Convergente II escrita por Juliane


Capítulo 15
Ela




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Wes está me conduzindo pelos corredores até o meu quarto. Não tive vontade alguma de manter um diálogo depois que saímos da sala onde passei pela minha paisagem do medo. Na sala em que descobri porque não posso voltar a vê-lo. Não consigo simplesmente me conformar com isso. Preciso encontrar uma maneira de protege-los mas também preciso voltar para os meus amigos, para as pessoas que eu amo, preciso voltar para o Tobias.

_ Pronto, chegamos! - Wes fala tirando-me do torpor em que me encontro. Sei que ele está tentando amenizar as coisas, mas não quero cooperar então mantenho o meu silêncio.

Ele abre a porta e empurra a cadeira de rodas para dentro, a posiciona próximo a cama e me ajuda a levantar e me deitar. Eu me sinto como uma boneca de pano que pode ser manipulada de um lado para o outro sem qualquer reação.

_ Você está se sentindo bem? - Ele parece preocupado ao perguntar.

_ Não, não estou bem. Acabo de receber a notícia de que não poderei voltar para as pessoas que amo. Esperava que eu realmente estivesse me sentindo bem?

_ Não. Você tem razão. - Ele diz e sustentando meu olhar.

Estou irritada demais com tudo, não quero olhar para ele. Assim que desvio o olhar observo a câmera camuflada no teto e decido que não vou perder tempo tendo pena de mim mesma. Vou reagir.

_ Wes, como é que você sabia de todas aquelas coisas que me contou sobre o que se passou no Departamento e até mesmo em Chicago, depois da minha morte? - Enquanto falo a palavra morte eu faço aspas no ar com os meus dedos.

Ele gira a cabeça noventa graus para esquerda e sobre o seu ombro olha na direção da câmera. Não preciso da resposta, eu já sei como ele soube. Sala de controle, uma das portas no corredor da sala do tomógrafo.

Então ele se volta para mim novamente sorri e diz:

_ Não esqueça, nunca estamos verdadeiramente sozinhos. - Ele não respondeu abertamente porque sabe que não é seguro. Mas eu sei que ele acabou de imaginar o que estava se passando na minha cabeça e simplesmente confirmou.

_ Quando poderei ao menos sair desse quarto? Não espere que eu vou aguentar muito tempo aqui sem uma ocupação.

_ Eu sei. Não se preocupe, assim que você estiver melhor você conhecerá este complexo, eu mesmo me encarregarei de mostrá-lo a você. - Ele diz.

Eu assinto com a cabeça. Ele se aproxima um pouco mais estende a mão para tocar meu rosto, mas pára na metade do caminho.

_ Beatrice, procure se alimentar direito e descanse, quanto mais o fizer, mais rápido estará melhor.

_ Sim, pode deixar. E... Wes, obrigada.

Ele sorri, gira a alavanca da cama de modo que eu fico deitada, e então se vira e vai embora.

Olhando para nada eu me perco em pensamentos, imaginando como poderei mantê-los a salvo ao sair daqui. Penso em Tobias, fecho os olhos e é como se ele estivesse aqui, sinto seu hálito no meu pescoço, enquanto ele cobre com beijos percorrendo o caminho da minha clavícula até chegar aos lábios. Ele me beija, de forma urgente e apaixonada, meu coração se aquece, me sinto segura novamente, estou nos seus braços.

*******

_ Bom dia menina!

Abro os olhos e vejo o rosto sorridente de Emma na minha frente. Sorrio de volta, não tem como gostar de Emma, ela tem olhos calorosos é sempre tão carinhosa e atenciosa, imagino que seja assim que uma avó deva ser.

_ Bom dia Emma! Que horas são? - Pergunto desorientada, porque neste lugar é muito fácil perder a noção do tempo.

_ Já passa das 10h. Dormiu bem?

_ Sim, tive um sonho lindo. - Digo e lembrando-me da minha pequena fuga da realidade onde estive novamente nos braços de Tobias... Que saudade!

_ Vejo que sim. A menina está mais corada e parece feliz. - Eu lhe ofereço o meu melhor sorriso em reposta em parte porque ela merece, mas também porque estou resoluta de que não vou desistir. Tobias é parte de mim assim como eu sou parte dele. Não há como evitar. Eu sei, existe uma força que nos atrai como ímãs, tenho certeza que mesmo acreditando que estou morta ele me sente viva e está buscando um jeito de me encontrar, mesmo que inconscientemente.

_ Emma será que eu posso tomar um banho?

_ Claro. Vem vamos, que eu ajudo.

********

Tomei banho, me alimentei e Emma me deu além das roupas de baixo, uma camiseta branca, uma calça jeans, meias, um par de tênis e uma escova de cabelo. Realmente me sinto melhor vestida com roupas normais e não com uma camisola de doente. Recuperei quase que completamente meu equilíbrio, salvo apenas em alguns momentos em que me esqueço da minha condição e tento fazer um movimento rápido de mais.

Caminho em direção ao banheiro anexo ao meu quarto paro em frente ao espelho com a escova de cabelo na mão e pela primeira vez em muito tempo olho no espelho. Meu rosto está ainda mais fino, e tenho a impressão de que se passaram muitos anos, porque realmente pareço mais velha do que realmente sou. Meus cabelos estão um pouco mais crescidos e ao passar a escova entre eles lembro da minha mãe e sinto uma saudade imensa. Meus pais...

_ Beatrice? - Wes chama.

_ Estou aqui. - Respondo enquanto vou até ele.

_ Vejo que você muito bem! - Ele diz, e parece surpreso em me ver de pé.

_ Sim, estou me sentindo muito bem. Obrigada.

_ Emma me contou, mas não imaginava que estaria assim tão disposta. Pretendia conversar um pouco com você e em seguida pediria para que trouxessem seu almoço, mas já que está tão bem, o que acha de me acompanhar até o restaurante para almoçarmos juntos, assim você terá a oportunidade de sair deste quarto e ver outras pessoas. - Wes me convida para almoçar, vou poder explorar esse complexo. Não consigo evitar que um grande sorriso se forme nos meus lábios.

_ Claro! Vamos lá.

Saímos do quarto e caminhamos pelo corredor principal, passamos pelas portas conhecidas que memorizei. Mas dessa vez vamos ainda mais longe, dobramos a direita, andamos mais um pouco, depois a esquerda, então chegamos a recepção do complexo. Uma moça loira sorridente cumprimenta:

_ Dr. Wes, Bom dia!

_ Bom dia Claire. Esta é Beatrice. Pode conseguir um crachá para ela por favor?

_ Bom dia Beatrice. - Ela me me cumprimenta ainda sorrindo.

_Bom dia. Respondo.

_ Quanto ao crachá, sem problemas Dr. Wes. Visitante?

_ Sim, por enquanto pode ser. - Ele responde.

Ela entrega o crachá e ele pendura na minha camiseta.

_ Obrigado Claire. - Wes agradece.

_ Estou às ordens Dr. - Ela responde ainda sorrindo. Ela provavelmente deve ter distendido as bochechas de modo que não consegue parar de sorrir, é a única explicação.

Enquanto caminhamos em direção as enormes portas de vidro, me viro para verificar de Claire continua sorrindo. Mas ela já voltou ao seu posto atrás do computador, de modo que não posso ver mais o seu rosto.

Quando chegamos a centímetros das portas, elas se abrem automaticamente e sinto o ar me envolvendo, a sensação é boa. Olho para o céu e sol ofusca minha visão, o dia está lindo. Atravessamos um jardim bem cuidado e nos dirigimos a uma bonita construção de tijolos rústicos com grandes janelas de vidro em todos os seus quatro cantos além de portas enormes de vidro como aquela pela qual passamos, é diferente de tudo que já tenha visto, é realmente bonito. De onde eu vim as grandes construções estavam deterioradas e tudo que havia sido feito recentemente era pensando apenas na praticidade e não na beleza.

Quando atravessamos a porta, sinto um delicioso cheiro de comida que faz meu estômago roncar, embora eu tenha tomado o café da manhã há menos de duas horas. O local está cheio de pessoas, a maioria delas forma uma fila para se servir da comida que está disposta no centro do salão no buffet. Há mesas por todos os lados. Wes me guia até uma mesa com dois lugares junto a uma das janelas. Estou me preparando para sentar, mas ele levanta uma pequena plaquinha de madeira no canto da mesa e diz:

_ Venha, vamos nos servir.

Eu o sigo, pegamos pratos, entramos na fila e nos servimos. Como não conheço a maioria das coisas que vejo aqui, pego um pouco de cada coisa para experimentar, de modo que meu prato está cheio, acredito que tenha muito mais comida do que realmente consigo comer.

As pessoas ao redor cumprimentam Wes, acenam com a cabeça para mim, mas não somos de fato apresentadas de modo que imagino, que diferente da recepcionista sorridente já, eles saibam quem eu sou.

Quando chegamos a mesa, nos sentamos frente a frente e não posso evitar de me distrair olhando as pessoas a nossa volta.

_ Quem são eles? Pergunto gesticulando para indicar que me refiro a todos que estão aqui.

_ Médicos, enfermeiros, soldados, pessoas que trabalham no complexo. Mas não estão todos aqui, eles vem almoçar em grupos, caso contrário não haveria lugar e nem comida suficiente para todos. - Ele responde.

_ Quantas pessoas trabalham aqui?

_ São quatro turnos de seis horas, em cada turno trabalham em média duas mil e quinhentas pessoas.

_ Interessante. - Digo, enquanto penso que provavelmente o complexo é muito maior do que eu imaginava. Afinal são dez mil pessoas trabalhando aqui.

_ Oi Tris!

Levanto os olhos e vejo que Enrico. O rapaz que invadiu meu quarto está de pé com um prato na mão sorrindo pra mim.

_ Oi. Respondo.

_ Oi Enrico, tudo bem com você? - Wes o cumprimenta, num tom de reprimenda.

_ Ah, oi Dr. Wes. Desculpe! - Diz Enrico, aparentemente envergonhado por não ter cumprimentado Wes.

_ Então Tris, quando é que vou te ver no centro de treinamento? - Enrico pergunta.

_ Vamos com calma Enrico, Beatrice está em recuperação. - Wes intervem.

_ Tudo bem então, te vejo por aí! _ Tchau Dr. Wes. - Ele despede-se e junta-se a um grupo de rapazes e uma moça que o guardavam de pé um pouco distante de nós. A moça tem longos cabelos negros, a pele morena, o rosto redondo e delicado, olhos pequenos, lábios cheios e seu o corpo é magro porém curvilíneo. Ela está me encarando, não gosto do jeito como ela me olha.

_ Até logo. - Wes responde.

E eu apenas aceno com a cabeça. Não é que não goste dele, sinto que estou em desvantagem, não sei quem ele é, enquanto ele parece me conhecer muito bem. Isso me irrita.

_ Não ligue para ele. - Wes diz como se pudesse ler o que passa na minha mente.

_ Eu não ligo. - Respondo. Em parte não ligo mesmo, mas também estou curiosa para saber mais sobre ele e sobre esse interesse todo que tem em relação a mim.

Wes assente com a cabeça e termina seu almoço enquanto eu não estou nem na metade e tenho a sensação de que vou explodir. Então deixo o prato de lado.

_ Você vai querer sobremesa? - Ele pergunta, eu nego com a cabeça, porque realmente não cabe mais nada.

_ Wes, gostaria de saber se você poderia me levar na sala de controle? - Eu pergunto e torço para que ele diga que sim. Pois me esforcei para ficar de pé, me alimentar, tomar banho, andar para que ele me deixasse vê-lo, nem que seja através das telas.

_ Eu já esperava que você fosse pedir isso. - Ele diz e me encara por um longo tempo enquanto eu aguardo a resposta que não vem.

_ Wes, eu preciso vê-lo. - Minha voz é suplicante, eu estou implorando. Eu preciso ver ele que está bem, só assim vou poder continuar.

Ele pondera, me olha, parecendo tentar decifrar o que se passa na minha cabeça, mas dessa vez é apenas isso, é tudo isso. Acho que pela primeira vez estou sendo completamente honesta com ele.

_ Tudo bem, vamos lá.


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