu tipo... - Desconversava. - O sol finalmente saiu de trás das nuvens, não é?

- Você está estranho.

E sem imaginar o que ela faria, soltava um grito alto ao ter a coxa dela escorada contra a minha.

- O que foi? - E arqueando uma sobrancelha, Safu me olhava de cima a baixo. - Foi somente um toque.

- Foi... Foi... - Começava a gaguejar e a tremer, embora que no passado tivesse tido alguns sentimentos pela garota perto. - Nada. - E escondia o rosto pela sombra da franja, pois estava corado até a alma.

- Bem, já que Shion-kun está muito incomodado com a minha presença hoje, irei mais cedo para a aula. Até depois. - E sem pensar duas vezes, se erguia e saia correndo. - Bye, bye!

Suspirava alto, agradecendo por Safu não ter descoberto o real motivo de estar ali, todos os dias agora... Ou as vezes na parte traseira da escola, ou no terraço... Depende de onde ele estivesse. O estranho era pensa que ele era homem. Eu sou um homem... Ele é... Confuso.

Erguia o olhar para onde o mesmo estava deitado sobre a relva e corava até o âmago do ser, ficando confuso e escondendo o rosto sobre a franja ao ver que o mesmo olhava de volta.

- Ei! - O ouvir gritar e então o som de passos ficava mais forte. - Você é um stalker?

- Stalker? - Ficava confuso com a palavra e o olhava, ficando admirado ao ver a cor dos olhos dele.

- Cinza...

- Ãhn?! - E colocando a mão na cintura, o rapaz encarava-me de modo estranho.

Era estranho pensar que havia começado a perseguir um completo estranho, apenas porque havia ficado curioso em saber qual cor era os olhos dele. Olhando bem para o rosto dele, ele era mais bonito de perto, realmente. E mais alto do que havia imaginado. Acho, que essa é a primeira vez que escutava a sua voz.

- Ei, eu estou falando com você! - E o seu pé teimando em me cutucar na canela. - Pare de viajar, branquelo.

- Branquelo? - Estava chocado devido o apelido. - Meu nome é Shion.

- Para mim é branquelo.

- Shion. - E irritado pelo apelido, soletrava. - S-H-I-O-N.

- Sim, sim. - E dando de ombros, ele falava. - Nezumi.

- Nezumi?

- Meu nome.

- Ah sim.

Iria fazer quase um mês que estava interessado naquela pessoa, embora não soubesse o real motivo. Nos primeiros dias, havia o seguido sem pensar em como ou porque, quando me dava conta, já estava no mesmo local que ele, o olhando discretamente por trás de algum livro.

Ouvia o sinal tocar e me erguia em um sobressalto, esbarrando em Nezumi e levando ambos ao chão.

- Você é louco ou o quê? Acha que pode passar por dentro das pessoas? - O ouvia resmungar e ficava, novamente, corado até o âmago.

- Desculpe... Desculpe. - Encolhia os ombros e escondia o rosto novamente.

- Poderia sair de cima de mim agora? É estranho.

E ao notar que estava com a mão na coxa direta de Nezumi, corava mais ainda, se é que era possível, e tirava a mão rapidamente, dando um pulo para trás.

- Me desculpe... Me desculpe...

E sem pensar duas vezes, começava a chorar e saia correndo, desesperado para qualquer lugar.

O que estava fazendo? Nunca havia agido como um completo idiota. Ou como uma garotinha envergonhada por qualquer coisa.

- Ah, isso não está acontecendo. - E colocando as mãos na cabeça, começa a gritar e a repetir a frase. - Sou um idiota. Sou um idiota. Sou um completo idiota.

Olhava ao redor e notava que, sem pensar, havia corrido para a parte traseira da escola. Ah não, estava atrasado! E a professora era horrível. Estaria tudo bem em não ir somente naquela aula?

- Ei. - A voz grossa de um garoto fazia com que desse um pulo e o olhasse, ficando surpreso ao constatar que era o rapaz que seguia. - Você é louco ou o quê?

- Por... Por... Que... Me seguiu? - Gaguejava, mordendo a língua no final da pergunta e se encolhendo o máximo.

- Você parecia estar chorando... E por instinto o segui.

Oh, ele parece ser uma pessoa legal.O pensamento surgia tão de repente como havia corado com a frase dele.

- Agora me diga porque tem me seguido todos esses dias...

Ele notou! Tinha vontade de esconder o rosto entre as mãos, mas apenas faria papel de tolo mais uma vez.

- Não o estou... Seguindo... - Começava a gaguejar novamente. - Apenas... - E sem saber o que dizer, começava a tremer, encolhendo-se o máximo que dava.

- Você gosta de mim? Quer se confessar e não achou o momento certo?

- Eh?! - Sentia vontade de estapeá-lo, para ver se ele notava que éramos dois homens. Sexo masculino. Não tinha como dar certo... Mas, porque o seguia então? - Não sei. - Dizia por fim.

~~

Depois daquele dia, Nezumi e eu passamos a almoçar juntos e falar sobre baboseiras qualquer. Nezumi não gostava muito de literatura, enquanto eu a amava, mas ele parecia saber muito de livros, o que era estranho. Nezumi disse que preferia ficar sozinho na escola do que ter que fingir ser o que não é para agradar os outros. Pensando bem, esse jeito combina bem com o dele. Nezumi não gostava muito de peixe, mas o comia todo dia em seu almoço, lembrando do que o mesmo havia dito.

- Talvez se eu o comer todo o dia, eu passo a gostar dele.

Será que era por isso que, subitamente, ele passou a andar comigo na escola? Embora sempre se afastasse quando Safu se aproximava. O pensamento, de algum modo, me incomodava.

Nezumi não era muito bom em se vestir na moda, enfiando qualquer coisa no corpo e usando o uniforme escolar de qualquer jeito. O que havia visto naquela pessoa? Apesar de todo o seu jeito arrogante e frio e as vezes idiota, gostava do modo como ele agia ou até mesmo se vestia... Pare!

- Você não gosta da Safu? - Perguntava, o cortando de algo que falava.

Me olhava de modo confuso.

- Não digo que não gosto, apenas não simpatizei ou algo do tipo... - E virando o rosto, ele pegava um pedaço de salsicha em formato de polvo, o colocando na boca. - Ela não parece o tipo de garota sempre sincera... Ou... Não sei. - Falando com a boca cheia, como de costume.

- Coma antes de falar, idiota! - E sem pensar duas vezes, desferia um tapa no topo da cabeça dele. - Ai meu Deus... - Gritava em desespero ao ver a cara de Nezumi. - Me desculpe, me desculpe... Foi impulso e...

E segurando a mão que o havia atingido, ele olhava dela para meu rosto, aproximando-se.

- Não me toque novamente, entendeu?

- Mas... Nossas pernas... - E ambos olhamos para baixo, vendo que estava tocando na minha, caia na risada.

- Você é muito bobo, Shion.

E erguendo o olhar para cima, nossos nariz se tocavam suavemente, sentia o leve formigar nas bochechas e tinha a certeza de que estava ficando corado. Nezumi, por sua vez, desviava o seu nariz do meu e aproximava seus lábios entreabertos do meu, a centímetros de se tocarem quando uma vozinterrompia.

- Shion, o que está fazendo? - A voz triste de Safu fazia com que empurrasse Nezumi com toda a força. - Pensei que...

E sem terminar de dizer, ela saia correndo.

Me erguia rapidamente e fazia questão de seguir Safu, mas era abraçado por trás, devido a surpresa do toque, ficava parado olhando enquanto Safu sumia pelo corredor, em direção as salas de aula, talvez.

- Não vá, Shion.

Sentia a testa de Nezumi ser escorada contra meu ombro e o aperto na cintura ficar mais forte. Subitamente, meu corpo começava a tremer de nervosismo, sem saber como reagir ou o que dizer.

- Diga alguma coisa, Shion.

A voz dele parece rouca... Ou é apenas minha imaginação?

- Nezumi... Desculpe. - Começava a me mexer de qualquer jeito, querendo a todo custo ser solto por ele.

E soltando-me dele, corria até onde Safu havia ido, a procurando em todos os lugares, mas não a encontrava.

~~

Depois daquele dia, nem Safu e nem Nezumi falaram mais comigo. Nezumi quase não ia mais as aulas, ao menos quase nunca o via mais. Safu me ignorava na escola, na sala de aula e até mesmo quando a encontrava indo para casa. Tentei a todo custo explicar a ela o que havia acontecido, mas ela sempre começava a chorar e dizer que não queria saber de mais nada, que estava cansada. E com Nezumi, quando fui tentar falar com ele, meus pés travaram a uma certa distância ao vê-lo conversar com umas garotas. Talvez colegas de classe... Aquilo era ciumes? Era como se em meu peito houvesse alguma coisa cutucando uma parte bastante dolorida. Era como... Não conseguia explicar.

Agora, estava sentado no lugar onde havia conversado com Nezumi pela primeira vez, as lágrimas começavam a escorrer sem nem ao menos querer. Porque estou chorando, afinal? Não tínhamos nada.

Ao erguer o olhar para o local onde Nezumi sempre ficava, via uma garota, talvez a mesma de um grupo que ele havia falado dias atrás, segurando na camisa dele. E inesperada, me erguia e corria até ele, o puxando pelo braço e o levando até a parte traseira da escola.

Apoiava as mãos contra os joelhos, tremendo e com falta de ar, mas também morrendo de vergonha e querendo esconder o rosto a qualquer custo. Mas algo falava mais alto dentro de mim.

- Não deixe te tocarem tão facilmente, idiota! - Gritava, mas se arrependendo no minuto seguinte.

- O quê? - O ouvia gemer a pergunta, talvez de surpresa ou sabe-se lá o que.

E sem pensar novamente em meus atos, encostava a cabeça contra a barriga de Nezumi e começava a chorar.

- Não me ignore numa mais, Nezumi.

Caia de joelhos, escondendo o rosto na barriga de Nezumi. Era estranho pensar que havia sentido mais falta da companhia de dele do que de Safu, que a conhecia desde pequena.

Sentia o toque dos dedos de Nezumi contra meu cabelo, o mesmo escorregava o corpo para o chão e passava os braços ao redor do meu corpo, e no calor do momento, o puxava para mais perto e o abraçava, chorando mais alto que o normal, como uma criança que havia ralado o joelho.

- Shion...

E ao ouvir meu nome, erguia o olhar para o de Nezumi, que estava um pouco corado... O que achei completamente fofo.

Ficava surpreso quando o mesmo, novamente, aproximava os lábios do meu e os tocava sutilmente, ninguém havia interrompido aquele momento, o que agradecia aos céus por isso. Era um beijo simples, casto, mas completamente cheio de sentimentos que não queria assumir em voz alta, mas já havia assumido.

Quando afastávamos devido a vozes vindo de algum lado, sentávamos ao lado um do outro, constrangidos. Depois de minutos em silêncio, perguntava.

- Quem eram aquelas garotas?

- Oh, eram minhas colegas, apenas estava perguntando se tinha perdido alguma coisa importante...

- E a ultima?

- Minha colega de classe, talvez ela fosse se confessar ou algo do tipo, até o momento em que fui sequestrado, tudo o que ela disse foi "Nezumi, eu...". - Gargalhava ao ouvir a imitação dele.

Escorava o rosto de lado nas braços, que estavam abraçados nos joelhos, e observava Nezumi falar sobre tudo o que havia acontecido com ele no tempo que ficamos sem nos falar. Falando em como havia ficado sem animo de ir até o banheiro tomar um banho, ou da falta de coragem de ir na escola e me encontrar com Safu.

No começo, havia pensado que seria impossível gostar de um homem, mas naquele momento estava grato pela companhia e o leve amor que brotava de ambos os lados. Aquele, era o inicio de um amor colegial.