Um Outro Lado da Meia-Noite escrita por Gato Cinza


Capítulo 23
Sombria


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura...



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Quando Christopher e Adália viraram na esquina desaparecendo de vista, me virei para Serafina que estava chorando em silêncio.

– Vamos ver Donatella virar carvão! – exclamei animada, sem menor senso de piedade como se dissesse que íamos á um baile.

Ela me encarou como se eu fosse maluca, secou as lágrimas, fechou a porta da sua casa e começou a andar na direção do centro de Ferrara eu a segui sem dizer palavra alguma olhando para os lugares por onde passava, as casas pequenas e frágeis foram dando aos poucos lugar as casas maiores, ainda que simples. Comecei a pensar em explorar aquela região mais tarde, quando assumisse minha forma felina, seria interessante. Até agora eu conhecia a pare central de Ferrara e os bairros que ficavam do outro lado da cidade onde Margarida morava, talvez eu fosse no fundo como as amigas de Magnolia, pessoas que só se importavam com as aparências e julgavam os outros sem ao menos conhecê-las. Era insatisfatório chegar á conclusão que eu era preconceituosa ao julgar as pessoas.

Meus pés estavam cansados quando chegamos ao centro da cidade onde havia uma aglomeração incomum de pessoas, alguns homens eu reconheci pelo uniforme, eram membros da inquisição – patéticos caçadores de bruxas. Havia guardas da cidade e levado alguns minutos notei que estava procurando por meus irmãos. Resmunguei comigo mesmo por estar fazendo aquilo, devia estar mantendo atenção em reconhecer e evitar algum possível membro do conselho mágico ou bruxas, que podiam me causar problemas dos grandes.

– Meu Deus! – exclamou Serafina ao meu lado.

Segui o olhar dela, havia uma enorme pilhagem de madeira, guardada por homens da guarda do estado. Ia ser um incêndio dos grandes. Prendi a respiração, ao ver que havia uma enorme gaiola de madeira ao lado onde as pessoas se aglomeravam gritando ofensas e jogando lixo na falsa bruxa, realmente seria impossível tira-la dali sem ser notado por tantas de pessoas. Tentei ver o rosto dela, mas tantas pessoas e o fato dela estar de cabeça baixa me impediam de vê-la melhor.

– Onde está o doutor Edwin? – perguntou a mulher ao meu lado se esticando toda para ver por cima das pessoas.

– Seja lá onde ele estiver acho melhor que comece a agir logo.

Andamos por mais um tempo, percebi com certa tranquilidade que as pessoas se afastavam de mim e de Serafina – alguns nos lançavam olhares enojados – como se tivéssemos com alguma coisa contagiosa. Ela notou minha curiosidade por ficar olhando para as pessoas intrigada quando elas se afastavam, sussurrou conspiratória:

– São as roupas, não importa quem você seja enquanto usar minhas roupas eles pensarão que é uma prostituta.

Sem querer ri. Iam queimar uma meretriz acusada de bruxaria enquanto encaravam uma bruxa que julgavam ser uma meretriz, era engraçado ainda que ridículo.

– Teria pena deles se não fossem tão cruéis em seu julgamento.

– Não tenho pena nenhuma deles, são todos iguais, julgam as pessoas sem nem mesmo as conhecer.

Eu.

– Edwin não é assim – disse, era estranho chegar á essa conclusão, mas era verdade.

– Mas é tolo, não julga e é incapaz de ver maldade nos outros.

– Conhece ele há muito tempo? – perguntei soando desinteressada.

– Uns seis, na verdade desde que ele e Donatella se conheceram. Ela havia adoecido e desmaiado na rua, ele a achou e levou para casa onde a tratou até estar recuperada.

– O que ela tinha?

– Falta de comida, passe alguns dias sem comer nada e caíra como saco vazio.

– Ele devia ter se casado com ela.

– Devia, mas ele fez besteira e a levou para um encontro social no clube, alguns homens de lá infelizmente a conheciam e foi um desastre.

– E por isso se afastaram?

– Não, eles permaneceram juntos. Dona parou de se vender e ele deu uma casa para ela. Depois que Adália nasceu Edwin queria a levar para outra cidade onde poderiam se casar, mas Dona tinha medo. Então preferiu ficar aqui, onde nos ajudava quando não conseguíamos dinheiro o bastante para nossas dividas, estava tudo bem, até ano passado quando Edwin ficou noivo e mudou de repente.

– Mudou como?

– Abandonou Dona e a filha, era como se de repente as odiasse, Dona adoeceu, ficou triste. Voltou a se vender para sustentar a filha.

Eu ia matar Edwin, talvez veneno... ou o esfolasse primeiro, talvez desmembrasse... ou pensaria em algum tipo de tortura emocional antes de começar com as torturas físicas. De qualquer modo eu estava pensando em fazê-lo sofrer muito antes de deixa-lo morrer. Reconfortante meus pensamentos, principalmente por que ia ver uma mulher ser queimada viva em algumas horas. Dei de ombros, eu ainda ia precisar dele para entrar em contato com minha família, afinal ele não estava sendo vigiado, quando não me fosse mais útil eu pensaria em um castigo.

– Talvez ele tenha se apaixonado pela noiva e ficou com medo das consequências por ter se envolvido com Donatella – Estupidez, ele errou. A mulher e a criança não têm culpa dele ser covarde – De qualquer modo ele ainda parece ter um pingo de humanidade e está disposto á ajudar Dona e Adália uma vez mais.

Serafina concordou com um aceno de cabeça.

– E você – ela perguntou – De onde o conhece? Ele deve confiar em você para que lhe peça para ajudar a filha e uma possível bruxa.

– Temos amigos em comum – disse dando um sorriso.

Magnólia não era bem uma amiga, nem minha e nem dele. Alguém na multidão gritou e começaram a aplaudir. Olhamos na direção da fogueira, estavam prendendo a falsa bruxa na estaca.

– Isso e ruim – falei olhando em volta, não havia nem um sinal de que alguém á salvaria – Nos despedimos aqui, Serafina, tenha uma boa vida e tome cuidado com as suas amizades.

Dei as costas para ela e corri. Desejei não me arrepender do que ia fazer em seguida. Me arriscar para salvar a vida das pessoas sempre foi meu passatempo menos preferido, mas ainda assim era sempre tão irritantemente necessário e tão maravilhosamente atraente. Colhi algumas folhas de algumas árvores que sombreavam o centro, onde normalmente aos fins de semanas crianças brincavam sobre suas sombras inocentemente. Peguei também um graveto próximo á fogueira, sendo enxotada por um guarda. O mais difícil foi conseguir subir em uma construção ali perto da praça, era o prédio da prefeitura para meu desprazer, mas era o mais alto e próximo de onde Dona seria cremada.

A corrida havia me deixado bastante cansada – correr não é á melhor de minhas habilidades. Fiquei na ponta do telhado, que precisa de reparos urgentes, caminhar do lado de fora de uma construção de quase noventa anos que nunca foi reformada é sem duvida uma das coisas mais idiotas que já fiz – e já fiz um bocado de coisas idiotas. A visão do centro da cidade não era muito atraente, havia tantas pessoas... parecia que todos os habitantes de Ferrara não tinha nada mais interessante para fazer além de se unirem em volta de uma fogueira. Donatella estava presa ao tronco no centro da pira. Se não fosse tão cedo e se a pessoa que estivesse preste a ser cremada não fosse “inocente” eu teria tido prazer em sentar e assistir tudo do alto.

De repente o dia desapareceu. Olhei para cima, o céu que há pouco estivera tão claro quanto o mais belo dos dias de verão, estava sendo coberta por nuvens escuras. Nuvens negras que não eram nem de longe algo natural. Raios clareavam a escuridão pré-anunciando uma grande tempestade que jamais aconteceria. Xingamentos e ameaças eram gritados contra Donatella por estar usando sua bruxaria para tentar molhar a madeira e impedir a cremação.

Qual o problema das pessoas? Donatella parecia estar mais apavorada com a repentina mudança do tempo de que com o fato de que estava prestes a ser assassinada. E no lugar daquelas pessoas eu também sentiria medo. Quem estava causando aquilo? Não ia chover é claro. Transformar chuva em nevasca ou congelar o mar é fácil, mas criar chuva do nada? Impossível. Para um feitiço climático desse tipo se precisa de muita água – á menos que alguém tivesse conseguido invocar o próprio Netuno. As nuvens sob o céu eram apenas um efeito de sombras, som e luz, por isso os raios e trovões. Embora a escuridão repentina fosse deixar a fogueira mais bonita – quanta tentação. Fosse quem fosse o causador daquela escuridão repentina, merecia um soco. Todo tempo que eu teria para me preparar para feitiço foi-se embora, um dos membros da inquisição acendeu uma tocha e entregou na mão do prefeito – á quem devo visitar em breve para um pesadelo -, o velho barrigudo de nariz pontudo ergueu a tocha e jogou-a na fogueira, antes que pudesse começar a chover. E se dizem inquisidores, não conseguem diferenciar o feitiço de uma bruxa de um truque de teatro. Agora vinha a parte mais dolorosa para mim e Donatella, sobrevivermos ao fogo.

Coloquei o pedaço de madeira que eu havia pegado da pira no chão e em cada lado seu coloquei uma das folhas que peguei nas árvores á caminho da prefeitura. Conexão. È mais uma simpatia que um feitiço, não precisa ser um bruxo para se conectar á natureza. A parte complicada era conectar elementos diferentes, redirecionar energia e manter fogo sobre controle por tempo indeterminado. Quem é que consegue controlar o fogo? Se Edwin não agisse logo – se é que ainda pretendia salvar Donatella –, teriam que cuidar de mais de uma fogueira. A madeira que eu estava usando para conectar á pira entrou em combustão rapidamente, aos poucos as folhas começaram a queimar e a madeira flamejante ficou apenas incandescente. Lá em baixo, ás duas árvores cujas folhas eu tinha pegado, se incendiavam, enquanto a fogueira diminuía lentamente. Donatella estava parcialmente salva, eu não conseguiria manter a pira apagada por muito tempo e era bem provável pelos gritos de pavor e pela correria das pessoas ao ver “a bruxa se defendendo” que ela seria lixada, se não fosse solta de onde estava.

Devia ter planejado melhor.

Não sei quanto tempo fiquei ali, mas foi tempo bastante para que o pânico inicial fosse acalmado e fazer com que alguns curiosos corajosos e idiotas se reunissem novamente diante da fogueira, esperando pelo próximo truque da bruxa. Caçadores de bruxas olhavam incertos para Donatella, ninguém se atrevia a chegar perto dela. E ela podia fingir um pouco melhor, o medo dela era tão evidente que podia ser visto á distancia, acho que ela rezava – tinha os olhos fechados e os lábios moviam rapidamente – pelo menos isso ela fazia em vez de simplesmente gritar e chorar. Talvez fosse isso que estivesse mantendo as pessoas longe dela, podiam ser maldições que ela proferia... quem sabe não fossem. De qualquer modo eu preferia pensar que eram orações, por que precisávamos naquele momento de um milagre. Meu nariz sangrava e eu estava ficando tonta, não ia conseguir manter o fogo nas árvores por mais muito tempo.

Minha visão estava turva, mas podia distinguir muito bem a fumaça escura que se erguia da fogueira, estava perdendo as forças. O povo lá no chão arfou, ouvi gritos e mais correria. Voltei minha atenção para eles, alguns homens parados olhavam incrédulos para o que viam, estavam paralisados pelo medo ou talvez com muito pouco medo para fugirem do grande pombo cinzento que retirava Donatella e o tronco onde ela estava presa, da fogueira e erguia voo. Deixei a fogueira se consumir em chamas, as árvores tostadas permaneceram em pé – eu esperava que fossem reduzidas á carvão. O imenso pombo voou em minha direção, Donatella em sua garra estava inconsciente, segura pelo tronco, desviei os olhos dela quando o pássaro planou sobre mim. Não sei por que idiotice, eu sorri. Os olhos alaranjado-brilhantes e muito humanos que o pombo exibia fitaram-me, estranhos.

– Você não está bem – disse ele – Suba.

Eu subir em um pássaro enfeitiçado controlado por uma pessoa que eu nunca sabia se queria me matar ou me enlouquecer? Não, obrigado. Podia estar exausta e encrencada, mas ainda era capaz de pensar com lucidez.

– Estou bem. Leve Dona daqui – mandei tentando soar forte.

– Está sangrando, venha logo comigo.

– Vai logo, ela respirou muita fumaça e está desmaiada.

Baixei os olhos para a mulher, era a primeira e última vez que eu via Donatella, mas tinha certeza que ela não parecia um cadáver antes de ser colocada em uma fogueira.

– Não seja teimosa, obedeça-me – mandou ele com voz mais zangada.

– Não manda em mim e não pedi sua ajuda – falei no mesmo tom que ele.

Olhei as pessoas lá em baixo, tinham me visto. E a cada encontro tenho mais motivos para detestar esse intrometido de olhos alaranjados. Ignorando que pelo menos um bruxo ou caçador de bruxas podiam ter me visto ali em cima e agora podia estar planejando me capturar e que eu não tinha mais forças nem para discutir, dei as costas ao detestável ser de olhos alaranjados e saltei para o beco que ficava atrás da prefeitura. Ouvi o barulho assustador que ele fez, algo semelhante a um grito de alguém que sente muita raiva, olhei para cima e vi apenas ele sobrevoando a área onde eu estava caindo, levei mais tempo para pousar que o esperado e somente quando coloquei os pés no chão que compreendi que havia flutuado.

– Exibido – murmurei olhando para ele

Tudo bem que ele me salvou de levar um tombo dos grandes e evitou que eu quebrasse alguma coisa importante na queda – meu pescoço, por exemplo – mas não ia agradecê-lo por isso. Ele seguiu seu voo, de repente minha curiosidade de saber quem ele aumentou, afinal por que ele ajudou Donatella? Ah! com tantas coisas me perturbando a paz e agora ele aparece para me deixar confusa. Caminhei sem pressa nenhuma até a saída do beco, se alguém tivesse me visto pulando levaria pelo menos vinte minutos para chegar onde eu estava, felizmente a prefeitura era absurdamente grande. Para onde eu ia agora? Resolvi deixar meus pés decidirem, aliás, eu nunca decido para onde vou, apenas sigo o vento, talvez seja por isso que sempre me envolvo em assuntos que não são da minha conta.

Meus pés estavam doendo de andar, parei em uma rua para procurar um ponto de referencia, havia uma loja pequena de boticário, não gosto de farmacêuticos, eles me dão calafrios – ilógico, eu sei – mais adiante havia uma casa de modas, havia várias delas por Ferrara, minhas irmãs devem conhecer todas. Vi um grupo de jovens senhoras entrando na casa de modas e não pude deixar de imaginar o que Margarida faria se me visse usando o vestido que eu vestia e andando descalça pelas ruas – tão tentador ir perturba-la com minha presença, mas prefiro minha cabeça sobre meu pescoço. Voltei a andar, logo seriam duas da tarde e finalmente eu voltaria a ser um gatinho de pelagem cinza-fumaça, é mais fácil se esconder quando se mede quase trinta centímetros. Resolvi me distrair pensando em Donatella e Adália, talvez Edwin já tivesse as relocado para um lugar seguro, quem sabe ele não tivesse tido uma repentina crise de consciência e resolvido ir com elas para outra cidade e assumir suas responsabilidades paternais? Seria um presente imenso para mim se ele tivesse feito isso... mas no fundo aquela voz irritante que está sempre em minha mente me dizia que era uma total perda de tempo, Edwin não era assim tão honrável. E quanto aos olhos alaranjados? Realmente não sei o que pensar sobre ele. Medo?

Sim, tenho certo medo dele, mas não é o mesmo medo que sinto pelo conselho de magia ou de ser pega e ter minha magia drenada, é um medo diferente. Queria ao menos saber quem ele é, por que se dispõe a me ajudar quando já deixou claro que queria me fazer mal? Pensando bem, por que ele quer me fazer mal? Foi ele quem matou meu pai, sou eu quem devia odia-lo e querer vingança – não estou dizendo que NÃO o odeio, mas... acho que confio nele. É essa é a palavra certa, confiança. Talvez seja por essa confiança que eu tenha medo dele... ele me confunde e me irrita muito. Repassei os bruxos que eu conhecia, impressionante como conheço tão poucos bruxos. Leonel?

Não, Leo é realmente um bruxo forte e habilidoso, mas sou mais poderosa que ele – que o ego dele não me ouça – Leo sempre deixou claro que era um mago melhor que eu. Muito embora os anos de distanciamento entre mim e ele tenha sido breve – quase quatro anos – nenhum de nós deixou de exercer magia, ele treinou entre os dois mundo teve mestres diferentes e sem duvidas teve experiências de magia que eu nem sou capaz de imaginar. Enquanto eu presa no convento só usava magia quando fugia do claustro para vagar durante as madrugadas ou quando resolvia ir ajudar quem precisava de minha ajuda – quase nunca. Infelizmente para Leonel, tenho uma fonte ilimitada de magia, mesmo que eu a evite e ignore. Hã, Leo não usa magia negra, então deixando Leo de lado... George?

Ah! por que ele se infectaria com esse tipo de magia?

Por que não? Imagine, tem alguém se passando por ele. Talvez ele não possa aparecer e esteja se escondendo atrás da clandestinidade da magia negra para me ajudar. Talvez o verdadeiro George esteja precisando de ajuda... talvez precise de mim. Lógica medonha, mas supondo que esteja correta por que meu cavalheiro pirata tentou me machucar várias vezes? Descontrole, não seria o primeiro e nem o ultimo bruxo que perde o controle ao se envolver com magia negra. Ou talvez ele estivesse ainda irritado por eu ter o deixando quando estivemos em Ravenna e tenha deixado isso o afetar quando tentou me pedir ajuda... E todos ficam loucos do dia para a noite... mas aceitar a ideia de que ele possa estar morto ou se deixou sucumbir pelo mal e virou esse á quem chamo de impostor...Não são a mesma pessoa, eu sei que não são.

Seguro meus cabelos com ambas as mãos. Esse é um dos motivos por quais eu nunca falo comigo mesma, pensar em coisas aleatórias sem me questionar não me torturam... eu sou uma péssima companhia para mim. Acabei decidindo por parar de pensar, é mais fácil quando se não pensa em nada. A caminhada sem destino tinha me deixado completamente entediada comigo mesma. Não ter nada para fazer além de continuar andando é muito chato. Viro a esquina e acabo me chocando contra alguém que vinha correndo, me equilibro irritada, ouço um seco pedido de desculpas que me faz erguer o rosto para encarar a pessoa que trajava um chamativo vestido amarelo-girassol.

– Olhe para onde anda – falei com indiferença.

Ela me olhou curiosa. Ignorei o pedido de desculpas dela e dei as costas seguindo meu caminho para lugar nenhum, para meu incomodo ela me seguiu. Parei.

– Quer alguma coisa, senhora? – perguntei mal humorada.

Aquela expressão perigosa que vi nela quando estávamos na casa de Serafina, havia retornado.

– Nos conhecemos? – perguntou

– Não

– A bruxa Belaya – afirmou ela assentindo – A fugitiva. Sabe que estão pagando muito bem por você?

– Tem uma recompensa por mim? – perguntei surpresa

– Tem, e é o bastante para que eu viva bem por bons anos.

Dei um passo para trás, não gostei nada do tom dela. Ela remexeu em sua bolsinha e eu corri. Não fui muito longe, algo se enrolou em meu pé e cai. Me virei apavorada, ela tinha um cristal na mão... ela ia me prender. Eu ia ficar presa a ela e ser obrigada a ir onde ela fosse. Tentei gritar, mas descobri que não tinha mais voz, o que ela estava fazendo comigo? Então senti as sombras ao meu redor, sussurrantes como quando eu era pequena, havia prometido que não usaria mais elas, mas... As sombras apenas me protegem. Graça murmurava o feitiço que me prenderia á ela, mas viu algo em mim que a deixou muda, os olhos escuros se arregalaram e toda confiança que ela tinha segundos antes cedeu lugar ao medo. Me levantei assim que senti minhas pernas livres daquelas amarras invisíveis, a bruxa de amarelo se afastou com as duas mãos estendidas como um escudo, balbuciava:

– Perdoe-me senhora... não sabia quem era... perdoe-me... não tive intenção... por favor...

– Pare coração – mandei.

Graça agarrou a parte de cima de seu corpete tentado respirar, mas era tarde. Ela caiu morta.


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Notas finais do capítulo

E então...
Alguma opinião de quem seja o Sr Olhos Alaranjados?
(mais um capitulo e eu finalmente darei um rosto á ele)

E a Graça, morte sem graça a dela, não? Por que acham que ela reagiu com tanto medo da Morticia?

Até a sequencia...



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