Um Outro Lado da Meia-Noite escrita por Gato Cinza


Capítulo 11
Um encontro com Oods




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Não sei qual o nível de sorte uma pessoa pode possuir, mas tenho certeza que o meu é quase inexistente. Levei horas para chegar em casa e quando finalmente cheguei vi o coche de Margarida, meu sangue congelou. Corri até a porta da cozinha, Margarida falava sobre mim – nenhuma novidade – e Magnolia descascava algum tipo de vagem com sementes escuras que eu não vi o que eram.

– Mas Mort não perturba ninguém Margo, pelo contrario – justificava Meg – Ela ajuda, do modo torto e perigoso dela. Mas ainda assim é uma ajuda.

Margarida riu alto jogando as madeixas escuras para trás.

– Ah! não seja ridícula Meg. Quando foi que aquela bruxa sem controle fez algo para ajudar alguém que não fosse por interesse próprio?

Eu? Bruxa sem controle? Eu? Se não estivesse tão curiosa para continuar ouvindo teria pulado em Margarida e rasgado o rostinho bonito dela com as garras.

– Ela jurou que ia me ajudar a convencer Narciso que eu não precisava me casar – disse Meg em voz baixa.

– Ela o que?! – gritou Margarida se levantando – Te proíbo de ouvir o que aquela maluca diz. Quer desonrar nossa família também? Quer ficar falada pelo fato de fazer um escândalo antes do casamento, se enfiar em um convento e depois voltar para casa e sair por ai sozinha na cidade como uma meretriz? É isso que quer para você Magnolia?

Magnólia tinha os olhos marejados e começou a chorar feito uma criança que leva bronca, eu sai. Ainda podia ouvir os gritos de Margarida falando o quão irresponsável e imoral eu era e os soluços irritantes daquela bobona que não sabia nem opinar a respeito da própria vida. Fui para a fazenda de flores. Queria conversar com alguém que tivesse a mente sã, Narciso.

Levou um tempo para que eu encontrasse meu irmão, miei, para que ele me notasse e fiquei em silêncio o olhando em seu entediante trabalho de podar as flores, colocar ataduras nos galhos e desfolhar alguns arbustos – realmente chato, mas o prazer de Narciso fazer aquilo o permitia cantarolar animadamente.

– Vamos bichano – chamou ele, me borrifando água quando e adormeci – Fim do expediente, vamos para casa.

Narciso quis saber o porquê eu saí de casa apresada mais cedo. Então contei que fui visitar Verbena, disse que discutimos por causa de meu futuro, falei sobre meu passeio por Vicolo Disperazione e meu encontro com o meio-irmão de Edwin, e o sobre Margarida estar em casa quando cheguei por isso eu tinha ido para a fazenda de flores e que eu estava morrendo de fome – precisei resumir várias coisas e me omitir sobre outras. Narciso resolveu querer saber mais sobre o porquê eu fui visitar Verbena, então desviei a conversa para algo que o manteria ocupado até chegarmos em casa.

– Realmente fiquei impressionada ao saber que Edwin McGregor não é um desses herdeiros que procuram uma esposa-troféu para colocar mãos na herança de sua família.

Narciso me olhou com desdém – odeio quando ele me olha assim – antes de me responder como se eu tivesse o ofendido.

– Acha que eu deixaria minha irmã se casar com um homem qualquer que não á faria feliz?

– Teria me forçado a casar com um – resmunguei alto o bastante para ele me ouvir e se irritar.

– Eu? Não seja injusta Gardênia. Quem colocou Henry na sua vida foi Margarida “um bom homem, honesto e trabalhador” foi o que ela disse, como eu ia saber que ela nem sequer conhecia o passado daquele homem?

Virei meu rosto, infelizmente Narciso estava certo. Margarida na presa de me casar deu minha mão em casamento para o primeiro homem de boa aparência que apareceu no seu caminho, ao menos tive Leonel para me salvar de um casamento infeliz, falando em Leo tenho que ir vê-lo. estou á dias em Ferrara e nem me dei ao trabalho de fazer-lhe uma visita. Infelizmente ele não viria á minha casa. Narciso sempre achou que eu fosse má influencia para ele.

“Esse garoto é simpático demais” – dizia Narciso com um ar desconfiado quando se tratava de Leo, eu nunca o defendi das desconfianças de meu irmão pelo simples fato de que eu também nunca fui muito tolerante a pessoas demasiadas simpáticas. Mas Léo era diferente, ele era meu amigo. Mesmo que eu odiasse o fato dele ser bonzinho demais, gentil demais, ingênuo demais... mas isso compensava nossas diferenças, ele era o lado bom de mim.

– O gato comeu sua língua Morticia? – perguntou Narciso em tom irônico

Fingi que não ouvi e me desculpei por tê-lo culpado por um casamento que nem mesmo aconteceu. Tínhamos chegado em casa.

– Então você conhecia Edwin? – perguntei enquanto ele soltava Diamante

– Não exatamente, eu tive um trabalho imenso para saber dele o bastante para que não entregasse outra irmã nas mãos de um canalha, quando tive certeza que ele tinha um bom caráter eu finalmente aceitei conversar com ele e aceitar o pedido de noivado para com nossa irmã.

Assenti o acompanhando para dentro. Antes de entrar em casa fiz uma ultima pergunta:

– Acha que ele será feliz com nossa irmã de miolos mole?

Narciso se ajoelhou me encarando.

– Tenho pensado nisso desde o jantar de noivado, mas acho que ela só precisa conhecê-lo melhor. Não acha?

Não eu realmente não achava, Meg tinha tentado trocar de corpos para não se casar e nem mesmo sentiu remorso por ter me transformado em gato, ela apenas se arrependeu por não ter conseguido usar o feitiço certo. Meus podiam me achar uma pessoa irresponsável e uma má influencia para os outros, mas eu nunca usaria meus dons contra alguém sem que fosse por extrema necessidade, eu não era uma pessoa ruim se me comparasse com ela. Mas não verbalizei minha opinião, apenas disse:

– Se ela não se casar por vontade própria eu a amaldiçoo com a maldição da obediência. Ela se casa e pronto final.

Embora eu ainda precisasse fazer um teste mais preciso sobre o caráter de Edwin, mas acho que ele talvez possa fazer minha irmã cabeça de vento feliz, em todo caso eu posso obriga-la a ser feliz. Narciso entrou em casa e eu resolvi bancar a gata domesticada.

– Eis meu honorável irmão – começou Margarida de chofre sem nem mesmo desejar boa noite – Sabe por onde anda Morticia? Pois quando cheguei aqui antes da hora do almoço desejando passar o dia com minhas irmãs na presença de meus filhos, encontrei Meg sozinha lavando roupas, fui eu quem preparou o almoço enquanto aquela desajustada está sabe-se Deus onde. E o sol já se pôs. Onde se encontra neste mundo uma mulher honrada que anda sozinha á está hora do dia?

Narciso que parou quando ela começou a falar se virou lentamente para ela e abriu um largo sorriso.

– Boa noite minha irmã, como foi o dia de vocês? Meus sobrinhos é bom vê-los novamente.

Meus sobrinhos se levantaram e pediram a benção de Narciso que subiu para seu quarto dizendo que ia se banhar para o jantar.

– Inacreditável – resmungou Margarida indo ajudar Meg, eu a segui.

A mesa estava posta ao melhor estilo Margarida de viver o que era agressivo aos olhos e ao mesmo tempo belo. Eu fui para debaixo da mesa, se Magnolia me visse ela ia se fechar e sua opinião se basearia á dizer que sou boa pessoa, uma incompreendida que sofreu traumas mentais e as chatices que me resumiria em: louca inofensiva.

– Narciso chegou – disse a mais velha – Perguntei a ele se sabia o paradeiro da bruxa e ele apenas disse “Boa noite” e subiu para se banhar. Nem mesmo me deu atenção.

Meg resmungou e virou para Dayse e Andreas que estavam sentados comportados brincando com um jogo de tabuleiro. Ela diminuiu a voz para que eles não ouvissem

– Sabe Margo, acho melhor não falarmos nada sobre Mort á Narciso – depois seu tom ficou mais conspiratório – Sabe bem como ele fica quando se trata de sua queridinha.

Margarida riu cobrindo a boca com a mão. Cravei minhas garras no chão. Verbena havia me proibido de matar Magnolia, mas não disse nada sobre causar graves ferimentos físicos. Passaram os minutos seguintes pontuando meus defeitos com tanto prazer que me senti menos que um rato – sem ironia. Narciso interrompeu minha lista de maldições que eu usaria contra elas, quando desceu cantarolando uma valsa. Alias tenho que especular o motivo da felicidade dele – o que? sou um gato e gatos são curiosos.

– Respondendo sua pergunta de mais cedo – disse Narciso á Margarida enchendo uma tigela de leite e colocando em uma cadeira para mim – Morticia esta na casa de nossa irmã baronesa, e dormira por lá. No mais, Magnolia sempre esteve sozinha em casa desde que Mort foi para o convento e não acho que ela se incomode tanto com a ausência da companhia animalesca de nossa irmã selvagem. Certo Meg?

Meg apenas negou com a cabeça, as faces estavam em chamas e os olhos fixos em mim. ela sabia que eu tinha ouvido a conversa dela, e o tom maldoso de Narciso ao dizer ”animalesca” e “selvagem” só contribuíram para ela ficar mais nervosa.

– Narciso tire esse bicho da cadeira – mandou Margarida seguindo o olhar pasmo de Meg.

– Meia noite é uma gata e não um bicho, Margo. E vamos jantar logo que sinto fome.

Margarida e os filhos dormiram em casa, Andreas no quarto de Narciso, Dayse no meu e eu fui para o porão, seria estranho eu aparecer no meu quarto as duas da manha.

Pelas garras do Gato

O ar quieto da noite sem luar estava impregnado de magia, magia poderosa e pura. Ao menos era isso que sentiam as duas criaturas que deslizavam em direção ao solar no fim da luxuosa Villa Romena. Quem habitava aquela casa não era um bruxo, magia dos homens fedia á medo e desconfiança, já magia das mulheres, isso tinha o frescor de uma manhã de sol após uma noite de tempestade.

Uno, o mais velho dos dois, ergueu a mão e a porta se abriu ao seu comando. Ambos deslizaram em silencio escadas a cima, quem os visse imaginariam fantasmas flutuando centímetros do chão. Duo, o irmão menor, atravessou o corredor tocando as paredes. A bruxa que morava naquele lugar era poderosa e sua magia havia impregnado nas paredes. Se sentia mais forte apenas em estar sob o mesmo teto que ela. Uno sussurrou em um tom vibrante e seco algo que se assemelhava á uma ordem. Duo deu um riso mostrando as pequenas ventosas onde deveriam ficar os dentes.

Ambos atravessaram a parede e foram surpreendidos por uma onda insuportável de frio. Ela estava preparada para eles, havia sentido sua presença sombria e faminta no momento em que colocaram os olhos negros sem íris em sua casa. Os irmãos Oods desapareceram em um grito ensurdecedor, o frio era única coisa que eles não eram capazes de absorver.


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Notas finais do capítulo

Ficou curto :{
Capitulo seguinte lhes apresentarei Léo... e Morticia vai ficar frente a frente com o "mago sombrio" como ela o chama (vou pensar em um nome legal e maligno para ele esconder sua verdadeira identidade)



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