Convergente II escrita por Juliane


Capítulo 4
Ele




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Zeke e eu combinamos de nos encontrarmos as 22h no Fosso do Complexo da Audácia e depois disso o dia passou como um borrão, não consegui me concentrar em nada além da possibilidade de vê-la novamente na minha paisagem do medo. Uma nova forma de me torturar, mas se isso significa que a verei novamente e que será quase que real, preciso correr esse risco.

*****

Estou encima do telhado, me preparando psicologicamente para subir no parapeito, da última vez que olhei, a cerca de 1 segundo atrás, eram 18h59. Preciso criar coragem! Não posso usar a entrada principal da Sede da Audácia, pode haver pessoas ali. Então respiro fundo e ponho o pé direito em cima do parapeito, meu coração martela no peito de tal forma que ouço som das suas batidas nos meus ouvidos. Impulsiono o corpo para cima do parapeito e nesse momento penso instintivamente em recuar então me lembro do motivo que me trouxe aqui: Ela. E não penso em mais nada, prendo a respiração fecho os olhos e pulo. Sinto minhas mãos formigarem e o pânico se instalando em cada parte do meu corpo e de repente o baque contra a rede me traz de volta a realidade. Abro os olhos e vejo o céu e seu mix de cores laranja, purpura, vermelho que antecedem a escuridão da noite.

Resoluto, desço da rede com a agilidade de antigamente, o local está silencioso, como se todos estivessem adormecidos ou mortos. Esse pensamento me deixa atordoado e então o deixo de lado. Meus pés sabem exatamente onde devo ir, então me deixo levar pelas lembranças dos momentos, a descoberta dos meus sentimentos, a evolução, a garra e a determinação dela e por um momento vejo aqueles olhos sinceros, profundos e desafiadores diante de mim. É tão estranho... Ela se foi, mas é como se ainda estivesse aqui, como se bastasse procurar direito para encontrá-la. Jamais conseguirei seguir em frente, pois eu ainda espero por ela, mesmo sabendo que ela não virá.

Diante da porta do depósito respiro fundo e giro maçaneta, está trancada. Mas que droga! Não pensei nessa possibilidade. Verifico as horas no meu relógio e são 19h11. Tenho tempo hábil para bolar um plano. Decido ir até o antigo escritório de Max, lá havia uma caixa com as chaves de todas as portas do complexo, basta eu descobrir qual delas abre essa porta. Chegando lá percebo a atmosfera do local, sombrio, o abandono o deixou fantasmagórico e tudo está exatamente da mesma forma que estava quando entrei aqui pela última vez, exceto pelo pó que tomou conta do local. Imediatamente visualizo a caixa, está no canto direito atrás da mesa de Max. Vou até lá e percebo que a maldita caixa está trancada com um cadeado. Olho ao redor, corro as mãos pelos cabelos, coço a nuca tentando encontrar uma solução. A mesa de Max está dentro do meu campo de visão e percebo que ela tem gavetas, me aproximo e descubro que estão trancadas também, mas com um forte puxão arrebento a fechadura e o que encontro a princípio são papéis, dou uma rápida passada de olho e vejo que são alguns e-mails trocados com Jeanine Matthwes, por algum motivo que não compreendo ele viu necessidade em imprimi-los. Continuo revirando as gavetas e então encontro uma caixinha de metal que quase cabe na palma da minha mão, ao abrir encontro uma pequena chave. Deve ser esta! Testo no cadeado e nada! Checo o relógio, já se passaram 20 minutos, o tempo está correndo, então reparo no armário que está do lado esquerdo da sala, as portas são de vidro e aparentemente contém livros, cadernos e todo o tipo de material de escritório, mas bem lá no fundo vejo algo reluzir... refletindo a réstia de luz que o alcança. Jogo tudo que está entre o objeto e eu no chão, e percebo que se trata de uma caixa quadrada de aço, é tão pesada que me pega desprevenido ao tentar movê-la. Ela tem uma pequena fechadura e desconfio que aquela pequena chave que encontrei deve revelar-me o seu conteúdo.

Quando abro a caixa vejo uma arma 9 milímetros e só sei que se trata de uma porque estudei a respeito, essas armas são uma raridade, nunca havia visto uma ou mesmo tocado em uma e junto dela há alguns pentes de balas para reposição e uma ampola contendo um líquido num tom roxo, quase negro. Então me dou conta que se trata do soro da morte. Por alguns minutos divago sobre o motivo pelo qual Max mantinha uma ampola do soro da morte. Talvez como último recurso para não revelar seus planos, ou os planos de Jeanine Matthews. Balanço a cabeça para afastar esse pensamento. Preciso focar no beu objeto. Pego a arma, destravo miro no cadeado e disparo, o barulho ecoa pela sala e me pergunto, será que há alguém aqui para ouvir? E concluo de que isso não me importa, estou muito próximo do meu objetivo.

Abro a caixa e um riso de contentamento escapa da minha boca, as chaves estão todas lá e para minha surpresa estão todas nomeadas, o que facilitará muito meu trabalho. Pego a chave que diz: Depósito 1, sei que se trata da chave do depósito que contém os soros. Saio porta a fora sem me preocupar com a bagunça que deixei pra trás.

De volta ao depósito destranco a porta e entro na sala apertada com paredes cobertas de estantes de cima a abaixo, e o ar bolorento penetra nas minhas narinas, ligo o interruptor de luz e olho em volta, realmente está tudo aqui, inclusive o soro da simulação de ataque a abnegação. Me concentro em procurar o soro de simulação da paisagem do medo, o que de fato não foi difícil, pois antigamente costumava furtá-lo com frequência. Pego uma dúzia deles junto com uma seringa de metal ainda na embalagem. Saio da sala trancando a porta atrás de mim e escondo as ampolas a seringa e a chave nos bolsos da minha jaqueta.

Confiro o horário e são 20h30, tenho muito tempo ainda antes do pessoal chegar, então decido acabar logo com isso e subo em direção a sala da Paisagem do medo.

Aqui de cima posso ver através das janelas a Pira, a lua que já despontou no céu e o trem desaparecendo nos trilhos e a saudade me atinge com um murro no estômago. Então pressiono a agulha contra meu pescoço empurro o embolo até o final e o liquido queima minha jugular, fecho os olhos e dou um passo a frente.

*****

Quando abro os olhos tudo que vejo é um céu azul imenso ao meu redor, olho em em volta e me dou conta que estou no topo do edifício hancock. Ele parece muito mais alto do realmente é. O vento uiva e começa soprar violentamente. Me sinto fraco e diminuto, mas preciso superar esse obstáculo para vê-la. Vejo a tirolesa usada para diversão de muitos colegas da audácia e até mesmo para Tris. Penso em usá-la, mas preciso chegar logo até ela. Recuo um pouco para trás corro na direção do nada e salto. Por um instante chego a pensar que estou morrendo e o pensamento não me assusta, na verdade ele me conforta. Vou juntar-me a ela.

Quando abro os olhos estou no chão, nem cheguei a sentir o impacto da queda. Então espero pelo próximo obstáculo. E não demora muito, paredes me cercam por todos os lados, meu coração dá saltos no peito, então me lembro dela ali comigo, seu corpo colado ao meu, então escorrego até o chão e caixa diminui ainda mais. Lágrimas escorrem pelo meu rosto e não é pelo pânico que caixa me causa, mas sim pela ausência dela, do seu batimento cardíaco e tão acelerado quanto o meu. De repente a caixa se despedaça e eu estou em uma sala e nela há uma mesa com uma arma, uma ampola de soro que reconheço ser o soro da memória e outra ampola contendo o soro da morte, e não há nenhuma outra pessoa na sala além de mim. Espero para ver se alguém vai aparecer, se terei que matar, ou forçar alguém a beber os soros, mas nada acontece, então a verdade me atinge de forma brutal, sem qualquer compaixão.

Esse medo, não envolve ninguém somente a mim. É o resultado da minha devastação, do meu luto constante e para ser sincero da falta de vontade de viver. E me dou conta de que esse todo, desde que ela se foi eu estou no piloto automático: acordando, comendo, trabalhando, tomando banho, dormindo e mais uma vez acordando e dando sequência a rotina da minha vida, sem vontade alguma de viver, simplesmente porque a minha razão de viver se foi com ela. Encaro a mesa e tudo que contem nela sem saber o que fazer. Prefiro morrer? E de que forma? Ou se prefiro apagá-la de vez da minha cabeça, do meu coração e da minha vida como já pensei em fazer quando dor de sua perda ardia como se meu corpo estivesse em chamas, consumido pela dor. Agora, neste momento não teria coragem de apaga-la da minha memória, ela foi minha força, minha coragem, minha felicidade, meu amor, com ela eu pude descobrir quem eu sou de verdade, ela me acordou de um sono profundo. Perder qualquer parte dela, não reconhecer a sua voz no meu pensamento é doloroso de mais. Então tomo a minha decisão. Posiciono a arma de encontro ao peito na altura do coração. E imagino o seu rosto, seus lábios, seus olhos e então aperto o gatilho. Sinto uma dor lancinante no peito e de repente não sinto mais nada e até chego a acreditar que eu morri, mas quanto abro meus olhos o cenário mudou. Tris está me abraçando, e sinto o seu corpo junto ao meu, seu toque, seus beijos, seu cheiros e chego a acreditar que estou no céu, então ouço o barulho de um tiro e o corpo de Tris é impulsionado contra o meu, e sinto um liquido quente no meu peito e percebo que ela foi baleada e antes que eu possa reagir, outro tiro. Me movo com rapidez posicionando-a atrás de mim, mas não vejo ninguém, não há ninguém e quando me viro ela está no chão uma possa de sangue ao redor dela, seus olhos encontram os meus ela sorri e diz. _ Acabou! sua voz soa quase como um sussurro. _ Eu amo você Tobias, não quis deixá-lo. Eu me aproximo ainda mais, ela está nos meus braços, sua cabeça colada ao meu peito, há sangue por toda parte e grito _ Não me deixe, não me deixe Tris, eu te amo!!! Mas ela já se foi, lágrimas obscurecem a minha visão e eu a embalo como se a estivesse ninando. De repente tudo some e estou me embalando, chorando desesperado na sala da paisagem do medo.


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