Convergente II escrita por Juliane


Capítulo 2
Ele




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Abro a minha boca e tudo que consigo dizer é _ Tris eu senti tanto a sua falta! Lágrimas escorrem quentes pelo meu rosto, meus olhos, uma cachoeira salgada sem fim, quase não consigo vê-la através das lágrimas. Queria poder dizer-lhe tudo que estou sentindo, mas as palavras simplesmente não saem.

Ela me olha com um expressão séria e distante, eu tento me aproximar, tocar seu rosto e ela se vai. Simplesmente desaparece. Eu grito, e sinto o som reverberar por todo meu corpo! _ Tris!!! Não, não, não. Não me deixe aqui sozinho mais uma vez! _ Tris, não consigo mais continuar sem você! _ Volte, volte, por favor!

De repente mãos me sacodem e sou libertado do meu torpor, meu corpo encharcado de suor treme, meu rosto molhado pelas lágrimas. Evelyn está aqui, segura a minha mão e tenta me acalmar.

_Tobias, foi só um sonho. Vai passar.

Eu livro minha mão das suas e cubro o rosto com as mãos, não quero chorar na frente dela, mas eu sei, não vai passar, porque foi um sonho mas ela realmente se foi e não há nada que eu possa fazer para mudar isso.

Recobro minha lucidez, seco o rosto com as mãos e tento parecer mais calmo.

_ Tudo bem, foi só um sonho, vai passar. Obrigado por se preocupar.

_ Eu sempre me preocupo, você é meu filho e eu te amo muito.

_ Eu sei.

Ela me abraça e eu não resisto como de costume, não tenho forças para resistir. Ela se afasta e olho no relógio que fica bem ao lado da minha cama, são 4h30 da manhã, ainda falta muito para amanhecer, mas não posso mais dormir e tão pouco quero ser consolado por Evelyn.

Então me afasto bruscamente dizendo:

_ Agradeço o seu carinho, mas você deve voltar a dormir, eu vou tomar um banho para me livrar desse suor e vou tentar dormir novamente.

Ela assente com a cabeça e sai sem dizer mais nada, fecha a porta atrás de si. E eu me levanto de imediato, vou até o banheiro entro no chuveiro e deixo a água fria cair sobre mim, levando todo o desespero embora. Pelo menos por enquanto.

****

7h30 da manhã estou parado na frente do que é agora o prédio do nosso governo. A antiga sede da Franqueza. Johanna Reyes toca meu ombro.

_Há quanto tempo está aí?

Minto, assim como tenho feito há muito tempo.

_ Não muito, acabo de chegar.

_ Então, vamos subir, para mais um dia cheio de trabalho.

Ela diz com um sorriso animado. É incrível como Johanna sempre parece em paz e feliz, me pergunto se isso tem a ver com o soro da Amizade, mas interrompo o pensamento quando lembro que os soros, assim como as facções foram abolidas da nossa cidade. Sorrio da melhor forma que consigo e assinto com a cabeça.

Subimos ao 8º andar, a sala onde Tris havia confessado a todos os presentes que havia matado o Will, durante a simulação de ataque a abnegação. Apesar da resistência ao soro da verdade ela confessou, não por indução, mas por não aguentar mais o peso da culpa a remoendo por dentro.

Esse pensamento se dissipa quando entro no que chamamos hoje de repartição pública, que ainda está vazia devido ao horário. As pessoas chegam por volta de 9h, mas por hábito Johanna e eu sempre chegamos as 7h30 em ponto.

Na verdade ela chega esse horário, eu costumo estar aqui por volta das 6h chego cedo apenas para contemplar o céu e aproveitar alguns momentos de solidão completa e absoluta. É disso que tento me convencer todos os dias, mas a verdade é que não sei o que fazer com o meu tempo livre. Só consigo pensar nela, e quando não me ocupo de algo, nem que seja me manter em movimento, me perco dentro das lembranças e dor parece ainda maior.

Johanna entra em sua sala e eu entro na minha, um pequeno quadrado fechado por divisórias, parte em madeira e parte em vidro coberto por persianas, que me mantém de alguma forma isolado do resto do mundo que me cerca. O espaço contém apenas uma mesa com cadeira, computador e um telefone interligado aos demais da repartição, para que possamos nos comunicar sem que isso exija a minha presença. Minha mesa fica ao lado da janela que preenche toda a parede do meu lado esquerdo, o que é reconfortante, pois jamais conseguiria ficar tanto tempo numa sala fechada.

Examino a pilha de papéis na minha mesa, basicamente liberações de suprimentos para as famílias de Chicago. Agora nossa sociedade vive assim, todos que podem contribuem com o seu trabalho em diferentes áreas e recebem suprimentos básicos para alimentação e higiene e o restante da sua remuneração recebem em fichas de crédito, que são pequenos quadrados de plástico de valores diversos, que podem ser trocados por roupas, computadores, e qualquer artigo que esteja a venda no nosso mercado público. É a forma que encontramos para sermos justos e para que as pessoas tenham acesso a tecnologia, roupas que estejam de acordo com o seu gosto pessoal e até mesmo serviços como tatuagens por exemplo, hoje todos que queiram podem fazer tatuagens e piercings.

Absorto no trabalho levo um susto quando o telefone toca.

_ Alô, quem fala?

_ E aí, quem fala? É o Quatro, a maricona do governo?

Só podia ser ele mesmo!

_ Zeke é melhor você ter cuidado com as suas palavras ou vai acabar sem dentes!

Ele solta uma gargalhada e diz:

_ Vamos almoçar cara? Aposto que você esqueceu que precisa comer....

Sim, na verdade eu esqueci,

_ Não, já estava de saída mesmo! Você vai almoçar em casa?

_ Não, hoje vamos no Dinners. Shaunna, Christina e Cara também vão.

_ Estava pensando em passar em casa, Evelyn deve ter feito alguma coisa.

_ Quatro, você precisa de interação social, não pode se isolar do mundo! Vamos lá, você me deu desculpas a semana toda e hoje é sexta e não aceito não como resposta. E aliás, já estou aqui em baixo na frente do prédio. Vai descer ou vou ter que subir aí e te pegar pela mão?

É, não vai ter como escapar dessa vez.

_ Estou descendo.

Desligo o telefone e saio imediatamente da sala. Cumprimento com um aceno de cabeça as pessoas por quem passo e sigo em direção ao meu amigo chato e insistente.

_ Quatro! Quanto tempo! - responde ele sarcasticamente!

_ Deixa disso Zeke! Vamos comer!

Caminhamos até o Dinner falando sobre o empolgante trabalho do Zeke, a Polícia de Chicago, que atualmente deve ser muito entediante comparado com a Audácia.

Chegando lá, Shaunna e Christina conversam animadamente, sobre algo que não me dou ao trabalho de descobrir enquanto Cara folheia uma revista entediada. Quando ela levanta os olhos e nos vê ataca:

_ Nossa que demora, achei estávamos esperando vocês para jantar !

_ Cala a boca Cara! - Disparou Zeke!

Nesse momento Shaunna e Christina que já haviam notado a minha presença pareceram surpresas ao me ver.

_ Oi Quatro, achei que você estivesse me evitando- Disse Christina num tom de voz triste.

_ Não Christina, não estive te evitando, apenas tenho estado cheio de trabalho.

Ela pareceu não se convencer, mas Shaunna interrompeu uma tentativa de resposta dela. _Que bom ter você aqui Quatro! Então, como estão as coisas no Governo?

Respondi a sua pergunta e muitas outras durante todo o almoço enquanto vez ou outra Christina me olhava de soslaio. O clima entre nós ficou meio estranho. Estávamos passando muito tempo juntos, eu via nela alguém com quem eu pudesse falar sobre a Tris sem represálias e aquela história de "Você precisa seguir em frente". Mas então num dos meus dias ruins, me permiti chorar perto dela e então ela me abraçou por um longo tempo, secou minhas lágrimas e tentou me beijar. Eu a afastei de súbito, irritado pela sua reação e disse a ela. _ Tris está viva dentro de mim e sempre estará, não existirá outra nunca! Depois disso ela saiu correndo. E toda vez que tentou abordar o assunto eu desconversava assim como quando me convidava para almoçar, sair ou qualquer coisa assim.

O almoço acabou e o Zeke me acompanhou de volta até o prédio do Governo então quando nos despedimos ele disse:

_ Nós poderíamos ter uma noite típica da Audácia hoje. Poderíamos ir ao complexo, beber, rir e conversar um pouco, eu chamo uma galera e a gente se diverte.

Nunca mais estive no complexo da Audácia depois da simulação de ataque à abnegação. Estava prestes a recusar, mas então me lembrei. Se está intocada como Zeke me garantiu, o depósito dos soros deve estar abastecido, assim como esquecido também. Então uma ideia me ocorre: Preciso vê-la, preciso saber se ela ainda faz parte da minha paisagem do medo. Tomo a minha decisão.

_ Tá, pode ser. Que horas encontro vocês lá?


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