Uma história sobre amor... escrita por Anaru Miyazaki


Capítulo 8
Capítulo 8 especial: Memórias


Notas iniciais do capítulo

Oii, tudo bem, gente?
Então, como houveram muitos pedidos (cof cof cof, houve somente um, da Mai) a respeito da história dos pais da Annie, esse episódio vai ser um flashback, ok? Vai ter um flashback dentro do flashback (Inception! :O)
Espero que gostem e eu quero ver todo mundo chorando no final, hein? Se não chorar vão levar uns tabefes! u.u
Ah, a música utilizada no vídeo (sim, tem vídeo, de minha autoria!) e no meio da fanfic é da banda Kansas, se chama Dust in the Wind, mas eu usei a versão do Scorpions (que é muito mais legal, sorry u.u). Além disso, as fotos utilizadas foram pegas do site Zero Chan, retiradas do anime Tiger & Bunny :)
Boa leitura e não esqueçam de dar um feedback, ok? ;)



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— Filha, vem rápido, senão vamos nos atrasar! — minha mãe grita do andar de baixo

— Já vou, mãe, estou fechando a mala...

— Creio que você colocou mais do que deveria aí dentro, hein? — meu pai aparece na porta, sorrindo enquanto se recosta no batente — Quer ajuda?

— Não precisa, pai, mas você vai ter que me ajudar a descer com ela... — eu falo meio envergonhada — É que ela tá meio pesada...

— Deixa eu te ajudar — ele diz pegando a minha mala, agora já fechada — Animada para a viagem de final de semana?

— Siim! Pai, eu vou amar passar uns dias na serra, no meio do mato, em contato com a natureza e... — eu digo dando um olhar maldoso — Você e a mamãe vão ter um tempo só pra vocês!

Ha ha ha, sim, vamos sim. Ultimamente eu ando tão ocupado e sinto falta desse momento em família que nós temos, sabia? — ele diz sorrindo de forma muito animada

Esses são os meus pais, Lígia e Peter. Minha mãe tem 39 anos, irmã mais velha da minha tia Agatha. Ela é loira, de cabelos longos e olhos castanhos. Sempre a achei tão linda e tão delicada. Muito gentil e educada, ela se casou com o meu pai logo após o colegial, onde ambos se conheceram. Apesar de serem de turmas diferentes, ela conta que o conheceu enquanto estudava na Biblioteca, e os dois acabaram dividindo a mesma mesa de estudos. Formada em Serviços Sociais, ela sempre trabalhou cuidando de crianças que sofriam abusos — qualquer tipo de abuso, inclusive os sexuais — dos pais e responsáveis. Era um serviço desgastante, principalmente emocionalmente, e após 17 anos em serviço ela resolveu parar e se dedicar ao seu maior talento: a pintura. Hoje em dia ela faz alguns quadros e até trabalha numa galeria, o que consome menos de seu tempo. Ela escolheu isso principalmente porque gostaria de passar mais tempo em casa, comigo, além de poder fazer o que ama. Já o meu pai, Peter, de 42 anos, possui cabelos castanhos, curtos e olhos verdes, emoldurados por óculos quadrados de armação preta. Ele se formou em Publicidade e trabalha em uma empresa há 19 anos. Como está lá há quase duas décadas, ele possui um posto alto e de confiança na área de Publicidade e Propaganda. Ele pediu minha mãe em casamento um dia após a formatura, e resolveram se casar somente no civil. Quem conhece os meus pais consegue ver automaticamente o quanto eles se amam, e esse amor realmente me inspira a tentar ser uma pessoa melhor.

— Então, todas prontas para o final de semana da família Campbell? — meu pai fala enquanto coloca o cinto de segurança e olha pra mim pelo retrovisor

— Ai, pai, falando assim soa tão idiota... — eu digo enquanto coloco o meu cinto: ele não sairia da garagem se eu não o colocasse

— Ah, Annie, deixe o seu pai, está tão animado... — minha mãe me dá um sorriso, logo após colocando a mão em cima da dele

— Então vamos! — diz o meu pai, tomando rumo com o carro para o nosso destino

Durante o caminho conversamos sobre a minha escola, sobre o quanto meu pai adoraria que eu namorasse o Ken, enquanto minha mãe corta a conversa:

— Amor, ela deve escolher quem quer namorar. O Ken é um menino adorável, mas se ela não o vê dessa forma, não podemos força-la — minha mãe diz me dando um sorriso que eu vejo pelo retrovisor... Eu conheço bem esse sorriso...

~

Há alguns meses, quando estava prestes a fazer 15 anos eu resolvi contar para eles que eu sou bissexual. Ficamos uma semana sem falar nada a respeito, parecia até que a conversa nunca tinha acontecido, se não fosse por um dia que eles resolveram sentar comigo para falar a respeito:

— Filha, nós te amamos muito. Tenho que admitir que foi um choque descobrir isso, afinal os pais não costumam esperar isso dos filhos, entende? — minha mãe diz com um leve ar de preocupação

— Geralmente esperamos isso dos filhos dos outros... — diz o meu pai, que se senta do lado dela no sofá enquanto toma o seu chá favorito (de hortelã) — Por favor nos desculpe por não falarmos nada antes, mas nós ficamos sem reação...

— Pai, mãe, eu não quero magoar vocês, nem causar algum tipo de humilhação pra vocês, mas é que... — eu falo enquanto abaixo a cabeça, com um pouco de vergonha

— Filha, você nunca nos envergonhou — minha mãe me interrompe — em nenhum aspecto da sua vida, e esse não seria a exceção. Nós te criamos, mas a sua vida é sua e você escolhe o que fazer com ela, e quem amar. Tudo o que podemos fazer é apoia-la e estar do seu lado caso algo de ruim aconteça e te ajudar a se reerguer, mas nunca te julgar ou dizer o que deve fazer

— Exatamente, filha. Você tem o direito de amar quem você quiser, independente de quem for. Seríamos muito injustos de acharmos que podemos escolher quem você ama. Só você pode escolher isso, e nós iremos aceitar. Mas sempre com uma ressalva: eu não quero que você se machuque e que se envolva com alguém que possa te fazer mal, entende? — ele diz me dando um olhar piedoso, mas ao mesmo tempo muito carinhoso

— Você deve escolher quem quer namorar, nós não podemos te forçar a nada, entendeu? E ninguém no mundo pode te forçar ou te dizer quem você deve amar ou como deve agir, entendeu? — minha mãe diz, me dando um sorriso carinhoso

~

Uma buzina de carro faz com que eu volte à realidade, saindo daquela lembrança. O assunto já mudou e minha mãe agora está cantando uma música que tocava na rádio:

" I close my eyes

Only for a moment,

and the moment's gone

All my dreams,

pass before my eyes, a curiousity

Dust in the wind,

all they are is dust in the wind "

Quando vejo, meu pai também está cantando, então eu continuo cantando com eles enquanto começo a batucar fazendo a bateria, e minha mãe começa a fazer o mesmo:

" Same old song,

just a drop of water in an endless sea

All we do

crumbles to the ground,

though we refuse to see

Dust in the wind,

all we are is dust in the wind "

Passamos um dia e meio num chalé alugado na serra. Era bem simples, mas não precisávamos de muito para nos divertirmos. Passamos a maior parte do tempo fazendo trilhas, dançando, cantando, vimos um filme que eu adoro (Vem Dançar, com o Antonio Bandeiras) e passamos a madrugada filosofando sobre a vida, sobre quem somos, de onde viemos. Meus pais nunca tiveram religião e se consideravam agnósticos. Minha mãe até tinha simpatia com o wiccanismo, mas nunca demonstrou interesse em praticar seus dogmas. Já o meu pai era bem nerd e acreditava mais em poderes do universo, vidas extraterrestres e viagens no espaço-tempo. Adormecemos enquanto falávamos sobre isso; no dia seguinte, acordei na minha cama — provavelmente meu pai me havia colocado lá no meio da noite.

Acabamos voltando mais tarde que o previsto, aproximadamente 22h (10 P.M.) e a estrada já estava escura. Meu pai dirigia no limite mínimo da rodovia enquanto reclamava de nós termos saído muito tarde. Ele odiava dirigir à noite, especialmente em rodovias. De repente, um preto. Tudo foi tão rápido que eu não consegui entender o que havia acontecido, a última coisa que eu lembro é de ouvir um enorme estrondo e ouvir minha mãe berrando "Cuidado!"

~

Acordei em uma cama de hospital, num quarto muito neutro: branco, com móveis brancos, lençóis brancos, tudo branco. Só ouvia um "bip" de uma máquina, que eu percebi que estava ligada a mim. Estranhamente, eu vi minha tia na poltrona ao lado da minha cama, enquanto cochilava com um livro:

— T-Tia Agatha... — eu falo ainda meio sonolenta, provavelmente por conta dos remédios — O-O que você está fazendo aqui? Aliás, aonde é aqui?

— Annie... — ela diz abrindo os olhos levemente, de repente os arregalando — ANNIE! ANNIE, você tá acordada! — ela diz beijando a minha testa — Annie, céus, eu estava preocupada com você! — ela me olha de forma tristonha — O que você se lembra antes de acordar?

— Hmm... E-Eu lembro de um barulho muito alto, muito mesmo, parecia vidro quebrando. E lembro da minha mãe berrando, daí ficou tudo escuro e eu vim acordar aqui... O que houve?

— Annie, vocês sofreram um acidente, já faz 4 meses e você bateu com a cabeça. Você chegou aqui no hospital muito machucada, eles pensaram que você não iria sobreviver. Você ficou em coma... — ela diz enquanto passa as mãos no meu cabelo enquanto brotam lágrimas em seus olhos — Minha flor, o acidente foi horrível. Aparentemente um caminhoneiro dormiu no volante e saiu da pista, invadindo a de vocês. Ele foi com tudo e bateu de frente com o carro de vocês, foi esse o barulho que você ouviu...

— Cadê os meus pais? Eles estão bem? Por que eles não estão aqui, tia?

— E-Eu vou chamar o seu médico, ok? Daí conversamos mais sobre o acidente, tá? — ela fala enquanto sai da sala, me deixando ainda mais preocupada

Ela voltou com um médico, o Dr. Rodriguez. Ele era moreno, de cabelos pretos e olhos de mesma cor, falava com um sotaque latino e se apresentou como neurocirurgião do hospital e explicou que ficou me monitorando durante esses meses em que eu estive aqui. Até que eu ouvi: os meus pais haviam morrido no acidente. Morrido. Morrido. Eu simplesmente ouvi isso e não consegui ouvir mais nada. Eu não chorei, pelo menos não naquela hora, pois eu simplesmente não acreditava no que ele tinha falado. Ainda consegui ouvir uns "... eles estavam no banco da frente" e "... o caminhão bateu de frente com o carro" e eu consegui associar tudo. O motorista e os meus pais morreram na hora com a pancada. Eu bati com a cabeça com tudo na hora em que o carro capotou, fazendo com que eu desmaiasse na hora e... aqui estou.

— E-Espera... os meus pais não morreram, eu quero vê-los — falei enquanto tentava me levantar da cama, arrancando todos os fiozinhos que estavam presos em mim

— Por favor, deite-se — disse uma enfermeira negra, de cabelos cacheados e grandes olhos castanhos. Ela estava atrás do Dr. Rodriguez, mas eu sequer tinha reparado que ela estava ali — Você não pode se levantar, acabou de sair de um coma — ela fala enquanto tentava me colocar na cama

— ME SOLTA, PORRA! EU QUERO VER OS MEUS PAIS! — eu falo empurrando-a enquanto levanto da cama

Enquanto eu saía do quarto a minha tia veio atrás de mim, me parou e prometeu que me levaria até o túmulo deles assim que o médico me desse alta.

— EU JÁ FALEI QUE ELES NÃO ESTÃO MORTOS! — todos no corredor me encaravam, mas eu não ligava. Parecia que todo mundo tinha enlouquecido tentando me dizer algo absurdo!

— Minha flor... — minha tia diz me abraçando, deixando lágrimas caírem, enquanto eu reluto para me soltar dela, mas acabo abraçando-a...

Foi aí que eu entendi: eles realmente estavam mortos. Mortos... Eles nunca mais iriam aparecer, nunca mais iriam falar comigo ou me ver. Eles nunca mais iriam estar ali... As lágrimas começaram a brotar do meu rosto e em poucos segundos eu já estava berrando, mas dessa vez de choro, enquanto desabo no abraço da minha tia.

~

Algumas semanas se passaram até que eu recebesse alta. Eu recebia visitas diárias do Ken, que sempre me trazia cookies e flores. Eu não sei dizer quantas vezes ele me viu chorar nesse meio tempo, apesar de eu odiar chorar em público. Também recebi visitas da Samantha, a minha amiga que também era... bom, eu não sei dizer o que era aquele relacionamento, mas nós ficávamos de vez em quando, mas nada muito sério. Era como uma amizade misturada com paixão. Ela trazia alguns dos meus livros e fez questão de montar uma playlist para que eu escutasse enquanto estava lá. Eu estava morrendo de tédio, estava deprimida, eu só queria sair dali, mas ao mesmo tempo não queria. Sair dali seria encarar que meus pais morreram e que... a minha vida seria sem eles. Mas ficar ali me deixava agoniada.

Dias depois eu recebi alta. Minha tia veio me explicar que eu teria que me mudar para morar com ela na Pennsylvania — eu sempre morei em Nova York com os meus pais. Quando eu contei pro Ken e pra Sam os dois ficaram surpresos e tristes. Mais choro, mais despedidas que eu não queria ter. A Sam me deu uma pulseira que eu uso até hoje. Era de ouro velho, com vários pingentes: uma Torre Eiffel (ela amava Paris), um coração com a bandeira do Reino Unido (eu adorava a cultura britânica, principalmente o rock de lá), um laço e um pássaro. Era muito linda e eu fiquei encantada. Coloquei naquele dia e até hoje não tirei. O Ken me deu uma réplica da Agnes (coruja do Harry Potter) de pelúcia. Ele sabia o quanto eu amava HP, os livros, os filmes, as músicas. Ele ainda fez uma réplica da carta de Hogwarts no meu nome. Ai, esse era o Ken, o meu melhor amigo.

Depois de muito choro e vários abraços, eu ainda passei para me desculpar àquela enfermeira que eu havia empurrado, que me desculpou e me desejou muita força. Eu iria precisar! Voltei pra casa para pegar tudo o que eu iria levar para a casa da tia Agatha. O cheiro deles ainda estava no ar, e, se eu fechasse os olhos, poderia ouvir as risadas deles enquanto cozinhavam.

— Droga... — meus olhos se encheram de lágrimas e eu caí em prantos de novo

Após arrumar, empacotar e enviar tudo o que eu queria para o endereço na Pennsylvania, eu fui pegar as coisas de valor dos meus pais. As joias e bijuterias da minha mãe, alguns sapatos dela, alguns vestidos que ela adorava usar. Depois foi a vez de atacar as coisas do meu pai: peguei vários suéteres que ele tinha e os perfumes dele. Cheguei até a pegar o creme de barbear que ele usava. Eu sei que parece doentio, mas eu gostava de ficar sentindo o cheiro. Depois de pegar tudo o que eu precisava, liguei para a minha tia e avisei que estava indo pegar o ônibus — sim, eu fui de ônibus... Apesar de odiar admitir, eu tenho medo de aviões.

No meio da estrada, comecei a ficar meio desconfortável. Ficar vendo a rodovia definitivamente me fazia lembrar daquele dia. Resolvi ouvir uma música no meu celular enquanto via as fotos deles em um pequeno álbum que eu levava na mochila:

https://www.youtube.com/watch?v=dACjC9EAr1Q

— Eles realmente não vão voltar... — acabei dormindo de tanto chorar abraçada no álbum de fotos — mãe... pai...


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Notas finais do capítulo

Chorou? Chorou? Ai, diz que chorou *-*

Link da tradução da música Dust in the Wind:
http://letras.mus.br/scorpions/81072/traducao.html ;)



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